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Cravo vermelho da revolução
MANTA, João Abel (1928-)
MC.DES.1010

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"Como nenhum outro, Manta deixou na nossa História, para os arqueólogos que no futuro desenterrarem os vestígios, cacos de sonhos acordados e fragmentos diversos das Quimeras dos anos sobressaltados de 1974-75, a caligrafia mais pessoal, mais artística e mais reconhecível de quantos rabiscos, graffiti e efémeros cravos rubros floriram então".
João Medina, 1992

 

Na história da revolução de 25 de abril de 1974 coexistem testemunhos, memórias e impressões daqueles que protagonizaram ou viveram os acontecimentos daquele dia, e dos anos que se seguiram até à estabilização do regime democrático.
 

João Abel Manta ocupa lugar cimeiro neste amplo e heterogéneo grupo. A expressividade, poder de síntese e mordaz assertividade na mensagem são valores que caracterizam a produção do autor num alargado grupo de cartoons que realizou entre 1974 e 1975. Publicados no Diário de NotíciasDiário de Lisboa e em O Jornal, estas obras constituem um registo cronológico da evolução da situação política em Portugal até finais de 1975, ainda que Manta tenha feito cirúrgicas intervenções de sentido político, recorrendo ao cartoon, nos anos seguintes.
 

Em maio de 1974, João Abel Manta caricaturou a formação de partidos políticos e algumas associações que não chegaram a organizar-se em partidos, mas que foram agentes ativos do debate político da altura. A partir de um grande cravo vermelho, solidamente enraizado no solo português, dispõem-se figuras humanas que simbolizam os vários partidos, ora à esquerda, ora à direita daquele símbolo da revolução (curiosamente o PPD à esquerda e o PS à direita).
 

Quase todos regam o cravo, destacando-se o PCP e o PS, o primeiro com uma grande botija e o segundo com um edifício que parece um castelo. O MRPP (Movimento Reorganizativo do Partido do Proletariado, então ainda sem a sigla PCTP), com o seu uniforme maoista, parece urinar para o cravo, enquanto a FAP (Frente de Acção Popular, já desmobilizada naquela altura), na clandestinidade, como se de um submarino se tratasse, contribui também com alguma água. Mesmo a LUAR (Liga de Unidade e Acção Revolucionária), movimento armado de cara oculta, deita algumas gotas de água para o cravo.
 

Neste cenário aparentemente coeso de maior ou menor intensidade de rega, existe apenas uma deliberada exceção: um avião da JSN (Junta de Salvação Nacional, presidida pelo general António de Spínola, 1910-1996) que, a partir da Madeira, lança vermes com o símbolo do nazismo para devorar o cravo, ação que se relaciona com o afastamento da JSN do poder na sequência da tomada de posse do Governo Provisório, presidido por Adelino da Palma Carlos (1905-1992), a 16 de maio de 1974.

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