Museu do Traje de Viana do Castelo

POR GIL VIANA

O Museu do Traje de Viana do Castelo, situado no antigo edifício do Banco de Portugal e edificado na Praça da República desta cidade, é atualmente um bastião da etnografia vianense, um local de enaltecimento dos usos e costumes desta região Alto-minhota. Embora o edifício tenha sido concluído no ano de 1958, para albergar a filial do Banco de Portugal nesta cidade, será apenas a partir do encerramento da mesma, em 1996, que o município de Viana do Castelo adquire este emblemático edifício e aí se cria o Museu do Traje a partir de 1997.

Maria Emília Araújo com suas irmãs, Raquel e Ida, em traje de Noiva. Minho, década de 1950. Arquivo pessoal Personalde Maria Emilia Araújo

A essência deste museu vive em torno dos trajes regionais do concelho vianense, nomeadamente,no vestuário usado no passado pelos lavradores, lavradeiras e suas famílias. Deveremos ter em conta que os trajes que atualmente identificamos como Trajes à Vianesa, Trajes de Cerimónia, Trajes de Domingar e Trajes de Trabalho, expostos neste museu, são os conjuntos de peças de roupa que as famílias de lavradores vestiam desde o último quartel do século XIX até meados do século XX. Excecionalmente, destacamos os Trajes à Vianesa, que nunca deixaram de ser usados, adaptando-se a novas situações e cenários.

Maria da Conceição (Tatão) Rocha Páris, Viana do Castelo, década de 1950. Arquivo pessoal de Margarida Bacelar Malheiro

O Traje à Vianesa, ex-líbris do trajar do povo português, muito mais do que um conjunto de peças de vestuário das lavradeiras do concelho de Viana do Castelo, representa todo um modo de vida rural, enleado no monte, campo, rio e mar, locais estes onde as gentes das nossas aldeias construíram as suas vidas, memórias e tradições. Localmente, estes trajes são ainda designados por Traje de Festa ou Fato à Lavradeira.

 

Traje à Vianesa de Areosa – 1893 (O Commercio do Porto Illustrado)

Na vasta família de trajes regionais vianenses podemos destacar ainda os Trajes de Cerimónia usados para as mordomias, casamentos e eventos solenes, dos restantes trajes desta região. Estes trajes também eram usados pelas morgadas, a filha única ou a mais velha de um lavrador. O uso deste tipo de vestuário era ainda usado por mulheres casadas em dias festivos: casamentos, batizados e missas de dias de festa. Enquanto que os Trajes à Vianesa, assim como os de Domingar e Trabalho utilizam essencialmente a lã e o linho na execução dos tecidos base destes trajes, os Trajes de Mordoma, Noiva e Morgada utilizam fazendas de lã (Baeta, Casimira), veludos, rendas de algodão, fitas de seda, cetins, vidrilhos, missangas, lantejoulas, entre outros materiais de maior requinte. A ostentação e posicionamento social através da forma de trajar era obtida assim pelas lavradeiras da região, através de um traje austero e grave, apenas aliviado pelo ouro, lenço de cabeça e lenço de amor.

 

Estela Varejão por Henrique Medina, Minho, 1957. (Câmara Municipal de Viana do Castelo) Fotografia João Bettencourt Bacelar

Margarida Maria, Maria Cristina e Maria Isabel Bacelar, Viana do Castelo, década de 1950. Arquivo pessoal de Margarida Bacelar Malheiro

Traje de Trabalho de Areosa – final do séc. XIX Aguarela de Joana Vilela Godinho

Traje de Domingar da Meadela – Final do séc. XIX Aguarela de Joana Vilela Godinho/p>

D. Manuel II ao colo da sua ama, envergando esta um Traje à Vianesa.