As últimas semanas foram cheias de trabalho e actividade, mas nada de trabalhos com agulhas e linhas (dado o estado miserável das minhas mãos, não faço ideia quando voltarei às agulhas e linhas, especialmente as de seda). Sempre bastante afastada do computador, nem tempo tive para acabar a série de textos sobre o bordado de Castelo Branco! Hoje chegou o dia, depois tentarei responder a todo o correio recebido.
The last few weeks have been very very busy, but no work with needles and threads (given the miserable state of my hands, I have no idea when I will return to needles and threads, especially silks). Always away from the computer, I had no time to finish the series of texts on the embroidery of Castelo Branco! Today is the day then I will try to answer all mail received.
Como digo na entrada Bordado Castelo Branco (V) os dois dias em Castelo Branco terminaram – na manhã seguinte regressaríamos a casa. Como a ADRACES (Associação para o Desenvolvimento da Raia Centro-Sul) aparecia como parceira principal de muitas iniciativas no Museu, à noite procurei na internet a sua página e anotei o endereço – Vila Velha do Ródão, a 30km de Castelo Branco – e fiquei surpreendida pois a página da internet não tem nada sobre o bordado de Castelo Branco.
As I say at the post Bordado Castelo Branco (V) the two days in Castelo Branco ended – next morning we’ll go back home. As I saw ADRACES (Association for the Development of South-Ray Center) appeared as lead partner in many initiatives at the Museum I’ve searched to its site and wrote down the address – Vila Velha de Ródão, 30 km from Castelo Branco – and was surprised because the website has nothing about embroidery of Castelo Branco.
Na manhã seguinte o meu marido desafiou-me a fazer o desvio e visitar a sede da Adraces, uma vez que saímos cedo do hotel. Em boa hora!
A Associação (cliquem em trabalhos e passagem de modelos) está instalada numa bela casa recuperada. Tive a sorte de encontrar a Dra. Teresa Magalhães, diretora-adjunta, que acompanhou o processo da certificação do Bordado de Castelo Branco. Foi uma longa e muito, muito agradável conversa.
Next morning my husband challenged me to make a detour and visit the headquarters of ADRACES, since we left hotel early. In good time!
The Association (click on trabalhos and passagem de modelos) is installed in a beautiful restored house. I was lucky to find Deputy Director Teresa Magalhães, who take part and followed all the process of Embroidery of Castelo Branco Certification. It was a long and very, very pleasant conversation.
Vou tentar resumir toda a informação que me foi disponibilizada e que clarifica, um pouco, algumas dúvidas e apreensões sobre o futuro do Bordado de Castelo Branco.
A ADRACES tem como “objetivo valorizar e implementar novas formas de intervenção ao nível das comunidades locais…“. É neste contexto que a “Adraces liderou uma parceria constituída por entidades de vital importância na dignificação e valorização de um dos produtos patrimoniais mais importantes da região – o Bordado de Castelo Branco” (António Realinho – diretor da Adraces). O projeto foi, muito apropriadamente, chamado Ex-Libris – Reconverter,adaptar, certificar o Bordado de Castelo Branco, com financiamento do Fundo Social Europeu. As entidades que constituiram a parceria foram a ADRACES, a Câmara Municipal de Castelo Branco, o Instituto Politecnico de Castelo Branco e o Museu de Francisco Tavares Proença Junior. O “objectivo é, face às ameaças e descaracterizações atuais do Bordado, garantir a preservação do Bordado de Castelo Branco relativamente à sua genuinidade,autenticidae, qualidade estética e técnica.” (Aida Rechena – diretora do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior)*
*as transcrições são da introdução ao livro
Colchas de Castelo Branco – Percursos por Terra e Mar.
I’ll try to summarize all the information I was given and that clarifies a bit some doubts and misgivings about the future of Castelo Branco embroidery.
The ADRACES has as “objective to value and implement new forms of assistance to local communities …”. In this context, the “ADRACES has led a partnership composed of entities whose importance is vital to raising the prestige and value of one of the region’s most important cultural heritage products – Castelo Branco Embroidery “ (Antonio Realinho – director of ADRACES). The project was, appropriately, called Ex-Libris – Reconvert, adapt, certify the embroidery of Castelo Branco, financed by the European Social Fund. The entities involved were ADRACES, the Castelo Branco City Council, the Castelo Branco Polytechnic Institute and the Francisco Tavares Proença Junior Museum. “Given the current threats and alterations of the embroidery, the aim is to guarantee the preservation of Castelo Branco Embroidery with respect to its genuineness, authenticity, aesthetic and technical quality. ” (Aida Rechen – Museum Director Francisco Tavares Proença Junior) *
* transcripts are from the introduction to the book
Castelo Branco Coverlets – Journeys by Land and Sea
Não estou muito segura quanto a datas mas penso que tudo isto germinou por volta de 2005 (?). O livro foi impresso em 2008. Deve ter sido por essa altura que o Ministério da Cultura (atualmente inexistente…) entendeu que não podia ter bordadoras nos seus quadros e, por isso, à medida que se fossem reformando não seriam substituídas.
Começou por se fazer um levantamento de bordadeiras da região e há ainda cerca de 200 bordadeiras. Há, no entanto, uma grande simplificação dos motivos e a qualidade técnica, por vezes, não é a melhor.
I’m not sure of dates but I think all that began around 2005 (?). The book was printed in 2008. It must have been by that time that the Ministry of Culture (currently non-existent …) decided it could not have all those embroiderers as its officials, and therefore, as they were retiring would not be replaced.
Adraces began by making a survey of embroiderers in the region and about 200 embroiderers are still embroidering. There are, however, a great simplification of the motifs and many times technical and quality are not the best.
Como já mostrei noutra entrada, comprei alguns bordados feitos no Museu. Comprei um outro fora do Museu para, em casa, fazer uma comparação detalhada. Não vou nomear esta bordadeira, pois estou convicta que saberá bordar com perfeição, mas para não perder tempo, simplifica todo o processo e a diferença de preço é só 5€ inferior ao preço do Museu…
As already shown in another entry, I bought some embroideries in the Museum. I bought another out to the Museum, for a detailed comparison later at home. I will not name this embroiderer because I am convinced that she knows to embroider perfectly, but to save time, simplifies the whole process and the price is only € 5 less than the price of the Museum …
The Museum embroidery is on the left. At first glance we can notice a smaller number of stitches used.
Uma das formas de se ver a perfeição de um bordado é olhar para o avesso…
One way to see the perfection of the embroidery is to look at the back side …
Aqui um aproximação para se ver melhor a diferença.
Here is a close-up to better see the differences.
E ainda outra aproximação, do lado direito, para mostrar a enorme diferença de execução do ponto frouxo ou ponto de Castelo Branco e do ponto espinha da haste da flor, diferenças que já se adivinham só de olhar o avesso.
Still another close-up, right side, to show the huge difference in ponto frouxo or Castelo Branco Stitch and the Feather Stitch of the flower stem, gaps already guess just by looking at the backside.
A razão porque a Adraces já não tem nada na sua página sobre o Bordado é porque se constituiu uma outra associação – Associação do Bordado de Castelo Branco – que será quem, no futuro, selecionará 15 bordadoras (de entre as 200) e continuará o trabalho da preservação do Bordado, em vez do Museu. No entanto quer o Museu, quer a Câmara, quer a própria Adraces mantêm o apoio total à nova Associação. Esperemos que resulte… mesmo nesta época de crise.
O trabalho para descobrir e motivar aquelas 200 bordadeiras foi um trabalho exaustivo e paciente.
Adraces has nothing about the embroidery on its website because it was created another association – Embroidery of Castelo Branco Association – which will be the sponsor for continuing the work of Embroidery preservation rather than the Museum and will have to choose 15 embroiderers (from the 200). However either the Museum or the City Counsil or the very ADRACES maintain full support for the new Association. Hopefully that results … even in this time of crisis.
The work to find and motivate those 200 embroiderers was a thorough and patient work.
O livro resultou dos textos de 9 investigadores que abordaram o Bordado de Castelo Branco sob vários aspetos: histórico, técnico, estético, político, económico… Foi um trabalho colossal (adjetivo na moda!). É um livro absolutamente fantástico. Depois deste trabalho todo e da elaboração do Caderno de Especificações seria um crime que o projecto esmorecesse.
The book resulted from the writings of nine researchers who approch Castelo Branco Embroidery on different aspects: historical, technical, aesthetic, political, economic … It was a huge task. It is an absolutely fantastic book. After all this work and the Notebook of Specification done would be a crime that the project flagged.
I think you can’t read well. I hope I’ll come back to write about this book which has lots of precious pictures.Sabem onde está a maior coleção de colchas de Castelo Branco? Em Londres no V&A Museum, embora não estejam em exposição permanente. Foram lá duas das investigadoras que escreveram neste livro e lá fizeram uma observação exaustiva das colchas, comparando-as com as que temos por cá espalhadas por vários museus e também em coleções particulares.
Fiquei ainda a saber que a APPACDM de Castelo Branco (Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental) tem como atividade um Centro Sericícola, na Quinta da Carapalha, que mostra o ciclo de criação do bicho da seda e extração do fio de seda – percebi que já comercializam o fio da seda branco e estão a tentar aprender a fazer o tingimento (a página na net é pobre em informação e não tive tempo de visitar a quinta).Guess where is the largest collection of bedspreads from Castelo Branco? In London at the V & A Museum, although not on permanent display. Two of the researchers who work on this book went there and made a thorough observation of the quilts, comparing them with those we have over here across several museums and also in private collections.
I also learned that APPACDM Castelo Branco (Portuguese Association of Parents and Friends of Mentally Retarded Citizens) has an activity center of sericiculture in Quinta (Farm) da Carapalha, which shows the cycle of creation and the silkworm and silk thread extraction – I realized that already sell the thread silk in white and are testing the dye (the website is poor in information and I had no time to visit the farm).
Não estariam interessadas em comprar kits de bordados de Castelo Branco, com instruções? Ou encomendar bordados? Ou aprender mais sobre o Bordado de Castelo Branco?
Por fim, a cereja em cima do bolo: saí da Adraces com aquele livro (só me falta ler o último capítulo), o Caderno de Especificações do Bordado de Castelo Branco e várias revistas da associação.
Muito e muito obrigada Dra. Teresa e até breve, assim a vida mo permita :)
I am delighted with Dra. Teresa and her enthusiasm for the Embroidery of Castelo Branco. She believes that the new association will be able to go forward with the project. I am also convinced that it is a successful project, provided that the disclosure is consistent.
Would you be interested in purchasing embroidery kits from Castelo Branco, with instructions? Or order embroideries? Or learn more about Castelo Branco Embroidery?
Finally, the icing on the cake: I left ADRACES with that book (only miss the last chapter), the Notebook of Specification of Castelo Branco Embroidery and several magazines of the association.
Thank you very much Dr. Teresa and see you soon, so life let me :)