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‘Upcycling’

Loja que ‘ressuscitou’ 220 mil roupas da Farm que iriam para o lixo quer dobrar de tamanho

Oficina Muda

Imagens de 39 mil toneladas de roupas num lixão do deserto do Atacama escancararam, há menos de um mês, o desastre ambiental que é o fast fashion. Por aqui, uma multimarcas que dá vida nova a peças que iriam para aterros sanitários ou incineradores quer ganhar escala para atenuar parte da responsabilidade que cabe ao Brasil no problema do resíduo têxtil.

Fundada no Rio por Larissa Greven, a Oficina Muda é um dos atores de segmento conhecido como moda upcycling, que reforma peças sem condições de venda e as põe de volta às araras das lojas. A multimarcas emprega um modelo verticalizado que vai dos estoques das fabricantes até a casa dos consumidores.

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Primeiro, ela bate à porta de grandes marcas propondo a compra de milhares de modelos que encalharam ou apresentaram pequenos defeitos. Depois, essas peças passam pela mão de uma rede de costureiras, que as reformam e recuperam seu valor comercial — processo que, no jargão desse nicho, é conhecido como “ressignificação”. Dez costureiras contratadas e uma rede de 8 mil artesãs participam dessa etapa.

Uma vez prontos, os modelos vão para as lojas próprias da Oficina Muda ou para seu e-commerce, que acaba de ser lançado. Os preços são entre 50% e 70% inferiores aos das peças originais.

— As fabricantes gastam, às vezes, R$ 20 ou R$ 30 para confeccionar uma peça que será vendida ao consumidor final por até R$ 300. Se ela acaba não sendo vendida, a roupa passa por todo um processo de bazar e outlet. Se nem assim der certo, ela vai ter que ser mandada para um aterro ou ser incinerada, gerando mais um custo de R$ 5 para a destruição. A gente propõe pagar o que a marca gastou para fabricá-la — conta Luiz Eduardo Lyra, segundo maior sócio da Oficina Muda, com 29% do negócio, acrescentando:

— Mas o que é mais relevante para as marcas é o valor intangível da nossa solução, não o que pagamos. Elas querem poder dizer que estão eliminando o resíduo têxtil. 

Sete mil sapatos sem par

A Oficina Moda começou pequena em 2016, como uma loja em Copacabana (a Chic Hippie) que misturava os conceitos de bazar e brechó. Mas a empresa mudou de nome e adotou escala industrial em 2019, pouco antes da pandemia. Desde 2020, Lyra disse que a empresa já “ressignificou” cerca de 255 mil peças, ou 60 toneladas. Só este ano foram 170 mil, das quais 45 mil eram da Farm.

O Grupo Soma, que detém marcas como Farm, Animale e Maria Filó, é o principal “fornecedor”. Só da Farm, a Oficina Muda comprou mais de 220 mil peças desde 2016, sendo 80 mil este ano. Mas a empresa também trabalha com grifes como Cantão, Dress to, Agilità e Redley.       

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Nem tudo é perfeito no processo. A empresa não consegue dar nova vida a 10% das peças que processa, e elas acabam virando insumo para produtos próprios reciclados, como almofadas e e cangas.

— A gente compra as roupas em caixas e nem consegue ver o que tem dentro. Temos 7 mil pés de sapatos sem pares no nosso estoque e ainda precisamos saber o que fazer com eles, porque não podemos deixar que virem lixo — observa Lyra.

Hoje, a Oficina Muda tem quatro lojas no Rio e fatura R$ 7 milhões ao ano. Para 2022, o plano é dobrar de tamanho, processando 400 mil peças e abrindo três novas lojas — sendo uma delas em São Paulo, mercado que ainda não explora. A expectativa é também que o e-commerce, que foi lançado há três meses e responde por apenas 10% do negócio, ganhe musculatura.

— Vamos entrar no segmento masculino, que hoje exploramos muito pouco. A ideia é ganhar escala para, depois, prospectar o aporte de um fundo de investimento — acrescenta Lyra. 

 

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