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Água-viva não tem cérebro e consegue aprender com os próprios erros

Por| Editado por Luciana Zaramela | 26 de Setembro de 2023 às 18h50

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Bielecki et al./CC-BY-4.0
Bielecki et al./CC-BY-4.0

Cérebro para quê? Em novo estudo, cientistas mostraram que uma espécie de água-viva consegue aprender a partir da experiência tendo apenas mil células nervosas e nenhum centro cerebral para processamento. A cubomedusa Tripedalia cystophora, uma das menores do gênero, é a autora do feito, aprendendo a evitar obstáculos com o poder da associação.

A pesquisa, publicada na última sexta-feira (22) no periódico científico Current Biology, relatou como cientistas da Universidade de Copenhagen avaliaram a capacidade de aprendizado da pequena água-viva, algo associado às habilidades mais avançadas dos animais com sistema nervoso.

Memória, obstáculos e águas-vivas

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As T. cystophora são dotadas de ropálios, órgãos sensoriais que, por possuírem células nervosas, também funcionam como centro de aprendizado. O sistema visual dessas águas-vivas é complexo, trazendo 24 olhos, responsáveis pela identificação e caça de pequenos crustáceos e de obstáculos enfrentados na natureza, como as raízes de manguezais e pântanos.

Para evitar colisões com as plantas, segundo os neurobiólogos, as cubomedusas usam contraste — em outras palavras, elas medem o quão escuras são as raízes em relação à água. Isso permite saber a distância e calcular quando será preciso nadar em outra direção para evitar encontrões. A tarefa não é tão fácil quanto parece, já que a relação entre distância e contraste muda todos os dias por conta de algas, água da chuva, incidência de luz e ação das ondas, por exemplo.

A simulação do habitat das criaturas envolveu colocar listras brancas e cinzentas em um tanque, simulando diferenças de distância e contraste naturais. Observando como seria seu comportamento durante sete minutos e meio, os pesquisadores viram as águas-vivas esbarrarem nas listras frequentemente, mas, até o final dos sete minutos, o número de colisões caiu pela metade. Para simular as batidas, foram usados impulsos elétricos fracos.

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Os estímulos visuais e mecânicos do experimento com as águas-vivas mostraram a rapidez de seu aprendizado — entre três e cinco falhas já basta para que o comportamento seja modificado, evidenciando que a associação é um ponto forte desses animais. Aos neurocientistas, a notícia é ótima, já que traz novas perspectivas sobre as capacidades de um sistema nervoso simples.

As águas-vivas são cnidários, grupo de animais irmão dos bilaterados, como nós, humanos. Isso quer dizer que a descoberta sugere que processos neuronais avançados, como o condicionamento, é uma propriedade fundamental de todos os sistemas nervosos — o aprendizado seria, então, um benefício evolutivo importante desde o início.

Pesquisas seguintes buscarão identificar as células responsáveis por esse aprendizado e pela formação de memórias, revelando mudanças fisiológicas e estruturais que ocorrem nesse processo. Também serão estudados outros animais em busca do mesmo mecanismo, o que pode mostrar o funcionamento da memória como um todo.

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Para a medicina, segundo os cientistas, a descoberta poderá ajudar a tratar casos de demência ao nos permitir compreender um pouco mais sobre como funcionam as memórias, dando meios para combater sua perda.

Fonte: Current Biology