Por Aline Negromonte
Para você que se interessa por moda, principalmente de época, aí vai uma dica imperdível. O filme A Jovem Rainha Vitória (The Young Victoria – 2010) aborda parte da vida da rainha britânica, cujo reinado foi o mais longo da história do Reino Unido. Embora esse reinado seja conhecido como Era Vitoriana, o período retratado na obra não caracteriza as vestimentas típicas vitorianas. É importante reparar que o roteiro se passa na época de juventude da rainha, interpretada por Emily Blunt, entre os anos 1836 e 1840. Portanto, o estilo vigente era o do período Romântico. Com um figurino primorosamente elaborado por Sandy Powell, que proporcionou a A Jovem Rainha Vitória o Oscar de 2010 nesta categoria, percebe-se a preocupação de Powell em retratar detalhes verossímeis, fiéis à época romântica, e, em algumas ocasiões, a reprodução de trajes.
Em uma cena icônica do filme, a coroação de Vitória, por exemplo, usou-se uma réplica do vestido que foi utilizado no evento real. Ao se observar a obra Queen Victoria (1819–1901), provavelmente de Edward VII, é possível admirar o traje e, comparando-o ao utilizado no filme, a semelhança alcançada é surpreendente.
Qualquer caracterização do período Romântico deve destacar, na moda feminina, vestidos com detalhes como decote canoa, babados, mangas bufantes cores alegres e adornos delicados, como flores e fitas. Tudo isto é enfatizado em A Jovem… Um penteado característico, com o cabelo repartido ao meio, é utilizado o tempo todo por Vitória. Outra importante característica da indumentária feminina é o uso ocasional de chapéus bonnet, visto no filme em várias cenas externas da rainha. O poke-bonnet é um tipo de chapéu de palha campesino.
A rainha Vitória, além de obviamente poderosa, também exerceu muita influência na moda europeia. Por volta de 1830, começam a surgir os belos tecidos floridos, sendo as cores vivas mais apropriadas aos trajes de jantar, e as claras – rosa, limão, azul – ao baile e à Ópera.
Moda feminina e masculina do período
O século XIX foi marcado por grandes modificações. Principalmente na oposição de roupas femininas e masculinas. Enquanto o traje feminino, passada a época da simplicidade, volta a uma complicação de rendas, bordados e fitas, a roupa masculina fica cada vez mais despojada. Isso é perceptível no filme. Embora tais peculiaridades da roupa masculina apareçam em todos os personagens homens, focando-se apenas no principal, O Príncipe Alberto, que se torna marido de Vitória, é possível perceber esse tal despojamento: o uso de calças, e coletes é notável. Uma moda específica da época, o dandismo, foi muito influenciadora no figurino retratado.
Criado por George Bryan Brummel, os homens usavam golas altas, uma espécie de laço em volta do pescoço para dar um ar de arrogância e coletes; e a indispensável cartola, que distinguiam aqueles que tinham grande poder econômico. Todas essas características são observáveis no filme, também, mas não só, pelo personagem Alberto.
A moda masculina estava, sim, se tornando cada vez mais simplificada, ainda mais se comparada à feminina, mas ainda não havia atingido o ápice da simplicidade. A variedade de gravatas com cor utilizadas por Príncipe Alberto é perceptível ao olhar mais atento, embora em algumas, raras ocasiões utilizasse gravata preta.
Outra marcante característica do período Romântico foi a proliferação de discursos de moda em revistas especializadas e os próprios escritores, como Balzac. O dandismo, que foi forte influenciador da caracterização do Príncipe Albert, como já citado, foi cunhado nesse período.
Roteiro
Sobre o roteiro de A Jovem Rainha Vitória, percebe-se que embora tenham sido retratados acontecimentos históricos do reinado de Vitória, muito espaço é reservado para seu romance com seu primo Príncipe Alberto. A vida da rainha, sua relação conturbada com a mãe germânica, a influência poderosa de Lorde Melbourne sobre suas decisões, os acertos e confusões políticas, tudo é abordado.
Mas nada suplanta a relação amorosa, que, como suspeitam historiadores, foi a primeira da história em que a rainha pede o noivo em casamento, o que se supõe como o primeiro relacionamento britânico real que envolvia amor. Como não deixam dúvidas a exaltação da jovem rainha, em seu diário oficial, após a primeira noite de núpcias:
“NUNCA, NUNCA passei uma noite assim!!! O MEU QUERIDO, QUERIDO, QUERIDO Alberto (…) o seu grande amor e afeto fizeram-me sentir num paraíso de amor e felicidade que nunca pensei alguma vez sentir! Segurou-me nos seus braços e beijamo-nos uma e outra e outra vez! A sua beleza, a sua doçura e gentileza – como posso agradecer vezes suficientes ter um marido assim! (…) ser chamada por nomes ternurentos, que nunca me chamaram antes – foi uma bênção inacreditável! Oh! Este foi o dia mais feliz da minha vida!”
Não é de se impressionar, portanto, a escolha do roteirista ao abordar enfaticamente o romance entre os nobres Vitória e Alberto. Sabe-se que, após sua morte em 1861, a rainha tornou-se mais reclusa e passou a utilizar apenas preto em suas vestimentas. E ela continuou se vestindo assim até a data de seu falecimento, em 1901. Ficou curioso com esta história real? Então, se quiser assistir o filme, ele está disponível nas plataformas Netflix e Crackle.
Trailer oficial:
Bom texto, que reforça a investida da autora na temática do cinema, agora em associação com a moda. Apesar de lançar mão de vídeo e de imagens, faltam links. Muitos dados também demandariam uma identificação da(s) fonte(s).
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