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A gramática invisível do bordado de luz de Castelo Branco

A gramática invisível do bordado de luz de Castelo Branco
José Fernandes

As suas origens remontam ao século XVI, entrou em desuso no início do século XIX e foi retomado no início do século XX. O Bordado de Castelo Branco mantém-se vivo nas mãos das poucas bordadeiras que dele fizeram vida. Os preços variam entre os dez e os 40 mil euros

Marina Almeida

Rosa não queria ser bordadeira. Teve o azar de nascer no sítio errado – ou certo, visto daqui: Escalos de Cima, freguesia do concelho de Castelo Branco onde, nos anos 70, havia a maior força bordadeira da região. Não teve como escapar. Há 52 anos que dá vida ao bordado de Castelo Branco.

Está sentada em frente ao longo bastidor, onde um pano de algodão recebe os minuciosos pontos a fio de seda. Está a bordar “a ouro um mantinho para Nossa Senhora”. Não é ouro que usa, mas é ouro o que faz, com a finíssima linha de seda, ponto após ponto, preenchendo o desenho previamente delineado no pano. A forma como borda, com o ponto mais cheio ou com orientações diversas, provoca a ilusão de que são várias cores, por exemplo numa flor. É a experiência da bordadeira que dita a forma de bordar cada motivo, conseguindo diferentes efeitos: “Nunca ouviu dizer o bordado de Castelo Branco tem luz? A luz é esta. A forma de bordar, os reflexos, o ângulo de visão…”

Já bordou algumas delicadas flores – de macieira e miosótis -, e folhas em ponto de castelo branco, e as ramagens em ponto pé-de-galo. “Sabe porque é que esta folhinha em baixo está mais clara? Se vocês virarem uma folhinha na natureza, em baixo está sempre mais clara. Foi uma ideia que eu tive”, conta numa voz calma e bem-disposta. Talvez nem sempre a vida lhe sorria, porque “o que está por dentro não se vê”, mas Rosa Gonçalves, 64 anos, segue bordando.

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