Há uma teoria, atribuída ora a Woody Allen ou ao humorista norte-americano George Carlin, de que a vida deveria ser vivida ao contrário. Ao invés de acabarmos os nossos dias num lar ou hospital, mirrando até ao suspiro final, diríamos adeus a este mundo com um grandioso orgasmo. Ocorreu-nos esta ideia durante o concerto de Gilberto Gil no Coliseu de Lisboa, esta terça-feira. Na segunda de duas noites esgotadas na sala nobre da capital, o músico baiano começou devagar, como um poema sentado - e rodeado pela sua banda-família, composta pelos filhos Bem e José e pelos netos João e Flor. Mal assomou em palco, foi comovente o contraste entre a simplicidade do seu passo ligeiro e o calor da ovação que de imediato se fez ouvir. E, nas primeiras canções - 'Expresso 222'2', ‘Viramundo’, ‘Chiclete com Banana’ - a sua voz crepitava, ocasionalmente, sendo amparada sem reservas por um público com grande representação verde & amarela. Na segunda parte do espetáculo, porém, e sobretudo a partir da chegada de ‘Não Chore Mais’, a sua versão para ‘No Woman No Cry’, de Bob Marley, a festa foi total e a despedida impressionou pela vivacidade de todas as cores: rock, reggae, samba, bossa nova e tropicalismo pintaram esta noite onde só foi outono lá fora.
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