Quão longe cresceu o fado! Dantes, era uma canção de vencidos, uma música “ouvida no seu próprio ambiente, uma sórdida e escura taverna com a sua frequência de gente pobre e sem educação”, como escreveu Luiz Moita; hoje, enche três Coliseus de seguida, e o seu cariz popular não afasta as classes capazes de pagar pelos lugares mais caros. Quão longe cresceu e quão longe foi assimilado. Hoje, dizemos “fado” e o termo não assusta, por tão diversas razões, como assustava no século XIX, nos anos 30, na década de 70. Ser fadista é uma coisa nobre; é preciso ter classe para se ser fadista. E, no meio disto, surge Sara Correia, que torna impossível não fazer uma leitura de classe em relação a este espetáculo no Coliseu dos Recreios, sobretudo ao irromper em ‘Chelas’, canção sobre o seu bairro e a sua vida no bairro, protesto veemente contra a moral que lhe queriam impor: “Fala bom português, larga o calão/ Não fales da pobreza, da noite escura/ Ganha quem tem poder e não coração.”
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