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Marialva: a aldeia histórica onde ecoa a lenda da Dama Pé de Cabra

Marialva: a aldeia histórica onde ecoa a lenda da Dama Pé de Cabra

Caminhos históricos, castelos e igrejas, bem como turismo de luxo, fazem da Aldeia Histórica de Marialva, no concelho de Mêda, um destino a explorar sem pressas. O castelo e a igreja são de passagem e fotografia obrigatórias, mas muitas lendas e histórias para escutar

Suba sempre, até não poder mais, as empedradas ruas da aldeia que, em poucos minutos, estará no largo principal, ponto de partida perfeito para conhecer as atrações e as histórias de Marialva. É ali que fica o Posto de Turismo (Tel. 279859288) e onde encontra toda a informação para fazer um passeio. Caso queira, por marcação antecipada, pode marcar uma visita guiada, com explicações detalhadas sobre tudo o que os olhos contemplarem. Antes de começar, impõe-se uma visita ao pequeno café O Nicho, recentemente alvo de remodelações, onde encontra António Tomé e a Mulher, Celina, sempre prontos para servir os clientes e para dois dedos de conversa, recheados de sugestões e curiosidades.

Castelo de Marialva
Paulo Chaves

Nos dias quentes, no pequeno terraço, sirva-se de uma bebida fresca, contemple o casario e sirva-se da história dos anfitriões, ele ligado à área comercial, ela enfermeira, nascidos em Marialva, mas viajantes de paisagens tão diversas como Angola, Lisboa, Santarém ou Coimbra. Vai ouvir dizer que, na altura de fazerem contas à vida, para evitar a desertificação, regressaram ao berço e abriram este multifacetado café. Ali servem ao balcão, mas são também quem vende recordações para trazer para casa, como licores caseiros, compotas de fruta apanhada ali perto e pequenos doces de confeção pessoal.

António e Celina Tomé

Há os Beijinhos de Marialva, os Miminhos do Marquês, e as Flores de Marialva, estes com amêndoa, que mais do que o engenho na cozinha, são a forma encontrada pela dona Celina de perpetuar o seu nome e deixar um legado para as gerações futuras. Decidiu-se a meter a mão na massa por achar que, não havendo um bolo típico da terra, era altura de alguém fazer um. Em passeio Depois das despedidas feitas, guarde na memória ou aponte no mapa dado pelo turismo, as principais atrações da aldeia, dadas com destreza por António Tomé. O Castelo e a Igreja são de passagem e fotografia obrigatórias. Mas antes, olhe com atenção para um pequeno palco de pedra, em pleno largo, chamado Drama, usado para pequenas representações teatrais e cuja origem ou data de construção de se desconhecem.

Marialva

De regresso ao Castelo, dizem os livros de história, que o rei D. Manuel concedeu Foral Novo a Marialva e começou com as obras no castelo, tornando a localidade numa das mais imponentes e fortes praças de guerra do reino. Outros livros, neste caso o Viagem a Portugal de José Saramago também referem o Castelo de Marialva, Nas palavras do Nobel da Literatura “É este conjunto de edificações em ruína, o elo misterioso que as liga à memória presente dos que viveram aqui, que subitamente comove o viajante, lhe aperta a garganta e faz subir lágrimas aos olhos”.

Posto turismo Marialva

Lá em cima, após normalizada a respiração, visite a Igreja Matriz e a Capela do Senhor dos Passos, que ficam no largo do castelo, ao lado da cisterna e do pelourinho, ainda hoje locais de culto religioso, em especial na primavera e no verão, quando se celebra missa no altar. Quando entrar, levante a vista e contemple os 36 caixotões pintados no teto. Depois, à saída, rodeie o Pelourinho para apreciar o detalhe e, mais uma vez, deslumbre-se com a paisagem circundante. Do alto do castelo vai conseguir perceber na perfeição a divisão de Marialva. A parte onde está chama-se Cidadela, para lá das muralhas começa o Arrabalde e a sul, até à ribeira de águas frescas, situa-se a Devessa. Pode percorrer cada uma destas zonas usando a sinalização colocada no caminho e que assinalam quatro quilómetros de trilhos que dão a volta a aldeia, aconselhando a parar nos pontos de interesse e a interagir, quer com a história, quer com a população que não se inibe em dar mais conversa do que a simples salvação.

Casas do Coro

Vinhateiro

O alojamento das Casas do Côro é muito mais do que um local para pernoitar. Fruto da garra e do empreendedorismo de Paulo e Cármen Romão, proporcionam passeios com musica numa camioneta restaurada, piqueniques a dois no meio das vinhas em magníficas day beds, passeios em moto 4 ou até retemperadoras viagens de barco pelo Douro, afinal ali tão perto. O empreendimento turístico lança este ano sete novas casas, espalhadas pelo leito do rio e ao longo da linha do comboio, que vão servir de alojamento. A primeira já está construída, serve de sala de refeições e é ponto de partido do barco de 11 metros, com capacidade para 12 pessoas, que faz passeios à medida pelo rio.

Prove a produção vínica da unidade hoteleira e descubra também as produções da Quinta Vale d'Aldeia (Tel. 963644321) a poucos quilómetros de distância. Em Meda recupere forças e prove a Posta, o Cabrito e o Borrego assados no forno, bem como os “farta rapazes”, uns pequenos bolos tradicionais da região. O restaurante Sete e Meio (Tel. 279883272) é um dos locais onde o pode fazer. Desça depois a Longroiva, muito perto e conheça o Castelo, onde se impõe no horizonte a Torre de Menagem, uma das primeiras a ser edificada em Portugal. Mais abaixo, passe pelo Longroiva Hotel Rural (Tel. 279149020) e depois de contemplar o edifício, da autoria do arquiteto Luís Rebelo de Andrade, suba à piscina na área termal. Não importa se for de verão ou de inverno, a água está sempre com 30 graus de temperatura.

Marialva

Dama Pé de Cabra

Regresse ao início, a Marialva, agora com mais tempo para ouvir quem deu nome à localidade. Todos conhecem a história que dá pelo nome da lenda da Dama Pé de Cabra, romanceada da vida de uma suposta Maria Alva, donzela que morava no castelo. Todos os dias mostrava a beleza da face à janela, ouvindo em retorno propostas de casamento e amor eterno. Respondeu sempre que só entregaria o coração a quem lhe fosse capaz de dar uns sapatos à medida, até que um dia (e nas lendas há sempre um dia) que um cavaleiro vindo de outras paragens aceitou o desafio.

Para conseguir o molde, e uma vez que já tinha encontrado um sapateiro que fizesse o trabalho, rogou a uma criada que espalhasse farinha pelo chão, de modo a obter um molde com as marcas deixadas pelos pés da donzela. O sapateiro, ao ver as marcas, descobriu que Maria Alva tinha nascido com pés de cabra, mas aceitou a encomenda. Quando o cavaleiro lhe deu os sapatos, não suportando a vergonha, a donzela atirou-se para a morte do alto da torre do castelo, dando assim origem ao nome da localidade: Marialva.

Este artigo foi adaptado do Guia das Aldeias Históricas de Portugal, oferecido com o Expresso, no dia 30 de maio de 2021

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Tem dúvidas, sugestões ou críticas? Envie-me um e-mail: fbrandao@impresa.pt

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