Foi há 10 anos que Portugal pediu um resgate internacional depois de uma escalada dos juros da dívida que tornaram o financiamento nos mercados quase impossível. O pedido, a 6 de abril de 2011, surgiu de forma pouco ortodoxa depois de o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos, ter dito publicamente a um jornal – o Jornal de Negócios – que tinha chegado a hora de o fazer. Nessa altura, a dívida pública estava pouco acima de 100% do PIB, agora ultrapassa 130%.
Teixeira dos Santos, que esteve esta semana no podcast Money, Money, Money, confessa não ter sentido um calafrio com o atual nível de dívida pública, “porque as condições são diferentes”, mas diz que olha “para este nível de dívida com preocupação”. O ex-ministro das Finanças admite até que, ao contrário do que está previsto no Orçamento do Estado para 2021, a dívida possa voltar a agravar-se este ano por causa da terceira vaga da pandemia e dos seus efeitos na economia. A grande diferença em relação a 2011, quando a dívida era até inferior, é que hoje a Europa tem instrumentos que não tinha naquela altura.
Isto não significa, no entanto, que devamos estar descansados. Quando a crise pandémica passar será necessário voltar a consolidar as contas públicas. Teixeira dos Santos admite que não será necessário adotar medidas de austeridade, nos termos em que ficaram conhecidas nos anos da troika, mas a contenção orçamental será inevitável. E, nos tempos mais próximos, não lhe parece haver margem para tentar reduzir a carga fiscal: “Tenho dúvidas que haja condições a curto prazo para reduzir impostos.”
O que também distingue a atual crise e a que enfrentou há uma década, é que “os bancos tem hoje uma solidez que não tinham na altura da crise financeira global” quando havia inclusivamente muitas dúvidas e incerteza sobre “a sua real situação.
O 60º episódio de Money, Money, Money estará disponível amanhã, quarta-feira, na página de podcasts do Expresso. Pode ouvi-lo aqui.
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