Economia

Reabilitação do Mercado do Bolhão está concluída e custo total subiu para €50 milhões

Reabilitação do Mercado do Bolhão está concluída e custo total subiu para €50 milhões
Rui Duarte Silva

A construção do túnel de acesso à cave logística, o desvio do curso de água e as indemnizações aos comerciantes levaram à duplicação do investimento

Elisabete Soares

A obra de reabilitação do mercado do Bolhão, no Porto, está concluída e falta apenas que os comerciantes se instalem para que a 15 de setembro - data prevista para a abertura -, volte a ser o que sempre foi: um mercado de frescos e alimentação, mas imbuído de um ambiente de alegria e boa disposição, dado pelas suas vendedeiras, que foram sempre uma das suas características mais marcantes. E tudo leva a acreditar que voltará a ser o que sempre foi, já que das 81 bancas que ocupam o miolo central do mercado, 59 voltam a ser ocupadas por comerciantes históricos e dos 10 restaurantes, três dos inquilinos regressam, depois de terem permanecido no mercado temporário, instalado no shopping La Vie, a poucos metros, durante o período de mais de 4 anos, em que duraram as obras. Nas 38 lojas do exterior do mercado, 26 são inquilinos que regressam e que mantêm a atividade anterior.

A obra de renovação e restauro do mercado do Bolhão, que permitiu a modernização de um edifício icónico para a cidade – cujo revestimento exterior voltou à cor original do projeto de 1914 - permitiu dotar o equipamento de todas características, em termos logísticos, de acessos e ambientais, que cumprem as exigências de qualidade exigidas atualmente.

Investimento total duplicou

As vicissitudes ligadas com a construção do túnel para cargas e descargas e a criação da cave logística são algumas das razões que acabaram por fazer disparar o investimento total, para os 50 milhões de euros.

Rui Moreira, presidente da Câmara do Porto, promotor da obra, referiu aos jornalistas que a operação do mercado do Bolhão “tem a ver com tudo”, e que, por isso, representou “um investimento de 50 milhões de euros”.

Assim, para além dos 26 milhões de euros da empreitada de restauro e modernização do mercado – mais 15% do que o valor que foi adjudicada ao agrupamento Alberto Couto Alves S.A e Lúcio da Silva Azevedo & Filhos S.A – “foi investido o dobro, nomeadamente em outras obras necessárias ao funcionamento deste emblemático espaço comercial da cidade”, referiu o autarca.

Cátia Meirinhos, vice-presidente da empresa municipal GO Porto – Gestão e Obras do Porto – que a par com o arquiteto Nuno Valentim foram os grandes obreiros na condução da obra, segundo o autarca – destaca as várias intervenções que foi necessário fazer para concretizar a empreitada. “Primeiro foi a obra do desvio da linha de água, depois a aquisição de duas caves de dois prédios para a construção do túnel de acesso à cave da logística, e as indemnizações e compensações que foram e ainda estão a ser atribuídas aos comerciantes”, referiu, enquanto mostrava a obra do túnel do Bolhão, que liga a Rua do Ateneu Comercial ao piso da cave logística do mercado.

De destacar que a obra de modernização do mercado contou com o apoio financeiro público nacional/regional no valor de 16,6 milhões de euros e com um montante de 11,7 milhões dos fundos comunitários do FEDER. O restante foi assumido pelo município.

Elevadores e novos acessos

Dotar o mercado de melhores acessos e novas aberturas ao exterior foram objetivos que estiveram presentes na modernização do espaço.

Na opinião de Rui Moreira, nesta obra devemos considerar “dois patrimónios: o arquitetónico e cultural, que está salvaguardado, e depois o imaterial que são as pessoas”.

Para o autarca, foi feito “um trabalho muito exaustivo antes de os comerciantes saírem e irem para o mercado temporário”. Agora, “vão ter aqui muitas condições, porque isto estava a cair”, referiu.

Nuno Valentim, arquiteto autor do projeto de reconversão, destaca as novas condições deste espaço que vão desde a criação das três praças de acolhimento dos visitantes - com destaque para a praça criada na entrada principal da Rua Formosa -, e para os 12 elevadores que vão permitir a acessibilidade a pessoas com mobilidade reduzida. Mas também uma nova passagem intermédia, que atravessa e liga as ruas Alexandre Braga e Sá da Bandeira, bem como o acesso direto ao mercado a partir da estação do metro do Bolhão e das ligações por túnel (do metro) com as ruas laterais e com o parque de estacionamento do shopping La Vie.

Nuno Valentim destacou, ainda, alguns detalhes arquitetónicos presentes na reconstrução do mercado centenário, como a manutenção do criptopórtico do viaduto de Sá da Bandeira, visível num dos cantos do mercado, no facto de em vários pontos ter sido possível recuperar e manter os azulejos originais e onde isso não foi possível terem procurado a maior aproximação ao processo produtivo da altura.

Destaca ainda que as bancas do mercado se distribuem por cinco ruas que “sempre estruturaram a venda no Bolhão”, organizadas por ‘ilhas’ – ocupadas por um a 4 comerciantes - com a novidade de terem sido batizadas com nomes de ruas características do Porto.

Já na entrada da rua Formosa estão instaladas duas bancas históricas do Bolhão, como garante da memória do que existia no espaço, antes da intervenção.

Mais produtos e melhores condições

Cátia Meirinhos, que foi a responsável pelo acompanhamento dos comerciantes, destacou o facto de haver agora “mais oferta de produtos” em venda no espaço, tendo os comerciantes a possibilidade de vender “quase 4.500 produtos”.

Sobre a cave logística destacou a sua importância, “tanto a organização das cargas e descargas”, como no armazenamento, com uma oferta de câmaras frigoríficas, com máquinas de gelo, que podem ser adquiridas pelos comerciantes”. Bem como a questão da “gestão de resíduos”, existindo agora “uma série de novas condições que não existiam anteriormente, nem no mercado temporário”.

Um dos aspetos importante é o facto de a cave logística colocar um ponto final nos antigos constrangimentos ao trânsito nas artérias envolventes ao mercado. “A cave foi escavada para cargas e descargas, para entrarem até camiões de 18 toneladas para abastecer o mercado”, acrescenta Nuno Valentim.

A organização do espaço é outro ponto que merece destaque. A partir de agora “o mercado de frescos é no piso térreo, os restaurantes são no andar superior e as lojas ficam voltadas para o exterior”, refere.

Foi também lançada a marca Bolhão, da autoria do Studio Eduardo Aires, com o logótipo a incorporar o ADN do Bolhão e os seus elementos arquitetónicos.

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