Ser ou não ser

João César das Neves: “Portugal está armadilhado por grupos de interesses, se os políticos falarem a verdade nunca serão eleitos”

Segundo João César das Neves, Portugal deveria refletir sobre o “sarilho” do endividamento e diz que o país está armadilhado por grupos de interesses, que têm mais poder do que deviam e capturaram o Estado. “A ética não é difícil, é só querer, mas muitas vezes as pessoas não querem”. Oiça aqui a conversa com o professor da Católica no podcast Ser ou Não Ser

“Todos os seres humanos têm ética. Desde crianças que sabemos o que é bom ou mau, o que é certo ou errado”. Para o economista João César das Neves, não há uma ética especial para as empresas, os problemas é que são diferentes. “Hoje temos mais uma liturgia nas empresas do que propriamente preocupações com a ética. Desde que se cumpram as regras e códigos criados pelas organizações internacionais... está feito e perdeu-se o sentido de ser boa pessoa”.

Os problemas da sociedade

As empresas têm de tratar os problemas sociais? “É parcialmente verdade, mas em primeiro lugar têm de ser empresas”. O economista diz que a forma que tem sido muito utilizada para resolver esta questão da responsabilidade social é pegar numa “pipa de massa” e entregar o tema a alguém. “Chama-se criar uma fundação, que é uma maneira um pouco hipócrita de resolver o problema”. Porém, na sua opinião, se a questão fosse só dinheiro, “a coisa” resolvia-se, mas não é.

É preciso encontrar um equilíbrio para a quantidade de solicitações porque a empresa tem responsabilidades sociais, mas não pode tratar de todos os problemas da sociedade. Quanto aos estudos que apontam as empresas mais éticas, João Carvalho das Neves refuta os resultados, ironizando: “Mas há um termómetro que se coloca para medir se a pessoa está ética ou não? Não conheço”.

TOMAS ALMEIDA

O professor da Católica não nega que a ética empresarial é um negócio. “Há empresas em Portugal que vendem ética e isso não é uma coisa má. É preciso perceber que não é a ética toda”. César das Neves acredita que quando uma organização tem a cultura voltada para a ética até os maus são éticos. Agora quando ser ético não é bom para os negócios “é que se descobre quem é ético, porque continua a sê-lo mesmo quando não há benefícios sociais, políticos e económicos”.

As pressões mediáticas têm no seu entender “um efeito muito positivo porque fazem mudar a cultura”. Quando se incorpora nos critérios da organização os problemas, sejam de pobreza, ambiente, discriminação, entre outros, quando estes entram no ADN das empresas, então é quando o momento passa a ser ético porque deixa de ser uma imposição ou uma regulamentação e passa a ser uma questão ética. “O caso ambiental é extraordinário, porque em duas gerações conseguiu passar de algo que não existia para uma prioridade central”.

TOMAS ALMEIDA

O economista fala ainda no desespero dos economistas que andam há décadas a dizer que é preciso ter atenção às contas porque nos estamos a endividar brutalmente.

João César das Neves diz que temos de ser responsáveis e aponta o dedo não aos políticos, mas ao facto de o “país estar armadilhado”, ou seja, de haver uma enorme quantidade de grupos de interesses, que têm mais poder do que deviam e conseguiram capturar o Estado. “Isto vê-se agora na campanha eleitoral. Se os políticos, alguma vez, falarem a verdade sobre a situação do país, nunca serão eleitos”.

Mário Henriques

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