Mary e Max: sobre solidão, amor, amizade e diferenças

Um amigo aspie

O que a animação Mary e Max — Uma Amizade Diferente tem a ensinar

Fernanda Mendonça
3 min readMar 12, 2016

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Personagens pálidos, repletos de defeitos, fora dos padrões. Assim são Mary e Max, protagonistas de uma animação inspirada em fatos reais que muito têm a ensinar aos adultos sobre as deficiências do ser humano.

Mary e Max — Uma Amizade Diferente (Austrália, 2009, Adam Elliot) conta a história de Mary Dinkley, uma solitária menina de oito anos que vive na Austrália, e Max Horovitz, um judeu nova-iorquino de 44 anos que tem Síndrome de Asperger (uma variação do autismo).

A amizade entre duas pessoas aparentemente distintas começa quando Mary escreve uma carta para um endereço aleatório dos Estados Unidos a fim de saber a origem dos bebês. É por meio dessa carta que Max conhece sua primeira e única amiga — e essa amizade é correspondida por quase duas décadas.

São muitos os temas discutidos durante o filme: solidão, amor, amizade, obesidade, traumas infantis, interação social, diferenças sexuais e religiosas, alcoolismo, compulsão, pânico e o que é a Síndrome de Asperger. Apesar de tratarem sobre assuntos complexos e adultos, Mary e Max têm a inocência e simplicidade de criança.

Com um pai ausente e uma mãe alcoólatra, Mary vê em Max uma pessoa capaz de responder a todos os seus “por quês”. Entretanto, Max passa por um misto de sofrimento e alegria a cada carta recebida. Mary o faz lembrar-se de momentos angustiantes de sua vida, como o preconceito que sofria quando jovem. Devido a seu bloqueio em interpretar sentimentos, Max teve que superar seus limites para, de alguma forma, ajudar sua amiga.

“Ame-se primeiro”

Orgulhando-se de ser um “Aspie” (como carinhosamente se intitula), Max também ensina o que é aceitar-se. Apesar de os médicos o chamarem de incapacitado e tentarem o “curar”, o personagem acredita que cada um tem suas dificuldades, e deve aprender a lidar com elas. Afinal, seres humanos não são perfeitos — e isso pode ser provado por Mary, com seus óculos de grau, ou por seu vizinho, que sofre de gagueira.

O que Mary e Max têm a ensinar é que todos são capazes de superar seus limites se puderem compreender uns aos outros. Max teve a sensibilidade para perceber as angústias e tristezas de Mary. Ela, por sua vez, viveu a luta de compreender a mente de uma pessoa com a Síndrome de Asperger.

Mary e Max souberam respeitar suas diferenças e conseguiram achar pontos comuns para viverem uma grande amizade. Ser sensível com as diferenças, sejam elas diagnosticadas ou não: essa é a maior lição que Mary e Max — Uma Amizade Diferente tem a passar.

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Fernanda Mendonça

Pensamentos em fluxo e paradoxos. Aqui estão alguns textos indefinidos. Escrevo sobre cinema no assistebrasil.com.br | fernanda@assistebrasil.com.br