24/04/2013 12h09 - Atualizado em 24/04/2013 13h16

Aos 98 anos, colecionador monta museu com 874 máquinas de costura

Ex-pedreiro e sapateiro começou a coleção para continuar trabalhando.
Prefeitura de Concórdia fez museu para expor parte dos exemplares.

Janara NicolettiDo G1 SC

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Aos 98 anos de idade, seu Angelo Spricigo coleciona 874 máquinas de costura antigas (Foto: Angelo Spricigo/Arquivo pessoal)Aos 98 anos de idade, seu Angelo Spricigo coleciona 874 máquinas de costura antigas (Foto: Museu Angelo Spricigo/Divulgação)

A paixão de seu Angelo Spricigo pelas máquinas de costura chegou junto com a viuvez. Aos 82 anos de idade, ele perdeu a mulher e decidiu inventar alguma atividade para passar tempo e se manter ativo. “Eu pensei: o que ia fazer da vida? Casar de novo, eu já tava meio velho. Voltar a trabalhar também não dava. Eu era pedreiro e não dava mais para subir em andaime. Aí peguei duas máquinas que estavam jogadas no canto e comecei a arrumar”, diz o colecionador que, nesta quarta-feira (24), completa 98 anos de idade. Sem nunca ter feito qualquer conserto neste tipo de equipamento, ele abriu as máquinas, limpou e foi aprendendo o segredo de fazer a manutenção delas.

Com o passar do tempo, começaram a chegar outras máquinas. Hoje, o acervo é composto por 874 máquinas de costura. Destas, 764 foram catalogadas e descritos em um site que já conta com mais de 84 mil visitas desde 2012.“Algumas foram encontradas no Rio Queimado. Outras na própria rua e tinha bastante máquina no interior. As pessoas ficaram sabendo que eu tava comprando as máquinas e elas começaram a trazer. Eu pagava R$ 10, R$ 20 e foi aumentando o número das máquinas. Algumas foram enviadas por pessoas da Alemanha, Itália”, conta.

Acervo começou a ser montado em 1997 (Foto: Angelo Spricigo/Arquivo pessoal)Acervo começou a ser montado em 1997
(Foto: Museu Angelo Spricigo/Divulgação)

Quem ajuda na organização é o neto Valdecir Giotto. Ele conta que a máquina mais antiga foi fabricada há 163 anos. Por causa das condições e tempo, não foi possível identificar a marca nem o país onde ela foi produzida. A segunda com maior tempo de existência é uma Singer, produzida em 1870. São mais de cem marcas presentes no acervo. Há exemplares de diversos cantos do mundo, como Itália, Alemanha, França, Austrália, Japão, Estados Unidos, Inglaterra e China.
 

“Fui aprendendo sozinho, por vontade de trabalhar”
Maior parte dos equipamentos fica em um cômodo da casa de seu Spricigo. Outra área é usada para a oficina, onde é feita toda a manutenção dos equipamentos. Este é o lugar onde o senhor passa mais tempo por dia: são quase dez horas de trabalho diário na organização e limpeza das máquinas.

Quando chegam às mãos do curador de 98 anos, os equipamentos recebem limpeza, manutenção e consertos necessários. Àqueles que faltam peças, Spricigo coloca novas. Há 60 nesta situação. Depois, todos são guardados em prateleiras, onde ficam à disposição dos curiosos que querem conhecer a coleção. "Nunca saio de casa. Ela sempre está aberta para quem quiser conhecer", afirma. Em abril, a Prefeitura de Concórdia montou um museu, no qual são levados cerca de 40 equipamentos que ficam em exposição. De mês em mês, eles serão revezados para que as pessoas tenham acesso aos exemplares.

Na oficina, seu Angelo faz os reparos necessários das máquinas (Foto: Angelo Spricigo/Arquivo pessoal)Na oficina, seu Angelo faz os reparos necessários
das máquinas
(Foto: Museu Angelo Spricigo/Divulgação)

“Fui aprendendo sozinho, por vontade de trabalhar”, conta. Esta motivação sempre esteve presente na vida de seu Spricigo. Ele sabe tocar violino, fala latim e órgão. Tudo isso, diz, que aprendeu sozinho. O ofício que garantiu o sustento da família desde que chegou em Concórdia também foi resultado do esforço em sempre querer saber mais. “Eu trabalhei um ano de graça para aprender a construir. Depois, virei pedreiro”, conta.

A história de vida e determinação do aniversariante desta quarta-feira (24) lhe rendeu reconhecimento na cidade onde mora desde 1945. “De homem aqui de Concórdia eu sou o mais idoso. Todo mundo me cumprimenta, me conhece", se vangloria o senhor natural de Urussanga, no Sul catarinense. Esta semana, ele foi homenageado pela passagem de seu aniversário pela Câmara de Vereadores e Associação Comercial e Industrial de Concórdia. Também recebeu reconhecimento pelo trabalho como colecionador da Singer Brasil.

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