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Por Jô Alvim, Psicóloga

Perder alguém que amamos é, sem dúvida, a pior dor que podemos sentir na vida, pois remete ao vazio. Portanto, despedir-se daquele ente querido é muito doloroso.

Apesar dos rituais fúnebres variarem conforme a cultura e a religião, eles são importantes para a elaboração do luto. Num momento tão desorganizador que é a morte, o ritual de despedida tem alto valor emocional, pois auxilia a família enlutada a enfrentar a perda e isso inclui o compartilhamento da tristeza com os amigos presentes, através de abraços, palavras ou olhares.

No entanto, a pandemia da Covid-19 alterou os rituais de despedida e, com isso, a nossa relação com o luto. Pelo risco do contágio, os protocolos de medidas de segurança determinam que os velórios coletivos sejam de curtíssima duração, com o caixão lacrado e restrito apenas aos familiares mais próximos. E olhe lá!

Ainda que tais ações sejam justificadas, os familiares expressam revolta, raiva, dor e incredulidade. Isso tem tornado mais doloroso o processo de ressignificação da dor, dificultando a pessoa enlutada lidar com a perda.

O luto é uma reação natural consequência do rompimento de um vínculo importante para nós. Apesar de cada pessoa reagir de forma diferente, o que dependerá da estrutura emocional de cada uma, é possível observar manifestações de tristeza, solidão, raiva, autoculpabilização, baixa autoestima, episódios depressivos; além de alterações do apetite, dos padrões de sono e somatizações.

Assim, o apoio emocional por parte das pessoas próximas ao enlutado deve ser ainda maior neste momento de isolamento social que estamos atravessando. Apesar do distanciamento físico, o acolhimento pode ser feito através de telefonemas, mensagens nas redes sociais ou outras ações que demonstrem empatia, cuidado e carinho para que os processos de pesar tornem-se mais enfrentáveis.

No luto, a ausência física não é o maior sofrimento, como muitos imaginam, e sim a referência de amor, de proteção que este ente oferecia. Quem fica, inicialmente, perde a noção desta referência, daí é preciso reencontra-la dentre si num processo que irá ressignificar esta perda, permitindo formar um vínculo peculiar.

O equilíbrio psíquico é retomado na medida em que o luto é digerido, elaborado, e a vida, principalmente o sentido dela, reorganizados. À medida que a dor vai sendo diluída, o que fica é o legado daquele que partiu, e, claro, a saudade.

Créditos: Joselene L. Alvim- psicóloga

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