O Grupo Folclórico de Vila Verde foi fundado em 1958 com o intuito de preservar e divulgar as tradições etno-folclóricas do concelho de Vila Verde, representando a região do Baixo Minho – Cávado onde se encontra inserido.

Usos, costumes e tradições

O LENÇO DE PEDIDO (Namorados) NO TRAJE E TRADIÇÕES DE VILA VERDE  – GALA ‘NAMORAR PORTUGAL’

É provável que a origem dos lenços de Pedido, vulgo, “Lenços de Namorados”, esteja nos lenços senhoris do Século XVII e XVIII, adaptados depois pelas mulheres do povo, dando-lhe, posteriormente, um aspeto popular característico.

Antes de tudo, eles faziam parte integrante do traje feminino e tinham uma função fundamentalmente decorativa. Eram lenços geralmente quadrados, de linho ou algodão, bordados segundo o gosto da bordadeira.

Mas não é, enquanto parte integrante do traje feminino de Encosta ou Domingueiro, e que o Grupo Folclórico de Vila Verde sempre preservou, que interessa para o seu estudo, mas a sua outra função, não menos importante, e da qual lhe devem o nome: a conquista do namorado.

Este trabalho bordado em linho tinha no amor o tema em volta do qual girava a sua confecção. As moças/raparigas da terra em idade casadoira, ao oferecer o lenço ao pretendente, faziam prova dos seus sentimentos de fidelidade e dedicação, pelo que este gesto significava um “pedido” de namoro e até mesmo uma escritura antenupcial.

Para realizar esta obra, a rapariga utilizava os conhecimentos que possuía sobre o ponto de cruz, e uma vez bordado, o lenço ia ter às mãos do “conversado” ou “namorado”, e mediante a atitude deste em usa-lo publicamente ou não, que se decidia o inicio duma ligação amorosa.

Como a escassez de tempo passou a ser um facto na vida moderna, a mulher deixou de ter tanto tempo para a confecção destes lenços, pelo que esta teve que solucionar este problema adoptando outros métodos mais acessíveis na concepção do bordado, tais como a utilização de outras cores, para além do vermelho e do preto, e com elas novos motivos decorativos.

Todavia, não foi por esta circunstância que os lenços de Pedido/Namorados deixaram de ser mais expressivos, pois desta forma, os bordados passaram a ser acompanhados, muitas vezes, por quadras de gosto popular e escritas sob a forma directa da sua oralidade, tornando-se, assim, uma característica peculiar dos lenços confecionados em Vila Verde.

DANÇA DO REI DAVID

A dança do Rei David pode ser considerada, num contexto etnográfico, uma representação de teatro popular / tradicional, pertencente ao ciclo religioso. (adaptado). 

Até ao séc. XV, a Dança do Rei David era conhecida pela “Dança do Rei Mouro” ou “mourisca”. Trata-se de uma recordação deixada pelos Mouros na região do Baixo Minho, mais precisamente aquela que confina com a cidade de Braga. A dança terá tomado a designação de “mourisca” devido ao traje dos músicos e dançadores e à própria melodia e passos de dança, a indigitar a sua proveniência árabe. Inicialmente, esta dança incorporava a Procissão do “Corpus Christi”. Quando a Igreja Católica proíbe as danças e exibições profanas nessa soleníssima procissão, a dança passa a ser designada por Dança do Rei David, nome achado conveniente, supostamente associado à popularidade dos temas bíblicos e teológicos, muito divulgados em Portugal nos finais do séc. XV. Apesar do rei mouro ter sido transformado no patriarca bíblico David, esta dança continua, no entanto, a ser considerada pagã, sendo sempre exibida isoladamente em dias santos.

 

Soledade Martinho; Jorge Barros, in Festas e Tradições Portuguesas (adaptado), Círculo de Leitores, 2002.

 

Em Vila Verde, a Dança do Rei David popularizou-se e ganhou raízes na freguesia de Vilarinho, incorporando a tradicional e secular procissão de “Corpus Christi” (Corpo de Deus), que ainda nos tempos atuais é um verdadeiro ex-libris da região. A sua popularidade entra também nos instrumentos musicais usados na dança, juntando ao violino, bandolim e violão, o cavaquinho, a viola braguesa e os ferrinhos, estes últimos pertencentes à tocata tradicional de Vila Verde. Os intervenientes são dois Guias (passavantes), que abrem caminho ao Rei, e os acompanhantes (músicos), cinco em cada fila, constituem a “comitiva real”, outrora com o objectivo de anunciar a paz ou a guerra.

RECOLHA, RECONSTITUIÇÃO E REGISTO DA DANÇA PELO GFVV:

Em 1981, depois de vários anos de interregno, esta tradição de origem erudita, que se popularizou, é reposta em Vila Verde pelo Grupo Folclórico de Vila Verde, com a colaboração e apoio de elementos do Grupo “Raízes” e de alguns intervenientes de um antigo e extinto Grupo, naturais e/ou radicados nas freguesias de Vilarinho; Pico S. Cristóvão; Prado S. Miguel e Penascais.

Mais tarde, em 11 de Outubro de 2003, na Igreja Paroquial de Vila Verde, por ocasião do 45º Aniversário, em 10 de Junho de 2005, Cortejo Etnográfico dos 150 anos do Concelho de Vila Verde, e no ano de 2008, mais concretamente no dia 06 de Janeiro, integrada na Missa comemorativa do seu 50º Aniversário, o Grupo Folclórico de Vila Verde repõe de novo a tradição de Teatro Popular, ainda com a colaboração e apoio de elementos do Grupo “Raízes”, e de um elemento do Grupo “Canto D’Aqui”, tendo a particularidade desta cerimónia ter sido transmitida em directo pela TVI.

Em 2018, na Gala ‘Namorar Portugal’, voltou a ser apresentada, integrada na apresentação “Vila Verde, com Amor… Desfile de Tradições”, nas comemorações dos 60 anos.

VILA VERDE, TERRA DE TRADIÇÕES, CONTADAS HOJE E RECRIADAS PARA SEMPRE…

-Trabalho de divulgação de tradições através da fotografia e vídeo, como motor de difusão e salvaguarda de um espaço e como fixadora da memória coletiva, permitindo interpretações de um momento recriado a partir de testemunhos de outrora, sendo estes transformados numa narrativa (texto).

-Cada registo fotográfico é acompanhado de texto que narra a respetiva tradição e a enquadrem num contexto etnográfico. 

-Pretende-se que as tradições divulgadas não estejam associadas ao pendor artístico do povo, mas sim a cunhos empíricos e espirituais do seu quotidiano.

Época retratada:

– Final do século XIX – início / meados do século XX

Objetivos:

  1. Promover a identidade da comunidade vilaverdense, tanto individual como coletiva.
  2. Identificar e salvaguardar os mecanismos que regulam o “espírito de lugar” de Vila Verde.
  3. Refletir na herança identitária das tradições retratadas.
  4. Divulgar tradições que assentem em quatro polos:
    1. A Terra e o Fruto _ A apanha da azeitona
    2. Artes e ofícios _ Cesteiros e Carreteiros 
    3. Devoção e Culto _ Romaria à Senhora do Alívio
    4. Rituais de vida _ Lavadeiras

ROMEIRINHOS À SENHORA DO ALIVIO

Ainda agora, embora rareiem cada vez mais, se vêm a caminho do Mosteiro da Senhora do Alívio grupos de crianças e/ou jovens adolescentes do sexo feminino entoando uma simples e linda melodia, a duas vozes, com uma ou outra voz oitavada ou de guincho, que para ali se dirigem de ramo de flores na mão e noutros casos de vela, acompanhadas normalmente pela pessoa que faz a promessa, que vai por vezes amortalhada (género de opa que o(a) pagador(a) da promessa coloca por cima da outra roupa) e/ou sem fala, neste caso levando na mão um ramo de oliveira.

Esses grupos, de nove raparigas, alinhadas três a três, comandadas por uma que começa os cânticos, por vezes de inspiração espontânea, fazem-no assim durante o trajeto:

Senhora do Alibio
Aqui lhe trazemos
Estes Romeirinhos
Que lhe prometemos
Que lhe prometemos
‘inda mais também
Senhora do Alibio
Para sempre ámen
Senhora do Alibio
Estrelinha do norte
Bós deste a bida
A quem estaba à morte
A quem estaba à morte
‘inda mais também
Senhora do Alibio
Para sempre ámen
(…)
Dentro do mosteiro reza-se o terço, agradece-se a graça obtida e sai-se cantando:
Senhora do Alibio
Nós bamos embora
Deitai-nos a bênção
Pela porta fora
Pela porta fora
‘inda mais também
Senhora do Alibio
Para sempre ámen

 

Por fim o regresso a casa faz-se alegremente e com boa disposição. Pelo meio fica a oferta a todos de um lanche pelo(a) protegido(a) ou pagador(a) da promessa.

ABOIADA DE VILA VERDE (toadilha de aboiar)

Trata-se duma tradição popular, já em desuso, uma forma cantada para incitar o gado nas grandes lavradas animando, ao mesmo tempo, os trabalhadores que nelas participavam e que é constituída por um solo interpretado pelas pessoas que chamavam o gado e por um coro formado pelos próprios trabalhadores participantes, que amanhavam a terra que o arado ia desbravando. 

Tal e qual como nas malhadas de centeio, os lavradores (patrões) colocavam ali toda a sua vaidade, todos queriam fazer melhor e alguns deles, aqueles que tinham ao serviço dois arados, chegavam a instituir um prémio ao chamador ou chamadeira que melhor cantasse.

Por vezes havia despique entre duas ou mais lavradas, normalmente realizadas em campos contíguos, mas de proprietários diferentes, pelo que eram contratadas pessoas dotadas de boa voz. Era uma verdadeira festa campesina, com os arados, os bois e os jugos ornamentados de flores naturais, hera e papel. 

Pronunciando-se sobre as toadilhas de aboiar, Gonçalo Sampaio diz que para além de pequenas diferenças regionais, estes cantos parecem derivar de um outro canto primitivo moldado segundo a escala da flauta de Pan, deus dos campos da velha Grécia, ainda adotada com o nome de gaita de amolador ou de guarda-soleiro ambulante, julgando estar-se em presença de uma melodia arcaica, talvez a de mais remota origem que se conserva em Portugal.