Armando Vara foi presidente da empresa em Angola

Armando Vara foi presidente da empresa em Angola


O ex-ministro deixou a Camargo Corrêa no final de 2014. Muitos falam em conflito de interesses.


Armando Vara, ex-ministro do PS, foi presidente da Camargo Corrêa África, com responsabilidades no mercado de Angola, um dos que está agora a ser investigado pelo Ministério Público a propósito da Operação Lava Jato.

O cargo foi assumido a 21 de Setembro de 2010, embora Vara já estivesse a trabalhar na construtora desde 1 de Setembro, de acordo com declarações do próprio. Nesta altura, o ex-ministro adjunto do primeiro-ministro já tinha sido constituído arguido no processo Face Oculta há cerca de um ano.

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Mas as ligações de Vara com a Camargo Corrêa, ou com a Cimpor, não se ficam por aqui. É que Armando Vara foi também administrador da Caixa Geral de Depósitos, com os pelouros das empresas e do corporate, entre 2005 e 2007. Nesta altura, aliás, o banco público adquiriu pequenas participações da Cimpor: 1,21% em 2005 e 0,87% em 2006, somando os 2,08% que vendeu em 2007).

Em Janeiro de 2008, Armando Vara entra para o BCP como vice-presidente, onde fica com a responsabilidade das empresas, do corporate e da banca de investimentos.

Pelo meio, o negócio da venda da Cimpor e, antes disso, o financiamento concedido a Manuel Fino para comprar uma posição idêntica à da CGD e que terá levado o empresário à falência e o banco estatal a perder 330 milhões de euros.
Armando Vara “não está envolvido na oferta pública de aquisição (OPA) à Cimpor nem tem qualquer relação directa com a cimenteira portuguesa ou com a InterCement, holding do grupo Camargo Corrêa que lança a OPA”. A garantia foi dada pelo presidente do grupo brasileiro, José Edison.

A 3 de Novembro de 2009, Vara pedia a suspensão do seu mandato como vice-presidente do BCP, por então ter sido constituído arguido no processo Face Oculta. Em 2010 era convidado para presidente do conselho de administração da Camargo Corrêa para África. O CEO José Edison afiançou sempre que Vara não faria parte da nova administração da Cimpor. “Armando Vara não tem nenhuma relação directa com a Cimpor ou com a InterCement e não está envolvido neste processo de reforço na empresa portuguesa. A sua actuação está relacionada com a área de engenharia e construções para África.”

Ainda assim, e face a todo o percurso, muitos responsáveis, entre empresários e juristas contactados pelo i, consideram que existe aqui um “notório conflito de interesses” e que, uma vez mais, “a César não basta sê-lo, é preciso parecê-lo”.
O i contactou Tiago Rodrigues Bastos, advogado do ex-ministro, que está actualmente em prisão domiciliária, mas a sua secretária disse-nos que o jurista se encontra de férias. Apesar de todas as diligências, não obtivemos resposta até à hora de fecho da edição.