REVISTA ALGARVE INFORMATIVO #422

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ALGARVE INFORMATIVO 17 de fevereiro, 2024

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CARNAVAL DE QUARTEIRA | CARNAVAL DE ALTURA | CARNAVAL DE SÃO BRÁS DEALGARVE ALPORTEL INFORMATIVO #422 FESTIVAL DAS AMENDOEIRAS EM FLOR | BOLSAS DE EXCELÊNCIA DA UALG | «À PROCURA DE CHAPLIN»


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ÍNDICE Cross das Amendoeiras em Flor em Albufeira (pág. 12) Universidade do Algarve entregou Bolsas de Excelência (pág. 18) Festival das Amendoeiras em Flor em Alta Mora (pág. 30) Carnaval de Loulé (pág. 38) Carnaval de São Brás de Alportel (pág. 64) Carnaval de Altura (pág. 76) Carnaval de Quarteira (pág. 94) «À Procura de Chaplin» no Cineteatro Louletano (pág. 106)

OPINIÃO Paulo Cunha (pág. 120) Mirian Tavares (pág. 122) Ana Isabel Soares (pág. 124) Fábio Jesuíno (pág. 126) Júlio Ferreira (pág. 128) Sílvia Quinteiro (pág. 132) Dora Gago (pág. 134)

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Albufeira volta a acolher o Cross Internacional das Amendoeiras em Flor Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina 47.º Cross Internacional das Amendoeiras em Flor, uma das mais importantes competições de atletismo, acontece no dia 25 de fevereiro, na Pista das Açoteias, e traz até ao concelho de Albufeira os melhores atletas do mundo. O Salão Nobre dos Paços do Concelho foi o palco escolhido para acolher o lançamento deste evento que inclui igualmente a Taça dos Clubes Campeões Europeus, contando com as presenças do ALGARVE INFORMATIVO #422

presidente da Câmara Municipal de Albufeira, José Carlos Rolo; de Rui Costa, diretor técnico da Associação de Atletismo do Algarve; de Fátima Catarina, vice-presidente da Região de Turismo do Algarve; de Custódio Moreno, diretor regional do IPDJ – Instituto Português do Desporto e da Juventude; de Francisco Chumbinho, presidente da Associação de Atletismo do Algarve; de Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo; e de Cristiano Cabrita, vice-presidente e vereador responsável pelo pelouro do Desporto do Município de Albufeira. 12


José Carlos Rolo manifestou o seu maior orgulho em fazer parte da organização de

“uma das provas mais internacionais do atletismo português”. O edil fez questão de realçar “o impacto da prova na divulgação de Albufeira durante a época baixa do turismo, o que contribui para a diluição da sazonalidade no concelho”. “A pista das Açoteias, sobejamente conhecida no panorama internacional, privilegia a prática desta modalidade, o que, juntamente com o investimento na construção e manutenção de equipamentos desportivos com

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condições para receber grandes eventos, é, sem dúvida, um dos motivos de atratividade para estágios e treinos de equipas internacionais ao longo de todo o ano e um dos critérios que nos dão garantias de que Albufeira venha a ser Capital Europeia do Desporto em 2026”, concluiu o presidente do Município de Albufeira. Na opinião do diretor técnico da Associação de Atletismo do Algarve, o 25 de fevereiro vai ser o Dia do Atletismo em Portugal. De facto, as 106 equipas de 93 clubes, provenientes de 22 países, com mais de 420 atletas das várias categorias a concurso, “realçam a importância

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do evento para a região e demonstram que a modalidade está bem viva nesta parte do país”.

outros grandes eventos, como os Jogos Olímpicos”.

Rui Costa referiu, igualmente, o relevo

A vice-presidente da Região de Turismo do Algarve, Fátima Catarina, descreveu a prova “como um dos mecanismos

“desta prova única em Portugal que faz parte do circuito World Athleltics Cross Country Gold Level, o patamar mais alto para estes atletas e o peso deste momento desportivo para a conquista de rankings e pontuações que os qualificam para ALGARVE INFORMATIVO #422

que favorecem a diminuição da sazonalidade na região, uma vez que atraem turistas nacionais e internacionais para o Algarve”. “Albufeira volta a ser a capital do Cross de Portugal”, foram as palavras 14


a organização deste tipo de eventos.

“Temos, em Albufeira, pela primeira vez, o maior número de equipas em competição, superando os valores de outras provas internacionais, algo que nos enche de orgulho”, rematou. “Esta prova representa o quanto o Município de Albufeira investe no Desporto e na promoção da região”, enfatizou Jorge Vieira, presidente da Federação Portuguesa de Atletismo. “É uma honra para a

Federação acompanhar a resiliência, a tradição, o esforço e o trabalho contínuos que Albufeira disponibiliza, anualmente, para a realização do evento, bem como no reconhecimento histórico desta competição que se realiza desde 1977”. A finalizar, Cristiano Cabrita lembrou que “temos conseguido trazer para

do diretor regional do Instinto Português do Desporto e da Juventude. Custódio Moreno salientou mesmo que “a mais

antiga e prestigiada prova de Atletismo do nosso país é um cartão-de-visita do Algarve durante a época de baixa”. Por sua vez, Francisco Chumbinho, presidente da Associação de Atletismo do Algarve, reconheceu que, sem o apoio do Município de Albufeira, não seria possível 15

Albufeira eventos desportivos de destaque, à semelhança do Cross das Amendoeiras, graças à rede de infraestruturas e equipamentos que temos construído e melhorado ao longo dos anos, demonstrando a aposta do Município no turismo desportivo”. Para além da 47.ª edição da prova principal, no mesmo dia realizase a Taça dos Clubes Campeões Europeus, o Campeonato Regional de Corta-Mato e o Interassociações Jovem de Corta-Mato, garantindo uma manhã desportiva de excelência em Albufeira . ALGARVE INFORMATIVO #422


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Décima segunda edição das Bolsas de Excelência da UAlg premiou 117 alunos Texto: Daniel Pina| Fotografia: Universidade do Algarve 12.ª edição das Bolsas de Excelência da Universidade do Algarve, que este ano distinguiu 117 estudantes, ALGARVE INFORMATIVO #422

realizou-se, no dia 8 de fevereiro, no Grande Auditório Caixa Geral de Depósitos, no Campus de Gambelas, numa sessão que contou com a presença de premiados, empresas, escolas e famílias. Esta edição contou com a participação de 59 empresas e entidades 18


e um apoio monetário de 81 mil e 549 euros. Desde o seu início, no ano letivo 2012/13, a iniciativa já premiou 667 estudantes, totalizando um apoio de mais de 551 mil euros. As bolsas pagam integralmente a propina do 1.º ano de Licenciatura e/ou Mestrado Integrado, fixada em 697 euros. Os estudantes colocados com a melhor classificação no respetivo curso, que ingressaram com uma nota de candidatura igual ou superior a 15 valores, foram seriados para atribuição de Bolsa de Excelência. Foram automaticamente selecionados todos os alunos que ingressaram na UAlg através 19

do Concurso Nacional de Acesso ao Ensino Superior, em primeira opção, com nota de candidatura igual ou superior a 17 valores. Do ponto de vista das empresas é muito importante atrair e apoiar o mérito dos alunos, sendo que Reinaldo Teixeira, administrador da Garvetur, participa nesta iniciativa desde a primeira edição. Em representação dos empresários, saudou escolas, entidades e empresas presentes, o que, na sua opinião, prova bem a importância da Universidade do Algarve e do ensino académico e o reconhecimento do seu contributo para uma sociedade que se quer cada vez mais ALGARVE INFORMATIVO #422


organizada e solidária. “A UAlg é uma

grande casa que exporta conhecimento do Algarve, para todo o mundo, o que muito nos orgulha”, realçou o administrador da Garvetur, que destacou também a investigação, referindo-se a uma lista de investigadores que se encontra no topo dos mais citados em todo o mundo, o que também é um reflexo da competência da Universidade e a razão pela qual os alunos a escolhem para a sua formação.

“Quanto mais apoiarmos a UAlg, mais conseguiremos ter uma Universidade que será um exemplo para todos nós e para formar os nossos filhos e aqueles que serão os nossos colaboradores”.

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Na opinião do empresário, existem valores e princípios, como a verdade e a seriedade, que contam muito. “Juntem

esses princípios às competências que vão adquirir nesta casa, coloquem-nos em prática na sociedade e exportem-nos para todo o mundo. O vosso sucesso é o sucesso da UAlg, das empresas, da região e do País”, finalizou Reinaldo Teixeira. Joana Coelho ingressou este ano letivo na Universidade do Algarve com 18,59 valores, e escolheu o curso de Ciências da Comunicação, em primeira opção, na Escola Superior de Educação e Comunicação. Nesta cerimónia, discursou em representação dos alunos 20


premiados. Se a sua ideia original, depois de terminar o ensino secundário, seria mudar-se para a “grande capital,

convicta de que ficar em casa e ingressar na Universidade do Algarve foi a melhor opção, “uma vez que foi aqui, nesta

ingressar na sua maior universidade e no curso de média mais elevada possível”, Joana

Instituição e comunidade académica, com estes docentes, funcionários e alunos, que encontrei o meu lugar enquanto estudante e pessoa”.

resolveu desviar-se do plano inicial em prol do “conforto, felicidade, saúde

mental e sustentabilidade dos estudos”, já que, na sua opinião, “todos estes fatores acabam por ser negligenciados e postos em causa, contribuindo para uma eventual perda da qualidade de vida quando nos encontramos sozinhos em cidades novas e desconhecidas”. Atualmente, está

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No entanto, a estudante mostra-se preocupada com os tempos atuais: “A

nossa geração enfrenta inúmeras incertezas e adversidades, quer no mercado de trabalho das nossas respetivas áreas, quer a nível da habitação e do elevado custo de vida, quer no que toca a exercer

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uma profissão num país onde ela não é atrativa e onde os incentivos para tal não são suficientes”. Ainda assim, refere: “Somos a geração mais dotada e qualificada a nível académico, em grande parte devido a iniciativas como esta, que democratizam e tornam acessível a um maior número de pessoas aquilo que deveria ser de todos, mas que, infelizmente, ainda não é”. Numa sessão que premeia o mérito dos estudantes, Joana Coelho reconhece que,

“tanto a Universidade do Algarve, como a própria região têm demonstrado uma enorme vontade de atrair jovens estudantes e profissionais de todos os cantos do mundo”. Contudo, na sua opinião, “mais importantes têm sido os esforços feitos nos últimos anos para cativar e fixar os jovens do Sul do país, mostrando-lhes que não têm de se deslocar para o exterior à procura de estabilidade e oportunidades profissionais, já que as podem encontrar no Algarve, em instituições como a UAlg, e a serem financiadas pela comunidade empresarial, que investe no nosso futuro e, consequentemente, no futuro da nossa região”. Na opinião de Joana Coelho, “a UAlg tem, mais do que qualquer outra universidade, ALGARVE INFORMATIVO #422

desenvolvido e aprimorado o seu leque de ofertas e planos curriculares para se adequarem, não só às necessidades dos seus estudantes, mas também à atual e gradual digitalização do mercado, à sustentabilidade do território e das áreas profissionais e às inevitabilidades do futuro”. Como o mérito é também o resultado 22


do trabalho desenvolvido pelos professores, desde o ensino básico ao secundário, culminando no universitário, e como a Universidade do Algarve é um parceiro de todos os agentes educativos, este ano, pela primeira vez, discursou, em representação dos diretores dos agrupamentos de escolas, Idalécio Nicolau, do Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Fernandes Lopes, de Olhão. Idalécio Nicolau iniciou o seu discurso destacando o “profissionalismo e a 23

dedicação que todos os docentes colocam no dia a dia nas escolas, em prol do sucesso escolar dos alunos, visando a sua formação enquanto cidadãos ativos e pessoas autónomas e conscientes”. Para o diretor do Agrupamento de Escolas Dr. Francisco Fernandes Lopes, “investir na

educação é investir no maior recurso que a sociedade possui: as ALGARVE INFORMATIVO #422


pessoas”. Neste sentido, explica: “Ensino e aprendizagem não devem ser deixados ao acaso e estes prémios pretendem mostrar isso mesmo – assinalar os estudantes que aceitaram esse desafio e se empenharam nos seus estudos/na sua educação, e que iniciam, agora, uma nova etapa da sua vida académica”. O diretor realçou ainda o papel crucial da UAlg no Ensino Superior no Algarve e a relação próxima que desenvolve com os estabelecimentos de ensino secundário,

“mantendo as portas abertas para acolher alunos e projetos desenvolvidos nas escolas”. Essa colaboração e articulação entre a universidade e as escolas secundárias ALGARVE INFORMATIVO #422

são, na sua opinião, “essenciais para

promover o acesso ao ensino superior e apoiar o desenvolvimento educacional”. A terminar o seu discurso, referiu-se ainda às “imensas atividades

desenvolvidas ao longo dos últimos anos entre a Universidade e as escolas, foram constituídas inúmeras parcerias com um único objetivo, aumentar o conhecimento científico e tecnológico dos nossos alunos e, simultaneamente, desenvolver a capacidade de aprender e de valorizar a educação ao longo da vida”. O reitor Paulo Águas dirigiu as suas primeiras palavras aos estudantes 24


premiados, considerando que os resultados por eles alcançados decorreram de uma combinação de duas palavras: trabalho e talento. O reitor agradeceu também a familiares, amigos e professores dos premiados, que os acompanharam neste percurso. “Mas

não chegaram aqui sozinhos, porque sozinho não se chega longe”, contextualiza. Paulo Águas agradeceu ainda às empresas, que desde a primeira edição apoiaram este projeto, e às que, entretanto, se juntaram a esta

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iniciativa pela primeira vez. “A vossa

adesão é um sinal de reconhecimento pelo trabalho desenvolvido na Universidade do Algarve na capacitação dos nossos jovens. A vossa presença constitui, também, um forte incentivo para os estudantes”. Numa clara alusão ao não abandono escolar, Paulo Águas dirigiu-se aos estudantes felicitando-os pelo facto de

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continuarem a estudar. “Vivemos

numa sociedade do conhecimento. Só através do conhecimento conseguiremos construir uma sociedade mais justa, mais inclusiva, mais solidária. É também o conhecimento que nos possibilitará o aumento dos níveis de bem-estar, individuais e da nossa comunidade, do nosso país”. Para o reitor da UAlg, o conhecimento é feito por «camadas». “Todavia, as

novas necessitam da existência de camadas prévias, sem as quais não será possível acrescentar novas. E quem não as conseguir acrescentar ficará numa posição muito difícil”. Paulo Águas agradeceu aos estudantes a escolha da UAlg para prosseguir os estudos, explicando ainda que o

“prestígio das universidades se alicerça em múltiplos pilares, nomeadamente a investigação que desenvolvem, a qualidade do ensino, as relações com a comunidade, entre outros”. “Mas o pilar mais importante são os seus estudantes, os seus diplomados”. Por isso, para o reitor a presença dos estudantes nesta cerimónia é uma prova do seu comprometimento com a UAlg.

de procurar ajuda. Não tenham vergonha”, apelou.

“São nossos Embaixadores. Sejam dinâmicos, sejam mobilizadores. Apoiem os vossos colegas. E, caso sintam dificuldades, porque momentos difíceis poderão surgir, não deixem

Reconhecendo que não vivemos tempos fáceis, referindo-se à guerra na Ucrânia, no Médio Oriente, em particular na faixa de Gaza, e ao ataque a Israel, Paulo Águas destacou “o projeto

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europeu, iniciado após a 2.ª Guerra 26


Mundial, que nos trouxe paz e prosperidade, e que começa a ser questionado por movimentos populistas”. “A desinformação é galopante”, alertou. A terminar, Paulo Águas incentivou os estudantes a lutarem pelos seus direitos, pelas suas causas, a não ficarem indiferentes, mas, em simultâneo, a assumirem as 27

responsabilidades e os deveres.

“Ouçam os vossos pais, os vossos avós, os vossos professores. Sejam cidadãos informados. As redes sociais não são órgãos de informação. Desenvolvam pensamento crítico. Construam opinião fundamentada” . ALGARVE INFORMATIVO #422


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Cerca de dez mil pessoas passaram pelo Festival das Amendoeiras em Flor de Alta Mora Texto: Daniel Pina| Fotografia: Município de Castro Marim urante três dias, a eventos de época baixa da região, aldeia de Alta Mora, sendo, neste momento, um dos no concelho de grandes fatores da serra algarvia e Castro Marim, dando um forte contributo para o acolheu cerca de seu desenvolvimento”, disse a vicedez mil visitantes provenientes dos quatro cantos do mundo para participar no Festival das Amendoeiras em Flor, que decorreu entre 2 e 4 de fevereiro. “Foi a

consolidação daquele que deve ser assumido como um dos maiores ALGARVE INFORMATIVO #422

presidente do Município de Castro Marim, Filomena Sintra, acrescentando ainda que “os financiadores devem

medir este impacto e apoiar ao máximo a sua projeção nas próximas edições”. 30


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O sucesso do Festival das Amendoeiras em Flor começou há 20 anos com a exploração turística de percursos homologados pela Associação Odiana, uma iniciativa pioneira na região que se tem traduzido numa das melhores formas de atrair visitantes ao território. Os passeios pedestres das amendoeiras em flor foram a iniciativa percursora deste festival, que não conseguiam dar resposta ao número de interessados que aumentava de ano para ano. Em 2020, com a chancela do programa «365 Algarve», nasceu então o Festival das Amendoeiras em Flor. Já sem este apoio, foi retomado em 2023 com o compromisso financeiro do Município de Castro Marim e este ano coadjuvado pelo Turismo de Portugal, um apoio que a entidade organizadora da Associação Recreativa, Cultural e Desportiva dos ALGARVE INFORMATIVO #422

Amigos da Alta Mora (ARCDAA) espera que se mantenha. Para além das caminhadas, outro dos destaques do festival tem sido a Torta de Amêndoa Gigante, este ano com 42 metros, apadrinhada pelo chef Francisco Siopa, um dos criadores do Festival Internacional do Chocolate de Óbidos, e confecionada por uma pasteleira local, em colaboração com alunos da Escola de Hotelaria e Turismo de Vila Real de Santo António de várias nacionalidades. O chef Francisco Siopa realizou também demonstrações de alta pastelaria com produtos endógenos no recinto, como a torta de alfarroba. Outra das preocupações desta iniciativa é a valorização de agentes culturais locais. Deste modo, artistas, artesãos e produtores locais preenchem a diversificada programação dos três dias com animação de rua, música, teatro, 32


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dança, gastronomia, exposições, artesanato e agricultura. O programa pretende ainda dar destaque ao mercado e aos produtos da região como o mel, os frutos secos e a doçaria, além do artesanato como a cestaria, com artesãos a trabalhar ao vivo, workshops e recriações. Estrategicamente, existe o objetivo de promover e revitalizar os valores, tradições e identidade do território, privilegiando a amêndoa como um dos produtos algarvios mais emblemáticos. O Festival das Amendoeiras em Flor é um evento organizado pela ARCDAA, com o apoio do Município de Castro Marim, da Junta de Freguesia de Odeleite e de muitos voluntários e residentes com espírito de missão pelo combate ao despovoamento ALGARVE INFORMATIVO #422

e desertificação. “É um festival que

promete alavancar a pequena economia e dar sentido às sucessivas estratégias de desenvolvimento rural, só possível porque há quem acredite, trabalhe e aja, com entrega e alma”, conclui Filomena Sintra . 34


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Mais de 50 mil foliões brincaram ao Carnaval de Loulé, este ano em apenas dois dias Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina pós o cancelamento do cortejo no domingo, o S. Pedro deu tréguas nos dias 12 e 13 de fevereiro para que os louletanos e visitantes, em especial muitos turistas, pudessem divertir-se «à grande e à louletana», num Carnaval de Loulé dedicado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2023 das Nações Unidas. A organização ALGARVE INFORMATIVO #422

anunciou um total de mais de 50 mil visitantes na Avenida José da Costa Mealha, ao longo dos dois dias do desfile, uma presença significativa de público, apesar de um dia a menos de desfile.

“Nestes dois dias fomos surpreendidos com uma verdadeira enchente e isso refletiu-se no ânimo dos comerciantes que, no domingo, ficaram desapontados pelo mau tempo que nos obrigou a cancelar 38


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o desfile nesse dia. Acreditamos que, apesar de tudo, foi a aposta certa, pois o comércio viveu dois dias em pleno, com a dinâmica habitual desta época do ano”, considerou o presidente do Município, Vítor Aleixo. Alegria, qualidade artística, sátira e sustentabilidade são palavras que caracterizam este desfile e que mais uma vez estiveram presentes no «sambódromo louletano». A atualidade figurou com episódios mediáticos como as diretivas da presidente do BCE, Christine Lagarde, para o aumento das ALGARVE INFORMATIVO #422

taxas de juro, a proposta do Ministro das Finanças para aumento do IUC nos veículos anteriores a 2007, ou o Caso Pretoriano, que está a colocar o responsável dos SuperDragões, Fernando Madureira «Macaco», a contas com a justiça. E nem o Centenário do clube da terra, o Louletano Desportos Clube, deixou de estar em destaque neste desfile, com Cristiano Ronaldo a ser o «reforço de fevereiro» do LDC. Os 14 carros alegóricos e 600 figurantes trouxeram a alegria do mais antigo corso do país, nascido em 1906, mas que é também um dos mais «mestiços» de Portugal, conhecido pelas esculturais 40


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bailarinas/os brasileiras/as com muito samba no pé e um tropicalismo inconfundível. “A atratividade deste

desfile reside no facto de juntar pessoas do Brasil, o que é bonito, pois é o país do Carnaval, mas depois também temos a nossa tradição, com outro ritmo. É esta a combinação de gente que torna este Carnaval único e encantador”, considera o autarca louletano. As associações do concelho juntaram-se à festa para erguer bem alto uma

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tradição fortemente enraizada nesta comunidade, como é o caso da AGAL – Associação Grupo dos Amigos de Loulé, o grupo As Tradições de Loulé ou o Grupo Desportivo das Barreiras Brancas. Mais uma vez muitos louletanos vivenciaram esta festa de forma bastante especial, a dançar, a cantar, a conviver e a contagiar o público com a sua alegria. De referir ainda que a verba arrecada de bilheteiras será revertida para as associações participantes no corso (50 por cento) e para instituições de solidariedade social e as suas causas .

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Folia do Carnaval encheu Avenida da Liberdade de São Brás de Alportel Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina oa disposição, criatividade, tradição e originalidade são os ingredientes do Entrudo Algarvio que se vive em São Brás de Alportel, abrilhantado com o empenho imprescindível dos sãobrasenses e das suas associações. O ponto alto dos festejos aconteceu, este ano, na terça-feira de Carnaval, depois do habitual desfile de domingo ter sido adiado devido às condições meteorológicas. O tradicional desfile encheu então, no dia 13 de fevereiro, a Avenida da Liberdade de cor e alegria, com a grande novidade de 2024 a ser a participação dos foliões gorjonenses. ALGARVE INFORMATIVO #422

A defesa das tradições do Entrudo renasce todos os anos neste Carnaval tipicamente português, num apelo à folia e à criatividade. Animação popular, com uma pitada de brejeirice e recheio de sátira política e social são os ingredientes que aguçam a imaginação dos participantes que se apresentam com disfarces, adereços, coreografias e carros alegóricos que brilham e convidam à brincadeira. A iniciativa é promovida pelo Município, com o apoio das associações locais e grupos informais, e, para estimular a participação da comunidade, a autarquia atribui um apoio monetário para ajudar a custear as despesas com a concretização dos carros e dos trajes . 64


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Carnaval desfilou em Altura com o tema «Circo e Feiras» Texto: Daniel Pina| Fotografia: Daniel Pina Carnaval mais autêntico do sotavento algarvio regressou a Altura, nos dias 10 e 13 de fevereiro, com um desfile repleto de criatividade e alegria. Ao todo, foram nove carros alegóricos e 10 grupos de animação com dezenas de foliões a percorrer as principais artérias de Altura, inspirados pelo tema central focado em «Circo e Feiras». Já na sua 21.ª edição, esta iniciativa resulta do esforço e empenho de toda a população e associativismo local, o que se ALGARVE INFORMATIVO #422

traduz num evento diferenciado, com brilho próprio e muita autenticidade. Esta tem sido a linha matriz deste evento que cresce de ano para ano, num Carnaval que assenta a sua autenticidade nas centenas de voluntários, foliões, associações e entidades, tendo, em 2024, o maior número de participantes de sempre que produzem os carros alegóricos. “É a alma da gente da

terra que faz acontecer, em particular dos colaboradores e executivos das Juntas de Freguesia e das associações”, salienta a vicepresidente do Município de Castro Marim, Filomena Sintra. São, de facto, 76


largas semanas de trabalho na construção dos carros alegóricos e na execução de milhares de flores de papel, com pequenos e graúdos a participarem nesta iniciativa a partir de suas casas.

“Mais do que o trabalho, existe uma componente sociocultural que deve ser reforçada e valorizada, porque, nas muitas tardes e noites de convívio, fins de semana e feriados, estreitam-se amizades”, realça a autarca. A iniciativa contou com a participação do grupo de Amigos do Bairro Quente,

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Altura em Forma, Grupo de Amigos de Altura, Clube Recreativo Alturense, grupo de dança ARUTLA, Associação Amendoeiras em Flor, Casa do Povo do Azinhal, a Associação Cegonha Branca, o Centro de Cultura e Desporto da Câmara Municipal de Castro Marim, Junta de Freguesia de Altura e a Junta de Freguesia de Castro Marim. O Carnaval de Altura é organizado pela Junta de Freguesia e Câmara Municipal de Castro Marim, Junta de Freguesia de Altura, Azinhal e Odeleite, com o apoio do supermercado Corvo e a colaboração das associações e comércios locais .

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«Música» invadiu o Carnaval de Quarteira Texto: Daniel Pina| Fotografia: André Santos | Junta de Freguesia de Quarteira Carnaval regressou a Quarteira, nos dias 10 e 13 de fevereiro, com um grande corso a percorrer a Avenida Infante Sagres. O desfile deste ALGARVE INFORMATIVO #422

ano inspirou-se no tema «Música» e contou com oito carros alegóricos, seis grupos carnavalescos e três pontos de exibição com música e muita animação. O evento foi organizado pela Junta de Freguesia de Quarteira, com o apoio da Câmara Municipal de Loulé. 94


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RITA CALÇADA BASTOS LEVOU «À PROCURA DE CHAPLIN» AO CINETEATRO LOULETANO Texto: Daniel Pina| Fotografia: Jorge Gomes

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Cineteatro Louletano, em Loulé, recebeu, no dia 9 de fevereiro, «À Procura de Chaplin», o terceiro espetáculo de uma trilogia que começou com «Se Eu Fosse Nina», um cruzamento da personagem Nina, de «A Gaivota», de Tchékov, com a biografia de Rita Calçada Bastos, a que se seguiu «Eu Sou Clarice», um objeto teatral a partir da vida e obra da escritora Clarice Lispector, onde a encenadora se espelha integralmente. ALGARVE INFORMATIVO #422

Em «À Procura de Chaplin», Rita Calçada Bastos propõe-se explorar um lado trágico-cómico da existência.

“Revisitando o universo clown e o imaginário circense, que sustenta a capacidade de rir de nós mesmos, surgiu a necessidade de criar um espetáculo em que a palavra não é o principal veículo de comunicação e em que são desnudadas as fragilidades da vida de uma forma livre e solar. A capacidade de transformar essas mesmas fragilidades na nossa maior fortaleza é o que sustenta o 108


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lado dramatúrgico desta proposta. A nossa visão da vida não é mais do que a perspetiva que temos dela, e há tantas perspetivas possíveis”, explica a encenadora. “Talvez «À Procura De Chaplin» venha confirmar a procura de uma nova perspetiva perante a vida, uma visão mais solar da existência, e do que queremos que ela seja”, conclui.

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«À Procura de Chaplin» tem texto, criação e encenação de Rita Calçada Bastos, com assistência à dramaturgia de Maria Quintans e apoio à acrobacia aérea do Laboratório. A interpretação está a cargo de Carla Maciel, Luciano Amarelo, Carolina Faria e Maria Mingote, sendo uma coprodução da Close 2 Paradise, Lda., São Luiz Teatro Municipal e Cineteatro Louletano .

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Sempre foi assim! Paulo Cunha (Professor) á cerca de quarenta anos, tornei-me sócio do clube da terra onde vivi grande parte da minha vida. O tempo passou e por vários motivos deixei de acompanhar as suas atividades desportivas, deixando assim de contribuir para o mesmo através do pagamento das minhas quotas. Tendo-se conjugado uma série de fatores, no ano passado voltei a tornarme associado desse clube centenário. Gostando de futebol e de convívio, periodicamente tenho adquirido os bilhetes que, conjuntamente com o meu cartão de sócio, me dão acesso aos jogos no seu campo de futebol. Como os bilhetes são numerados, obviamente, eu e os amigos que me acompanham deslocamo-nos para os lugares marcados uma meia hora antes dos respetivos jogos começarem. Invariavelmente, estão ocupados e, invariavelmente, quem os ocupou recusa-se a ceder o lugar, argumentando que: “Os lugares nunca foram marcados, não sendo agora que irão começar a ser. Porque sempre foi assim!”. Não indo a um evento desportivo para me aborrecer, nem acicatar e exaltar ânimos, acabo, momentaneamente, por anuir no “Sempre foi assim!”. E porque “Sempre foi assim!”, continuo a aguardar que a direção do clube me esclareça a razão de numerar lugares e bilhetes que não cumprirão o seu propósito. ALGARVE INFORMATIVO #422

É claro que alguém minimamente esclarecido e com uma abordagem racional da vida perceberá que se tomássemos como premissa comportamental o «Sempre foi assim!» viveríamos com os mesmos hábitos e comportamentos dos antecessores que viveram nas diversas idades da história. Felizmente, as tradições têm evoluído com o tempo, refletindo mudanças na sociedade, nos valores e nas necessidades das pessoas. Algumas tradições modificaram-se ou até desapareceram, enquanto outras adaptaram-se. Essa capacidade de evolução é uma característica importante da cultura humana, permitindo-nos honrar o passado enquanto abraçamos o presente e o futuro. A implicação da frase «Sempre foi assim!» na nossa vida pode variar dependendo do contexto em que é empregada. Em muitos casos, essa frase pode refletir uma mentalidade de conformismo ou resistência à mudança. Pode sugerir uma aceitação resignada de uma situação, mesmo que não seja ideal, simplesmente porque é familiar ou porque é considerada difícil de mudar. Essa mentalidade pode ser limitadora, pois desencoraja a busca por novas soluções, inovação e progresso. Para garantir que estamos a progredir e a adaptar da melhor forma às mudanças 120


Foto: Daniel Santos

e à evolução é importante lembrar que nem todas as tradições ou situações antigas são necessariamente negativas, sendo fundamental estarmos abertos ao questionamento e à avaliação crítica das circunstâncias que nos fazem querer mudar. Mudar é fundamental para o crescimento pessoal, o desenvolvimento social e a evolução coletiva. A adaptação, a inovação, a aprendizagem, o desenvolvimento pessoal, a melhoria 121

contínua, a resiliência e o progresso social são algumas das razões pelas quais a mudança é importante. O «deixa estar» ou a atitude de deixar as coisas como estão, sem procurar mudanças ou melhorias, pode provocar diversos malefícios, tanto a nível individual quanto coletivo: a estagnação, a perda de oportunidades, a desmotivação, a regressão, a perpetuação de problemas e a deterioração das relações interpessoais. Em suma, embora seja importante aceitarmos e adaptarmo-nos a certas circunstâncias da vida, uma mentalidade assente no «deixa estar» pode resultar numa série de consequências negativas que impedirão o crescimento pessoal, profissional e social. É fundamental encontrar um equilíbrio entre aceitar o que não pode ser mudado e buscar ativamente melhorias onde for possível. O laxismo pode ter várias consequências prejudiciais, tanto para o indivíduo quanto para a sociedade como um todo. É importante cultivar uma atitude de responsabilidade, comprometimento e diligência para promover o bem-estar pessoal e coletivo. E para que tudo não tenha que ser – sempre – assim! .

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Ah, se eu sei, não nascia, ah, se eu sei, não nascia* Mirian Tavares (Professora) Hoje é dia de muita estrela no céu, pelo menos assim promete esta tarde triste que uma palavra humana salvaria. Clarice Lispector loucura é vizinha da mais cruel sensatez”, escreve Clarice Lispector num texto que lhe saiu de um rasgo, como muitos outros, em que a escritora não se debatia com as palavras, não tentava domá-las, deixava-as soltas a correrem pelo papel e não buscava, através delas, um sentido. No final, o sentido aparecia sob a camada de palavras, sob o enlinhado de frases, sob o emaranhado de sentidos outros, de frases malcozidas, num texto que beirava o delírio. E, no fundo era o delírio que ela buscava, já que as palavras são apenas isso, palavras. E os textos não salvam. Um texto que me salvasse, que me tirasse desse estado pantanoso, desse lugar nenhum em que me encontro. No meio do nada, entre palavras que já não têm uso e sentimentos que precisam ser despejados. Não há lugar para albergá-los e as caixas já se amontoam nos quartos que se tornaram interditos, demasiado vazios para caber alguém. Caixas, papeis, coisas que já não servem, roupas que não me cabem, meias divorciadas cujos pares foram perdidos nalguma lavagem desastrada. Ficaram pelo caminho. Como tudo parece ter ficado. Pelo caminho. E é

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preciso seguir em frente. Tenho pressa, estou atrasado, grita o coelho à Alice. Todos temos pressa de alcançar um lugar que seja o paraíso, que seja o lugar da meta. Que a meta seja um lugar confortável. Um dia, pedi uma imperial e deram-me um licor beirão. Pensei imediatamente no homem dos heterónimos, que pediu amor e deram-lhe uma dobrada à moda do Porto. E ainda estava fria. Não se come dobrada fria, mas a vida dá-nos às vezes dobradas frias e licor beirão. E só nos resta seguir em frente, sempre. Não se pode perder tempo a olhar para trás, porque o passado deve ser visitado, de mansinho, mas nele não podemos habitar. Porque a vida empurranos com força. Adiante! E não adianta teimar em ficar agarrado ao mastro ou à perna da mesa. Um dia me vi como um barco à deriva, à procura de alguém que capitaneasse e dissesse “vem por aqui”. Mas nunca fui por ali. Sigo buscando a palavra certa, aquela que me salvasse, que dissesse por mim os desditos, que fizesse o tempo retroceder e que contasse outra história. Uma palavra desgarrada, um texto enovelado, algo que me diga do desassossego e que me conduza a algum lugar . Frase de um texto de Clarice Lispector. 122


Foto: Vasco Célio

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Nonagésima terceira tabuinha - Tic-tac Ana Isabel Soares (Professora) alvez haja outras coisas que me desconcertem – o tudo, os dias, a vida a ser vida. Mas, mais do que o inesperado quotidiano ou os aleatórios sobressaltos, os ruidozinhos regulares e persistentes mexem demasiado comigo para me deixarem atenção ao resto. Podendo, eliminaria de perto de mim os pi-pi-pi dos semáforos, os vrrrrrrrrrrrrrrr lentos dos ares condicionados, a mecânica esperada de um relógio antigo. Certa vez, tendo de passar uma semana longe de casa, pernoitei os sete dias na de uma senhora septuagenária, cuja simpatia e bondade me ofereceram dormida na saleta humilde. Tinha dois cadeirões quase sempre vazios (ela optava por sentar-se numa das quatro cadeiras que rodeavam a mesa), uma mesa baixa em frente a uma estante e, dentro desta, o rei das saletas, o aparelho de televisão. Tudo exibia uma ordem séptica, feita de equilíbrios entre o número e a disposição de jarras ornamentais, a maneira como se centravam sobre os naperons ou a toalha da mesa e outras simetrias várias. Paralelo à estante, encostado à parede contrária, havia um pequeno divã onde, retirados os coxins decorativos, eu fazia a minha cama. Na parede atrás do divã, o sultão daquela saleta, um relógio de ALGARVE INFORMATIVO #422

pêndulo: o mostrador em cima e, em baixo, o pêndulo dentro de uma caixa de vidro. Eu e a senhora (chame-se-lhe Marieta, a pequena Maria, na sua cortesia e simplicidade) conhecíamo-nos pouco, fazíamos alguma cerimónia – e sala, pois. Combinámos o ritual do anoitecer, às tantas horas a Dona Marieta ia para o seu quarto dormir e eu deveria apagar a luz da saleta e recolher-me aos lençóis e às mantinhas. Mesmo se a situação me contradissesse hábitos, estaria disposta a aceitá-la, em agradecimento pela hospitalidade. Mas nem isso: por regra, dava-me sono a mim antes de lhe chegar a ela a vontade de dormir. Por isso, e porque eu carregava o peso dos dias em afazeres fora de casa, as nossas breves e sempre protocolares conversas do fim do dia custavam-me um pouco. Era eu, a visita, quem se queria ir deitar e a dona da casa quem não se ia embora. Enfim, um pormenor acrescentava ao meu cansaço: todas as noites, depois das despedidas da praxe e de ela recolher ao quarto, apagada a luz da saleta, eu fazia o que me parecia um esforço desmedido por me manter sentada, acordada, dez, quinze, às vezes vinte minutos ainda. Era até que a casa toda estivesse em silêncio; até que não se ouvisse no quarto ao lado nenhuma gavetinha a ser aberta e fechada, nenhum brinco a ser cuidadosamente colocado no guardajoias, nenhum centímetro do lençol de 124


Foto: Vasco Célio

cima a ser mexido ou do cobertor a escorregar para fora da cama, nenhuma almofada a ser ajeitada, só o suspiro mais longo de entrar no sossego. Só então, usando uma pequena lanterna e os movimentos mais abafados que conseguia, me punha em pé sobre o divã, agarrava com as mãos o relógio, abria a caixa do pêndulo e lhe impedia o 125

movimento. De manhã, o meu discreto despertador tocava quinze minutos antes da hora de despertar da dona da casa: de novo me erguia, abria a caixa de vidro do relógio, acertava-lhe os ponteiros e libertava da sua imobilização o pêndulo que, amanhecido, parecia marcar com mais vigor o tempo . ALGARVE INFORMATIVO #422


Navegando pelo universo das Startups Fábio Jesuíno (Empresário) ejam bem-vindos ao universo onde uma simples ideia de negócio pode criar uma revolução na sociedade e transformar a forma como vivemos. Um universo cheio de oportunidades e desafios.

crescido nos últimos anos um espírito empreendedor que tem ajudado o nosso país a entrar neste mundo novo e em grande destaque. Considero que sejam os novos Descobrimentos e acredito seriamente que, se continuarmos a ter a visão de aproveitar e apostar neste caminho, Portugal vai crescer economicamente de forma estável.

Muito se tem falado ultimamente sobre incubadoras, business angels, IPO, pitch, unicórnios, crowdfunding e coworking na televisão, nas capas dos jornais, em destaque nas redes sociais. Todos estes termos estão relacionadas com as startups e fazem parte desta nova era económica.

Um dos contributos de maior relevo para que Portugal seja considerado uma nação em destaque no mundo das startups foi a vinda para o país do maior evento de empreendedorismo da Europa, o Web Summit, que traz todos anos milhares de pessoas de todo o mundo. A criação de incubadoras e programas de aceleração têm contribuído para a proliferação de startups em Portugal, um fenómeno que permite uma ajuda importante e fundamental para capacitar qualquer empreendedor de uma estratégia empresarial com maior probabilidade de sucesso.

Primeiro de tudo, o que é uma startup? É, acima de tudo, um grupo de pessoas criando um modelo de negócios inovador, repetível, escalável e que gere valor, trabalhando em condições de muita incerteza. O termo startup começou a ser popularizado nos anos 90 e surgiu em Silicon Valley, uma região da Califórnia, nos Estados Unidos da América. Este universo das startups cada vez mais democrático possibilita a qualquer pessoa com capacidades empreendedoras e ideias inovadoras criar negócios de grande sucesso e rapidamente escaláveis por todo o mundo. Na sociedade portuguesa tem ALGARVE INFORMATIVO #422

O termo incubadora teve origem em 1959, pelo empresário norte-americano Joseph Mancuso, que detinha um imóvel arrendado a uma fábrica de máquinas agrícolas, que ficou desocupado. O seu imóvel de 25 mil metros quadrados ficou vazio e sem perspetivas de conseguir voltar a encontrar um novo inquilino. Perante esse problema, decidiu fracionar o espaço para atrair os empresários mais pequenos. Um dos primeiros inquilinos 126


foi uma empresa avícola. Devido a esse facto, começaram a chamar incubadora a esse imóvel e assim deu origem ao espírito empreendedor de Silicon Vallley. Outros dos termos muito utilizados neste universo louco é o «Business Angels», que são investidores privados que decidem investir o seu próprio dinheiro em Startups. O IPO é uma sigla para Oferta Pública Inicial, que basicamente é quando uma empresa vende ações para o público pela primeira vez. Os pitchs são também muito conhecidos, são apresentações com a duração entre os 3 a 5 minutos com o principal objetivo de despertar o interesse do público. Uma das palavras que merece maior respeito neste mundo são os unicórnios, o nome que se dá às 127

startups com um valor de mercado superior a mil milhões de dólares. Por fim, chegamos ao crowdfunding, que é a obtenção de capital através de financiamento coletivo, em pequenas contribuições de um grande número de pessoas. O Coworking é um conceito muito utilizado na criação de startups, que são espaços partilhados por várias empresas por diversão. Essas empresas promovem a troca de conhecimentos e experiências, num ambiente mais informal. Este mundo louco está agora no início e os portugueses estão em destaque .

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Histórias da Carochinha Júlio Ferreira (Inconformado encartado) s narrativas possuem uma influência significativa. Não devemos subestimar as histórias que nos persuadem ou que são empregadas para convencer outros. Os debates que temos assistido (?) na televisão, são um exemplo de antologia disso mesmo e da atitude de alguns políticos portugueses, desde há muito. Espalham-se ao comprido, perdem-se em discursos redondos, por vezes, apenas autênticas peças de retórica. Algumas vezes (menos que o desejado) chegam até a ser coerentes formalmente com um projeto político e ideológico determinado, mas vivem quase sempre, só em si, sem correspondência ao mundo real. Todos esses políticos vivem num Portugal que não existe, que não é o nosso. Um produto da sua imaginação, longe do pais real. Alguns debates têm sido, por assim dizer, réplicas bastardas do que foi historicamente aquilo que hoje se chama histórias infantis. Histórias essas que serviam o papel de orientação ética e educativa para os adultos, e que há bastante tempo são utilizados para transmitir valores às crianças. Só que, no caso dos discursos de alguns políticos portugueses, surgem mais como «Histórias da Carochinha» para entreter, do que histórias que enquadrem a sociedade real. Basta pensar que algumas ALGARVE INFORMATIVO #422

das histórias clássicas que toda a gente já ouviu pelo menos uma vez na infância foram-nos contadas em algum momento, seja como uma história para adormecer, ou ainda mais provavelmente num qualquer filme de animação. No entanto, quase todas essas histórias (como as muitas contadas por alguns políticos) têm uma versão original sombria e horrível. Na história original de «A Bela Adormecida», publicada pela primeira vez por Giambattista Basile, em 1528, a narrativa retorcida é sobre um rei que engravida a princesa em coma. O original de «Rumpelstiltskin» tinha um final bastante horrível. Depois de ser enganado pela filha do moleiro, o anão fica tão frustrado que se parte a si mesmo ao meio. Na «Cinderela», a cena do sapatinho de cristal é bem estranha no original. As irmãs adotivas cortam os próprios pés para caberem no sapato, derramando sangue sobre ele. Durante o casamento de Cinderela com o príncipe, pombas em voo descem sobre as irmãs e arrancam os olhos delas à bicada. No original de «A Branca de Neve e os sete anões», a rainha ordena ao caçador que mate Branca de Neve e traga de volta o seu fígado e pulmões para ela os comer e, quando a rainha malévola aparece não intencionalmente no casamento de Branca de Neve, é forçada a dançar até à morte em sapatos de ferro quente. As «Histórias da Carochinha» de alguns 128


dos nossos políticos lembram-nos imediatamente «Pinóquio». Essa personagem, essa a…ventura, essa história de Gepetto que, numa altura em que ainda não existiam bonecos insufláveis, decidiu fazer um menino de pau para dar largas à sua perversão. Não vamos aqui discutir a matéria-prima escolhida pelo velho, podia ter escolhido silicone, esponja ou outro material, mas 129

escolheu madeira e isso agora não interessa nada. Um belo dia, sem mais nem porquê, o menino de pau feito, ganhou consciência. Desatou a falar que nem uma criança normal, e a fazer as barbaridades que as crianças normais fazem, com uma particularidade curiosa: sempre que dizia mentiras crescia-lhe o nariz. Torna-se amigo de um grilo. Um grilo falante capaz de enervar a criatura mais plácida. Um inseto que mais parece um assessor político, que partia constantemente a cabeça do menino, dizendo-lhe o que devia e o que não devia fazer. Todos nós temos este maldito grilo a chatearnos diariamente. Mas há alguns de nós que dão uma utilização criativa ao grilo. É o meu caso, que a dada altura tinha um grilo a mandar-me despejar neste cantinho do Algarve Informativo, todos os disparates que me vêm diariamente à cabeça. O que é importante reter aqui é que os narizes não param de crescer muitas vezes induzidos pelos seus grilos. É que nem todos os grilos são de qualidade. Conheço grilos que são perfeitos anormais. Há grilos que não podem, nem devem, ser levados a sério. Que vivem ALGARVE INFORMATIVO #422


noutro Mundo! Convém dizer que, na história original de Pinóquio, de 1883, o boneco foge do seu criador. A polícia apanha o boneco e prende o seu criador por alegações de abuso, pensavam que estava a brincar?! O boneco mais tarde mata o Grilo Falante e é linchado numa árvore. Custa-me a acreditar que quando um povo assiste e ouve «Histórias da Carochinha», não consiga decifrar onde está o lobo e se deixa ir na conversa, tal qual «Capuchinho Vermelho»… Essa história de uma jovem criatura que vai levar o lanche à sua avozinha doente, que vive do outro lado da floresta e que encontra um lobo que a quer comer. Literalmente. Eu tenho imensas reservas quanto a esta história. A começar pelo comportamento perfeitamente inconsciente da mãe que envia a criancinha para o desconhecido e vestida de vermelho (se ainda fosse com o manto sagrado do glorioso), expondo-a desnecessariamente à luxúria rebarbada de um lobo. Diz a história que o lobo interpela a criancinha a meio caminho, com promessas sem sentido e um discurso a cheirar a bafio, ficando a saber qual o seu destino. Continuo sem perceber a opção do lobo em deslocar-se inicialmente para a casa da avozinha, comê-la (se isto não é um comportamento desviante, não sei o que será...) e logo a seguir travestir-se de avozinha (outro comportamento de conduta deveras questionável) para quem na era contra a igualdade de género, aguardando pacientemente a chegada da jovem de capuchinho vermelho. Temos, portanto, um lobo travesti e com um ALGARVE INFORMATIVO #422

gosto mórbido por gerontes, e um comportamento assaz maquiavélico a roçar o compulsivo-obsessivo – é muita fruta para um lobo só. Mas onde a história descamba completamente é quando o Capuchinho Vermelho chega à casa da avozinha e não se apercebe de imediato que aquele ser deitado não é a sua avozinha, mas sim o lobo. Das duas uma: ou a velha tinha problemas graves de saúde para apresentar aquela pelagem, ou o Capuchinho Vermelho era um verdadeiro calhau com olhos. Eu por mim aposto na segunda hipótese, a julgar pelas perguntas inconsequentes que a petiz faz à sua pouco provável avó. O lobo acaba por se fartar de tanta pergunta e come também a pequena Capuchinho Vermelho. Diz a história oficial que uns lenhadores (tal qual uns capitães de abril) entram pela casa adentro e salvam a situação matando o lobo, abrindo-lhe a barriga, e retirando de lá dentro a avó e o Capuchinho Vermelho, intactas. Frescas que nem uma alface! O verdadeiro desfecho não foi, obviamente, o oficial. É certo que o lobo sucumbiu depois de umas machadadas, mas a vida da avozinha e da Capuchinho Vermelho nunca mais foi a mesma a partir de então. O que tem tudo isto a ver com a realidade? Muito. Enfim, apenas uma coisa é certa: esta história vai acabar no caldeirão, resta saber quem nele vai cair. Espero bem que não seja PORTUGAL! .

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O mal disto é estar fresquinho! Sílvia Quinteiro (Professora) ncantam-me os períodos de campanha eleitoral. Não porque acredite que venham mudar alguma coisa. Ou sequer que é desta que vai ser melhor. Mas por puro egoísmo, confesso. Porque acho que há poucas coisas na vida tão divertidas como assistir às movimentações dos aspirantes ao poder nestes momentos. O topo é bem menos divertido do que a base destas pirâmides que, de um modo geral, só distinguimos pela cor. Já os peões são hilariantes. Os malabarismos. As situações embaraçosas a que se sujeitam. De bom grado, acrescente-se. Os pontinhos a que adivinhamos o nó. A esperança no reconhecimento da lealdade. Não cega. Ceguinha. As cenouras na ponta da vara. Sigo-os nas redes sociais, onde a ausência de filtro deixa a nu a falta de noção. Espreito-os pelo buraco da fechadura. O limite do meu voyeurismo? O sentimento de vergonha alheia. Mas hoje não quero falar dos pequeninos. Estou sentada no sofá a acompanhar mais um debate entre líderes. Pelo menos é assim que são anunciadas as conversas a três a que tenho assistido todas as noites na esperança (muito, muito remota) de descortinar o desenho de uma estratégia para o país. A três, sim. Não foi engano. Os tempos estão divididos quase na ALGARVE INFORMATIVO #422

perfeição pelos intervenientes, e é frequente ficar mais clara a posição política dos entrevistadores do que a dos entrevistados. Há, porém, casos em que nem mesmo isso. Como o do pseudodebate que decorre neste momento. Tão empolgante que peguei no computador e vim rabiscar. Apenas mais um dos muitos que se têm sucedido e que me pareceriam perfeitos se fossem exibidos no Parque Mayer. A primeira rábula é a mais longa. Uma conversa própria de vizinhas boçais e desocupadas que se cruzam no vão da escada de um prédio fedorento: «As regateiras». Mão na anca, pé no chinelo: Tu dormes com todos!, - Não, não, quem dorme com qualquer um és tu?, - E tu só não dormes porque eles não querem!, Pois eu acho que ele queria era dormir com a do 3.º esquerdo., - O teu marido bem me pisca o olho. Eu é que não lhe pego!... e por aí adiante. Alternando entre um «tu» e um «a Senhora» que nos deixa adivinhar uma promiscuidade bem maior do que a alardeada. «Elevação» é o vocábulo que me ocorre para caracterizar esta troca de palavras. Esta e a da rábula seguinte: “O momento infantil”. Breve. Ocupa apenas os três agonizantes minutos finais. Os meninos, fingindo-se zangados e ofendidos, apontam o dedo um ao outro: - Foste tu!, - Não. Foste tu!, - És mau!, - Quem diz é quem é! 132


E é isto... Desrespeito pelos eleitores? Incompetência? Decidida a não deixar que esta mediocridade destrua as minhas convicções democráticas, penso que podia ser bem pior! Podia ter nascido americana e ter candidatos que advogam a invasão de países da NATO pela Rússia ou que falam com líderes falecidos... Preocupa-me, contudo, que assistir a estes espetáculos pobrezinhos possa desmotivar os eleitores. Quanto mais se vê, menor vontade de ir votar. A campanha que deveria galvanizar a nação, amolece-a. Já não há paciência. Melhor seria não os ouvirmos. Irmos votar todos contentes. Convictos de estarmos a colocar os nossos destinos nas mãos dos melhores entre nós. A doce 133

ignorância. Mas não. Não, porque o tempo está fresquinho. Sabe bem ficar em casa. E é aqui que nos apanham. Que nos bombardeiam com estas figuras. De tal modo que ainda acabamos a saber o nome até dos têm o carisma de uma endívia. Prevejo que teremos, mais uma vez, uma altíssima abstenção. E de quem é a culpa? Aponto o dedo, sem qualquer hesitação, a quem teve a ideia de realizar eleições em março. Ao responsável por termos uma campanha a decorrer numa altura em que não apetece nada sair à rua. Nem cafés. Nem praias. Nem longos passeios noturnos. Fevereiro inteiro para descobrir o que não temos. Fevereiro inteiro a ver, ouvir e pensar. Só pode dar mau resultado. O mal disto é estar fresquinho! .

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O homem do leme Dora Gago (Professora) E mais que uma onda, mais que uma maré Tentaram prendê-lo, impor-lhe uma fé Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade Vai quem já nada teme, vai o homem do leme Tim / Ze Pedro / Kalu, Xutos e Pontapés empre gostei de usar música nas minhas aulas, sempre a considerei um elemento motivacional, algo que pelo menos anima, quebra a monotonia, fazendo ao mesmo tempo pensar, estabelecer ligações, pontes, relacionar diversos elementos, tarefa que se tornou cada vez mais árdua, quase uma missão impossível, diria. Uma das músicas que gostava de passar era «o homem do leme» dos Xutos e Pontapés para o comparar com outros homens do leme, como é o caso de Vasco da Gama no episódio de o Adamastor de «Os Lusíadas» e «homem do leme» de «o Mostrengo» na «Mensagem» de Pessoa, representantes do herói desvendador de mundos, vestidos da audácia permitida pela sua condição humana, lutando contra os obstáculos mais diversos, o medo, o desconhecido, no fundo, «sozinhos na noite». E a reação dos alunos, relativamente à música, era de surpresa e de agrado, mas afinal, a professora gostava dos Xutos? E eu a explicar-lhes que eram uma marca da minha geração, a relembrar, sem lhes ALGARVE INFORMATIVO #422

dizer, o furor que tomava as Matinés da União Sambrasense, quando se ouvia «A minha alegre casinha», no tempo em que estava nos tops. Posso dizer que este homem do leme passeou/se pelas minhas aulas até 2011, altura em que mudei de rumo, tendo ido depois lecionar para a Universidade de Macau. Curiosamente, aí, nunca o passei, pois os textos e programas eram outros, por isso, também outras as melodias, que iam desde «A banda» de Chico Buarque (a propósito de Literatura e resistência), «Os Búzios» de Ana Moura (introduzindo «A cartomante» de Machado de Assis), entre muitas outras canções e poemas musicados. A reação dos alunos era sempre curiosa, mas, de um modo geral, gostavam. Então, passada mais de uma década, quis fazer a experiência do «homem do leme» numa turma de Ensino Profissional daquelas onde a maioria dos alunos apenas se interessam por jogos de computador, telemóveis, festas de finalistas e pouco mais. E surpresa das surpresas: sabiam a letra toda de cor! Foram minutos únicos, a mostrar que, quando ouvimos e cantamos a mesma 134


canção, nem tudo está perdido. Mesmo que considerem que a mensagem dos Xutos é difícil de relacionar com a do Pessoa e do Camões, que não tenham entendido talvez muito bem o facto destes homens do leme serem portadores de algo que os transcende, de conterem em si a força do sonho indomável que tudo pode e comanda, mesmo contra todas as marés e ventos adversos. 135

Na verdade, quando ouvimos a mesma canção, há essa centelha de esperança, mesmo que a vontade de ir, de partir não se desenhe no horizonte, que o futuro seja um oceano a conquistar, e ainda desconheçam que, como diz a canção “a vida é sempre a perder” .

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DIRETOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina (danielpina@sapo.pt) CPJ 3924 Telefone: 919 266 930 EDITOR: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil SEDE DA REDAÇÃO: Rua Estrada de Faro, Vivenda Tomizé, N.º 67, 8135-157 Almancil Email: algarveinformativo@sapo.pt Web: www.algarveinformativo.blogspot.pt PROPRIETÁRIO: Daniel Alexandre Tavares Curto dos Reis e Pina Contribuinte N.º 211192279 Registado na Entidade Reguladora para a Comunicação Social com o nº 126782 PERIODICIDADE: Semanal CONCEÇÃO GRÁFICA E PAGINAÇÃO: Daniel Pina FOTO DE CAPA: Daniel Pina A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista regional generalista, pluralista, independente e vocacionada para a divulgação das boas práticas e histórias positivas que têm lugar na região do Algarve. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista independente de quaisquer poderes políticos, económicos, sociais, religiosos ou culturais, defendendo esse espírito de independência também em relação aos seus próprios anunciantes e colaboradores. A ALGARVE INFORMATIVO promove o acesso livre dos seus leitores à informação e defende ativamente a liberdade de expressão. A ALGARVE INFORMATIVO defende igualmente as causas da cidadania, das liberdades fundamentais e da democracia, de um ambiente saudável e sustentável, da língua portuguesa, do incitamento à participação da sociedade civil na resolução dos problemas da comunidade, concedendo voz a todas as correntes, nunca perdendo nem renunciando à capacidade de crítica. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelos princípios da deontologia dos jornalistas e da ética profissional, pelo que afirma que quaisquer leis limitadoras da liberdade de expressão terão sempre a firme oposição desta revista e dos seus profissionais. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista feita por jornalistas profissionais e não um simples recetáculo de notas de imprensa e informações oficiais, optando preferencialmente por entrevistas e reportagens da sua própria responsabilidade, mesmo que, para tal, incorra em custos acrescidos de produção dos seus conteúdos. A ALGARVE INFORMATIVO rege-se pelo princípio da objetividade e da independência no que diz respeito aos seus conteúdos noticiosos em todos os suportes. As suas notícias narram, relacionam e analisam os factos, para cujo apuramento serão ouvidas as diversas partes envolvidas. A ALGARVE INFORMATIVO é uma revista tolerante e aberta a todas as opiniões, embora se reserve o direito de não publicar opiniões que considere ofensivas. A opinião publicada será sempre assinada por quem a produz, sejam jornalistas da Algarve Informativo ou colunistas externos. ALGARVE INFORMATIVO #422

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