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OBSTÁCULOS GREEN HORSE TOUR RIDERS EXPOÉGUA IRIS É ÉGUA OURO DRESSAGE MARIA CAETANO BRILHA EM ESPANHA CSIO DE LISBOA PORTUGAL NO 2.º LUGAR NA TAÇA DAS NAÇÕES

LUÍS SABINO GONÇALVES VOLTA A FAZER HISTÓRIA NO GRANDE PRÉMIO DE LISBOA





editorial

Francisco Cancella de Abreu Director

UM TRISTE adeus m pleno séc. XXI os avanços científicos continuam incapazes de erradicar o cancro e por isso perdi um querido amigo cujo sofrimento acompanhei quase até ao final, sucumbiu em escassos meses à terrível doença. Tristemente Vasco Oliveira Santos deixou-nos para sempre, mas para sempre também nos deixou uma enorme herança como cidadão criador e proprietário de cavalos lusitanos de competição. A honestidade e profissionalismo com que dirigiu este negócio dos cavalos, foi sem sombra de dúvida exemplar, pela quase obsessiva preocupação de só colocar no mercado cavalos lusitanos com uma saúde perfeita e temperamento de excepção, aspectos que, pese a tenra idade da coudelaria são já reconhecidos no estrangeiro. Parece oportuno perguntar nesta página, onde estaria hoje a raça lusitana se as instituições responsáveis tivessem atempadamente aderido

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à ideia?… Só se aprovariam reprodutores/as testados e de saúde perfeita… O êxito do recente CDI de Madrid, há muito tinha sido alcançado e o Lusitano seria o mais directo adversário de todos os warmblood parece-me que seria a resposta! Vasco conseguiu em curtos 16 anos de actividade alguns cavalos a triunfar na tauromaquia e na dressage e espera-se que brevemente o Damasco que com tanto gosto cedeu à Sara Duarte, consiga também os maiores êxitos na paradressage. Lamentavelmente Vasco Oliveira Santos passou demasiado rapidamente pelo mundo do cavalo, mas nesse curto espaço conseguiu deixar uma marca indelével, pela nobreza da sua atitude e qualidade humana, que unanimemente os que tiveram o prazer de conviver com ele reconhecem, já com profunda saudade. Até sempre caro Amigo.

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EQUITAÇÃO

Todas as semanas a melhor e a mais completa informação equestre!


suMÁrio 04

OBSTÁCULOS CSIO DE LISBOA

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OBSTÁCULOS GREEN HORSE TOUR RIDERS GOLEGÃ E COIMBRA

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INTERNACIONAL GLOBAL CHAMPIONS TOUR

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COMPLETO TAÇA ACCE - HERD. DA CEGARREGA

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RAIDES CAMPEONATO DE RAIDES FRONTEIRA

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REPORTAGEM LUSITANO INTERNATIONAL DRESSAGE TEAM

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FEIRAS E EVENTOS VIVA O RIBATEJO

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FEIRAS E EVENTOS EXPOÉGUA

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NA OPINIÃO DE... DANIEL PINTO

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ENTREVISTA MARCOS BASTINHAS

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ARTE DA EQUITAÇÃO ENTREVISTA COM ANDREAS HAUSBERGER, POR BRUNO CASEIRÃO

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TRIBUNA DE HONRA VASCO OLIVEIRA SANTOS

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CORRIDAS CAMPEONATO DE GALOPE E TROTE ATRELADO POR VICTOR MALHEIRO

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BREVES LEILÃO DE ALTER; OVIBEJA COMENTÁRIO CNC ABRANTES; CNC REG. CAV 3; COMPETIÇÕES MILITARES EM MAFRA, POR JOSÉ MIGUEL CABEDO

FICHA TÉCNICA

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TAUROMAQUIA QUE LIÇÃO, POR DOMINGOS DA COSTA XAVIER

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VETERINÁRIA EFICIÊNCIA REPRODUTIVA, POR JOANA ALPOIM MOREIRA

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HISTÓRIA DA ATRELAGEM GRÉCIA ANTIGA POR J. ALEXANDRE MATOS E J.P. MAGALHÃES SILVA

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DRESSAGE VIII FESTIVAL DE DOMA CLÁSSICA

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BREVES LUSITANOS PARA A JORDÂNIA

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NUTRIÇÃO A NUTRIÇÃO DE MÃO DADA COM O COMPORTAMENTO POR LILIANA CASTELO

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CRÓNICA LIVROS VERDES E AZUIS POR RITA GORJÃO CLARA

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EQUITAÇÃO NATURAL COMPREI UM POLDRO E AGORA? POR MARTA REIS GONÇALVES

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CRÓNICA O CAVALO REACTIVO, POR HENRIQUE SALLES DA FONSECA

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EQUITAÇÃO NATURAL FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS, POR EPONA

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CRÓNICA AS ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS NUMA TARDE DE EXPOÉGUA, NA GOLEGÃ POR JOÃO PEDRO GORJÃO CLARA

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BOLSA EQUESTRE ESPAÇO PARA ANÚNCIOS

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NOTAS SOLTAS ORIGEM DO CAVALO ÁRABE, POR MANUEL H. HELENO

Director: Francisco Cancella de Abreu Editor: Eduardo de Carvalho Conselho Editorial: Afonso Palla (in memoriam); Adolfo Cardoso; Coronel Joaquim Arnaut Pombeiro; Dr. Domingos da Costa Xavier; Prof. João Pedro Gorjão Clara; João Bagulho; Dr. Joaquim Duarte Silva; Coronel José Miguel Cabedo; Dr. João Paulo Marques; Dr. Manuel Heleno; Dra. Rita Gorjão Clara Colaboradores: Dra. Antonieta Janeiro; Dr. Bruno Caseirão; Epona; Galiano Pinheiro; Dr. Henrique Salles da Fonseca; Idés Marchal; Janet Hakeney; Jaime de Almeida Ribeiro; J. Alexandre Matos; Arq. J.P. Magalhães Silva; Dra. Joana Alpoim Moreira; João Maria Fernandes; Dr. José Pedro Fragoso Almeida; Eng. João Moura; Dr. Manuel Lamas; Engª. Liliana Castelo; Paulo Vidigal; Eng. Victor Malheiro Chefe de Redacção: Ana Paula Oliveira Redacção: Ana Filipe; Cátia Mogo; Carla Laureano Publicidade: José Afra Rosa; José de Mendonça; Luís Trindade Assinaturas: Fernanda Teixeira Fotografia: Aurélio Grilo; Emílio de Jesus; Nuno Pragana; Paula Paz Propriedade: Invesporte, Lda; Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto.;Laranjeiro 2810-276 Almada; Cap. Social 5.000 Euros; Cont. 505 500 086; Empresa jornalística registada no ERC nº 223632 Redacção/Publicidade: Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto. Laranjeiro 2810-276 Almada; Tel. 21 2594180 - Fax. 21 2596268; equitacao@invesporte.pt; equitacao@netcabo.pt Edição online: www.equitacao.com Impressão: Manuel Barbosa & Filhos; Zona Industrial de Salemas; Fracção A2 - 2670-769 Lousa LRS Distribuição: Logista Portugal - Edifício Logista; Expansão da Área Ind. do Passil; Lote 1-A Palhavã - 2890 Alcochete Tiragem média: 30.000 exemplares Registo ERC: N.º 123900 Depósito Legal: N.º 93183/95. Todos direitos reservados. Interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorização por escrito do editor. Os artigos assinados bem como as opiniões expressas são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não reflectindo necessariamente os pontos de vista da Direcção da Revista, do Conselho Editorial ou do Editor.

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OBSTÁCULOS

CSIO 2014: luÍs saBiNo Volta a FaZer HistÓria

Foto: Nuno Pragana

DOIS ANOS DEPOIS, O CAVALEIRO PORTUGUÊS REPETE O FEITO, AO CONQUISTAR A PROVA MAIOR DO CSIO3* (CONCURSO DE SALTOS INTERNACIONAL OFICIAL) DE LISBOA, NA SELA DE IMPÉRIO EGÍPCIO MILTON. NA TAÇA DAS NAÇÕES, PORTUGAL FEZ O MELHOR RESULTADO DOS ÚLTIMOS 20 ANOS.

Luís Sabino Gonçalves/Império Egípcio Milton prova de equipas já tinha corrido bem a Portugal, na sexta-feira, mas a 94.ª edição do CSIO de Lisboa não poderia ter terminado de melhor forma senão com a vitória de Luís Sabino Gonçalves e Império Egípcio Milton na prova rainha do concurso internacional, no domingo, na Sociedade Hípica Portuguesa (SHP). O conjunto que em 2012 quebrou o jejum luso de 33 anos nos Grandes Prémios (GP) do CSIO, voltou a conquistar o 1.º lugar do

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pódio da prova mais apetecida dos portugueses. Logo no início do concurso, já Luís Sabino Gonçalves sentia que podia terminar em grande a 94.ª edição do CSIO de Lisboa. Questionado sobre as expectativas para o Grande Prémio, o cavaleiro foi dizendo que o seu cavalo de topo, Império Egípcio Milton está agora num "bom momento de forma", depois de uma preparação intensiva em Vilamoura, Lummen (Bélgica) e no Global Champions Tour de Madrid, o que o

deixa mais confiante para entrar em pista: "Acho que o tenho mais rodado do que no ano passado e espero fazer um bom resultado. Mas, é claro, se a estrelinha me ajudar!". E mais uma vez, a estrelinha não lhe faltou. O GP do CSIO disputou-se em duas mãos diferentes, com os obstáculos colocados por Bernardo Costa Cabral a 1,60m, num traçado, de acordo com o chefe de pista, "de testes imediatos, sem triplo, com três duplos. Acho que vai ser especial, difícil de montar, mas justo para os ca-

valos". Dos 45 em pista, oito não penalizaram e avançaram para a 2.ª mão, juntamente com mais quatro cavaleiros que traziam 4 pontos. Por Portugal, apenas Luís Sabino e Norbert Ell/T-Quinta conseguiram o apuramento. Quando Sabino entrou pela 2.ª vez em pista, já havia o duplo limpo da norte-americana Catherine Pasmore com Bonanza van Paemel, em 45,86''. Ao toque da sineta para o conjunto português, as bancadas do hipódromo do Campo Grande emudeceram e Luís saltou concentrado e com a habitual aparente tranquilidade, cruzando os visores em 45,37''. A liderança era provisória, mas a esperança era muita, numa altura em que mais quatro conjuntos ainda tinham de fazer a prova. Para grande alívio da assistência, os três primeiros derrubaram e faltava apenas Natale Chiaudani e o cavalo V, para se conhecer o vencedor. Voltou a fazer-se silêncio, perante um italiano que avançava vertiginosamente, salto a salto, para a vitória. Após o 4.º obstáculo, V perdeu uma ferradura e, já na linha final, derrubou o muro, com o público a fazer-se ouvir, de imediato, festejando a 2.ª vitória lusa no GP de Lisboa em dois anos. Para o vencedor, "foi uma surpresa muito agradável voltar a ganhar este GP. Não estava nada à espera, o cavalo saltou muito bem em Madrid, mas nestes concursos tem que correr bem e depois é preciso estar lá a estrelinha e hoje a estrelinha estava lá! A


sensação é extraordinária!". À entrada da 2.ª mão, Luís Sabino Gonçalves avisou o chefe de equipa, Francisco Louro, que ia para ganhar: "Eu disse-lhe: «Francisco, já me conheces, eu não sou de ficar aqui e ir jogar para o 4.º ou para o 5.º. Eu ou ganho, ou parto tudo!». Então eu fui concentrado dentro do galope do cavalo, arrisquei em duas voltas, onde apertei muito, porque o meu cavalo não é dos mais rápidos, mas é dos mais potentes, então eu exagerei na potência dele para ver se conseguia ser mais rápido e consegui!". Catherine Pasmore/Bonanza van Paemel ocupou a 2.ª posição e partiu logo após a cerimónia de entrega de prémios, impossibilitando a recolha do seu testemunho sobre este resultado. Quanto a Natale Chiaudani, seria o 3.º classificado, com 4 pontos em 43,56''. Na opinião do cavaleiro, "o percurso estava muito bem posto, por um chefe de pista muito bom e tinha um piso óptimo. Na 2.ª mão eu ia muito depressa, mas o meu cavalo desferrou-se e nas voltas ficou um pouco inseguro. Perdi o Grande Prémio no muro, onde fiz a falta, mas estou contente, porque este é um cavalo novo para mim". O KWPN V, de 12 anos, foi comprado pelo cavaleiro em Setembro, após a vitória no GP do Vilamoura Champions Tour, às rédeas de Katie Prudent: "Era um cavalo muito quente para Katie, mas eu adoro-o! Já ganhei dois GP com ele, tenho um 2.º e agora um 3.º lugar. Tenho a certeza de que vamos passar bons momentos juntos", afirmou Natale, que gostou muito de regressar a Lisboa, local onde há alguns anos integrou a equipa que ganhou a Taça das Nações, tendo ainda vencido uma prova grande e outra média. Pelo Brasil, Bernardo Alves foi o 3.º a limpar na 2.ª mão desta prova, mas trazia já 4 pontos, pelo que finalizou em 4.º lugar (45,06''), montando Starling 7. Seguiram-se, com

Foto: Nuno Pragana

OBSTÁCULOS

A equipa lusa foi 2.ª ex-aequo na Taça das Nações

Filipe Figueiredo (Graciosa) entrega a Norbert Ell o prémio destinado ao Melhor Cavaleiro Português REVISTA EQUITAÇÃO

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Foto: Nuno Pragana

OBSTÁCULOS

A equipa francesa vencedora da Taça da Nações um derrube, Daniele Augusto da Rios/For Passion (ITA), em 5.º; Emma O'Dwyer/HHS Nektarina B (GBR), em 6.º, e Carlos Calvo Jimenez/Azellay (ESP) em 7.º. Jessica Springsteen/Lisona (EUA), foi 8.ª classificada, com 8 pontos. Com 4 pontos em cada mão, Norbert Ell terminaria na 9.ª posição, o que a somar às restantes prestações do fim-desemana lhe deu direito ao prémio SHP, para o melhor cavaleiro português do concurso. À EQUITAÇÃO, o cavaleiro disse estar "de volta. A última vez foi há 20 anos, em 1994, levei 20 anos a voltar cá, pode ser que nos próximos 20 anos volte a ganhar este prémio. Isto é um bocadinho o agradecimento do que temos feito nos últimos anos, pois vendi tudo o que tinha e voltei a comprar cavalos novos, comecei da estaca zero e estou cá para durar mais uns tempos!" Entraram ainda por Portugal Mário Wilson Fernandes/Zurito do Belmonte (8pts - 26.º), João Chuva/Virgínia Dream (8pts 31.º), Alexandre Mascarenhas de Lemos/Wannahave (8pts 35.º), Ivo Carvalho/Corrabe 6

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(29pts- 40pts) e Marina Frutuoso de Melo/Coltaire Z (ret.) Neste último dia de provas, Luís Sabino Gonçalves, em conjunto com a SHP, aproveitou também para homenagear o companheiro de longa data, In Chala d'en Haut, de 18 anos, que assim se despede das pistas, após uma carreira de sucessos. "Cavalos como o In Chala não há muitos e não costumo utilizar a palavra craque porque há poucos no mundo e respeito-os muito, mas acho que ao nível dele, é um craque. Fez-me tantas vezes sentir tão bem e tantas vezes parecer melhor do que aquilo que sou, Jemma Kirk foi a vencedora do Prémio Destinado ao Melhor Cavaleiro do CSIO

deu-me tanta felicidade, que merecia vir aqui à pista do CSIO, onde ganhou diversas provas no concurso mais importante de Portugal, para que as pessoas vejam que ele se despede em forma e está feliz! Fez 10 anos de carreira comigo, ganhou um montão de provas internacionais e estava bom para continuar, mas acho que ele merece sair em alta", explicou o cavaleiro, que retirou o Sela Francês da competição em Setembro, após o internacional de Barcelos, e que o levou agora à SHP para receber os merecidos aplausos na sua derradeira volta de honra.

TAÇA DAS NAÇÕES HISTÓRICA Mais uma vez, Lisboa integrou o calendário da Taça das Nações Furusyyia FEI, ao receber a 3.ª jornada da 2.ª divisão desta competição, onde participaram 10 nações, com Portugal e Itália na luta pelos pontos. Para esta prova, Bernardo Costa Cabral montou um percurso "delicado", com atenção à particularidade de a 1.ª mão ser saltada de dia e a 2.ª de noite, com luz artificial, o que no seu entender causa sempre alguns problemas "porque normalmente os cavalos reagem com uma certa surpresa ao brilho das varas". O chefe de equipa nacional, Francisco Louro, chamou à equipa Mário Wilson Fernandes/Zurito do Belmonte, João Chuva/Virgínia Dream, Luís Sabino Gonçalves/Império Egípcio Milton, Marina Frutuoso de Melo/Coltaire Z com Norbert Ell/ T-Quinta como suplente, que entraram em pista por esta ordem. Na primeira mão, Luís Sabino e Marina conseguiram o limpo, Mário Wilson deu um toque e João Chuva dois. Descartando o pior resultado da equipa, Portugal avançou para a 2.ª mão com 4 pontos, na frente da classificação, em ex-aequo com a GrãBretanha e Marrocos, também com um derrube cada. Com este resultado nas mãos, Francisco Louro não quis pres-



Jessica Springsteen ganhou a Prova Equitação

sionar o colectivo, "disse-lhes para relaxarem, mas para não virem socializar, pois estávamos a meio da prova. Ainda não tínhamos acabado, por isso tínhamos de continuar concentrados, mas com calma, pois já tínhamos visto que era possível, e era só fazer o que fizemos na 1.ª mão". E surtiu efeito. Mário Wilson limpou e os outros três cavaleiros deram um toque cada, o que fez com que Portugal terminasse com 12 pontos, a apenas uma falta de disputar um desempate com a França que, com os 8 pontos da 1.ª mão,

foi a equipa vencedora desta Taça das Nações. O chefe de equipa português mostrou-se "orgulhoso de ver que realmente este ano conseguimos ter uma equipa na verdadeira acepção da palavra. É um resultado muito bom que nos traz, à Federação e principalmente a mim, uma enorme responsabilidade". No que diz respeito aos cavaleiros, Marina Frutuoso de Melo considera que este 2.º posto "valeu muito, desde que eu faço parte da equipa não me lembro de vir assim à pista nos três primeiros, e ficar atrás de

Foto: Nuno Pragana

OBSTÁCULOS

Catherine Pasmore 2.ª no GP

Zurito de Belmonte com Mário Wilson Fernandes foi o Melhor Cavalo Português do CSIO Natale Chiaudani 3.º no GP Bernardo Alves 4.º no GP

Nelson Pessoa Bernardo Costa Cabral

Bruce Springsteen marcou presença no CSIO 8

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Luís Sabino Gonçalves com os Chefes de Equipa de Portugal e França, Francisco Louro e Thierry Pommel


OBSTÁCULOS

França, que é um país forte, ao lado do Brasil, que também é um país forte, é uma vitória, é recompensador". Já Luís Sabino diz que "ficar tão perto do 1.º por pequeninos erros que cometemos sabe a pouco, mas não deixa de ser um óptimo resultado". Quanto a João Chuva, que trouxe a este CSIO Virginia Dream, admite que "vinha um bocadinho tenso, porque não tinha 100% confiança nela, apesar de já ter saltado muito bem aqui no nacional. Mas acabou por estar bem, muito confiante na vala de água". Pela parte de Mário Wilson Fernandes, que apenas tinha saltado com a equipa em Gijón (Espanha), refere que sentiu "um grande apoio, com todos a torcer uns pelos outros, foi muito giro". Na equipa vencedora, a França, alinharam Laurent Goffinet/Qantar des Etisses, Caroline

Nicolas/Mozart de Beny, Marie Demonte/Rhune d'Euskadi e Cédric Angot/Rubis de Preuilly, aos comandos de Thierry Pomel que, na conferência de imprensa, disse estar feliz com as prestações dos seus cavaleiros: "Gosto de cavaleiros que lutam e que dão tudo por tudo, que foi exactamente o que estes quatro cavaleiros fizeram hoje. Como sabem, a ordem de entrada da equipa é extremamente importante e o Laurent tem um cavalo novo - e ele próprio há oito anos que não estava numa Taça das Nações - e fez o primeiro limpo, o que ajudou muito, foi como se nunca tivesse estado ausente da equipa. Para nós, não foi o Dia da Mulher, porque as cavaleiras não estiveram muito bem na 1.ª mão, mas melhoraram muito na 2.ª mão. Contas feitas, somos uma equipa e ganhámos juntos!". Thierry Pomel contou ainda

que não foi preciso dizer-lhes nada no intervalo, porque as duas cavaleiras que penalizaram na 1.ª ronda, "são super orgulhosas, conheço-as bem, parecem uns doces apeadas, mas a cavalo são bem sólidas e sabia que iriam reagir e foi o que fizeram perfeitamente bem!". Portugal dividiu o 2.º posto com o Brasil, que entrou em pista com Marlon Zanotelli/ Clintash, Stephan de Freitas Barcha/AD Jac'Potes, Pedro Veniss/Rissoa d'AG Bois Margot e Bernardo Alves/Starling 7 com Jean-Maurice Bonneau como chefe de equipa. Desde 1994, ano em que soou o hino português no final da prova de equipas, com os percursos de Manuel Lima Garcia, Miguel Faria Leal, Alexandre Mascarenhas de Lemos e António Vozone, chefiados por Francisco Lobo Guedes que o

nosso país não conseguia ficar tão bem classificado na Taça das Nações do CSIO de Lisboa. Um resultado que o Presidente da Federação Equestre Portuguesa, Manuel Cidade Moura, diz significar "que já temos equipa formada para ir aos Jogos Equestres Mundiais na disciplina de Saltos de Obstáculos. Começa a dar frutos o esforço que tem sido feito pelos proprietários, pelos cavaleiros, pelas pessoas que estão directamente ligadas à disciplina". A EQUITAÇÃO esteve mais uma vez associada ao CSIO de Lisboa e deu o nome à prova de 1,40m de sexta-feira, ganha pela norte-americana Jessica Springsteen, na sela de Zero. Alheia às objectivas e aos flashes que «bombardearam» a família, a filha do cantor Bruce Springsteen encontrou a concentração necessária para ganhar não só esta prova, como também a


OBSTÁCULOS

Casa cheia no Hipódromo do Campo Grande durante o CSIO de Lisboa

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Foto: Paulo Esteves

Foto: Paulo Esteves

O CSIO contou ainda com a presença de Nelson Pessoa, que veio acompanhar dois cavaleiros da selecção brasileira, Bernardo Alves e Stephan de Freitas Barcha, e recordou os tempos em que ali competiu: "É sempre um prazer voltar aqui, saltei cá na minha juventude, há 57 anos, com a equipa brasileira, neste mesmo quadro. Lembrome perfeitamente de montar o cavalo Cirano, venci duas provas de velocidade, e com a minha égua Copacabana, fiz o duplo zero na Taça das Nações. Só no Grande Prémio é que já não me

filha do cavaleiro Ivan Camargo, que esteve sempre na fila da frente a incentivar - e ainda do DJ Hugo Tabaco, entre outros, num evento que teve casa cheia, com muitos cavaleiros a marcar presença. Pela primeira vez e fruto da parceria com a VideoOne Audiovisuais e com a Sociedade Hípica Portuguesa, a EQUITAÇÃO transmitiu em directo todo o concurso, em www.equitacaotv.pt e no Meo Kanal 225511 (à excepção da Taça das Nações), tendo cerca de 30 mil visitas ao longo do fim-de-semana.

lembro, mas sei que não ganhei e tudo o que a gente não ganha, a gente esquece logo!". Quanto aos prémios especiais, a britânica Jemma Kirk ganhou o galardão de melhor cavaleira deste concurso e Zurito do Belmonte foi, pelo 2.º ano consecutivo, o melhor cavalo português em pista. Manuel Carvalho Martins, da SHP, afirma que "orgulhanos muito a vitória do Luís Sabino no Grande Prémio e a equipa portuguesa em 2.º lugar na Taça das Nações, ficamos muito contentes. Casa cheia, uma competição muito renhida e a vitória portuguesa no GP é sempre uma delícia. Parabéns ao Luís Sabino e ao Bernardo Costa Cabral que pôs os percursos e permitiu também que tivesse sido um sucesso!" A 94.ª edição do CSIO de Lisboa teve em pista 85 cavaleiros e 170 cavalos, vindos de 12 nações e decorreu de 29 de Maio a 1 de Junho. Cátia Mogo

Foto: Ricardo Revés

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Foto: Ricardo Revés

primeira do concurso, logo na quinta-feira. Sobre a prova EQUITAÇÃO, Jessica disse que "foi boa! Montei o cavalo da prova de 1,45m, por isso era um bocadinho mais fácil para mim a esta altura, bastou ir muito depressa. Ele saltou maravilhosamente, estou muito contente. O Zero tem dez anos, estou com ele há cerca de um ano, e é um cavalo muito corajoso, mas também muito cuidadoso, o que dá uma boa mistura. Gosto muito de o montar". Sobre a passagem por Lisboa, com a família, a cavaleira refere que "para mim não são férias, mas para os meus pais é como se fosse. Aproveitam para relaxar, estar à mesa e ver as provas, por isso é muito bom. Isto é muito bonito, parecem férias, o tempo está óptimo e eu adoro vir a Portugal. Como toda a minha família monta, eles adoram vir ver as provas!". Felipe Ramos Guinato com Watina foi o 2.º classificado e Luís Sabino Gonçalves em Chai D ocupou a 3.ª posição. Durante a noite, realizou-se ainda a CSIO Lisbon Party, na discoteca MAIN, com as actuações de Giulia Camargo -

Reportagem em Equitação TV



OBSTÁCULOS

GREEN HORSE TOUR RIDERS seguNdo ciclo FecHado GOLEGÃ E COIMBRA RECEBERAM MAIS TRÊS JORNADAS DO CIRCUITO QUE TEM TIDO UMA MÉDIA DE 190 CONJUNTOS A SALTAR EM CADA ETAPA. JOÃO CHUVA CONTINUA EM EVIDÊNCIA NO RANKING.

João Chuva montando Virgínia Dream venceu o Grande Prémio disputado em Coimbra epois da Golegã e de Óbidos, o Green Horse Tour Riders (GHTR), cumpriu mais três jornadas em três semanas consecutivas. Com a alteração ao calendário inicialmente previsto, o Centro de Alto Rendimento voltou a receber mais duas provas do circuito e o Centro Hípico de Coimbra, na Mata do Choupal, recebeu a outra.

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Na Golegã, o chefe de pista convidado da 3.ª qualificativa foi Bernardo Costa Cabral, que se disse "muito satisfeito" com as condições que encontrou no Hippos. "Gosto imenso de fazer concursos em Portugal e tenho muito gosto em estar aqui, ainda por cima com praticamente 200 cavalos, com óptimas condições, toda a gente está contente! A pista permite aos cavalos galopa-

rem e alguns não estão habituados, mas também estamos a começar a época. Eu adoro pistas grandes, principalmente se houver saltos suficientes e decoração para podermos dar largas à nossa imaginação", afirmou à EQUITAÇÃO o course-designer, que considera que no nosso país "há uma falta enorme de concursos nacionais". No regresso do Green Horse

à Golegã, João Chuva voltou a mostrar que está em perfeita harmonia com a égua Virgínia Dream, e somou a segunda vitória na prova maior do circuito, depois de ter ganho a etapa inaugural e de ter ficado em 3.º em Óbidos. Desta vez, entre 34 conjuntos, conseguiu um lugar entre os três que passaram ao desempate, fazendo o melhor tempo, numa barrage em que


OBSTÁCULOS

António Vozone com Lacy Woman foi o vencedor do GP Golegã - 4.ª etapa Corrabe (4.º), António Vozone/Lacy Woman (5.º), Hugo Cardoso Tavares/Bill (6.º), Fernando Guinato Neto/Equilibre du Tilleul (7.º) e Miguel Santana Lopes/Osiris du Torte (8.º).

Com a etapa seguinte do GHTR a disputar-se no mesmo local, muitos dos cavaleiros aproveitaram para ficar instalados, enquanto que outros, como João Chuva, optaram por

Francisco Costa Lopes/Beethoven das Gaiolas - Iniciados

Foto: Martina Marschall

nenhum binómio penalizou. Norbert Ell foi 2.º com T-Quinta e o jovem Francisco Mendes Rosa foi 3.º em D Marinero, neste GP a 1,45m. Classificaram-se também Ivo Carvalho/

dar algum descanso às montadas, num fim-de-semana marcado pelas elevadas temperaturas. O GP desenhado por Cristina Larangeira contou assim com 22 conjuntos, e mais uma vez, apenas quatro ultrapassaram sem faltas o percurso inicial. Na barrage esteve melhor o campeão nacional António Vozone, que admite ter ido "para ganhar". O cavaleiro considera que está "muito à vontade a estas alturas" com a égua Lacy Woman e entende que este é o momento para "aproveitar, que ela está boa! É a mesma história do ano passado, «dar-lhe ganga»!". Vozone deixou o 2.º lugar para António Matos Almeida em Euro Time e em 3.º Norbert Ell com T-Quinta. Hugo Cardoso Tavares foi o único a penalizar no jump-off e terminou na 4.ª posição em Bill. Seguiram-se ainda Ricardo REVISTA EQUITAÇÃO

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OBSTÁCULOS

Hugo Carvalho/Carlyle Von Meer (3.º no Pequeno Grande Prémio em Coimbra) Gil Santos/Venus C (5.º), António Frutuoso de Melo/Ananaz (6.º), Francisco Fleming/Zaniki W (7.º) e Ricardo Gil Santos/ C'est Moi (8.º). Coimbra, à 5.ª etapa, marcou uma viragem no tour, passando das pistas de areia e sílica para os relvados e reavivando a alta competição no centro hípico da Mata do Choupal. Como não há duas sem três, João Chuva voltou ao GHTR para levar mais uma taça, num campo que inicialmente o deixou de pé atrás: "Eu tenho muito medo das pistas de relva, sou muito reticente, e quando me disseram que era em relva fiquei um bocadinho céptico, mas realmente, para mim, esta é uma pista muito boa e acho que está espectacular!". Sobre os de-

senhos do chefe de pista de Coimbra, Pedro Faria, para a prova rainha, o cavaleiro frisou que foi "um bom percurso. Não estava grande, estava técnico e a égua saltou muito bem". Neste GP entraram 27 concorrentes e quatro passaram ao desempate: "No jump-off o Mário Wilson tinha ido depressa, o Beto [Luís Fernandes] também não tinha ido muito devagar e eu tive que ir muito depressa. Mas a Virgínia é um super cavalo e quando está bem fisicamente é difícil batê-la", contou o vencedor. Sem faltas, Mário Wilson Fernandes ficou na 2.ª posição com Zurito do Belmonte e Luís Fernandes em 3.º com António. Com uma falta no desempate, ficou Ivo Carvalho, com Corrabe. Nas

posições classificáveis ficaram ainda, por ordem: Joana Rios Oliveira/Ballybur Don Clover (5.º), Ricardo Gil Santos/C'est Moi (6.º), Felipe Ramos Guinato/Reve de Nesque (7.º) e Hugo Cardoso Tavares/Bill (8.º). A Equitação TV é parceira do GHTR e em todas as qualificativas dá o nome a uma prova. Nas duas etapas na Golegã, foram as de 1,20m e 1,20 Juventude, que tiveram como vencedores, respectivamente, Hugo Carvalho/Ceasar e Luísa Horta Osório/Quopahu da Meia-Lua e depois Mário Wilson Fernandes/Zantina do Belmonte e Ana Margarida Gomes/Quattu. Em Coimbra, a prova Equitação TV foi o Pequeno Grande Prémio, colocado

Felipe Ramos Guinato/Watina, vencedor da Prova Equitação TV em Coimbra 14

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a 1,35m, e foi vencedor Felipe Ramos Guinato, na sela de Watina. Com várias montadas diferentes, Hugo Carvalho tem sido um dos cavaleiros mais bem sucedidos nestas provas: Ganhou a 2.ª e a 3.ª etapas, com Ciara 2 e Ceasar, ficou em 5.º na 4.ª etapa, também com Ceasar e foi ainda o 3.º classificado em Coimbra, montando Calyle Von Meer. A duas etapas do final, a primeira edição do circuito tem feito sucesso entre os cavaleiros seniores e tem também contribuído para a formação dos cavaleiros mais novos, não sendo raras as vezes em que em pista é possível encontrar professores e alunos a debater estratégias, antes das provas da Juventude. O seleccionador nacional das camadas mais jovens, Miguel Viana, presente em Coimbra, explicou que "este circuito apoia muito os professores e os cavaleiros seniores em geral e isso traz a juventude com eles, como é óbvio. Em relação à juventude, o tipo de provas que aqui se fazem são de alguma exigência, e é óptimo para a formação deles, pois a exigência já começa cedo". Uma nota para o iniciado Francisco Costa Lopes, aluno de Luís Real, que tem entrado em todas as qualificativas com Beethoven das Gaiolas, quase sempre sem oposição. O cavaleiro de apenas 9 anos tem, nas palavras do professor, "evoluído bastante e, apesar de este ser um cavalo novo, o Francisco tem tido sempre percursos limpos, só por uma vez não conseguiu. Se houvesse mais gente seria mais engraçado, teria mais competição!". Competição é o que não falta nas provas para Cavalos Novos de 4, 5 e 6 anos, onde são vários os conjuntos a preparar e a ensinar montadas. E quem se juntou a estes cavaleiros foi Marina Frutuoso de Melo, madrinha do circuito, que se estreou a competir na 3.ª etapa do GHTR, na Golegã, depois uma ausência inicial devido às provas no estrangeiro. À EQUI-


OBSTÁCULOS

TAÇÃO, Marina explicou os motivos que a levaram a aceitar o desafio de dar a cara pelo GHTR: "Aceitei ser madrinha deste tour porque veio fechar uma lacuna que havia no hipismo nacional, que era a falta de concursos nacionais, que são importantíssimos, e portanto estou com eles para este tour. Este concurso está muito bem organizado, todas as sugestões são bem ouvidas, com vontade de fazer melhor da próxima vez. Ainda assim está tudo muito bem, estamos a falar de pormenores". Outra marca que o Green Horse Tour Riders tem pretendido deixar é o reanimar de tradições antigas nos saltos de obstáculos. Em todas as qualificativas tem sido agendado um jantar convívio, no sábado à noite, no qual comparecem todos os envolvidos no evento. Na opinião da juíz Ana Maria Jordão, esta iniciativa "é muito simpática e tem sido uma maisvalia para estes concursos. Normalmente hoje em dia os concursos são muito industrializados e muito profissionalizados e o que nós notamos é que cada um sai para seu lado e os convívios grandes têmse perdido. Esta equipa tem conseguido voltar a reunir as pessoas e o espírito é muito agradável". Inicialmente estava previsto que o circuito passasse pelo Cen-

Luís Real/Fury (provas de cavalos de 4 anos – Coimbra) tro Hípico de Santa Isabel (Portimão) e pelo Hipódromo da Bairrada (Anadia), mas nenhum dos dois locais reuniu as condições necessárias a tempo destas qualificativas. "Esperámos que pudessem ser feitas as alterações, infelizmente não foi possível, e tivemos que voltar à Golegã, onde fomos muito bem recebidos", explicou o organizador, Eduardo Oliveira. Para o Presidente da Câmara Municipal, Rui Medinas, importa à Golegã receber este tipo de eventos na medida em que "contribui para inverter a tendência de sazonalidade", que atinge a capital do cavalo fora da Feira

de São Martinho, no mês de Novembro. Para além disso, no entender do autarca, as três etapas do GHTR "permitiram-nos também ir aferindo internamente em termos de equipamento as melhores condições para oferecer a quem vem saltar aqui. E não menos importante é o impacto económico que o evento tem para o concelho e para a região". Em situação semelhante, também o município de Coimbra se congratula por acolher o circuito. O vereador Carlos Cidade afiança que o centro hípico "oferece condições excepcionais aos praticantes. E, por outro lado, a

cidade tem hoje condições para receber grandes eventos, como este ou até com o futuro concurso internacional que em princípio se realizará durante as Festas da cidade da Rainha Santa Isabel". Em jeito de balanço e numa altura em que falta disputar uma classificativa antes da final, o organizador diz que "o saldo é extremamente positivo. Nós tivemos a sorte de os cavaleiros aderirem muito bem no primeiro evento, conseguimos ter uma percentagem maior num segundo evento, fechando um ciclo de dois eventos muito bons". Eduardo Oliveira sublinha que "todo este sucesso se deve à adesão dos cavaleiros que felizmente estiveram connosco e aos quais eu agradeço muito. A eles, aos patrocinadores e a toda a minha equipa, que foi fantástica e nos permitiu fechar aqui um segundo ciclo a pensar já em 2015 como uma realidade muito próxima". O GHTR está agora em pausa até à próxima jornada que se realiza de 1 a 3 de Agosto. A grande final será de 29 a 31 de Agosto, na Companhia das Lezírias e terá como chefe de pista Frank Rothenberger.n Cátia Mogo/Fotos: Marisa Suzano Reportagem em Equitação TV

Mário Wilson Fernandes/Zantina do Belmonte (vencedor da Prova Equitação TV a 1,20m – na Golegã REVISTA EQUITAÇÃO

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INTERNACIONAL

LUCIANA E SABINO BrilHaM No gloBal cHaMpioNs tour O GLOBAL CHAMPIONS TOUR (GCT) JÁ ARRANCOU E TEVE EM PISTA, POR PORTUGAL, NÃO SÓ A LUSO BRASILEIRA LUCIANA DINIZ, COMO TAMBÉM LUÍS SABINO GONÇALVES, QUE SE EVIDENCIARAM NAS PROVAS MAIORES.

Luciana Diniz obteve um 5.º lugar no Grande Prémio a 1,60m de Hamburgo té ao fecho desta edição, realizaram-se as etapas de Antuérpia, Madrid e Hamburgo, e foi nesta última que Luciana Diniz conseguiu o melhor resultado. A cavaleira montou Fit For Fun

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e voltou às classificações, com um 5º lugar no Grande Prémio a 1,60m na prova alemã, após um toque no desempate. Ganhou a cavaleira da casa Katrin Eckermann/Firth of Lorne, após barrage e sem qualquer pena-

Luís Sabino Gonçalves ostentou em Madrid a braçadeira destinada ao Melhor Cavaleiro do Concurso

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lização no tempo de 36,16''. Antes disso, Luciana tinha já feito um 2.º posto com Lady Lindenhof, a 1,50m. Já em Madrid, foi Luís Sabino quem deu cartas, ao conseguir não só o 10.º posto no GP -

ganho pelo holandês Maikel van der Vleuten/VDL Groep Verdi - como também um 4.º a 1,50m com Império Egípcio Milton, e um 3.º a 1,45m com Império Egípcio Rivage, o que lhe valeu a braçadeira de melhor cavaleiro do concurso, que ostentou durante o GP. Na capital espanhola, Luciana não foi além do 12.º posto com Lacontino, a 1,50m. Antuérpia foi a etapa inaugural e uma das novidades no circuito deste ano, com a prova maior a ser ganha por McLain Ward/Rothchild. Luciana Diniz entrou com Cassius 56, mas não teve uma prova feliz, ao terminar em 49.º com 20 pontos. Nesta altura é a australiana Edwina Tops-Alexander quem lidera o ranking, mas ainda há muitos pontos por disputar na liga milionária. O GCT vai passar ainda por Shangai, Cannes, Mónaco, Paris, Estoril, Valkenswaard, Londres, Lausanne e Viena, com a final em Doha. A etapa portuguesa decorre de 10 a 12 de Julho. n

Cátia Mogo/Fotos: Stefano Grasso


CALENDÁRIO 2014

GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 21 a 23 de MARÇO

ÓBIDOS QT. ÓBIDOS COUNTRY CLUB 28 a 30 de MARÇO

GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 25 a 27 de ABRIL

GREEN HORSE TOUR RIDERS SEIS CSN-A + UMA FINAL DE NORTE A SUL DO PAÍS DOTAÇÃO GLOBAL DO TOUR 168.000 EUROS DOTAÇÃO DE CADA CONCURSO 21.000 EUROS

GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 02 a 04 de MAIO

COIMBRA MATA DO CHOUPAL 09 a 11 de MAIO

LEÇA DA PALMEIRA CH PORTO - MATOSINHOS 01 a 03 de AGOSTO

FINAL PORTO ALTO COMPANHIA DAS LEZÍRIAS 29 a 31 de AGOSTO

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COMPLETO

CAPITÃO FRANCISCO MEDEIROS gaNHa Na cegarrega COM A VITÓRIA NA ÚLTIMA PROVA DA COMPETIÇÃO, O CAPITÃO VETERINÁRIO FRANCISCO MEDEIROS CONQUISTOU O TROFÉU DE SENIORES DA ASSOCIAÇÃO PORTUGUESA DE CONCURSO COMPLETO DE EQUITAÇÃO (ACCE) RELATIVO À ÉPOCA DE 2013/14.

Francisco Medeiros e Zuidor -Seniores esmo com apenas três etapas cumpridas - Alter do Chão e as duas na Mata do Duque - o cavaleiro chegou à final da Herdade da Cegarrega na liderança do ranking de Seniores, com Zuidor, e o 1.º lugar nesta derradeira prova garantiu-lhe a Taça, que tinha traçado como objectivo para si próprio no início da temporada. "Achei que estaria ao meu alcance e trabalhei para isso, escolhi as provas em que queria participar e foram correndo bem", conta o militar, que finalizou esta jornada com os 36,3 pontos do ensino no 1*: "A prova de ensino correu bem e os obstáculos menos bem embora tenha feito zero pontos, pois o Zuidor estava um bocado nervoso - o que já é hábito - mas hoje estava um bocadinho pior do que o costume. O cross foi bastante bem, fiz as opções seguras, nomeadamente um salto que tinha um «short», mas como ele é um cavalo que galopa muito,

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consegui cumprir o tempo". Para o vencedor, a Cegarrega foi a prova que mais gostou ao longo da Taça ACCE, não só pela vitória, mas também porque a organização, apesar de amadora, "não fica nada atrás de nenhuma das organizações profissionais que temos cá em Portugal a fazer provas de CCE". Na prova de 1* o cavaleiro foi secundado por Francisco

João Netto Bacatelo e Benny Fortunoz - Juniores Seabra/Bocage (37,3pts), com Bernardo Seabra/Aferzysta em 3.º (53,8pts) e Francisco Paim/ Loulou em 4.º (55pts). A João Netto Bacatelo bastou o 5.º posto em Benny Fortunoz (61,2pts) para conseguir o troféu relativo ao escalão de Juniores. O cavaleiro, que irá representar Portugal no Campeonato da Europa, em Agosto, no Reino Unido, fez 55,6pts

Assunção Ravara venceu nos Juvenis

na dressage, aos quais somou 5,6 por excesso de tempo nos saltos. À EQUITAÇÃO disse que "o ensino poderia ter corrido melhor. O percurso de cross estava fantástico, o piso em plenas condições, era um cross convidativo. Dou os parabéns à organização". João considera que está agora "mais preparado e motivado" para o Europeu, depois desta Taça ACCE, em que só faltou a uma jornada, tendo gostado igualmente de todas. A prova de 1* teve em pista 13 conjuntos, dos quais 9 chegaram ao final. Já o troféu de Juvenis decidiu-se na prova de Iniciação, com Assunção Ravara/Acrobat a levar a Taça, depois de amealhar mais alguns pontos com o 2.º lugar da Final (2pts). "Isto já mostra a minha evolução e do cavalo, que agora já está mais habituado a entrar comigo. Hoje nos saltos o Acrobat estava calmo, em comparação com as outras provas, limpei e acho que correu


COMPLETO

Joaquim Grave/Zénite - Preliminar muito bem e no cross também, apesar de ter chegado mal a um ou dois saltos", diz a cavaleira que pretende em breve entrar em provas de nível Preliminar. Nesta época, a prova da Taça ACCE que mais gostou foi a Barroca d'Alva, "porque gosto

do campo de cross aberto, para poder ver tudo e ouvir o cavalo a galopar", explica. Ganhou a prova Miguel Ribeiro Faria/Crelvery da Lapa, o único conjunto que não penalizou. Em 3.º ficou ainda João Duarte Silva em Esmeralda (8,4pts).

Já no Preliminar ocuparam o pódio Joaquim Grave/Zénite (1.º), Sérgio Ribeiro/Adrenalina da Famaguda (2.º) e Francisco Núncio/Dimpar (3.º). Estava previsto que a Final da Taça ACCE se realizasse na Escola de Armas, em Mafra, mas a chuva não permitiu que o piso estivesse em condições à data da prova, pelo que a Associação decidiu realizar a competição mais tarde, na Herdade da Cegarrega, em Sousel. Para tal contou com uma organização nova, constituída por três jovens cavaleiros, que se responsabilizaram por pôr de pé todo o evento: Augusto Calça e Pina, Francisco Stilwell e Luís Bissaia Barreto, que depois de uma primeira experiência em 2012, decidiram voltar a organizar um concurso. "Já íamos organizar a poule, porque o objectivo é, no futuro, criar uma

Luís Bissaia Barreto, João Duarte Silva, Francisco Stilwell e Augusto Calça e Pina

prova nacional, mas quando foi adjudicada a taça ainda mais vontade e motivação nos deu para fazer um bom trabalho", conta Augusto, que revelou que a principal preocupação foi melhorar o piso, "puxámos tudo para esta zona da herdade, que tem o piso bem melhor, construímos muitos saltos portáteis e tentámos pôr as perguntas do cross a um nível gradual ao longo do percurso. Havia uma preocupação com dois saltos que construímos que podiam sempre influenciar os resultados, mas achamos que deve ser assim. Olhando para as classificações houve o que esperávamos de percursos limpos." Na opinião do presidente da ACCE, Nuno Ravara, os jovens organizadores "dignificaram muitíssimo a Taça, porque esta foi uma prova muito boa. Acho que temos aqui uma nova pista montada para o CCE em Portugal". O dirigente desvaloriza o facto de esta não ter sido uma prova federada, pois "o importante é a Taça acontecer, em provas federadas ou não, e eu acho que eles fizeram uma prova de alto nível, portanto a Final da Taça ficou muito bem entregue". Quanto ao proprietário da Herdade, o Eng. Augusto Calça e Pina, apoiou sempre a organização contribuindo com todos os meios para que tudo corresse bem, e deixou elogios e conselhos à equipa: "Não só a parte do cross esteve bem organizada, como toda a envolvente está simpática. Isto é proporcionar um dia diferente às pessoas que vêm ver porque se passa um dia divertido. Mas não deixem de ser cavaleiros, porque é pena onde há tão pouca gente a praticar o concurso completo perdermos cavaleiros para organizações!" Este ano a Taça passou por Alter do Chão, Barroca d'Alva, Vale Sabroso e duas vezes pela Mata do Duque. n

Cátia Mogo Reportagem em Equitação TV

Miguel Ribeiro Faria - Crelvery da Lapa - Iniciação REVISTA EQUITAÇÃO

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RAIDES

CEI ATOLEIROS NoVos caMpeões NacioNais ANTÓNIO VAZ FREIRE E GONÇALO PICÃO ABREU CONQUISTARAM AS MEDALHAS DE OURO ESTE ANO EM FRONTEIRA. a edição deste ano foram onze os conjuntos que se apresentaram no CEI3* para disputar o Campeonato Nacional Sénior, de 160Km. Findas as seis etapas, o melhor resultado luso foi de António Vaz Freire, em Tibete, que fechou o raide em 10h20m30s, à velocidade média de 15,539Km/h. Ana Margarida Costa/Zina foi a vice-campeã, com uma média de 14,848km/h (10h49m23s) e no 3.º posto, com a medalha de bronze, ficou Luís Lamas/U Vinha do Almargem, com 14,730Km/h de média (10h54m:36s). Venceu a prova internacional a espanhola Ana

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Pódio de Séniores

Alonso Hernandez/Aigoual Cyra, que terminou em 10h07m57s. Chegaram ao final do CEI3* sete dos quinze conjuntos. No Campeonato de Juniores e Jovens Cavaleiros, a luta foi

entre dois irmãos que já estão habituados a partilhar os pódios. Gonçalo e Rodrigo Picão Abreu chegaram juntos à recta final no Centro Hípico de Fronteira empunhando a bandeira nacional

e Rodrigo, o mais velho e campeão de 2013, cedeu o passo ao irmão, para lhe dar a oportunidade de se sagrar campeão, depois de este ter sido por dois anos vice-campeão. Cortaram a meta com 2 segundos de diferença, e entram na derradeira grelha veterinária com 4 segundos entre ambos. Gonçalo terminou à frente, com 14,620 Km/h (08h20m16s), na sela de Zorro de Alcântara, com Rodrigo a fazer 14,619Km/h em Trovão de Alcântara. Maria Duque Fonseca fechou o Top3, repetindo a classificação do ano anterior, montando Baeta (08h29h47). Ganhou este CEIYJ2*, de 120Km, outra espanhola, Rocio Carmona/Top Al Oasis, que fez uma média de 15,454Km/h, em 7h53m16s. Apenas estes 4 binómios concluíram a prova, onde estiveram sete participantes. Decorreu ainda um CEI1*, CEI2*, CEN1*, CEN2*, CEP 40km e CEP 80Km. n

Os três primeiros classificados no Campeonato de Juniores ostentando a bandeira nacional 20

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Cátia Mogo


COUDeLArIA LUIS BAStOS

ÍRIS | ÉGUA DE OURO DA EXPOÉGUA 2014 DESCENDÊNCIA DO GARANHÃO ESCORIAL | CAMPEÃO DE CAMPEÕES DO FIPSL 2013

Luís Bastos | Rua Fernando Namora, nº 38, Bloco B, 5º Dtº, 1600-453 Lisboa Tel: 937566922 | info@coudelarialuisbastos.com | www.coudelarialuisbastos.com


REPORTAGEM

LUSITANO INTERNATIONAL DRESSAGE TEAM

a caMiNHo da prÓxiMa etapa UM ANO APÓS O LANÇAMENTO, O LUSITANO INTERNATIONAL DRESSAGE TEAM (TEAM) MANTÉM-SE EM MARCHA, DANDO OPORTUNIDADE AOS CAVALEIROS NACIONAIS DE TREINAREM COM DOIS GRANDES NOMES PORTUGUESES DA DISCIPLINA: DANIEL PINTO E MIGUEL RALÃO DUARTE.

Filipa Reis/Chocolate com Daniel Pinto

uando foram desafiados a integrar o Comité Técnico do TEAM, ambos não hesitaram e aceitaram o convite de se juntar a este projecto, que pretende ajudar os cavaleiros portugueses a melhorar a qualidade da sua equitação e performances em competição. Quatro concentrações de treino depois, uma delas em cenário de prova, os treinadores estão satisfeitos com a qualidade dos conjuntos que se têm apresentado e acreditam no futuro do projecto, que se prepara para entrar numa nova fase. Para Daniel Pinto "a evolução é positiva, embora ainda estejamos na fase de angariar cavalos e cavaleiros, porque para iniciar um trabalho de continuidade, temos, antes de mais, que fazer uma selecção. Este primeiro ano serviu para ver a adesão que havia ao projecto e já temos cerca de vinte conjuntos. A partir de agora, vamos poder

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começar a fazer uma selecção daqueles que efectivamente têm vontade de continuar no TEAM, para depois começarmos a desenvolver um trabalho mais intenso, onde, quer o Miguel, quer eu, vamos trabalhar esses cavalos, mon-

tá-los, experimentá-los... Ou seja, começar a fazer um trabalho com mais consistência, tendo em vista os resultados que queremos alcançar." Miguel Ralão Duarte continua, "até agora a nossa perspectiva tem sido mais a de avaliar

o que vemos e tentar ajudar no que vão fazer para casa. Não se trata ainda de corrigir muito, mas analisar cada conjunto, sendo-lhe entregue, no final de cada sessão de treino, um relatório com os pontos fortes e a melhorar. Até agora, em geral, acho que a qualidade é boa, há bastantes conjuntos com potencial, e portanto acho que temos matéria prima para progredir." O TEAM conta com o apoio da FEP e APSL e as sessões de treino registado a presença de conjuntos de várias idades e experiências. Para os treinadores, poder trabalhar com cavalos ainda jovens é uma mais valia. Miguel explica: "já apareceram aqui alguns conjuntos mais novos em que as coisas começavam a acelerar um pouco demais, devido à necessidade de apresentar resultados. Nós, sendo mais velhos, mais experientes, temos a noção que é preciso fortalecer a base e

Francisco Abecasis e Divagante do Pilar

Carolina Guerreiro com Destino da Coutada

Marta Ramos/Barão

Sofia Mariz Embaixador de Serpa

Manuel Vinagre com Babaina


João Embaixador no D-Unico de HVS com Miguel Ralão Duarte

acho que esse é o ponto mais importante da nossa ajuda: ajudar a enquadrar a progressão dos cavalos para que possam chegar ao mais alto nível." Uma boa base vai fazer com que a comunicação com o cavalo seja coerente desde o início. "Neste momento estamos a tentar colocar todos na linha do que é a escala de treino. Tentamos passar a mesma informação aos conjuntos que estão a chegar, de maneira a que arranquem com a mesma base e comecem por um trabalho simples, para que todos estejam a falar a mesma 'língua'. Há efectivamente alguns cavalos já com grande potencial, e que, como são muito novos, temos a possibilidade de iniciar um trabalho com uma direcção de treino, em que vamos evitar alguns erros que pudessem vir a ser cometidos, e isso vai encurtar a distância para chegarmos a um bom nível", acrescenta Daniel. Os dois treinadores conhecem-se desde crianças, partilharam a mesma formação inicial e inclusivamente a experiência de estarem juntos em Jogos Olímpicos (Pequim 2008). Ambos têm-se dedicado ao projecto de corpo e alma e assistir a um treino, é vê-los a andarem quase quilómetros no picadeiro, tentando dar o máximo de assistência aos conjuntos. Presente na quarta concentração de treino do TEAM, que decorreu no início de Maio na Quinta do Pilar, perto da Azambuja, o Eng. Francisco Borba, Presidente da Comissão Técnica da FEP, que os conhece bem estes dois. "Nestas coisas pesa muito as características da personalidade das pessoas e tanto o Daniel como o Miguel, completam-se muito nesse aspecto, porque têm uma capacidade de transmitir os seus conhecimentos e uma grande humildade ao ensinarem tudo o que sabem. São pessoas com muita experiência internacional, e por outro lado, para os mais novos, o ter contacto com alguém que tem notoriedade internacional, é já de si uma motivação. Isso é mais um acréscimo

REPORTAGEM

Frederico Pintéus

Pedro Castro Monteiro/Fidalgo

Ricardo Almeida Elice

Salvador Pessanha Xenofonte d’Atela

de qualidade a este projecto. O TEAM é uma iniciativa de louvar, apoiar e tentar enquadrar para que possa progredir e ter consistência no futuro."

PONTO DE VIRAGEM Frederico Pintéus e Henrique Abecasis, directores do TEAM, têm recebido opiniões de cavaleiros, criadores e proprietá-

rios. "As reacções têm sido curiosas, no sentido de «porque é que não se fez isto antes?»" revela Frederico Pintéus. "A evolução tem sido boa com cada vez uma maior adesão de cavaleiros, não só novos, como profissionais, mas penso que estamos neste momento num ponto de viragem. No futuro deverá haver mais uma ou duas concentrações neste formato, em que estamos a alargar a base de pirâmide com conjuntos que podem entrar, para depois começarmos a fazer uma triagem, seleccionando os que têm capacidade e qualidade para poderem seguir em frente, havendo um acompanhamento mais sistematizado e profundo desses conjuntos". Na opinião de Daniel Pinto é um projecto "que tem pernas para andar" e segundo Miguel "só peca por vir tarde!" Para Frederico Pintéus, "o maior apoio que pode haver neste momento é o reconhecimento do próprio projecto. Se com os meios que temos, estamos a conseguir realizar concentrações como a de hoje, se tivermos maior adesão de cavaleiros, criadores ou entidades, será mais fácil. Normalmente focávamo-nos em treinadores estrangeiros quando tínhamos aqui pessoas com muita qualidade para nos ajudar. Estamos a conseguir fazer algo que acredito ser muito válido e que traz um valor acrescentado para todos aqueles que participam, de uma forma pouco dispendiosa, aproveitando os recursos que temos. Portanto, em vez de se pensar em convidar alguém de fora para vir cá: olhem para dentro. Se todos olharmos para dentro, talvez seja mais fácil." n

Ana Filipe Reportagem em Equitação TV equitacaotv.pt - Meo Kanal 225511

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FEIRAS E EVENTOS

VIVA O RIBATEJO dia a caMpo aViVa tradições NOS DIAS 24, 25 E 26 DE ABRIL, A QUINTA DA SILVEIRA, NA FAJARDA (CORUCHE), ENGALANOU-SE PARA UM EVENTO EM QUE FOI ENALTECIDO O CAMPINO DO SORRAIA E AS TRADIÇÕES RIBATEJANAS. á muito que Paulo Pinto, proprietário da Quinta, sonhava com um evento destes. Graças ao patrocínio da Agri Consulting Group - empresa que tornou publica a nova imagem nesta festa - o sonho tornou-se realidade e durante três dias, cavaleiros, campinos, aficionados ou simples curiosos, puderam divertir-se e vivenciar o espírito de uma festa a campo. "Nasci em Coruche, fui forcado, toda a vida convivi com estas tradições e defendo-as ao máximo. Era um sonho que eu tinha, o de trazer o Ribatejo para junto das pessoas e este ano consegui colocar de pé a

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ideia" afirma Paulo Pinto. O programa contou com diversos momentos, tais como cortejo de campinos, apresentação do Grupo Folclórico da Fajarda, treinos de forcados com a presença dos Amadores

da Chamusca e Coruche - prova da vaca, prova de fardos ou o jogo da rosa. Muitas das actividades são já antigas e nesta festa, revivê-las foi uma forma de não se perder a tradição, passando a história aos mais

novos. Sempre presentes a cavalo, devidamente trajados, campinos do Sorraia e diversos cavaleiros amadores, com a festa a respirar um ambiente equestre e familiar. Os campinos do Sorraia foram aliás homenageados no último dia do evento. Patente para observação e votação, nas três jornadas, dois esboços de uma futura estátua da autoria de José Miguel Franco de Sousa. Paulo Pinto explica: "vamos tenPaulo Pinto ladeado por Gonçalo Dias e Nuno Barreiros da Agri Consulting Group


FEIRAS E EVENTOS

tar criar uma comissão para a estátua ao campino do Sorraia, uma figura que tem sido um bocadinho esquecida. Já contactámos o Presidente da Câmara Municipal de Coruche com a intenção de levar para diante esta ideia. Falámos com o escultor, temos duas opções e estamos a dar oportunidade à população de expressar a sua opinião. Acho que uma obra escultórica em Coruche ao campino do Sorraia fazia todo o sentido". Na noite de sábado realizouse um espectáculo equestre, também de nome "Viva o Ribatejo", onde o Campino esteve uma vez mais em destaque. O espectáculo contou com a recriação de várias cenas de campo e encheu as bancadas da

Quinta, com muitas pessoas em torno do tentadeiro para não perderem nenhum momento. No final, Paulo Pinto fez "um balanço positivo. Não promovemos o evento a uma escala muito grande, para nesta primeira fase tomarmos o pulso ao que seria o evento, já a pensar em futuras edições. Tudo o que organizámos em termos de programa correu bem e nas próximas edições, com uma afluência de público maior, aí sim estará mais completo todo o evento". Todas as noites da festa terminaram com um baile, mas acima de tudo, boa disposição. n

Ana Filipe Reportagem em Equitação TV equitacaotv.pt - Meo Kanal 225511

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FEIRAS E EVENTOS

Iris, Égua de Ouro

EXPOÉGUA 2014 iris é égua de ouro

O criador Luís Bastos

A EXPOÉGUA DECORREU ENTRE 22 E 25 DE MAIO NA CAPITAL DO CAVALO. A GOLEGÃ ENCHEU-SE DE CRIADORES, ATLETAS E ENTUSIASTAS E A FEIRA VIU MESMO AUMENTAR O NÚMERO DE ANIMAIS INSCRITOS NO CONCURSO DE MODELO E ANDAMENTOS. Concurso Nacional é sempre um dos pontos altos do certame e este ano o balanço é "extremamente positivo" afirma Rui Medinas, presidente da Câmara Municipal da Golegã e Feira Nacional do Cavalo. "Relativamente ao Concurso de Modelo e Andamentos, as últimas três edições tinham sido de decréscimo de inscritos e este ano assistimos à inversão dessa tendência. O ano de 2014 foi o ano em que igualámos o número máximo de inscrições, com mais de 115 animais. Os criadores estiveram em força na Golegã e nesta 16.ª edição da Expoégua". Destes, mais de 90

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Godiva Plus Campeã de Raça Selectas


FEIRAS E EVENTOS

Camurça, vencedora da classe de Éguas Afilhadas exemplares foram de raça Puro Sangue Lusitano, onde se distribuiram oito medalhas de ouro. Na luta pelo título máximo esteve Iris de 1 ano (criação e propriedade de Luís Filipe Bastos), Hasa das Lezírias de 2 anos (criação e propriedade da Companhia das Lezírias) e a égua afilhada Camurça (criação e propriedade da Coudelaria de Santa Margarida). Seria a égua mais jovem a conseguir a maioria dos votos dos juízes e assim ganhar o troféu de "Égua de Ouro". Uma vitória que para Luís Bastos é fruto de "um trabalho que se tem vindo a desenvolver há alguns anos. O pai, o Escorial, foi Campeão de Campeões em 2013, agora ela é Égua de Ouro, o que significa que os objectivos que tinha traçado estão a ser alcançados. Não quero parar por aqui e por isso é que andei durante alguns anos a preparar

a carreira destes animais". Apesar da tenra idade de Iris, o futuro da poldra poderá vir a passar pelas pistas de Dressage. "Ela é muito nova mas pode lá chegar. O meu grande objectivo é tentar

fazer cavalos para Dressage. Porque não a poldra seguir as pisadas o pai, que está a provar que é um excelente cavalo nesse campo?!" Luís Bastos trouxe três animais à Expoégua, todas filhas do Escorial, e viu também India alcançar o ouro, na classe de poldras de 1 ano, atrás apenas da vencedora, por isso "não podia sair mais satisfeito desta Expoégua 2014" afirmou o criador à EQUITAÇÃO. Durante a entrega de prémios foram inúmeras vezes chamados à pista Luís e Piedade Pidwell, que para esta edição trouxeram 17 animais e conquistaram o 1.º posto por quatro vezes, tendo tido ainda a oportunidade de ver diversos exemplares nesta feira, descendentes de Spartacus. Para o criador da Coudelaria de Santa Margarida "essa é a nossa grande satisfação, a

certeza que a nossa criação está no caminho certo porque, não só tivemos cavalos de nosso ferro premiados, como muitos dos outros premiados são descendentes de cavalos nossos. Praticamente todos os classificados são filhos ou netos do Spartacus". Nas outras raças, venceu o "Troféu de Ouro" da Associação Portuguesa de Criadores de Raças Selectas, Godiva Plus, poldra de três anos, de raça Português de Desporto, criação da Dressage Plus e propriedade da Coudelaria Távora Correia. Foram distribuídas pelas raças Português de Desporto, Cruzado Português e Puro Sangue Árabe, sete medalhas de ouro. Para além da vencedora máxima, ocuparam o 1.º lugar com esta medalha, as éguas: Hybaloua Parisol (2 anos, Português de Desporto, criação e propriedade de António Manuel Claro); Havana du Loyal (2 anos, Cruzado Português, criação Casa Agrícola Vítor Frias e propriedade da Transfialense SA); e Too-Pretty (égua afilhada, Cruzado Português, criação da Coudelaria Moitalta e também propriedade da Transfialense SA). O concurso de Modelo e Andamentos contou ainda com classes para poldros de 1 e 2 anos. PROVAS DESPORTIVAS HIPPOS Uma ano depois da inauguração oficial, o Centro de Alto Rendimento da Golegã (Hippos) tem vindo a receber cada vez mais provas, e foi aí que, ANIMARAM O

Equitação de Trabalho: Bruno Pica da Conceição/Trinco

Campeonato Nacional de Corridas de Galope

Trote Atrelado disputou mais uma jornada no Hippos REVISTA EQUITAÇÃO

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FEIRAS E EVENTOS

Romaria a S. Martinho

vai cumprindo a sua função, e nessa medida, aquilo que pretendemos é que a Golegã, capital do cavalo, passe também a ser conhecida pela vertente desportiva associada ao cavalo e não só numa lógica de sazonalidade em Novembro e Maio".

Exposição de fotografia

PROGRAMA ECLÉTICO Durante quatro dias quem passou pela Golegã pôde ainda assistir a diversas exposições e apresentação de livros. A sexta-feira ficou marcada pela tradicional Romaria a S. Martinho que se realiza desde 2002. O desfile partiu do Largo do Arneiro, encabeçado pelo carro de cavalos, onde seguia o Romeiro-Mor, Rui Medinas, seguido pelos inúmeros romeiros,

Derby de Atrelagem durante a Expoégua, decorreram quase todas as competições desportivas, nomeadamente Corridas de Cavalos (6.ª jornada do Campeonato Nacional de Trote e Galope), Derby de Atrelagem (Campeonato Regional do Centro) e provas de Horseball (com jornadas dos escalões sub-16 e séniores). Apenas as provas do Campeonato Nacional de Equitação de Trabalho (3.ª jornada), foram mantidas no Largo do Arneiro. "Fizemos uma aposta forte na vertente desportiva. Tivemos a 28

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preocupação que a Expoégua, do ponto de vista desportivo, fosse também um evento que trouxesse algo de novo ao que é a programação regular e normal", afirmou Rui Medinas, acrescentando que "há um ano inaugurámos o Hippos, o que obviamente nos vem dar possibilidade de a Golegã poder passar a estar na rota de eventos desportivos que em 2014, são sobretudo eventos nacionais. Desde o início do ano já tivemos mais de mil atletas no Centro de Alto Rendimento, em diversas modalidades, portanto, o Centro

Campeonato Masters e Sub-16 de Horseball

amazonas e cavaleiros. Este dia chegou ao fim com um espectáculo equestre e largada de toiros. A tauromaquia foi aliás uma temática constante, com um colóquio sobre a importância das escolas de toureio na formação, assim como uma conferência subordinada ao tema "A Defesa da Festa Brava". Durante a Expoégua foram ainda apresentados o Plano de Intervenção para o Turismo Equestre no Alentejo e Ribatejo, assim como a Rota do Cavalo e do Ribatejo. n

Ana Filipe

Reportagem em Equitação TV



NA OPINIÃO DE...

A DRESSAGE É UM DESPORTO PARA AMANTES DO CAVALO E DA EQUITAÇÃO QUE TEM DESPERTADO UM CRESCENTE INTERESSE EM PORTUGAL NOS ÚLTIMOS VINTE ANOS. FALAR DO LUSITANO NA DRESSAGE, IMPÕE RECORDAR ALGUNS FACTOS E MOMENTOS ESSENCIAIS DA EQUITAÇÃO NO NOSSO PAÍS.

O LUSITANO NA COMPETIÇÃO/DRESSAGE:

o que Mudou? o passado, Portugal obteve medalhas nos Jogos Olímpicos com cavaleiros militares e cavalos cruzados. No entanto, a Dressage era então vista como uma disciplina para os cavalos do centro e norte da Europa e entendia-se que o cavalo lusitano não tinha as características requeridas para a competição, ou seja, a amplitude e regularidade dos andamentos e a descontracção na propulsão dos três andamentos. Na realidade, em Portugal a equitação era vivida como uma arte e existia um núcleo restrito de pessoas que eram conhece-

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Daniel Pinto

doras da arte, mas que a guardavam secreta. Julgo que, por não existirem os meios de informação actualmente disponíveis, nunca se difundiu a ideia de que a equitação é na verdade uma ciência e que a arte consiste em saber aplicála. Grande responsável pela evolução do cavalo lusitano e melhoria da equitação em Por-

tugal foi a tauromaquia, que partilha com a Dressage o denominador comum de ter um objectivo. Na tauromaquia há regras bem definidas do que se entende ser tourear, assim como na Dressage os exercícios e sua sequência estão concretamente definidos. Entendo que a tauromaquia contribuiu para a melhoria do cavalo lusitano como

Catherine Durand/Orphee

Carlos Pinto com Ripado

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atleta, devido ao grau de exigência física requerida e apuramento das capacidades mentais necessárias a suportar a carga emocional de lidar um touro. Ainda a propósito do toureio, impõe-se não esquecer que os toureiros recorrem à arte equestre para embelezar as suas lides executando passages, piaffers e piruetas, entre outros. Porém, a arte equestre em Portugal sempre preservou o respeito pela integridade física do cavalo, realçando sempre a importância da beleza, ligeireza e descontração, o que naturalmente levou a que, com a ajuda


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do cavalo lusitano, cavalo muito sensível, os cavaleiros praticassem e desenvolvessem uma equitação de sentimento e de ajudas discretas. Surge a Escola Portuguesa de Arte Equestre, chefiada pelo grande mestre Dr. Guilherme Borba. Tive o privilégio de montar ao lado de grandes mestres, que sempre com muita humildade e espírito de evolução quiseram transmitir os seus conhecimentos de equitação. Com o objetivo de promover o cavalo lusitano e a equitação portuguesa, a Escola passa a assumir grande relevância na formação de cavaleiros, uma vez que existia a necessidade de criar um espectáculo equestre, que assentava num trabalho com disciplina, método e técnica bem definida, o que fez surgir toda uma geração de cavaleiros com bases muito claras do que era a equitação. Essa equitação universal, que formou vários cavaleiros, entre os quais eu me insiro, concedeu-nos sólidos conhecimentos que nos permitiram optar pelo mundo do espectáculo ou pela competição. Contudo, a Dressage continuava a ter um espaço e significado muito reduzido em Portugal. Os seus grandes impulsionadores na altura eram os militares, que desenvolveram um grande trabalho na regulamentação da disciplina, organização de concursos, formação de juízes e apoio à Federação Equestre Portuguesa (FEP). Quanto aos civis, refira-se que eram muito poucos os que realmente se interessavam pela modalidade. No que toca aos cavalos de Dressage a percentagem de cavalos lusitanos era muito reduzida e com poucos resultados, pelo que não suscitava o suficiente interesse por parte dos criadores a ponto de apresentarem os seus produtos na competição. Isto era a realidade até surgir o primeiro cavalo lusitano montado por um cava-

leiro português civil, a participar numa etapa da Taça do Mundo, disputada na Suíça, com um resultado muito promissor para o cavalo lusitano. Julgo que essa participação abriu um novo caminho para os cavaleiros portugueses. E, refiro-me a Carlos Pinto com o Ripado, um cavalo da Coudelaria Ortigão Costa. De um acontecimento isolado surge então uma grande surpresa, quando se apresenta um cavalo lusitano nos Jogos Olímpicos (JO), montado por uma cavaleira de nacionalidade francesa, mas com uma cultura equestre muito próxima da portuguesa e que lhe foi transmitida por intermédio do seu marido Michel Henriquet, aluno do mestre Nuno de Oliveira. Orphé e Catherine Durand alcançavam o 25.º lugar nos JO de Barcelona. Os dados estavam lançados e começa uma nova era para o cavalo lusitano a nível mundial, com os juízes internacionais finalmente atentos ao cavalo lusitano, reconhecendo-lhes as capacidades necessários para a Dressage. Nessa altura, julgo que passaram a olhar de modo diferente para o cavalo ibérico. Simultaneamente, Espanha iniciava uma política de promoção do cavalo espanhol e da sua equitação. Não posso deixar de referir que se tratou de um trabalho bem feito, que atinge o seu auge em 1995, quando no Campeonato da Europa, no Luxemburgo, o estádio da competição é decorado a amarelo e vermelho. Nesse Europeu, Espanha apresenta dois cavalos, sendo um deles filho de um Lusitano. Evento obtém nessa altura a média de 70% na Kür, utilizando música espanhola e suscita grande interesse na disciplina para os espanhóis, que rapidamente investem em treinadores e operações de charme na comunidade da Dressage mundial. Nessa altura nós apenas tínhamos dois cavaleiros a competir no nível internacional, utilizando, no entanto, cavalos

Daniel Pinto/Galopin de La Font

do norte da Europa. E volto a dizer que, à excepção de alguns criadores, cavaleiros e amantes da disciplina, em Portugal ainda não se vivia a Dressage como hoje em dia. Acontece entretanto que, em Portugal se iniciava uma consciencialização de que a Dressage era uma disciplina de grande relevo a nível mundial. Alguns cavaleiros e criadores passam a investir na disciplina e, levam cavalos novos a competir, chegando a obter as necessárias qualificações para par-

ticipar no Campeonato do Mundo dos cavalos de 5 e 6 anos. Essa competição requer uma exigência de qualidade de andamentos que os nossos cavalos não tinham e onde a qualidade da boa equitação dos portugueses era pouco relevante. No entanto, parece-me que além da experiência adquirida este momento impulsionou a motivação. Ciente disso, a APSL cria iniciativas para que os cavaleiros, montando lusitanos e que obtivessem resultados, fossem REVISTA EQUITAÇÃO

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recompensados no final do ano e época com uma significativa ajuda financeira. Essa ajuda permitiu aos cavaleiros competirem mais e, por consequência, aumentar o número de cavalos lusitanos federados e correspondente melhoramento do nível de competição em geral. Em 2000, embora montando um cavalo alemão, Portugal consegue ter a participação de um cavaleiro civil nos JO de Sidney, o que contribui igualmente para uma motivação extra para os cavaleiros portugueses. Embora Portugal tivesse logrado apresentar cavalos e cavaleiros portugueses nas competições de maior relevância mundial (cavalos novos, Campeonatos da Europa e do Mundo e JO), em Portugal ainda se disputava o Campeonato de Portugal no nível St. Georges, a maioria montando cavalos do norte da Europa e que venciam o Campeonato consecutivamente. Em 2002, Espanha organiza o Campeonato do Mundo em Jerez de La Frontera, região conhecida pela sua afición e tradição equestre, que, digase, é muito semelhante à nossa e obtém uma medalha de bronze por equipas, apresentando um cavalo alemão, dois espanhóis e um cavalo lusitano de nome Guizo, que foi o grande impulsionador da nossa raça na Dressage e que reforça o estatuto do cavalo ibérico no âmbito da disciplina e, além disso, confirma no espírito de todos os portugueses que já acreditavam e trabalhavam com o lusitano, que aquele era o momento de investir em segurança na Dressage. É curioso que três dos cavaleiros espanhóis medalhados montam cavalos ibéricos e dois dos cavaleiros são andaluzes e provenientes da escola de Jerez, criada com uma relevante contribuição nossa, ou seja, muito próximos da nossa cultura equestre. 32

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Miguel Ralão Oxalis da Meia Lua

De facto, reitero que 2002 é o ano da viragem e surge a ambição de entrar como país e com o cavalo lusitano no mapa mundial da Dressage. A partir dessa altura, começam a vir do centro e norte da Europa mais treinadores a convite de vários cavaleiros e nascem projectos que iniciam um trabalho notável para a promoção do nosso cavalo e da Dressage em Portugal. Graças a um trabalho conjunto entre APSL e a FEP, o número de concorrentes que se apresentam com cavalos lusitanos aumenta consideravelmente. Um ano mais tarde com muita energia e boa concepção, a Lusitanos St. André reconhece a necessidade de criar uma competição que reforce a qualidade do cavalo lusitano e cria uma competição para cavalos ibéricos, a Taça Ibérica e em cuja primeira edição de

Gonçalo Carvalho/Rubi


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Grande Prémio é ganha por um cavaleiro português. Esse resultado faria com que alguns cavaleiros que, embora tivessem cavalos já prontos para sair naquele nível, não o faziam porque duvidarem ter qualidade suficiente, a decidirem-se de começar a competir. E, mais importante de tudo, levou a que se percebesse que não se chegava ao nível internacional sem praticar a nível nacional. Aliás, apenas dois anos depois Portugal apresenta pela primeira vez uma equipa no Campeonato da Europa de 2005, em Hagen, na Alemanha com quatro cavalos lusitanos. Julgo que contribuímos para que toda a comunidade da Dressage e, principalmente, os órgãos superiores da FEI, realizassem que efectivamente a presença de novos países e de novas raças na competição se-

riam uma mais-valia para a disciplina. Portugal aproveita o entusiasmo das referências mundiais da disciplina e convida para treinador de Portugal Kyra Kyrklund, que vem dar credibilidade ao investimento de todos os portugueses. Na realidade, passámos a um outro patamar e na parte técnica conquistámos credibilidade a nível mundial, o que trouxe novos projectos, que tiveram um papel preponderante e decisivo na promoção do nosso país e das nossas qualidades. Entretanto, a nível nacional, passa a disputar-se o Campeonato Nacional no nível de Grande Prémio consagrandose campeão nacional um cavalo lusitano da propriedade de um criador francês, o que, em meu entender, é sinónimo de que a qualidade dos nossos cavalos e cavaleiros era reconhecida a nível internacional. O trabalho desenvolvido em Portugal, com a organização de estágios frequentes com cavaleiros e juízes internacionais traz uma consolidação do conhecimento e mantém Portugal na alta roda da competição que, em 2006 consegue apresentar uma equipa com três cavalos lusitanos no Campeonato do Mundo de Aachen, na Alemanha, catedral da Dressage! Prosseguimos e graças à consistência do trabalho realizado em Portugal e ainda dos resultados alcançados a nível internacional pelos nossos atletas, conseguimos além de uma participação por equipas no Campeonato da Europa, também um Wild Card, para a participação na Taça do Mundo em las Vegas. Dois eventos, onde os cavaleiros portugueses passam de uma simples participação a resultados concretos. E, pela primeira vez, um conjunto português alcançava a meia-final de um europeu, com uma particularidade de ser uma égua lusitana. Do outro lado do oceano

Kyra Kyrklund/Rico o cavalo lusitano ganhava a final B da Taça do Mundo. Em Portugal muitas individualidades, criadores, federação, associações, estavam motivados para desenvolver a disciplina e em atingir o objectivo mais desejado que era a participação nos JO com uma equipa. Embora tivéssemos usufruído de vários acontecimentos, não foi por acaso que o nosso sonho se tornou realidade. Contribuíram para isso os investimentos no momento correcto, um projecto de dimensão ambiciosa, que mostrava uma infraestrutura com qualidade para a práctica da disciplina e, além do mais, um plano de actividades que iria servir a comunidade da Dressage nacional. Por último, e graças à visão da então responsável pela Dressage mundial, que persistia no seu objectivo de ter um maior número de nações a participar nos JO e por isso tentava reduzir as equipas de quatro cavaleiros para três, finalmente tem sucesso e a FEI aceita a redução. Mais, atendendo a que os JO foram disputados em Hong Kong muitas nações desistem da participação e, assim, Portugal, sem deixar de ter mérito, apresenta uma equipa de três conjuntos lusitanos, nas Olim-

píadas de Pequim. O efeito dos JO acelera a ambição das novas gerações e através de metas e resultados para melhorar, Portugal lançase numa estratégia bem conseguida e que catapulta o nível da Dressage nacional. Desde 1995 até 2013 aumenta o número de cavaleiros elegíveis a integrar a equipa e de seis passamos a 11. Depois dos JO de Pequim 2008 Portugal participa consecutivamente em todos os Campeonatos da Europa e do Mundo até 2013. Mas tenho que destacar um momento, que veio confirmar que é possível chegar mais longe e que atingimos em 2012, quando um finalmente um conjunto português chega à final dos JO em Londres. DA ACTUALIDADE AO FUTURO

Tratou-se de um marco histórico, pelo facto de ser um cavaleiro português, montando um cavalo da coudelaria de Alter Real e que pertencia à Escola Portuguesa de Arte Equestre. Todo o trabalho desenvolvido nos anos anteriores acabara por ser gratificado! Este trabalho agora tem que REVISTA EQUITAÇÃO

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ser aproveitado uma vez que julgo irá aumentar a pontuação de todos os cavalos nacionais que porventura tenham mais qualidade de andamentos e a mesma qualidade de ensino. Mas a ilusão de que estes resultados se irão repetir com facilidade pode-nos levar ao retrocesso porquanto o sucesso passará por políticas concertadas e trabalho colectivo e não apenas projectos individuais. Hoje em Portugal temos alguns projectos individuais de grande sucesso, cavaleiros no estrangeiro que promovem o nosso país com qualidade, uma melhoria na qualidade e quantidade de cavalos e cavaleiros significativa, mas ainda vamos a meio caminho para nos tornarmos num um país que tem ambição para lutar pelas medalhas, como a Espanha, Suécia, Dinamarca, Inglaterra ou EUA, excluindo naturalmente a Holanda e a Alemanha. Entendo que a união faz a força, embora as ideias e os projectos individuais natural-

mente acrescentem valor. E Portugal não pode perder aquilo que de bom construiu. O facto de termos mais cavaleiros internacionais, não é suficiente para mostrar que estamos envolvidos num trabalho para melhorar a qualidade e a imagem do desporto no nosso país. Na realidade, temos que mostrar ao mundo que Portugal contribui para o desenvolvimento da disciplina a nível mundial. E, para isso, mantenho a convicção de que a realização de provas internacionais em Portugal tem que forçosamente ser o ponto de partida. Ouço sempre dizer que é muito difícil trazer os cavaleiros estrangeiros aos nossos concursos, o que determina de imediato a desistência. No entanto, vejo países como os EUA, Austrália, Rússia, Canadá, Brasil, Nova Zelândia, Itália, Ucrânia, Polónia etc. a organizar concursos internacionais só para os próprios cavaleiros. Não podemos esquecer

Maria Caetano Couceiro/Xiripiti

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que ter convites para os cavaleiros de primeira linha não é muito difícil, mas temos que dar a possibilidade aos outros cavaleiros nacionais de participarem em provas internacionais, proporcionando-lhes o sentimento e as vantagens de competirem em casa. Mais, os cavaleiros que estão a fazer provas nacionais do nível internacional podem usufruir de uma opinião de um juiz internacional, assim como os juízes nacionais e internacionais portugueses podem trocar opiniões e enriquecer o seu modo de julgamento. Esses concursos também trazem vantagens e retorno aos criadores que poderão competir nas provas de cavalos novos o que permitirá assim a divulgação da qualidade dos nossos cavalos. Em Portugal temos cerca de 17 cavalos em Grande Prémio, dez em St. Georges, sete a oito Juniores e Jovens Cavaleiros e cerca de 10/15 cavalos de 5 e 6 anos. Se fizermos uma pe-

quena conta de quanto custa participar num concurso internacional no nosso país vizinho, chegamos rapidamente a um valor de 3000 euros por cavaleiro. Assim, se entre os cavaleiros houvesse vontade de nos juntarmos e cada um desse 1500 euros a uma organização, rapidamente conseguíamos ter um concurso internacional de elevada qualidade, mais barato para cada um de nós e em nossa casa, sem ter em conta a possibilidade de redução desses custos, caso com a necessária antecedência se encontrassem alguns patrocínios. O facto de organizarmos uma prova internacional seria também reforço de apoio à FEI para mostrar ao Comité Olímpico Internacional que este desporto tem que ser preservado nos JO. CONSCIENCIALIZAÇÃO Partindo do princípio que o objectivo de qualquer cavaleiro de competição, é o nível internacional e um dia poder representar Portugal nas competições europeias e mundiais, devo dizer que tem de haver uma consciencialização da parte dos atletas, que a participação nos concursos nacionais é o meio de aferir a qualidade do trabalho executado em casa. Só competindo em muitas provas é que conseguimos conhecer o comportamento do nosso cavalo em pista e por consequência, corrigir os pontos mais fracos ou atitudes menos desejadas. Acontece que, grande parte dos cavaleiros em Portugal, quer apenas sair quando os cavalos estão muito bem ensinados. O problema é que em prova os cavalos nunca andam melhor do que em casa, salvo algumas excepções. Por isso a Dressage em Portugal continua a ter poucos concorrentes e cavaleiros que queiram competir nacionalmente, beneficiando assim de um valioso meio de trabalho, complementado com a infor-


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mação prestada pelos juízes, que irá indicar os pontos a desenvolver. Para além disso permite aos cavaleiros estar em contacto com outros atletas e ter a possibilidade de evoluir com a troca de opiniões. Quando uma prova corre mal a tendência é dizer que se trabalhará mais e depois se volta. Trabalhar mais porquê? Se estava pronto?! Então há que voltar à prova o mais rapidamente possível para tentar encontrar o cavalo como tinha em casa. Para que a Dressage em Portugal cresça é necessário que os cavaleiros tenham como objectivo o Campeonato de Portugal. Por vários motivos. Primeiro porque é a prova mais importante do calendário nacional, sendo necessário obter qualificações para o Campeo-

nato de Portugal, a participação por si só já é um feito. Mas em Portugal continuamos a querer ir aos JO sem sequer ambicionar o Campeonato de Portugal. Depois quando a FEP apresenta o número de participantes do Campeonato de Portugal ao IND, que rege o apoio económico da disciplina, é consequência lógica que a verba vai ser muito reduzida atenta ao número de participantes por categoria. Estou convicto de que incumbe a nós os cavaleiros sermos os primeiros interessados em que haja concursos e para isso temos de participar. Mas, as comissões organizadoras também podem fazer algo mais, para que os atletas tenham motivação em participar. Hoje em Portugal a qualidade dos concursos é realmente muito

melhor que no passado, sendo que se impõem uma estratégia e planeamento financeiro um pouco mais ambiciosos. Sem querer melindrar ninguém, a verdade é que num concurso de Dressage, salvo algumas honrosas excepções, a comissão organizadora ganha dinheiro, os juízes também e os cavaleiros recebem apenas a roseta que, por definição, é o prémio do cavalo e apesar de serem os atletas que pagam o concurso. O problema é a crise? No entanto, continuam-se a organizar concursos!!! Tenho a certeza que poderemos encontrar um modo de inverter esta situação. A CRIAÇÃO Por fim o trabalho desenvolvido ao longo dos anos pelos criadores, mostra que tem sido

bem feito e que em pouco tempo se criaram alguns cavalos de qualidade, porém, julgo que muitos cavalos estão sub aproveitados. Percebo que o ideal seria entregar os melhores cavalos de Portugal aos melhores cavaleiros do mundo e que esses cavaleiros competissem pela Alemanha, Holanda, Inglaterra, etc., mas acontece que esses ainda não estão convencidos que o lusitano pode ser campeão do mundo. Quem melhor que os portugueses para preservar o valor daquilo que é seu? Julgo que os criadores deverão investir na qualidade dos cavaleiros portugueses, que vão poder potencializar os seus produtos. O cavalo lusitano só poderá elevar o seu valor se estiver presente ao mais alto nível e em quantidade. n


ENTREVISTA

MARCOS TENÓRIO BASTINHAS "o púBlico é queM MaNda Na Festa" CAVALEIRO DE DINASTIA, CEDO MARCOS TENÓRIO BASTINHAS SOUBE QUE QUERIA SEGUIR AS PASSADAS DO PAI, ASSIM COMO, NUNCA O IMITAR OU VIVER NA SUA SOMBRA. AMBIÇÃO E HUMILDADE SÃO DUAS PALAVRAS QUE CARACTERIZAM ESTE CAVALEIRO PARA QUEM O PÚBLICO É UM ELEMENTO CHAVE PARA O SUCESSO DE UMA LIDE. oi na Herdade da Argamassa, às portas de Elvas, que encontrámos Marcos Tenório Bastinhas, num dia normal de trabalho dos cavalos da casa. Nas vésperas de completar 28 anos, o cavaleiro mostra uma grande maturidade, dentro e fora da arena, dando um grande valor à equitação dos seus animais. Uma característica que cultivou desde cedo, quando decidiu realizar diversas formações e estágios com outros cavaleiros mais experientes. A maior parte dos seus dias é dedicada aos cavalos. No pouco tempo livre que lhe resta, gosta

F

de estar com os amigos, embora, regra geral, as conversas voltem a cair na Tauromaquia. Vibra com o futebol, mas é o público das praças e o perigo do touro que lhe dá a motivação para fazer o que mais gosta.

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De que forma o facto de pertencer a uma família com tradição na Festa, influenciou a sua decisão de ser cavaleiro tauromáquico? Não sei se influenciou mas o que é certo é que, ao nascer

neste meio, quer queiramos quer não, se gostarmos, isso vai de certa forma influenciar a nossa escolha. Nunca fui "obrigado" a nada, os meus pais sempre me deram total liberdade para escolher a profissão que eu desejasse. Aos poucos comecei a montar e a entusiasmar-me com os cavalos e touros. Quando dei por mim, já estava de tal forma envolvido que já não pensava fazer outra coisa. Nesse momento, tive o total apoio da minha família. Como foi o dia da prova de praticante? A prova de praticante foi em Loures, na altura já tinha toureado algumas corridas, mas é sempre um dia especial tal como o dia da apresentação em público, que foi na Terrugem, em 2000, juntamente com o Grupo de Forcados Amadores Académicos de Elvas, que também


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se apresentaram nessa data. Foi um dia especial. Em Loures foi um sonho. Foi mais uma etapa cumprida, para depois chegar a outra meta, que era a Alternativa. Que recebeu do seu pai, Joaquim Bastinhas, tendo como testemunha Paulo Caetano e João Moura Caetano, no Campo Pequeno... Foi um cartel de luxo, um cartel de “monstros”, como se costuma dizer! É um dia de muitos nervos, mas foi compensador. Foi com muito prazer que estive nessa praça tão importante de Portugal, num dia tão significativo para mim. Estar no Campo Pequeno e tirar a Alternativa foi dos melhores prazeres que tive na vida, juntamente com o meu pai, que desde que comecei a tourear, era seu sonho dar-me a Alternativa. Foi uma noite memorável e jamais a vou esquecer. O que significa para si ser cavaleiro tauromáquico? É uma pergunta difícil porque ser cavaleiro aporta muitas coisas. Temos de trabalhar todos os dias, ensinar os cavalos, esperar pelo touro que vai sair... Mas depois também tem outra faceta muito importante que é o público, que é quem manda na Festa. Não podemos defraudar esse grande Público, pois é quem paga o bilhete para nos ver. Ainda há poucos dias tive uma experiência engraçada com uns rapazes aqui de Elvas. Um deles, infelizmente, teve um acidente numa piscina e encontra-se numa cadeira de rodas. Deviam ser umas 11h da manhã, estava eu a montar no picadeiro, quando os três surgiram e me dizem que vieram de Elvas sozinhos. Os amigos tinham vindo a ajudá-lo porque era um gosto tremendo que ele tinha em vir ver os cavalos. Ao vermos pessoas assim, que fazem tantos sacrifícios para ver um toureiro montar e como se prepara, é nossa obrigação trabalhar cada vez mais para

que nos continuem a apoiar e a levar o nosso toureio a mais gente. Cada vez que entra em Praça, sente o peso de ser filho de uma das maiores Figuras da nossa tauromaquia? Como lida com isso? Vão existir sempre comparações mas penso que não nos

senão não era filho de quem sou! (risos) Acho que hoje em dia, todos os toureiros que têm dinastias, têm algumas parecenças mas têm também um toureio muito próprio, toureando muito bem. Se compararmos com há 20 ou 30 anos, quando os nossos pais eram da nossa idade, não sei até que ponto

podemos guiar por isso e sim entrar em Praça a fazer o nosso trabalho e o nosso toureio. Não tentar imitar nem querer parecer, porque como se costuma dizer, "as fotocópias são sempre piores que o original!" Nunca tentar copiar ou imitar, embora seja óbvio que em algumas coisas, tem de haver parecenças

não há mais técnica e evolução hoje em dia na nossa idade. Fez formação equestre e tem sempre uma preocupação com os cavalos. Como os preparara ao nível da equitação? Sempre gostei muito de equitação e de pesquisar várias formas de trabalhar os cavalos para chegar a um objectivo.

Antes de tudo, sempre foi minha preocupação aprender a montar bem. Estive durante vários meses a montar com o João Pedro Rodrigues, da Escola Portuguesa de Arte Equestre, depois em Mafra a tirar o curso de monitor e mais tarde na Ajuda a tirar o curso de instrutor. Foram fases em que aprendi bastante. Alguém que esteja de fora, que não seja do meio, diz que uma equitação de Dressage ou Obstáculos não tem nada a ver com a equitação do toureio. É errado pois vamos sempre encontrar aspectos no ensino do cavalo que nos vão facilitar o trabalho do dia-adia em casa. Em que circunstância for: seja num trabalho lateral, a duas pistas, concentração... A minha preocupação foi ganhar bases para que depois conseguisse atingir os objectivos nos meus cavalos da coudelaria, para que estes ficassem prontos mais rapidamente para eu entrar em praça com eles. Que tipo de exercícios a cavalo procura trabalhar e aprimorar mais para exibir em praça? Na minha opinião, um cavalo, independentemente de tudo, tem de estar bem ginasticado para o toureio, tem de estar elástico, com vontade de chegar ao touro. E esse trabalho, em Praça, tem de parecer fácil. Os adornos, uma passage, um piaffer, ou umas passagens de mão, são exercícios que hoje em dia têm que se mostrar porque tourear a cavalo já não é só tourear a cavalo. Engloba muitas outras coisas como a equitação, que hoje em dia está muito evoluída. Se nos limitarmos só a tourear, não vamos chegar às pessoas da mesma forma do que se explorarmos outras vertentes na equitação. Como é que define o seu estilo enquanto cavaleiro tauromáquico? É complicado responder pois nuns dias temos cavalos para interpretar um certo tipo de

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toureio e depois, infelizmente por algumas lesões ou por outro tipo de circunstâncias, já não o conseguimos. Acho que todos os toureiros respondem o mesmo a essa pergunta, que gostam de interpretar o toureio de verdade e consentimento, que chega ao público. Este ano tenho cavalos que me deixam fazer um certo tipo de toureio diferente do do ano passado, mais cambiado e com mais batidas, mas como disse, isso depende tudo da quadra. Podemos gostar muito de interpretar um certo tipo de toureio mas se não temos o cavalo apropriado para tourear dessa forma, não chegamos a lado nenhum. Qual a montada que mais o marcou até ao momento? Já tive várias mas houve um Pinto Barreiros, o Nilo, no princípio da minha carreira, que me ajudou bastante, me dava muito gozo tourear e com o qual obtive alguns triunfos. Era um cavalo que ia de frente e carregava a sorte no momento. Foi um cavalo que me ajudou e com o qual tenho boas recordações. Há pouco tempo tive o Palmela, com um toureio mais emotivo e efusivo, que chegava mais às bancadas, galopa muito pelo lado esquerdo pelos touros e transmitia muito. Era preto, uma cor que também ajudava, mas que infelizmente no ano passado se lesionou. Como dizia há instantes, isso fez com que ficasse privado desse tipo de toureio e tive de ir à procura de outro cavalo. Tinha na quadra o Bombom, que estava em segundo plano, mas que devido à lesão do Palmela subiu de forma e deu-me triunfos importantes, sem eu estar à espera ou a contar com isso. Como é constituída a sua quadra de cavalos? Felizmente tenho quantidade e qualidade. Na minha opinião, de ano para ano, a quadra tem vindo a melhorar. Por exemplo, de saída, tenho o Capa Negra, um cavalo seguríssimo com o qual comecei a tourear há dois 38

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N.º 1 eua Não deixe que moscas, mosquitos ou moscardos estraguem o melhor do seu dia perigo de que fala? Fica tranquilo, excitado...? Nesses momentos em que estamos a um, dois ou três metros do touro, não me passa pela cabeça o perigo que estou a correr porque já é habitual, é o dia-a-dia. É uma situação de nos querermos transcender e ao mesmo tempo querer agradar ao público à nossa volta. Tem uma praça favorita onde goste mais de actuar? As nossas praças favoritas são aquelas onde já triunfámos e passámos bons momentos. Não menciono nenhuma pois acho que temos de ter respeito, tanto por uma praça de primeira como por uma desmontável, estejam lá 10 pessoas, como quatro mil. Por vezes não é fácil colocar isto em prática, mas é o que temos de ter em mente. Se não for assim não vale a pena andarmos nesta vida. E no estrangeiro, tem alguma onde gostaria de actuar ou regressar? Os toureiros têm sempre o sonho de ir às praças mais importantes. Sevilha e Madrid, sem dúvida que são duas delas. Já tive o privilégio de estar na Venezuela, em Mérida, uma praça gigante, com 17 mil pessoas, que me deu dois triunfos muito grandes como Triunfador da Feira. Fiquei bastante feliz por isso. São situações que nos dão confiança para nos vermos noutros palcos importantes e chegar mais além. Qual é para si o público mais exigente? Lisboa é um público conhecedor, assim como todas as terras ditas toureiras são exigentes. Por ser de Elvas, quando toureio aqui, o público também me exige e espera muito de mim, por isso é uma corrida para a qual vou sempre com muita vontade e ganas de triunfar. As pessoas estão habituadas a ver-nos todos os dias e esperam muito de nós. O que é para si a lide per-

feita? Já alguma vez a alcançou? Não e acho que, se qualquer toureiro responder sinceramente a si próprio, nunca vai dizer a ninguém que já teve a lide perfeita. É um sonho que todos ambicionam, mas há sempre qualquer pormenor... É como num quadro de um grande pintor, se perguntar ao autor se lhe fazia um retoque, ele dirá que sim... É uma situação que se busca constantemente mas nunca se alcança? Penso que sim. Por exemplo, até se pode dizer "esta foi realmente uma lide perfeita", mas passado um ano, se formos ver essa lide em DVD ou na televisão, já temos outra percepção do toureio, e acabamos por dizer "afinal não era bem aquilo! Já penso de outra maneira e quero chegar a outra lide!" O que teria essa lide que ter para ser perfeita então? Teria que ter o público sempre entregue ao toureiro do início ao fim porque, por vezes, toureamos só para nós e podemos acabar a lide a achar que foi muito boa, mas a mensagem não chegou à maior parte dos aficionados. Tem de ser ao contrário, temos que tourear para o público pois é quem vai à praça. Essa lide seria emotiva, com garra e perigo à mistura. Que tudo isso junto desse para que o público quando fosse embora, saísse a falar nela durante meses, ou anos! Tem um cartel de sonho do qual gostaria de fazer parte? Na minha carreira tive o privilégio e a sorte de já ter alternado com quase todos os toureiros e fico muito feliz por isso. Graças a Deus o meu pai ainda está no activo e cada vez que toureio com ele é sempre um cartel de sonho. Há um com quem gostava de entrar, mas nunca o poderei concretizar, que é o meu avô Sebastião, que já faleceu. Esse seria sem dúvida o meu cartel de sonho: o meu avô, o meu pai e eu.

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anos, e que é dos melhores cavalos de saída que já toureei na minha carreira. Este ano tenho outro novo, o Sol, que também me dá uma segurança muito boa e me deixa chegar com facilidade às bancadas. Por trás desses estão outros que quando entram também mostram o seu valor e que têm lugar na quadra. Depois graças a Deus também já temos a coudelaria a dar os seus frutos. O Cartier é dos cavalos que mais toureou cá em casa no ano passado. Se não me engano, toureou 54 touros! Este ano tenho o Eneias, irmão de pai do Cartier, que irá certamente por esse caminho e já está a apontar coisas muito boas. Se Deus quiser até ao final da temporada, teremos mais uma ou outra novidade. Neste momento tem três cavalos lusitanos do vosso ferro na quadra... Sim, lusitanos puros, e em preparação mais dois que a qualquer momento podem "dar o salto". Mas também com uma quadra tão sólida, com tanta qualidade, penso que mais vale esperar e não querer adiantar de mais esse trabalho de equitação dos cavalos para que quando chegarem a uma praça, estejam confirmados e sejam do agrado do público. E quanto aos touros, quais aqueles que mais aprecia e lhe permitem desenvolver em pleno tudo o que tem para dar à afición? O touro que vem direito, que obedece ao toque do cavaleiro. Não aquele touro sem raça. Gosto de um touro que transmita emoção e algum perigo para as bancadas. Acho que também é disso que a Festa precisa. A Festa vive do perigo e as pessoas quando vêm um touro com perigo, ficam logo mais predispostas a ver o que vai acontecer a seguir na arena. Esse touro é que faz falta e é o que dá os grandes triunfos aos toureiros. Como é que lida com esse

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ENTREVISTA

Como vê o actual momento da tauromaquia em Portugal? A tauromaquia, como todos sabem, não está a viver um momento bom, como muitas outras áreas hoje em dia em Portugal ou no mundo. Ainda assim, acho que é um momento que vai colocar quem realmente gosta da profissão a andar para a frente, separando os que gostam e lutam pelo toureio, dos restantes. Sem querer desprivilegiar ninguém, acho que são estes tempos que trazem a verdade às coisas. Mas acha que se está a tourear melhor? Sem dúvida! Cada vez há melhores cavalos porque também a equitação é cada vez melhor. Os cavaleiros preocupam-se mais com a técnica e com o trabalho diário dos cavalos em casa, indo fazer cursos aos mais diversos sítios, realizando estágios com os cavaleiros que mais gostam, não só de Toureio como de Dressage, e vão buscando sempre esse conhecimento e essa base para o arranjo dos cavalos. Isso, de ano para ano, vai-se vendo nas praças. Cada vez há mais cavalos novos a tourear. Antigamente víamos o mesmo número de cavalos durante anos.

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É supersticioso? Sim, acho que todas as minhas superstições são herdadas dos meus pais, avós... Mas cada ano e cada dia tento ser menos! Quais as mais comuns? Costumo entrar sempre com o pé direito na praça e nunca deixo o tricórnio em cima da cama! A religião ocupa também um lugar importante na sua vida? Faz parte também da minha

vida e é algo pelo qual tenho muito respeito e em que me apoio. Tenho que dar Graças a Deus por todos os momentos bons que tenho vivido nesta vida. Lembro-me sempre de Deus para lhe agradecer. Como lida com a crítica taurina? Temos de agarrar nas críticas para nos dar força e vontade de trabalhar. As críticas positivas, os elogios, servem para nos dar mais ambição e vontade de chegar longe. Não nos podemos deixar "cair" por certas críticas porque todos os críticos têm os seus toureiros favoritos. É como em tudo, há uns que desejam menos bem e outros que gostam mais. É não dar valor a isso mas sim à resposta que o grande Público nos dá. No seu entendimento, porque é que a tauromaquia é uma Arte? É uma Arte porque quando se junta uma pessoa, um cavalo e um touro e as coisas saem da forma que o cavaleiro deseja, é elevado a uma expressão mais alta. Quem está de fora a assistir, vê e sente de uma forma que não o faz em mais nenhum lado. Por isso não se pode comparar a Tauromaquia a um desporto mas sim a uma Arte porque o toureiro, naquele mo-

mento, está a tentar desenhar o seu próprio quadro, fazendo-o com sentimento e gosto, para que as pessoas olhem para aquilo como um momento único e especial. Que argumentos apresentaria em defesa da Festa de Touros, face aos anti-taurinos? Os argumentos não sou eu que os posso estar aqui a dizer mas sim as pessoas que gostam dos touros irem cada vez mais e encherem as praças. Isso é o melhor argumento que existe. Ainda recentemente o meu pai foi tourear a Estarreja onde estavam 30 anti-taurinos e a praça cheia. É a melhor resposta que se pode dar. Em vez de se debater tanto, tem que se agir mais e mostrar o apoio à Festa. O que é que podemos esperar de si para esta temporada? Acho que os toureiros nunca devem prometer fazer isto ou aquilo, devem sim, de cada vez que chegam à praça, entregarse de corpo e alma como se fosse a última corrida e não fazer corridas para cumprir calendário. Isso sim podem esperar de mim: cada vez que vestir uma casaca, assumo a responsabilidade dessa mesma casaca e vou tourear para que as pessoas quando saírem das diversas praças, saiam com o pensamento que o dinheiro que gastaram no bilhete foi bem empregue e que vão querer ver esse toureio mais vezes. Quer deixar uma mensagem aos aficionados? Um obrigado aqueles que me têm apoiado nesta minha curta carreira e também uma palavra de agradecimento à minha família e aficionados, para que, nestes momentos difíceis, vão às praças, seja qual for o cartel ou os touros. Façam o sacrifício, se são realmente aficionados, encham as praças para que possamos ver de novo, de Norte a Sul do país, as praças cheias. n

Ana Filipe/Eduardo de Carvalho Reportagem em Equitação TV equitacaotv.pt - Meo Kanal 225511



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TRADIÇÃO, CONVICÇÃO E SERENIDADE, ENTREVISTA A ANDREAS HAUSBERGER, caValeiro cHeFe da escola espaNHola de VieNa QUANDO FALAMOS COM ANDREAS HAUSBERGER SOMOS IMEDIATAMENTE SURPREENDIDOS POR UMA CALMA E UMA TRANQUILIDADE (NA VERDADE, SENSAÇÕES IDÊNTICAS AQUELAS QUE HAVIA SENTIDO QUANDO CONHECI ARTHUR KOTTAS HELDENBERG), DE ALGUÉM QUE ESTÁ IMBUÍDO DE UM ESPÍRITO DE MISSÃO E QUE SABE TAMBÉM PERTENCER A UMA ELITE.

Bruno Caseirão

ilho de um criador de cavalos, Hausberger cedo se sentiu atraído por estes. Após um difícil processo de selecção, na verdade são-no sempre, foi admitido na Escola Espanhola de Viena em 1984 e, nove anos passados, em 1993, nomeado Cavaleiro. Na actualidade, é o 35.º Cavaleiro Chefe (Oberbereiter) da Escola Espanhola de Viena desde 1710; Director do seu Centro de Treino Equestre de Heldenberg, e ainda treinador internacional de Ensino, orientando conjuntos de Grande Prémio, disciplina olímpica na qual tem vindo a granjear grande sucesso e reconhecimento. Penso que não podemos contornar o facto de ser um dos poucos cavaleiros na história da Escola Espanhola de Viena (EEV) a alcançar a categoria e o estatuto de “Ca42

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Foto: Escola Espanhola de Viena/Stefan Seelig

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valeiro Chefe” pois não?! Como Cavaleiro Chefe tento – nada verdade todos nós na Escola o tentamos – manter os mais elevados padrões equestres, de equitação e passar às novas gerações a tradição da EEV, a sua equitação, forma como cuidamos do cavalo, no fundo, da nossa filosofia equestre. É também o Director do Centro de Treino Equestre de Heldenberg. Pode explicar para que foi criado este centro? O Centro foi inicialmente criado em 2005 para albergar os garanhões da EEV durante as férias de Verão. Em 2010, começámos a utilizá-lo também para treino dos cavaleiros da Escola e, somente em 2012, abrimo-lo ao público em geral. Realizamos cursos teóricos, seminários avançados de ensino para cavaleiros profissionais, seminários para juízes de ensino, seminários por especialistas internacionais e cursos para tratadores. As aulas são realizadas recorrendo a cavalos Lipizzaner pertencentes a Piber e à EEV? Não! Os participantes têm de trazer o seu próprio cavalo! A EEV existe há quase 450 anos, com altos e baixos, como aquele terrífico do final da 2.ª Guerra Mundial mas, na sua essência, a sua estrutura, o seu núcleo é quase o mesmo desde o início. Concorda? Com os Lipizzaner criados para a EEV, primeiro na Lipica


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Foto: Escola Espanhola de Viena/Stefan Seelig - Siglavy Patrizia

e mais tarde em Piber, mais recentemente surge o Centro de Treino Equestre de Heldenberg de que já falámos… De facto, há 449 anos, pois em 2015 faremos 450 anos! Exactamente como diz! 100% de tradição de equitação clássica. A EEV é o pináculo da Equitação Clássica! A propósito, o que é Equitação Clássica? A Equitação Clássica tenta manter as naturais características do cavalo através do correcto desenvolvimento ginástico dos seus músculos, não só de modo a que este consiga suportar o peso do cavaleiro sem que nada de mal lhe aconteça como consiga seguir as indicações que lhe são dadas, mesmo nos exercícios mais exigentes

de concentração como o piaffe e a passage, os ares altos, e durante o maior número de anos possível. Há na actualidade alguma controvérsia relacionada com os Lipizzaner. De certa forma uma raça encarada hoje como antiquada, mantida para a equitação académica, Haut école, atrelagem, e assim por diante… Estará a faltar ao Lipizzaner o aggiornamento que estamos a experienciar, por exemplo, nas raças ibéricas, ou será que são estas que se estão a afastar das suas raízes?! O Lipizzaner é a raça de maior sucesso em Ensino e Atrelagem. A sua montabilidade é única. Única no que concerne aos Ares Altos, mas também na sua capacidade de seguir o ca-

valeiro. Claro que na EEV estamos focados na Equitação Clássica, nos Ares Altos, e não na competição internacional de Ensino. Se o Lipizzaner competisse nessas competições, fálo-ia com sucesso devido ao treino clássico e a uma equitação correcta, mas não é esse o nosso enfoque! É sim o melhor cavalo de Equitação Clássica no Mundo, com a melhor vontade de realizar os mais complexos exercícios de concentração, com facilidade e graciosidade! A esse propósito, e já que o refere, como vê a “tempestade” entre Equitação e Clássica e o Ensino de Competição? Em teoria não há diferença! É também reconhecido como um destacado treinador de ensino. Cada vez mais frequentemente cavaleiros de

Grande Prémio procuram-no e entusiasmam-se não só com a forma como os treina como pelo seu método. Tem alguma explicação para o facto de que um dos mais “clássicos” cavaleiros da principal instituição de Equitação Clássica ser também aquele que leva os cavaleiros de ensino a subir ao pódio? Na verdade limito-me a fazer com estes cavaleiros de competição aquilo que faço em Viena. Nem mais nem menos. E é essa a chave do sucesso. Claro que os cavaleiros da EEV são especialistas no que concerne o piaffe e a passage, os exercícios de reunião, trabalho à mão e o assiette do cavaleiro. Penso que aquilo que atrai os cavaleiros internacionais de ensino, é o conhecimento, a filosofia e o REVISTA EQUITAÇÃO

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Foto: Escola Espanhola de Viena/René van Bakel - Conversano Dagmar

cuidado pelo cavalo e cavaleiro. Há sete anos que trabalho com Jessika von Bredow-Werndl e o seu irmão Benjamin Werndl. Ambos são muito talentosos e estrelas em ascensão na competição internacional. A via “clássica” funciona melhor com eles e, como pode ver, com sucesso. Voltemos um pouco atrás, como é que tudo começou? Como é que chegou à EEV? Candidatei-me! Depois de ter sido convidado para realizar um teste (montado) e uma entrevista, fui escolhido entre centenas de candidatos! Com quem é que aprendeu (mais) na EEV? Na verdade aprendi e apren44

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demos com todos os Cavaleiros e Cavaleiros Chefes na EEV e não apenas com um. Seguramente que há ou houve mestres que tiveram uma influência maior em si? Claro! O Cavaleiro Chefe Georg Wahl! Wahl era um Mestre, não só da equitação clássica, mas também, na de competição. Foi Cavaleiro Chefe na EEV, instrutor de Ensino, cavaleiro e treinador e, como tal, treinou a campeã olímpica Suíça Christine Stückelberger. Georg Wahl foi seguramente um dos grandes Mestres do século XX. Tem seis cavalos para montar na EEV, Maestoso Basowizza, Neapolitano Malina, Neapolitano Dahes, Maestoso

Stornella, Siglavy Narenta and Conversano Dagmar. Como organiza o seu dia de trabalho e o treino dos cavalos? Monta-os todos, todos os dias? Claro! De acordo com um horário, entre as 7h e as 12h30, todos são montados trinta minutos. Toma notas, apontamentos sobre a evolução e desenvolvimento dos cavalos que monta? Não. A tradição é transmitida oralmente. Como descreveria o método de ensino, de montar e de manter um cavalo saudável até uma idade avançada na EEV? O nosso método, como tenho

vindo a dizer, é “clássico”. Porquê “clássico”? Porquê alterar um método quando os cavalos são os mesmos e não mudaram nada?! Porquê mudar os métodos que ao longo de centenas de anos provaram ser os correctos?! O método de que temos vindo a falar é diferente daquele praticado nos tempos da Directivas de Weyrother ou do sumo-sacerdote da EEV, Podhajsky? Não! Como o poderíamos fazer?! O nosso conhecimento, todo o conhecimento, é-nos transmitido pelas gerações anteriores, cavaleiros e cavaleiros chefes. Como poderíamos nós mudar se – graças a Deus –


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não fomos ensinados nesses “novos” métodos? Compreendo mas, se não me engano, nos tempos de Podhajsky, não se faziam passagens de mão a galope a tempo... Piruetas a galope completas, passagens de mão a 2 tempos e alargamento do trote, galope e passo sempre fizeram parte do treino da EEV. Outra história é a das passagens de mão a tempo! Descobertas pelos mestres franceses (não consideraria Baucher como o descobridor), e que, por não serem consideradas “clássicas”, não eram aceites pelos Cavaleiros Chefes da EEV. Foi Podhajsky, quando se tornou Director, quem as introduziu na EEV e teve grandes discussões com os Cavaleiros Chefes da altura. Estes, não as consideravam clássicas por não serem naturais. Claro que hoje em

dia, sendo um dos exercícios mais difíceis e que requerem um cavaleiro muito experiente, são praticadas na EEV. Que livros de equitação recomenda? A Equitação Clássica de Alois Podhajsky, bem como Os Meus Mestres, os Cavalos também do mesmo autor; Equitação, Um livro abrangente sobre a formação de cavalo e seu cavaleiro de Waldemar Seunig e, de Gustav Steinbrecht, O Ginásio do Cavalo. Gostaria também de dar o conselho e de apelar para a importância de se dar tanta importância à prática da equitação como de ler e estudar a teoria. Sem esquecer que a prática sem a teoria é má mas a teoria sem prática é horrível! A concluir duas questões. Li algures que considera a sela de apresentação/espectá-

culo da EEV como a mais confortável de todas. É verdade? Sim! As nossas selas de Escola, aquelas usadas aquando das apresentações ou espectáculos, são há dez anos feitas por um mestre correeiro suíço especificamente para cada um dos nossos garanhões. E quando digo confortáveis, refiro-me em primeiro lugar para o cavalo, mas também, para o cavaleiro. Por último, sendo o 35.º Mestre Cavaleiro desde 1710, como sente o peso da tradição e do legado que representa ser identificado com a Escola Espanhola de Viena, principalmente quando pensamos em grandes e sonantes nomes no passado desta como Meixner, Zrust, Polak, Wahl, Podhajsky, Albrecht? Iria mesmo mais atrás até à família Weyrother e a Maximi-

lian Weyrother. Sob a sua direcção a EEV tornou-se a Meca dos cavaleiros no século XIX. Havia uma brilhante e mesmo rara tradição, como a de Pluvinel ou La Guérinière, mas que não podia publicar os seus tratados por imposição da monarquia Habsburgo. O seu absolutismo não aceitava e permitia que nada interferisse entre o imperador e o objecto do seu interesse (os cavalos). O imperador e o seu Mestre Equitador representavam – e apenas eles e mais ninguém – a Cultura Equestre. Hoje, tal como nos últimos 449 anos da EEV, voltando ao início da entrevista, estamos bem cientes da nossa tradição e filosofia, tentando não só manter os mais elevados padrões equestres, de equitação como, simultaneamente, determinados em transmiti-los às novas gerações. n


Foto: Emílio

TRIBUNA DE HONRA

ATÉ SEMPRE Vasco… DEIXOU-NOS NO PASSADO DIA 8 DE MAIO O MEU QUERIDO E GRANDE AMIGO VASCO OLIVEIRA SANTOS. TENHO POR ELE UMA GRANDE ADMIRAÇÃO, PELA SUA FRONTALIDADE, VERTICALIDADE E CAPACIDADE DE SONHAR, MAS TAMBÉM, UM ENORME CARINHO. pesar da diferença de idades e quiçá pelas mesmas, tínhamos infindáveis conversas pois as paixões eram comuns, a família, respectivas mulheres, filhas e filho, claro está, essa magnífica e única criatura de Deus que é o Cavalo e, nesse sonho tão português e intangível, esse Cavalo, sublimação e Voz de Um Povo, nas palavras de Fernando Palha, que é o Cavalo Lusitano. Coincidência, não creio, o Vasco descobriu os Cavalos em geral, e o Lusitano em particular, através do seu filho

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David, quando este começou a montar. Terá surgido deste modo, a paixão pelo Cavalo Lusitano, a mesma que o levou a adquirir em 1999 um garanhão, o Lidador, e oito éguas a Arsénio Raposo Cordeiro. Primeiro, na Companhia das Lezírias, posterior e definitivamente na Herdade das Valadas, em Safira, Montemor o Novo, pai e filho, lançaramse nessa odisseia, suportados por duas mulheres de invulgar força e tempera, mãe e filha, a Rosa e a Mafalda. Uma vez mais, não terá sido por um acaso do destino, que os Lusi-

tanos nascidos nas Valadas fossem registados em nome de sua mulher. Criador tardio e sempre fiel ao espírito do cavalo Lusitano, intemporal e milenar, para o Vasco, beleza e funcionalidade tinham de ser duas faces da mesma moeda. Assim criou e, muitas vezes, teimou. O certo é que nos deixa a nós, apaixonados pelo Lusitano, um legado de uma plêiade de cavalos não só típicos da raça como funcionais, os quais, aqui e ali, se começam a distinguir por algo que se confunde com a essência do próprio Lusitano, um ex-

traordinário carácter e capacidade de seguir o seu cavaleiro até ao fim do Mundo. Nestes últimos tempos o Vasco ansiava por ir e estar nas Valadas pois, para além da família, seu orgulho máximo e razão de ser, os seus cavalos representavam o concretizar de um sonho e, sendo religioso como era, estou certo, uma Obra de Deus, como são também, a par com os valores e princípios porque sempre se pautou e transmitiu, o seu legado! A última vez que estive com o Vasco, nas Valadas, a propósito da fé ou da falta dela, contou-me ele o Sonho de S. Agostinho, “Certo dia, Santo Agostinho, após longo período de trabalho e muito compenetrado na sua angústia, adormeceu no claustro. Teve um sonho revelador: caminhava sobre uma praia deserta, a contemplar o mar e o céu. De repente, avistou um menino que, com um balde de madeira, ia até a água do mar, enchia o balde e voltava, onde despejava a água num pequenino buraco na areia. Santo Agostinho, perplexo e curioso perguntou ao menino: - O que estás a fazer? O menino calmamente olhou para Santo Agostinho e respondeu: - Vou colocar toda água do mar nesse buraco! Santo Agostinho sorriu e retorquiu: Isso é impossível. Observa quanta água existe no oceano e tu queres colocá-la toda nesse diminuto buraco! Mais uma vez o menino olhou para Santo Agostinho e de forma ríspida e corajosa disse: - Em verdade vos digo. É mais fácil colocar toda água do oceano nesse pequeno buraco do que a inteligência humana compreender os mistérios de Deus!” Meu caro Vasco estou certo que depois de ter concretizado o sonho de montar o Xangai, já estará nas suas Valadas Celestes no dorso do Lidador. Só lhe posso dizer que para além da imensa tristeza deixa muitas saudades!!! n

Bruno Caseirão



CORRIDAS

O TROTE ATRELADO TEM VINDO A CRESCER NOS ÚLTIMOS ANOS, IMUNE À CRISE ECONÓMICA E SOCIAL QUE AFETA PORTUGAL, DEVIDO A UM FATOR ESSENCIAL, O APOIO TÉCNICO E FINANCEIRO DA “CHEVAL FRANÇAIS”, QUE CONTINUA A ACREDITAR NO TRABALHO DA LIGA E NO POTENCIAL DE PORTUGAL. EXISTEM, CLARO, OUTRAS CAUSAS, NOMEADAMENTE, O FATO DE SER MENOS ONEROSO PARA OS PROPRIETÁRIOS E BASICAMENTE QUALQUER PESSOA COM FORMAÇÃO APROPRIADA PODE SER CONDUTOR O QUE ABRE AS PORTAS DESSA MODALIDADE AQUELES QUE SÓ QUEREM PARTICIPAR, ENQUANTO QUE PARA SER JÓQUEI JÁ EXIGE UMA FORMA FÍSICA E TÉCNICA APURADA.

INÍCIO DO CAMPEONATO 2014 DE GALOPE E TROTE ATRELADO

supera as espectatiVas Victor Malheiro

á nas provas de galope, nas últimas temporadas, tinha-se vindo a registar uma quebra no número de inscritos, pelo menos no princípio da época. Também muitas quadras pura e simplesmente deixaram de participar em provas realizadas em algumas pistas, por vários motivos, levando a um desequilíbrio entre o galope e o trote atrelado. Neste começo de época a própria Liga foi apanhada de surpresa com o elevado número de quadras de galope inscritas, havendo assim um maior equilíbrio entre as duas modalidades, o que só favorece o desporto. Pela positiva, tem que se destacar a iniciativa da Ministra da Agricultura, Assunção Cristas, que reconheceu a Liga como a entidade máxima das corridas de cavalos em Portugal, fazendo com que dessa forma as corridas não fiquem ao abrigo das mudanças políticas e das mudanças de poder de outras entidades equestres, que de qualquer maneira nada fizeram pelas corridas. O vazio legal, no que às corridas diz respeito, foi assim dessa forma preenchido.

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Por coincidência, e imunes à situação portuguesa provocada pela falta de legislação sobre as apostas mútuas hípicas, as maiores autoridades hípicas internacionais já tinham reconheçido a Liga como entidade máxima, acolhendo-a no seu seio como parceiros de pleno direito. Também de destacar o fato das corridas de cavalos de galope e trote atrelado terem chegado, de forma consistente, aos dois maiores baluartes da equitação em Portugal, a Feira Nacional do Cavalo na Golegã e a Coudelaria de Alter do Chão. Corre tudo então às mil maravilhas? Obviamente não, a começar pelo maior problema de todos que é a falta de legis-

lação sobre as apostas mútuas hípicas, sejam elas online, sejam presenciais ou até sobre as corridas no estrangeiro. O Governo através de reuniões mantidas recentemente com a Liga, mostrou que quer resolver o assunto rapidamente e está a trabalhar para isso, vamos aguardar. Na realidade, como já ouvi esta conversa várias vezes e participei em inúmeras reuniões governamentais das duas principais cores políticas ao longo de mais de vinte anos, o meu cepticismo é grande, porque desde o momento que os lobies anti-apostas conseguiram bloquear o processo no Presidente da República, Jorge Sampaio, depois do Governo de Santana

Lopes ter aprovado as apostas hípicas, ficou demonstrado que tudo é possível. Ricardo Carvalho, Presidente da Liga e Manuel Armando, VicePresidente e Diretor Técnico, fazem um balanço do campeonato até ao momento, abordando também outras questões pertinentes. RICARDO CARVALHO PRESIDENTE DA LIGA Esteve recentemente no Dubai World Cup a título pessoal, aproveitou a oportunidade para manter contacto com os responsáveis das principais entidades hípicas mundiais ? RC: Sim, era uma oportunidade única e foi muito positivo, pois recebemos a oferta de apoio literalmente de todas as entidades para que as corridas se desenvolvam em Portugal, pois só é bom para todos. Quanto ao Dubai World Cup o que dizer? É um mundo à parte que me faz sonhar que um dia em Portugal se possa realizar um evento com uma grandeza e importância semelhante. VM: Houve algum resultado prático das reuniões com os representantes dos países da Intenational Horse Racing Authorities, entidade máxima que admitiu a Liga recentemente? RC: Levei documentação sobre as corridas de cavalos em Portugal e foi-nos oferecido todo o tipo de apoios. Além disso, qualquer jóquei, cavalo ou quadra que queira correr em qualquer parte do mundo


CORRIDAS

pode fazê-lo através da Liga que encaminha para as entidades competentes de cada país e ainda podem beneficiar de todo o apoio dessas entidades estrangeiras. Podem correr, fazer cursos, preparação ou estagiar. Temos que seguir os regulamentos internacionais da “IHRFA”, o que basicamente já fazíamos, mas adaptados à realidade portuguesa, por isso vamos ter que fazer uns pequenos ajustamentos ao regulamento de corridas, tendo em conta que, ao contrário de todos os outros países, nós não temos apostas hípicas. VM: E quanto ao início do campeonato nacional deste ano? RC: Para já está a decorrer dentro do previsto, com a agradável surpresa de haver um aumento de inscritos na prova inaugural no Hipódromo da Maia nas mangas de galope, invertendo uma tendência de diminuição de concorrentes que se tinha verificado em anos anteriores. VM: Mais uma vez as corridas voltaram à Coudelaria de Alter do Chão, com o apoio financeiro da Câmara Municipal de Alter do Chão e a cedência das instalações por parte da Coudelaria de Alter, este projeto é para continuar, tendo em conta o sucesso nos anos anteriores, apesar dos tempos conturbados com a extinção da Fundação Alter Real ? RC: Da parte da Liga é sempre um prazer organizar uma reunião num lugar tão importante. Queria agradecer o apoio e empenho pessoal do Presidente da Câmara de Alter do Chão, Joviano Vitorino, que apoiou este projeto desde o inícío e ao Presidente da Companhia das Lezírias, António Saraiva, pois é esta entidade que depois do vazio legal existente, passou na prática a ser a responsável pela Coudelaria de Alter. Da parte de António Saraiva, presente pela primeira vez numa corrida em Alter, também é da sua opinião que

Ricardo Carvalho com um dos Diretores do Kentucky Derby é um evento muito importante para a zona, com muitas potencialidades e da parte da Companhia das Lezírias para continuar. VM: Como Presidente da Liga está otimista que este seja finalmente o ano em que o Governo legisle sobre as apostas hípicas ? RC: Estou muito otimista, que isto vai dar a volta e vão sair as apostas hípicas. Agora que não se pense que haverá logo um desenvolvimento enorme, que não vai haver, vai levar o seu tempo. Mas primeiro tem que se fazer uma legislação adaptada à realidade portuguesa com pés e cabeça para que depois toda a máquina gigantesca das apostas hípicas funcione com sucesso.

MANUEL ARMANDO DIRECTOR TÉCNICO DA LIGA VM: Como Diretor Técnico, como está a decorrer este início de campeonato ? MA: Na prova inaugural estiveram 24 quadras presentes, tivemos menos inscritos no galope de seguida, pois havia importantes provas em Espanha, onde as quadras com bons meios técnicos e financeiros preferem correr. Nas restantes pistas o número de inscritos nas provas de galope varia muito, há pistas que têm menos inscritos e outras que têm mais inscritos. No trote atrelado é que há sempre um bom número de inscrições, independente da pista. VM: Mas em geral verificaram-se alterações no nú-

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mero de inscritos? MA: Sim, existem mais quadras de galope inscritas que nos anos anteriores, o que vem equilibrar os pratos da balança com cerca de 50% para cada modalidade, o que é bom para as corridas. Esse desequilíbrio tinha a ver principalmente com causas financeiras, correr em galope é muito mais caro e não há o apoio oficial de uma entidade oficial, como há no trotre atrelado com a “Cheval Français”. No galope apareçeram quatro quadras novas e no trote atrelado duas novas. A nível disciplinar, nas provas já realizadas, não tem havido problemas. VM: E o nível técnico e disciplinar dos concorrentes mantem-se? MA: A nível técnico, a participação nas provas de galope das quadras portuguesas é uma mais valia, pois são campeonatos muito mais competitivos que os nossos, e esses concorrentes trazem os ensinamentos obtidos, até na maneira de estar, para Portugal. No trotre atrelado, desde o início, a presença das quadras espanholas foi essencial para que as quadras portuguesas evoluíssem ao ponto de estarem ao mesmo nível. VM: Como Presidente do Centro Equestre da Maia, e como este ano a Maia é a Capital Europeia do Desporto, o que está a ser feito? MA: Estamos sempre a tentar melhorar as instalações, com mais conforto para o público, mas isto é um trabalho que tem que ser feito por fases, pois o investimento aqui feito já é considerável, mas queremos que dentro do possível as nossas instalações estejam no seu melhor para receber o Grande Prémio de Portugal. Também iremos ter provas de outras modalidades equestres, saltos, atrelagem, horseball e equitação de trabalho. n

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BreVes

leilão de alter RENDE MAIS DE 30 MIL EUROS O tradicional leilão da Coudelaria de Alter decorreu a 24 de Abril e teve a licitação 14 animais, dos quais foram vendidos 5. Favolas, filho de Viheste e Quejudia por Judio III, foi o macho que suscitou mais interesse entre a plateia, tendo sido levado por 10.500€, a

quantia mais elevada da tarde. Seguiu-se Fluhente (9.100€), Faveca (5.100€), Envolta (5.000€) e Fihenza (2.700€). Durante o dia esteve também patente na coudelaria uma exposição da fotógrafa Rita Fernandes. n

CM/Foto: Favolas por Rita Fernandes

oViBeja "TODO O ALENTEJO DESTE MUNDO" As tradições alentejanas voltaram a ser celebradas na 31.ª edição da Ovibeja, que decorreu ao longo de cinco dias, no final de Maio. A par de todas as mostras gastronómicas, pecuárias e agrícolas, exposições, concursos e espectáculos, houve também a vertente equestre. A Ovibeja recebeu a II jornada do Campeonato Nacional, que contou com 28 participantes nos diversos escalões, com a vitória de Masters a ficar para Bruno Pica da Conceição com Trinco. Houve também provas de saltos de obstáculos, gincana e a GNR apresentou a Reprise a Cavalo. CM n

aasMVaZ, lda ENVIOU TRÊS CAVALOS DO FERRO ORTIGÃO COSTA PARA O BRASIL (SÃO PAULO) Os cavalos embarcaram no passado mês de Maio de Frankfurt com a Lufthansa Cargo e são do ferro Ortigão Costa. Apesar de organizar transportes de cavalos, de e para todo o Mundo, há mais de 30 anos, este foi o primeiro envio que a AASMVAZ, Lda fez na qualidade de Agente Transitário. Recorde-se que esta empresa foi fundada em 2002, para representar o grupo Lufthansa Cargo, gmbh. Desde 1 de Janeiro do corrente ano, enveredou pela actividade de Agente Transitário. Essa alteração permite-lhe uma oferta mais abrangente de soluções logísticas. A AASMVAZ, Lda para além de Agente IATA, é também membro da WCA-World Cargo Agents e da IPATA-International Pet and Animal Transport Association. Pelo facto de ser membro da IPATA, a AASMVAZ transporta animais de estimação – principalmente cães e gatos – de e para todo o Mundo. A AASMVAZ, Lda tem a sua sede no Terminal de Carga do Aeroporto de Lisboa, estando ainda representada no Porto. n

REVISTA

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EQUITAÇÃO



COMENTÁRIO

Mariana Gomes

CNC aBraNtes NOS DIAS 09 E 10 DE MAIO REALIZOU-SE O CONCURSO NACIONAL COMBINADO ORGANIZADO PELO NPRAME – NÚCLEO PREPARATÓRIO DO REGIMENTO DE APOIO MILITAR DE EMERGÊNCIA, EM ABRANTES.

José Miguel Cabedo

om dias magníficos a prova dividiu-se em dois locais, Ensino e Obstáculos em Abrantes e o cross na EPDRA – Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Abrantes, nas Mouriscas. A sequência das provas foi a seguinte: dia 9 de manhã ensino no NPRAME e à tarde o cross nas Mouriscas. No dia 10 de manhã no NPRAME inspecção veterinária, logo seguida das provas de obstáculos. Seguiu-se a distribuição de prémios e o almoço convívio num local extraordinariamente aprazível do NPRAME. O evento decorreu da forma como estava previsto e cumprindo os horários, como tem sido

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norma nas unidades militares. Sabendo das dificuldades, em pessoal, que hoje em dia existem, sentimos que foi pedido um esforço suplementar a todos os que naquela unidade prestam serviço, para que o evento decorresse sem problemas, como veio a verificar-se. O Tenente-coronel Zagalo, sempre bem-humorado, soube rodear-se de uma equipe que levou a cabo esta prova com êxito pleno; e sabemos bem o esforço que acarreta tal empreendimento. Parabéns a todos e obrigado pelo magnífico exemplo de organização, do ritmo das provas, e da simpatia com que nos rodearam em todos os momentos que durou a nossa estadia. Das provas e dos concorrentes também há uma palavra a dizer: como já disse tudo decorreu da melhor maneira, mas tenho de referir que o local do cross era lindíssimo com os obstáculos muito bem apresenta-

Uma fase da prova de Cross

dos. O tempo ajudou e ainda bem porque, sabemos, uma prova de campo com chuva não é nada conveniente. Dos concorrentes devo dizer que é sempre agradável ver caras novas nesta modalidade. Entendo que neste tipo de provas podíamos brilhar mais, e, até, além fronteiras. Temos cavalos, temos bons percursos montados, em diversos locais do País e, se dinamizada a modalidade, podíamos ir longe. Estão a aproximar-se os campeonatos da Europa nos vários escalões etários e esperamos e desejamos bons resultados. Devo dizer que me impressionou positivamente a presença da aluna do Instituto de Odivelas, Mariana Gomes que, montando Letheen, fez um percurso de obstáculos (open 0,80m) extraordinário. Dona de um desembaraço fora de série, soube conduzir a sua montada comandando-a do princípio ao fim do percurso, chegando ao pódio (2.º lugar). Precisamos de sangue jovem na modalidade e este é um óptimo exemplo. Com este comentário não quero dizer que a presença de cavaleiros menos novos não é positiva. Nada disso, antes pelo contrário – é com a presença deles, com a experiência deles, com o exemplo deles, que os

mais novos, se souberem observá-los, seguirão em frente. Estudem os seus cavalos, e sintam que o vosso é sempre o melhor. Se hoje foi mal, amanhã pode ser o vencedor. Pratiquem e tentem limar as dificuldades que surgem ao longo dos vossos percursos. Têm a sorte de ter um cavalo. Estimem-no, estudem-no e ajudem-no nas dificuldades. Gostámos de ver um bom número de cavalos novos. Uma casa não se começa a construir pelo telhado; as bases, os alicerces é que são a força para seguir em frente e mantê-las de pé. n

RESULTADOS I Conc. Nacional Combinado Iniciação 1.º Cap. Vet. Ricardo Matos/Espartano de Mafra; 8 pts em 68,4 seg.; 2.º Al CM Vítor Gomes/Zangado; 0 pts em 70,0 seg.; 3.º Maj. Cav. Carlos Marques/Boyzone; 0 pts em 78,2 seg. Preliminar 1.º Cap GNR Bruno Pires/Zarlon; 0 pts em 41,4 seg.; 2.º Maj GNR Lauro Marinho/Artur; o pts em 41,8 seg.; 3.º 2Sarg GNR Silva Fortes/Xeique; 0 pts em 42,2 seg. Obstáculos – Open 0,80m 1.º Ten Vet David Couto/Ermida de Mafra; 0 pts em 56,60 seg.; 2.º Al IO Mariana Gomes/Letheen; 0 pts em 60,97 seg.; 3.º Alf Cav David Batista/Baco; 0 pts em 64,22 seg. Obstáculos – Open 1,00m 1.º Ten Cav Mauro Covas/Argentino de Mafra; 0 pts em 68,91 seg.; 2.º Asp Of Assunção/Bárbaro; 0 pts 69,18 seg.; 3.º Cad Al Miguel Dias/ Janota de Mafra; 0 pts em 71,75 seg. Obstáculos – Open 1,10 m 1.º Ten Cav João Laureano/Al Hazir; 0 pts em 31,81 seg.; 2.º Ten Cor Inf. Dores Moreira/Xioconda; com 0 pts em 36,47 seg.; 3.º Cap Cav. Jorge Santos/Às de Mafra; com 4 pts em 31,15 seg.


COMENTÁRIO

CNC NO REGIMENTO de caValaria 3 Cav Miguel Freire com Tágide de Mafra. Na Open de Obstáculos venceu o Cor Cav Simões de Melo com Paxá de Fôja. o dia 17 de Maio o Regimento de Cavalaria 3, Dragões de Olivença, em Estremoz, levou a cabo o 32.º CNC. É um concurso interessantíssimo cheio de ambiente, amizade, camaradagem e que tem lugar na Carreira de Tiro do Ameixial. Esta Unidade Militar tem, também para mim, um importante significado: além de ali termos formado o Batalhão de Cavalaria 1927 que seguiu para Angola, em que comandei a Companhia de Cavalaria 1773, tem também recordações equestres. Ali se organizaram provas de equipas em que participei duas vezes. A segunda eu estava colocado no Tribunal Militar e portanto sem equipa, mas fui na mesma para Estremoz na esperança de ali conseguir uma equipa. E assim foi. Conseguimos formar a equipa mais heterogénea que é possível e, para espanto de todos, e também de nós próprios, vencemos a prova. Daí resultou ter uma placa do picadeiro do RC 3. Voltando então ao CNC. Realizaram-se três provas – Iniciação, Preliminar e uma Open de Obstáculos. Esperando que os visados não se ofendam, até porque me parece um elogio, devo dizer que os vencedores das três provas foram cavaleiros da “velha guarda”. Na Iniciação saiu vencedor o Major Cav Carlos Marques que montou Boyzone. Na Preliminar venceu o TCor

O espaço onde se desenrolaram as provas é belíssimo e da Tribuna pode ver-se um bom número de obstáculos de campo, alguns deles novos, outros

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EPAMAC, a afirmação de um centro equestre a norte do Douro A Escola Profissional de Agricultura e Desenvolvimento Rural de Marco de Canaveses (EPAMAC) é a mais antiga escola profissional agrícola a ser criada, do norte do país. Tem uma área de 85 hectares, que inclui uma exploração agrícola polivalente, um centro equestre federado e várias estruturas relacionadas com o turismo rural, para além de residência escolar, de refeitório e de salas de aula equipadas com tecnologia de ponta. A EPAMAC tem uma oferta formativa variada, que inclui cursos na área da Gestão Equina, da Agricultura e do Turismo, do nível básico ao secundário. A aposta mais recente no curso profissional Técnico de Gestão Equina permitiu dotar a escola de uma série de condições para a prática equestre e para o maneio equino. Desta forma, o centro equestre tem vindo a crescer de ano para ano, quer ao nível de infraestruturas, quer de eventos lá realizados. Só este ano, para além do IV Encontro Equestre, já recebeu duas provas sob a tutela da Federação Equestre Portuguesa: a II Jornada do VI Campeonato Regional Norte de Equitação de Trabalho e a III Jornada do Campeonato Regional Norte de Ensino. O centro equestre conta com numerosas boxes, picadeiro, campo de obstáculos, pista de cross, paddock, zona de banhos, fenil, salas de arreios e de rações e um Pónei Clube, onde ocorre parte da formação prática dos cerca de 120 alunos que lá frequentam cursos relacionados com esta área. O centro equestre encontra-se aberto ao público, acolhendo crianças, jovens ou adultos que pretendam aprender equitação ou melhorar o seu desempenho equestre. Assim, a EPAMAC disponibiliza a todos os interessados vários tipos de modalidades, desde aulas de iniciação à equitação até aulas de ensino e obstáculos. Se gosta de cavalos, junte-se à família EPAMAC!...

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COMENTÁRIO

bem recuperados, tornando-se o percurso muito agradável à vista. Terminadas as provas regressámos ao Regimento e ali foi servido um almoço convívio com distribuição de prémios. Ao ver que as Unidades Militares continuam a organizar este tipo de provas, só desejamos que continuem para que estes convívios, tão agradáveis, se prolonguem ao longo dos anos. Os Comandos destas Uni-

dades têm conseguido patrocínios, o que lhes permite levar a cabo este tipo de provas, que, de outro modo, não seria possível. Não podemos deixar de agradecer mais esta organização desportiva numa modalidade que nos toca bem de perto. A simpatia com que todos fomos recebidos é também uma nota de grande importância para que este dia passado em Estremoz, fique na nossa memória.

RESULTADOS Iniciação 1.º Maj Cav Carlos Marques /Boyzone; 2.º Guarda Brito Ferro/Urtiga; 3.º Aluno Vitor Gomes/Zangado Preliminar 1.º TCor Cav Miguel Freire/Tágide de Mafra; 2.º Barbado Guarda Caço/Alentejana; 3.º Ten Vet David Couto/Terramoto HP Open de Obstáculos 1.º Cor Cav Simões de Melo/Paxá de Fôja; 2.º Asp Cav Martins/Bugalha;3.º Cad Al Miguel Dias/Janota

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COMPETIÇÕES DESPORTIVAS Militares de equitação para 2014 CONFORME O PLANEAMENTO DA ÉPOCA DESPORTIVA DE 2014, APROVADO POR DESPACHO DO EXMO. GENERAL CHEFE DO ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO, AS UNIDADES MILITARES ESTÃO A DAR CUMPRIMENTO AO CALENDÁRIO DAS PROVAS DE EQUITAÇÃO. primeira prova realizou-se em Mafra na Unidade que já foi Depósito de Remonta e Garanhões, Depósito de Garanhões, Depósito de Remonta, Escola Militar de Equitação, Centro Militar de Educação Física, Equitação e Desportos, Centro Militar de Educação Física e Desportos e pertence agora à

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Escola das Armas. A competição, que teve lugar no dia 25 de Abril, designouse Concurso Nacional Combinado mas, devido às fortes chuvadas que se fizeram sentir dias antes, que causaram sérios prejuízos em vários troços do percurso de campo, apenas se realizaram as provas de Ensino e Obstáculos.

Realizaram-se também provas Open de Obstáculos. Tudo decorreu com muito bom ambiente desportivo e com um óptimo tempo, que não é muito frequente em Mafra. A distribuição dos prémios e o almoço convívio realizaramse no interior do Palácio Nacional de Mafra, com a presença

do Exmo. Comandante da Escola das Armas Coronel Tirocinado de Infantaria, Domingos Pascoal. Dado o elevado número de provas só daremos os resultados até ao 3.º classificado. RESULTADOS I CNC Iniciação – Militares 1.º SMor Cav Armindo Caixinha/Dourada; 2.º Cap Vet Ricardo Matos/Espartano de Mafra; 3.º Al CM João Colarinha/Xadrez I CNC Iniciação – Civis 1.º Miguel Ribeiro de Faria/Crevelry da Lapa I CNC Preliminar - Militares 1.º Ten Vet David Couto/Terramoto HP; 2.º TCor Cav Miguel Freire/Tágide de Mafra; 3.º Ten Cav Fátima Costa/Arisca de Mafra I CNC 1 Estrela 1.º Cap Vet Francisco Medeiros/Zuidor 2.º Maj GNR Dias Marinho/Artur 3.º Cap Cav Ricardo Coelho/Ásdir I CNC Open Obstáculos-1,00m-Militares 1.º Cap Vet Ricardo Matos/Típico de Mafra 2.º Cor Cav Simões de Melo/Paxá de Fôja 3.º Guarda GNR Barbado Caço/Alentejana I CNC Open Obstáculos - 1,00m – Civis 1. Patricia Gonçalves/Ultra I CNC Open Obstáculos-1,10m-Militares 1.º Ten GNR R. Fernandes/Zalo; 2.º Guarda GNR Freitas Luis/Boneco; 3.º TCor Inf Dores Moreira/Xioconda I CNC Open Obstáculos-1,10m–Civis 1.º Gonçalo Pombeiro, montando Universus I Concurso Nacional Combinado Open de Obstáculos - 1,20m – Militares 1.º Cap GNR Freitas Reis/Tigre II; 2.º Cap Cav Jorge Santos/Ás de Mafra; 3.º Cap GNR Pereira Pinto/D. Rufino


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QUE lição!!! NOS IDOS DE 1925, JÁ A FIGURA INSIGNE QUE FOI MESTRE ANTÓNIO LUIZ LOPES, SINTETIZAVA O QUE ERA, E, O QUE DEVIA SER, O TOUREIRO A CAVALO.

Domingos da Costa Xavier

m verdade, em entrevista a José Luís Ribeiro (Pepe Luiz), tão extensa que o autor moitense a transformou no livro “Apuntes Taurinos”, quiçá o primeiro enumerado das sortes do toureiro a cavalo, declara – “acostumado em casa de meus pais, que tinham ganadaria brava, a lidar no campo com os toiros, e, a ver o que os cavaleiros que então existiam faziam, imitandoos pensava eu que toureava a cavalo. Pura ilusão! Fui-a conservando durante alguns anos, como digo pensando que toureava, mas quando menos o esperava (dado que havia abandonado o toureio) vi tourear o grande Joselito “El Gallo” em Badajoz e fiquei sumamente impressionado, e, a partir desse momento começou no meu espírito uma luta tremenda, que chegou quase a convencer-me de que no nosso País não se toureava a cavalo, dado ser necessário pôr em prática no toureio a cavalo as mesmas bases do toureio a pé. Como conseguir?

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Era-me bastante difícil, pois os meus conhecimentos e domínio sobre o toiro não eram nenhuns. Fazia o que via fazer aos demais, que se encontravam nas mesmas condições que eu e o que via fazer aos que considerava mestres. Enganei-me e a luta foi tremenda. Com raríssimas excepções o toureio que até ao momento se fazia a cavalo não era nada dado o desconhecimento do toiro e da sua lide. Não se toureava, cravavam-se muitos “ferros” como eu também fazia, mas tourear como deve ser muito pouco.

Visto que a finalidade do toureio antigo me não agradava, por consistir somente em cravar muitos “ferros” sem a mínima preocupação de defesa, comecei a estudar novas sortes que com mais vantagem artística nos abrigam do perigo. …… Antigamente, quando se lidava em pontas era grande o perigo natural, mas desde que começaram a embolar os toiros o risco é reduzido.” Que sábias palavras. Como soube mestre António exprimir

os seus conceitos de forma tão honesta e verdadeira, até com humildade, apesar de em toda a sua vida ter respirado e exibido grandeza. Trouxe esta longa citação (de que vos peço desculpa…) à despesa da conversa, tão só para evidenciar que desde o princípio do século passado houve quem pensasse o que se faz por cá e o que se devia fazer, tendo-o posto em prática, seguido em sua época por João Branco Núncio, depois por José Mestre Baptista e depois por João António Romão de Moura, e dispenso-me agora do porquê da eleição destes quatro nomes, dado que faz anos abordei amplamente o assunto em “Memória Alentejana” que sob a direcção de Eduardo Raposo a Casa do Alentejo edita. Tão longo prologo serve para que justifique o que vos quero com voz própria dizer. A praça de toiros do Campo Pequeno abriu a temporada corrente com uma corrida em que comemorou o 8.º aniversário da reinauguração e os trinta anos de alternativa do senhor arquitecto Rui Salvador como cavaleiro tauromáquico. No cartel Salvador, Pablo Hermoso de Mendoza e João Moura Jr., Forcados de Évora e Aposento da Moita e toiros de Santa Maria. A corrida agradou, e agradou sobretudo a lição magistral de Pablo em Lisboa. Recordo a primeira vez que vi Pablo Hermoso de Mendoza em Portugal. Um festival faz anos em Monforte a favor da “CERCI” local, em que foi metido no cartel por João Moura e pelo Luís Toucinho (ao tempo representante em Portugal, e em que se revelou um calção primoroso em fase de assimilação do toureiro que queria e veio a praticar, mas ainda incipiente que baste para necessitar nos tempos que se seguiram de bastantes vezes vir beber à fonte de Monforte, com o João Moura, dono da água a segurar o balde.


teve muito grande, quer a montar (quase se lhe não percebem as ajudas…) quer a tourear, com temple, sentido de lide e até com verdade nas reuniões, coisa que em anos passados quase lhe parecia despiciendo. Aprendeu por cá em seus inícios, é certo, mas a vergonha toureira e a arte que atesoura transformaram-no na primeiríssima figura a cavalo do momento. E, que se não tome “a nuvem por Juno”, que ninguém até hoje contestou os matadores portugueses que bebendo em Espanha se alcandoraram a figuras. É pena é serem tão poucos… Adiante; o filho do dono da fonte esteve asseado e entusiasmou, Rui assinalou o aniversário, os forcados estiveram dignos e os animais cumpriram. A noite

foi agradável, e o sabor de boca da lição de Pablo, não só vai perdurar como já consta por direito na história da praça. UMA OUTRA ESTÓRIA A Equitação TV esteve lá! A festa campeira ocorrida a 24, 25 e 26 de Abril na Quinta da Silveira, Fajarda, Coruche, para além de exaltação do amor Pátrio, o que só por si não é de somenos, teve a virtude de agradar aos miúdos. Que filharada exibiam os casais jovens, e que alegres as crianças sentindo português. Haja o que houver, este País manterá incólume a sua dignidade e tem futuro! “O TOIRO E O LÍRIO” D. Joaquim Passanha Sobral é um poeta, e sobretudo um romântico. Carrega desde o berço valores que integram a nossa verdadeira matriz, quer nos sentimentos quer na cultura. Deu agora à estampa um livro para crianças – O Toiro e o Lírio – uma jóia em que descreve o campo ganadero que tão bem conhece. As crianças, com toda a certeza se vão deleitar, os adultos queiram os deuses que o entendam. É bom que se saliente que os livros infantis do redor – “Constantino, guardador de vacas e de sonhos” e “A vida mágica da sementinha” ainda hoje se reconhecem como obras-primas do neo-realismo português, mas, em contrapartida um dos seus livros escritos para crianças, que é tão só, um dos mais lidos em todo o mundo, depois da Bíblia – “O Principizinho” de Antoine de Saint–Exupéry, ainda tem quem não entenda a filosofia que encerra, e, alguns que insistem no seu início em ver só o desenho de um chapéu, quando o menino representou uma jibóia que engoliu um elefante! Coisas… por favor leiam este livro, todo um “précis” de maneio taurino e, desfrutem... n

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Tanta aguinha bebeu, que depois de lhe tomar o gosto lhe decifrou os segredos, e, agora, para nosso gáudio é o que se vê. Em duas lides com exemplares bovinos de características bem diferentes, abriu o livro e mostrou quão grande é e porque o respeitam. Não lidou, isto é lidou toureando, de tal forma que o seu evoluir na cara do toiro com as garupas dos seus cavalos, motivou que um amigo me ligasse por essa maquineta infernal que é o telemóvel e exclamasse – “Parecem Verónicas do Morante!!” Passe o exagero, o que se passou em Lisboa, na praça de toiros do Campo Pequeno, no dia 15 de Maio, foi toureio a cavalo puro e bom, que decerto por muito tempo irei recordar. Toureio é grandeza e Pablo es-

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VETERINÁRIA

EFICIÊNCIA reprodutiVa A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA CONSISTE NA AVALIAÇÃO DA EFICÁCIA REPRODUTIVA DE UM EFECTIVO, SENDO QUE O OBJECTIVO DE UM PROGRAMA DE REPRODUÇÃO É O DE PRODUZIR O NÚMERO MÁXIMO DE POLDROS VIVOS SAUDÁVEIS E ATLÉTICOS POR ANO (FIG. 1). de extrema importância conhecer a eficiência reprodutiva de uma coudelaria pois é o modo mais objectivo de avaliar a taxa de sucesso do seu programa reprodutivo.

É

COMO SE AVALIA A EFICIÊNCIA REPRODUTIVA?

Na avaliação da eficiência reprodutiva os 2 parâmetros mais utilizados são a taxa de gestação no fim da época e a taxa de poldros vivos. A existência de registos reprodutivos adequados é a chave para a identificação e diagnóstico precoces de um problema reprodutivo pois permite registar todos os dados importantes a uma futura análise estatística. (Tabela 1). Em termos de estatística reprodutiva o melhor índice para avaliar a eficiência reprodutiva é a taxa de gestação média no primeiro ciclo (a gestação por ciclo é um bom indicador de 58

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Joana Alpoim Moreira

como um garanhão ou uma coudelaria estão a ser geridos) Gestações por ciclo éstrico = diagnósticos de gestação positivo (aos 14 dias) total de exames ecográficos (aos 14 dias) Ao utilizar-se apenas o primeiro ciclo elimina-se o factor biológico criado pelo facto de algumas éguas inférteis entrarem nos cálculos estatísticos várias vezes. Como estatística, a taxa de gestação média é muito mais fiável do que o nº total de gestações ou as taxas de gestação no fim da época, pois estas não

João Paulo Marques

tem em conta o nº de ciclos necessários para conseguir uma gestação. Contudo o mais comum é utilizar-se a taxa de gestação no fim da época e a taxa de poldros vivos (ou seja, das éguas gestantes quantas pariram um poldro vivo). (Tabela 2) COMO SE FAZ O DIAGNÓSTICO DE UM PROBLEMA DE FERTILIDADE NUMA COUDELARIA?

Antes de se avaliar um problema reprodutivo é importante perceber a motivação e as condicionantes de uma coudelaria em particular pois muitas decisões são tomadas em função da dinâmica do maneio e podem influenciar o número final

de poldros vivos nascidos. A influência destas decisões é muito importante pois as condições do maneio são mais susceptíveis de mudar do que os factores biológicos, tais como a fertilidade das éguas e dos garanhões. Por exemplo: é muito frequente as coudelarias aceitarem éguas para cobrição/inseminação já no fim da época, éguas velhas, éguas alfeiras ou com outros condicionantes por razões económicas ou outras. O que acontece é que as taxas de gestação no fim da época podem ser afectadas negativamente, pois as éguas candidatas podem não ser as melhores ou por apenas só serem cobertas/inseminadas uma vez (as que chegam tarde na época). A fertilidade resulta da interacção de 3 entidades: o garanhão, as éguas e o maneio. A interacção entre estes factores é complexa e quando surge um problema por vezes é difícil de-


VETERINÁRIA

terminar qual o factor que mais influencia as taxas de gestação no fim da época e as taxas de poldros vivos. Por esta razão a abordagem deve ser sistemática: 1. Descrever o problema 2. Recolher uma história detalhada - usar uma “check list” e ir revendo item por item (Tabela 3) 3. Rever os dados reprodutivos e calcular as estatísticas. Existem vários factores que se devem considerar, tais como: - idade da égua – fazer gráfico das idades das éguas pois facilita a visualização do problema. - estado reprodutivo – calcular as taxas de gestação e

datas da primeira cobrição e fazer gráfico semanal das éguas que foram cobertas e respectivas taxas de gestação ao longo da época reprodutiva. Estes cálculos permitem ir avaliando regularmente as taxas de gestação e detectar precocemente uma possível diminuição das mesmas. É mais fácil a percepção deste problema através de gráficos e estatísticas do que quando não existem registos nem estatísticas. - frequência de cobrição da égua – calcular as taxas de gestação para as éguas que são cobertas 1, 2 ou 3 vezes durante o estro (cio). - frequência de cobrição do

perda de gestação para os diferentes estados reprodutivos: éguas virgens, alfeiras e paridas. As éguas alfeiras são geralmente as menos férteis e as que tem taxas de perda de gestação mais elevadas. - data de cobrição/inseminação – calcular a média das

garanhão – um dos achados mais comuns em garanhões com fertilidade moderada a baixa é a existência de períodos inconsistentes de taxas de gestação aceitáveis seguidos de períodos de ausência de gestações. Por exemplo: certos garanhões têm taxas de gestação

Tabela 2 – A análise estatística permite-nos avaliar e perceber a variação nos vários parâmetros reprodutivos. Através da tabela podemos constatar que a taxa de gestação no fim da época (85%) é superior à do 1º ciclo (68%), que a taxa de poldros vivos (75%) é inferior à taxa de gestação no fim da época (existe uma perda de 10%) e que a taxa de gestação no 1º ciclo em éguas com mais de 15 anos (46%) é bastante inferior à das éguas com 6-7 anos (78%), (tornando-se bastante óbvio como o factor idade pode afectar a taxa de gestação) aceitáveis quando cobrem até 2 éguas por dia mas quando o nº aumenta para 3 ou 4 as taxas diminuem drasticamente. Nestes casos estes cálculos são muito importantes pois de outro modo seria mais difícil relacionar estas variantes. - dose inseminante – quando se utiliza a inseminação com sémen fresco, refrigerado ou congelado deve-se comparar as taxas de gestação com o nº total de espermatozóides na dose inseminante. - longevidade do sémen – a longevidade do sémen do garanhão pode ser avaliada ao examinar as taxas de gestação das éguas que ovulam no dia da inseminação e dentro de 24, 48, 72 e 96 h após a inseminação. Também pode reflectir o modo como a cobrição e a marcação da agenda do garanhão é efectuada. A ausência de dados e um número pequeno da amostra podem complicar a tentativa de provar alguma associação entre as taxas de gestação e os dados reprodutivos registados. Por vezes as coudelarias que

não alojam éguas externas (apenas enviam sémen ou aceitam as éguas somente durante a cobrição) não têm acesso aos dados dessas éguas, se ficaram gestantes ou se perderam a gestação posteriormente. Isto torna difícil o cálculo da eficiência reprodutiva da coudelaria bem como a taxa de fertilidade de um garanhão (pois é necessário saber a taxa de gestação das éguas cobertas/inseminadas). Em resumo, a análise estatística é essencial para avaliar a eficiência reprodutiva de uma coudelaria e quanto maior for o número de dados registados, mais fácil e mais fiável é esta análise. A eficiência reprodutiva é uma medida que indica a taxa de sucesso do programa reprodutivo de uma coudelaria e quando calculada regularmente (mensalmente, por ex.) permite ir avaliando e detectando precocemente eventuais problemas e o primeiro passo para corrigir um problema é conseguir detectá-lo. n

J. A. M. (joanaalpoimmoreira@hotmail.com)

REVISTA EQUITAÇÃO

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HISTÓRIA DA ATRELAGEM

J. Alexandre Matos

J.P. Magalhães Silva

GRÉCIA ANTIGA: deuses e HerÓis Na atrelageM A INFLUÊNCIA PROFUNDA DA MITOLOGIA GREGA NA CULTURA OCIDENTAL É UMA CONSTANTE AO LONGO DA SUA HISTÓRIA. esde os gregos e os romanos, com os seus filósofos, artistas, escritores e dramaturgos, passando pelo período do renascimento italiano e europeu, com a curiosidade pela antiguidade até ao presente, a herança cultural grega tem sido de um interesse constante, da qual a mitologia faz parte integrante e fundamental, tanto pela sua temática e conteúdo, como pela sua função de fonte inspiradora em todas as artes. A atrelagem tem nela um papel significativo. A palavra mito, tal como se usa hoje na nossa linguagem, tem como origem o vocábulo grego “Mythos” (que significava discurso). Este seu significado foi evoluindo com o tempo: em meados do século VIII a.c., quando dos primórdios da literatura grega, “mythos” não tinha obrigatoriamente o valor de um relato inventado. No período clássico, cerca do século V a.c., empregava-se em contraposição com o vocábulo “logos”, que também significava discurso mas mantinha, neste caso, a tónica de uma narração racional enquanto o “mythos” ganha significado de relato ficcional. Para a difusão do relato mitológico foram importantes as

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declamações e recitações poéticas feitas por profissionais conhecidos por “rapsodos” na Atenas do século V a.c.. Também as comédias de Aristófanes e as tragédias de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, versando maioritariamente mitos gregos, são outra forma de divulgação e enraizamento do conteúdo mitológico na vida espiritual e cultural dessa época, sendo o teatro um evento muito concorrido na vida coletiva da polis grega. Eram muitas vezes integradas estas peças em festivais religiosos, dedicados em honra de um e outro deus, conforme a especial devoção de cada cidade. Mas a mitologia, geralmente ligada à tradição oral e/ou escrita de cada lugar, era sujeita a diversa interpretação e tinha uma relação dinâmica com as Figura 2

Figura 1 crenças e práticas religiosas, tanto do povo, como da sua elite cultural e literária. Mas, voltando à atrelagem e às suas relações importantes com a mitologia grega, verificamos a sua presença constante e a sua relevância para a identidade e atributos de vários deuses e heróis. Mesmo antes da atrelagem, temos o cavalo como um ser admirado e amado pelos gregos, tanto pela sua função como pela sua beleza, e com protagonismo de relevo na tradição mitológica. Entre os deuses do Olimpo, é Poseidon, senhor dos mares e irmão poderoso de Zeus, que é tido como o criador do pri-

meiro cavalo. O cavalo (juntamente com o tridente e o touro) é um dos seus símbolos ou atributos. Tal como Zeus, entidade máxima do Olimpo, Poseidon reina sobre os Oceanos e é muitas vezes representado, com a sua mulher Anfitrite, guiando um carro de quatro ou mais cavalos marinhos, tal como vem representado num mosaico romano que apresentamos a acompanhar este texto (Fig. 1). Na mitologia romana, este deus é designado por Neptuno, uma vez que estes adotaram, com outros nomes, a grande parte dos deuses da mitologia grega, suas características e atributos. Poseidon é tido na Grécia antiga, não só como o criador do primeiro cavalo, mas também como seu domador e o primeiro responsável pelo seu ensino. Outro dos deuses gregos muito importante para o nosso tema é Apolo, deus da música e mentor das musas, que tinha entre os seus atributos, como Helios, ou deus do Sol, o de percorrer a abóbada celeste numa quadriga luminosa, a qual em cada 24 horas realizava a sua trajetória


HISTÓRIA DA ATRELAGEM

dispensando luz à Terra. É curioso que cada um dos cavalos desta quadriga tinha nome individual e personalidade própria. Eritreu, Acteon, Lampos e Filogeo, como eram designados cada um destes animais, representavam as diversas fases do seu périplo diário, representando desde o raiar da aurora até ao poente: Sol nascente, Sol ascendente, Sol no zénite, e Sol poente. Este conceito de designar as várias fases do Sol pelos nomes e atributos dos diferentes cavalos da quadriga parece-nos reminiscência da mitologia egípcia, em que Rá, Deus do Sol, assumia vários nomes conforme o período correspondente do seu trajeto diário, representada cada encarnação por escaravelhos de nomes diferentes. Ligado a este mito, está o de Faeton, filho de Helios, encarnação de Apolo como Deus do Sol, que, inexperiente na condução da quadriga celeste, a deixou aproximar excessivamente da terra, queimando, na sua trajetória coisas e pessoas num rasto de chamuscado desastre. Em linguagem portuguesa é por vezes designado por Faetonte e o seu nome está também ligado ao léxico da atrelagem desde os finais do século XVIII, como um veículo ligeiro, de 4 rodas, que é conduzido pelo seu proprietário. Outros deuses, semi-deuses, ou heróis, são muitas vezes representados conduzindo carros de cavalos e ainda, no artigo anterior, sobre a guerra de Tróia, demos o exemplo de Heitor e Aquiles, deslocando-se em bigas para o local dos combates como relata Homero. Também Castor e Pólux, filhos de Zeus e de Leda (um deus e uma mortal) são muitas vezes tema de representações artísticas, quer na Grécia, quer mais modernamente na pintura ocidental, em que um magnífico quadro de Rubens os representa raptando as filhas do rei Leucipo. Só que, enquanto Rubens os

na Grécia clássica, no período helenístico e tiveram natural seguimento nos diversos períodos da civilização romana. Na arte grega, helenística e romana, muitas são as notícias da existência de quadrigas esculpidas ou realizadas em bronze que se localizaram, desde a Acrópole de Atenas até ao topo do mausoléu de Halicarnasso (Fig.4), cidade situada na costa ocidental do mar Egeu vizinha do Dodecaneso, onde a influência grega e helenística predominou longamente e que é considerado desde a antiguidade como uma das sete maravilhas do Mundo. Assim, estes conjuntos (bigas, quadrigas, etc.) estão sempre associados a afirmações de prestígio, vitória e poder. n

Figura 3 representa utilizando cavalos montados para efetuar o rapto, temos este episódio magnificamente ilustrado num “Krater”, vaso de cerâmica grega pintada, pertencente ao período da Grécia clássica, mas onde Castor e Polux usam carros de cavalos para o mesmo fim (Fig. 2). Não queremos fazer uma apreciação estatística do número de vezes que cada deus é representado na arte grega, quer em escultura, pintura, baixo relevo ou cerâmica. Mas estamos em crer, que uma das mais representadas figuras mitológicas ligadas à atrelagem, é a da deusa Nike (Fig.3), deusa da Vitória, que surge associada ao triunfo, seja ele de natureza desportiva, militar ou política, a sua figura alada conduzindo uma quadriga (ou biga), individualmente ou como patrona de atletas, chefes militares vitoriosos, etc. A ela está geralmente associada também a palma e a coroa de louros atribuídos justamente aos aurigas vitoriosos em corridas de atrelagem e a chefes militares triunfantes. Estas representações, que são também frequentes na numismática antiga, são comuns

Figura 4

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DRESSAGE

MADRID lusitaNa A CAPITAL ESPANHOLA RECEBEU O VIII FESTIVAL DE DOMA CLÁSSICA E FORAM OS CAVALOS E CAVALEIROS LUSITANOS QUE ESTIVERAM EM DESTAQUE NO CDI3*.

ara este fim-de-semana de provas, partiram de Portugal doze conjuntos, que se juntaram a outros 270 para competir no concurso que teve provas nacionais, internacionais, de cavalos novos e de juventude. Maria Caetano Couceiro foi a cavaleira portuguesa que mais se evidenciou, com as duas montadas que levou até Madrid. Primeiro, ganhou a prova de St. George, na sexta-feira, com o PSL de 7 anos Coroado (69,789%), para no dia seguinte repetir a classificação e subir a média para 70%, na Intermediária I. Luís Lupi entrou tam-

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gueiras, às rédeas do espanhol José António García Mena, que venceu com 71,331%. Em 3.º lugar ficou ainda por Portugal Manuel Veiga, com BenHur da Brôa, avaliado em 67,829%. Antes disso, Batuta das Figueiras tinha já sido vencedora do Grande Prémio, com 73,171%, prova na qual Maria Caetano Couceiro teve a nota de 67,614% (6.º) e Manuel Veiga 67,043% (7.º). Por Portugal estiveram também a participar nesta prova Raquel Falcão/Real (65,386% - 13.º), Miguel Anacoreta/Vinagre (64,243% - 14.º), Filipa José António Garcia Mena com Batuta das Figueiras

Maria Caetano Couceiro/Coroado bém em ambas as provas, conseguindo com Caravaggio um 10.º e um 6.º lugar e com Zamorim o 6.º e 11.º posto, respectivamente. Já no Grande Prémio Especial, a actual Campeã Nacional de Dressage conseguiu de novo um lugar no pódio, que desta vez foi absolutamente dominado pelos Lusitanos. Com Xiripiti, a cavaleira foi 2.ª, com 69,384% de média, tendo apenas à sua frente a égua Batuta das Fi62

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Carneiro/Treinado (62,4% 18.º) e Luciana Inácio/Watami (58,343% - 23.º). Entre os portugueses apenas Miguel Anacoreta apresentou uma Kur no Grande Prémio Freestyle, onde fez 67,25%, terminando na 6.ª posição, em prova ganha pela cavaleira da casa, Carmen Naesgaard/Ricardo 76,625% Nos Juniores, esteve também a competir Rita Carneiro com Ulisses. Cátia Mogo/Fotos: Top Iberian n

Maria Caetano Couceiro/Xiripiti

Manuel Borba Veiga Ben-Hur da Broa


BREVES

LUSITANOS PARA A jordâNia NO PASSADO DIA 23 DE MAIO, A EMPRESA NIPPON PROCEDEU AO EMBARQUE E TRANSPORTE DE 58 CAVALOS PARA AMÃ, NA JORDÂNIA, A FIM DE INTEGRAREM À GENDARMERIE DO PAÍS. ratam-se de cavalos entre os 4 e os 10 anos de idade de ferro José Fontes, criador que também ofereceu um casal de poldros de pelagem isabel ao Rei da Jordânia Abdullah II bin alHussein e sua mulher.

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O criador José Fontes destaca a importância das "qualidades da raça lusitana, tais como o óptimo temperamento, facilidade de aprendizagem, beleza e conforto dos seus andamentos", factores que levaram o monarca a optar por esta raça

para a sua Gendarmerie. "O cavalo lusitano no passado era um cavalo de guerra, e embora hoje em dia a sua utilização seja mais desportiva, esta aquisição vem demonstrar que os nossos animais continuam a cumprir a sua função de há vários séculos".

As éguas e cavalos foram desbastados e montados nas instalações do criador. Do efectivo que rumou à Jordânia, encontram-se 40 éguas e dois garanhões, com vista a serem usados também para reprodução, passando assim a haver mais um país a dedicar-se à criação do cavalo lusitano. Até à partida os animais estiveram nas instalações da GNR. Desde Setembro que se têm deslocado a Portugal membros da Gendarmerie jordana para receber formação. AF n


NUTRIÇÃO

EQUINOS: a Nutrição de Mão dada coM o coMportaMeNto QUANDO PENSAMOS NUM CAVALO ATLETA DE UMA MODALIDADE COMBINADA OU NOS TENTAMOS COLOCAR NO SEU LUGAR, É DIFÍCIL IMAGINAR O QUE SENTE E O QUE PENSA QUANDO É ESCOLHIDO PARA ESTE TIPO DE EXERCÍCIOS E QUANDO ESTA ESCOLHA PASSA DE UMA AVENTURA E EXPERIÊNCIA A UMA ROTINA ATÉ AO FIM DA SUA VIDA ÚTIL.

Liliana Castelo

preciso um cavalo muito especial para se destacar em todas as 3 fases de um concurso completo - Dressage, Cross Country e Saltos de obstáculos, bem como ser capaz de enfrentar uma série de obstáculos sozinho e a sangue frio, em ritmo de corrida, durante um evento de três dias. Este cavalo necessita de grande resistência e velocidade (Rose, Pilliner, 1993). Presentemente pretende-se um cavalo “que se mexa bem”, com bons andamentos, pois tornou-se maior a relevância do Ensino e um pouco menor a da resistência, daí a preferência por cavalos do centro da Europa (PSI, Anglo-Árabe e Hanoveriano x PSI). Actualmente a modalidade desportiva Equestre de CCE (Concurso Completo de Equitação) estipula-se em 2 parâmetros: o CNC/CIC (Ensino – Obstáculos – Cross) e o CCN/CCI (Ensino – Cross – Obstáculos – este sempre durante 3 dias). Neste artigo iremos focarnos no CCE de 3 dias de even-

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Cortesia do cavaleiro Miguel Catela com Ultimato da Fiúza to, pois queremos realçar um pouco a beleza da modalidade e simultaneamente a dieta alimentar de um cavalo confirmado para provas “à séria”. Para isso não podemos esquecer o “ballet” Dressage, “a corrida dura” Cross country (Foto 1 e 2) e o “power” Salto de obstáculos. Tendo assim, neste tipo de modalidade, de nos focar em 3 pontos fundamentais de acordo com as provas requeridas: Temperamento, Resistência e Energia.

Cavalos sujeitos a trabalho intenso numa rotina diária necessitam de uma ração (forragem+concentrado/dia) com uma densidade elevada e alargada de nutrientes que possam ir ao encontro das suas elevadas necessidades consumidas relativamente ao seu apetite. Necessitam de consumir 2,53,0% do seu PV/dia (cavalos com trabalho muito intenso nunca ultrapassam os 2,5%, isto porque o apetite é um pouco afectado). Isto para um ca-

valo atleta completamente confinado 30-40% de forragem + 60-70% de concentrado. O concentrado deve ser reduzido nos dias de descanso logo após a prova. Ora, com base nas provas a serem realizadas e tendo em conta o que o nosso cavalo necessita e o que nós necessitamos que ele nos dê e para que esteja preparado, precisamos de trabalhar o seu temperamento, principalmente para a 1ª Prova – Dressage, pois queremos de


NUTRIÇÃO

um cavalo “com vontade” mas “sujeito”, energético mas “o suficiente” e resistente qb; para a 2ª Prova – Cross, precisamos dele resistente e energético a curto/médio prazo e que continue “com vontade”; para a 3ª Prova – Obstáculos, precisamos dele principalmente energético e “com vontade”. Não é por acaso que é adjectivado de “Especial”! A sua dieta não tem que ser complicada, a sua genética é que também tem que ajudar! A sua Energia será tanto E longa como E rápida, para obtenção da Resistência e da Energia de Explosão, obtidas através da Gordura, Fibra e Amidos e Açúcares respectivamente. O seu Temperamento será controlado com o equilíbrio destas duas e com a ajuda de alguns minerais que assistem o sistema nervoso, acalmando o cavalo, tornando o “sujeito” e controlado. A PB (Proteína Bruta) não deve ultrapassar os 10-12%. O excesso de P em 50% acima das necessidades do cavalo pode levar a um maior desperdício de calor através de fermentação, níveis respiratórios e batimentos cardíacos elevados e efeitos adversos na performance desportiva. A percentagem de Gordura será média/alta (a rondar os

6%) com utilização de óleos incorporados no concentrado e dados em casa, estando agora muito em voga os Ómegas (produtos específicos para obtenção de E, melhoria de metabolismo, melhoria da condição da pelagem). A percentagem de Fibra não ultrapassará a média de 7-8%, pois neste caso, o nosso cavalo tem de ter o mínimo de peso no seu IG, principalmente aquando das provas; neste caso, é a Gordura que tem o papel mais preponderante na obtenção de E longa para Resistência. Os Amidos e Açúcares, normalmente não devem exceder uma determinada percentagem num concentrado mas neste caso, esta será média/alta, pois E rápida e de explosão também é requerida nas 3 provas (perto dos 40%). A necessidade de suplementação em Macro minerais, Oligoelementos, Electrólitos e Vitaminas está relacionada com a intensidade do exercício, perdas por sudação e stress derivado da rotina diária do treino. Os Macramierais importantes são o Ca, sendo este importante no metabolismo e contracção muscular; as suas reservas nos ossos podem por vezes sofrer alterações, pede-se por isso, suplementação para resistência

Cortesia do cavaleiro Miguel Catela com Ultimato da Fiúza

dos mesmos, o P, necessário ao metabolismo e para equilíbrio ácido-base do sangue durante e após o exercício e o Mg. A perda de Fluidos e Electrólitos (Na, K, Cl) na sudação durante o exercício é relativa à velocidade e duração do trabalho, condições ambientais, status do treino e fitness do cavalo. A suplementação com pedra de sal irá repor as maiores perdas de Na e Cl e manter a ingestão de água, isto em cavalos que suem moderadamente; para cavalos que suem bastante, suplementação ainda com electrólitos comerciais, o que ajudará a manter o equilíbrio acido-base dos fluidos e electrólitos e repor as perdas de K, Cl, em adição ao Na e Cl provenientes da pedra de sal. No nosso entender, a presença da pedra de sal e a junção dos electrólitos comerciais é fundamental em ambos os casos. Supra referido, o exercício aumenta as necessidades em oligoelementos, estes envolvidos no metabolismo, Mn, Fe, Zn, Cu, Co, Io, Se. Pede-se a suplementação destes e das Vitaminas A, D e E; em especial a Vit A para resistência de tendões, Vit E e Se que em conjunto actuam como antioxidantes.

Tanto os Minerais como as Vitaminas são incorporados no concentrado; só deve ser feita uma suplementação adicional se a situação assim o exigir, pondo de parte obviamente as pedras de sal e Electrólitos. Algumas Vitaminas do Grupo-B, essenciais à acção metabólica enzimática, são necessárias para reforço do apetite e da vitalidade. Também a Vit C é vista com “bons olhos” nesta modalidade pois aumenta os níveis sanguíneos neste tipo de trabalho, não sendo contudo indispensável. A Biotina, opcional, é sempre uma boa Vitamina a usar. Há concentrados que a incorporam. É vital para a pelagem e cascos. Sendo o CCE uma modalidade combinada e assim, dura física e intelectualmente para o nosso cavalo, há que prepará-lo o melhor possível. Voltamos a afirmar que a genética tem um papel muito importante, nesta e em qualquer outra modalidade, e por isso temos que ser inteligentes ao ponto de saber escolher o tal cavalo especial. Obviamente, que sendo uma modalidade composta por 3 provas diferentes, 3 exercícios diferentes, 3 tipos de trabalho diferentes, dificulta-nos um pouco o trabalho técnico, mas ao mesmo tempo favorece-nos com uma adrenalina espectacular, para tentar oferecer a este cavalo a dieta que melhor lhe proporcione o seu bem estar e ao mesmo tempo lhe mantenha as ganas para sair vencedor todos os dias na sua rotina! Grande Abraço Equino! Queria deixar aqui um agradecimento especial ao meu querido amigo, o cavaleiro Miguel Catela. ■

Bibliografia Nelson, J. et al (1999) Feeding Horses in Australia – A Guide for Horse Owners and Managers – RIRDC, Barton REVISTA EQUITAÇÃO

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crÓNica

LIVROS VERDES E AZUIS Rita Gorjão Clara

SÃO PERTO DAS DUAS DA TARDE, DEITADA NUM BANCO DE JARDIM, COM A CABEÇA NO COLO DO EDUARDO, DE OLHOS FECHADOS DEIXO-ME EMBALAR PELO SOM DA FONTE DE ÁGUA DA ILHA MARGARIDA EM BUDAPESTE.

isturado com o som do murmurar da água, ouve-se um som leve das folhas das árvores verdes e frondosas que nos acolhem na sua sombra. Sem pressas (coisa quase rara na nossa movimentada e excitante vida) deixamo-nos levar. Os pensamentos soltos sucedem-se em catadupa, saltam de assunto para assunto sem que alguma sequência lógica tenham… consigo mesmo durante alguns segundos não pensar em nada (se é que isso é possível). De repente abro os olhos pois um raio de sol brincalhão resolve espreitar por entre os ramos que abanam suavemente pela brisa leve que se faz sentir. Por cima de mim vejo um manto de verde luxuriante sob um céu azul-turquesa. -Que verde lindo! Que pintura bonita! – Comento eu! Eduardo envolto nos seus pensamentos, ou mesmo passando pelas “brasas” não me responde. Continuo a admirar as várias tonalidades de verde e azul que se erguem na minha frente e como os pensamentos são como as cerejas, de repente e sem aviso o meu cérebro lembra-se de imediato dos Livros Verdes e dos Livros Azuis dos nossos Equídeos (extrapolação meramente “cobrida”). Tinha acabado de ter a notícia (há poucas horas) que finalmente se estavam a fazer os novos Livros Verdes e que já havia novamente impressos para os Livros Azuis! Como sabem os meus queridos leitores, sempre que sai uma nova lei, a sua implementação nem sempre é fácil e rápida. Neste caso, dos famigerados Livros Verdes/Livros Azuis, o processo foi um pouco, para não dizer muito atribulado, mas finalmente começou por se ver uma pequena luz ao fundo do túnel e agora sim estamos a chegar ao nosso destino, os Livros já são uma realidade! Os problemas foram bastantes (e como sempre ou quase sempre por falta de verbas), mas conseguiram-se resolver com boa vontade de todos! Deixo-vos com esta notícia e com o desdobrável que a DGAV publicou para informar todos os detentores de Equídeos de como proceder para a identificação dos seus animais. Talvez para alguns (sobretudo para aqueles que têm animais inscritos em Livros Genealógicos) não seja uma novidade, mas para outros acredito que seja algo completamente novo! Falem com os vossos veterinários!

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EQUITAÇÃO



EQUITAÇÃO NATURAL

COMPREI UM POLDRO... e agora??? DESDE QUE ME LEMBRO DE SER GENTE, QUE SOU, COMO DIZIAM OS MEUS PAIS, "DOENTE POR CAVALOS", DAÍ QUE ELES NÃO TIVERAM OUTRO "REMÉDIO" SE NÃO INSCREVEREMME NUMA ESCOLA DE EQUITAÇÃO. omecei pela GNR, onde fiz um ano de volteio e depois passei para a Sociedade Hípica Portuguesa, onde montei vários anos e passava religiosamente a maioria das tardes livres e as férias escolares. Tudo servia desde que, é claro, estivesse ligado aos cavalos. Para além de montar, encarava com igual agrado a limpeza de arreios e cabeçadas, fazer as boxes, alimentar e mesmo ajudar alunos mais novos a aparelhar. Entretanto, e como acontece a muito boa gente, a Faculdade obrigou-me a interromper as minhas actividades equestres. Terminado o curso decidi mudar-me para uma cidade mais pequena onde comecei a trabalhar por conta própria. Tudo corria bem e, apesar de ter uma profissão que adorava, e continuo a adorar, faltava qualquer coisa... Em 2009 tomei uma decisão: tenho de realizar o meu sonho de miúda, tenho de ter o meu próprio cavalo! Comecei a organizar as infra-estruturas necessárias e recomecei a montar num centro hípico. Entretanto, comprei uma égua montada para, pouco tempo depois, chegar à conclusão de que ela precisava de companhia. E foi aí que me meti em sarilhos! Um amigo, que sabia que eu tinha um fraquinho por cavalos pretos, ligou-me: "Marta, descobri uma poldra preta perfeita para ti!". Pensei que fosse uma poldra já montada e fui vê-la...

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Esta foto pretende ilustrar a cumplicidade que se consegue obter com os animais que treinamos tinha dois anos e meio e "soprava" por todo o lado, parecia uma locomotiva a vapor. Obviamente não estava muito habituada a pessoas! Como disse fui vê-la e, pelo título do texto, já devem ter adivinhado o resultado da visita. Passados alguns dias a Distinta estava na sua nova casa! Após alguma reflexão e, para poder acompanhar o seu desenvolvimento em pleno, resolvi ser eu a desbastá-la. Mas, afinal o que tem tudo isto a ver com a equitação natural? Passo a explicar: durante to-

das as minhas anteriores experiências equestres deparei-me sempre com uma situação que me deixava algo apreensiva, mas com a qual tive de aprender a lidar. Os cavalos só saíam das boxes para trabalhar e a única interacção com os cavaleiros era serem aparelhados e montados, o que sempre me pareceu pouco. Decidi que queria mais para os meus cavalos. Comecei nessa altura a minha investigação: como conseguir criar um relacionamento mais completo? Queria que as minhas éguas não só me obedecessem, mas

que apreciassem a minha companhia, tanto quanto aprecio a delas! Claro que comecei pela internet e, numa das minhas "jornadas de navegação", depareime com a existência de um curso do método Parelli. Como já tinha visto algumas coisas sobre este treinador e era a primeira iniciativa deste género com que me deparava em Portugal, lá fui eu para Santo Estevão! Voltei com alguns conhecimentos novos mas, acima de tudo, voltei FELIZ! Existiam mais pessoas que


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também se preocupavam com o relacionamento com os seus cavalos e com o seu bem-estar, não só físico mas também psicológico. Foi nesse curso que conheci a Janet Hakeney, presidente da APEN, a quem aproveito a oportunidade para agradecer o convite para escrever este artigo mas, acima de tudo, por estar sempre disponível para me ajudar nesta minha aventura da equitação (mais) natural !! Por sorte, logo de seguida a APEN organizou um curso de nível I, que me permitiu adquirir mais alguns conhecimentos e iniciar o treino da minha poldra. Comecei os treinos básicos e, em simultâneo, "devorava" toda a informação disponível, livros, DVDs e internet. Na equitação natural dá-se muito ênfase ao trabalho de base, faz-se muito trabalho do chão antes de montar, o que permite começar a treinar os poldros muito jovens, sem pressas, e ganhando a confiança dos mesmos. Quando chega a altura de montar, todo o processo está facilitado e muito mais descontraído. Mas vamos então à história da Distinta: Comecei por habituá-la a ser tocada e acariciada em todo o corpo, a dar as mãos e os pés. Ensinei-a a aceitar o equipamento: o cabeção, as cordas, o chicote, os cobrejões e as caneleiras. Sempre com muita calma, até tudo ser aceite com naturalidade, sem tensões e medos. No picadeiro a Distinta aprendeu a ser conduzida, contactou com vários objectos diferentes (bolas, plásticos, bidons coloridos, cadeiras, guarda-chuvas, etc.) até perder o medo deles. Aprendeu as transições entre andamentos, mudanças de direcção, movimentos laterais e transposição de vários obstáculos. Tudo isto com exercícios específicos de equitação natural e sempre estimulando

Poldra jovem (com 3 anos acabados de fazer) no início do desbaste - habituação ao material a curiosidade da poldra de forma a desenvolver a capacidade e o interesse pela aprendizagem. Este trabalho de picadeiro foi sempre acompanhado de grandes passeios à guia pelas redondezas para que a Distinta

conhecesse o mundo exterior e contactasse com tudo aquilo que veria novamente mais tarde, mas aí montada. Estes passeios, além de muito divertidos, revelaram-se extremamente úteis para tornar a poldra mais

confiante e segura nas saídas à rua. Quando a Distinta fez três anos, já era grande a cumplicidade e confiança comigo. Chegara a altura de começar com o selim e consequentemente, o cavaleiro. A habituação ao selim foi muito rápida. Uma vez que nos treinos anteriores tinha sido confrontada com tantos objectos e equipamentos diferentes, o selim foi apenas mais um. Rapidamente estava a repetir todos os exercícios de picadeiro com o selim e os estribos a "baterem-lhe na barriga", descontraída e como se o tivesse feito desde sempre! Entretanto surgiu o primeiro grande problema: "ir lá para cima"... Estávamos sozinhas, eu e a Distinta! Já tinha ajudado no desbaste clássico de outros poldros e, nesta fase, havia sempre outra pessoa a ajudar,

Foi a primeira vez que "passei a perna", mostra a descontracção da poldra na primeira vez que carrega um cavaleiro

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EQUITAÇÃO NATURAL

no entanto, as primeiras vezes nem sempre eram muito pacíficas. Por outro lado, este desbaste estava a ser muito diferente... E agora? Após outro breve período de reflexão, decidi "meter mãos à obra". Se todo o treino tinha como base a confiança que a Distinta tinha em mim, esta fase não iria ser diferente. Comecei então os procedimentos habituais. Peso nos estribos e subir e descer dos dois lados. Não vou dizer que foi fácil, levou algum tempo a aceitar com descontracção ter-me em pé nos estribos. Seria mais fácil se alguém a segurasse, mas nesse caso perderia a confiança da Distinta. Preferi "perder" mais tempo, e foi a melhor opção. Durante um dos cursos da

Esta foto ilustra o (muito) trabalho que se realiza do chão quando se usam técnicas de equitação natural

Espádua-a-dentro, exercício clássico, para mostrar que a equitação natural pode ser incorporada em todas as disciplinas equestres (neste caso na Dressage) 70

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APEN tinha perguntado à Janet Hakeney quando é que ela achava que um poldro estava pronto para ser montado e nunca me vou esquecer da resposta: "Vai ser o poldro a dizer-te!" O dia em que montei a Distinta pela primeira vez não foi planeado. Simplesmente executámos todos os exercícios do costume e no fim a poldra olhou para mim, tão calma, parecia querer dizer-me: "é só isto ou vamos fazer mais alguma coisa?" De seguida coloquei o pé ao estribo e "passei a perna". A Janet tinha razão: a Distinta é que me informou que estava pronta! Confesso que estava à espera de tudo menos do que aconteceu de seguida ... NADA!! A Distinta permaneceu impávida e serena enquanto eu, sentada no selim, apreciava o momento. Não houve pulos, cangochas, ou cavalos a fugir... Só tranquilidade e descontracção. Desmontei, voltei a montar, desta vez pelo lado direito. O resultado foi o mesmo. Terminei o treino e a Distinta recebeu uma dose extra de cenouras. O treino montado foi também relativamente fácil. Com

os treinos do chão com guia, as ajudas corporais e de voz anteriores, foi fácil explicar à Distinta o que se esperava dela montada: as transições, círculos, mudanças de direcção, parar e recuar. Nesta primeira fase montada nunca usei cabeçadas com embocadura, apenas um Hackamore de corda. Antes de introduzir uma embocadura preferi ter a poldra a trabalhar descontraída e cooperante comigo e também dar-lhe tempo para encontrar o equilíbrio dela, agora com o peso extra do cavaleiro. Só mais tarde introduzi no treino uma cabeçada com um bridão tripartido, a mesma que usa até aos dias de hoje. Durante todo este processo de desbaste da Distinta, acompanhava em simultâneo o desbaste (clássico, se assim o podemos chamar...) de uma outra poldra, da mesma idade, no centro hípico que frequentava na altura. Foi por isso muito interessante poder observar e analisar as diferenças existentes entre as duas abordagens ao processo de desbaste. Para mim, a mais marcante foi a calma mantida logo ao "passar a perna" e ao "andar para diante": a Distinta esteve sempre descontraída, o que me permitiu fazer todo o desbaste sem necessitar de um ajudante a controlá-la através de uma guia. No caso da outra poldra, a ansiedade inicial era evidente, e nos primeiros treinos montada à guia, encontrei um animal tenso e nervoso (obviamente que com a continuação dos treinos foi relaxando). Cheguei também à conclusão que tinha demorado muito mais tempo até montar a minha poldra do que a do centro hípico, mas que a espera tinha compensado... Foi tão mais fácil ensinar um animal descontraído, que confia totalmente em nós e claramente aprecia a nossa companhia!!! Ah! E só como curiosidade, para os leitores que estão a pensar: "foi sorte, ➧➧➧➧➧➧➧➧➧➧➧➧


CRÓNICA

O CAVALO reactiVo TODOS DIZEMOS «RECTIVO» MAS A EXPRESSÃO CORRECTA É «REACTIVO», NO SENTIDO ETIMOLÓGICO DE QUE REAGE. E REAGE A QUÊ QUE OS NÃO «RECTIVOS» NÃO REAGEM? ÀS PERNAS DO CAVALEIRO QUANDO EMPURRA PARA A FRENTE SENDO QUE O REACTIVO REAGE ENCOLHENDO-SE À ORDEM EM VEZ DE AVANÇAR COMO SERIA SUPOSTO. reactivo todo encolhido, talvez mesmo «pegado». qual a razão para que certos cavalos reajam Depois de atirado para a frente por acção simultânea desse modo? Não sei. Apenas admito que da voz e do assiette, regressar ao silêncio (o que os tenham sido desbastados de modo companheiros de lides equestres no mesmo picadeiro incompatível com a sua grande sensibilidade. Será? muito agradecem), esquecer a perna de impulsão, usar Eu nunca tinha montado um cavalo reactivo e foi apenas a de posição com o máximo de subtileza e preciso chegar a velho para ter essa experiência. E Henrique estou encantado. Porquê? Porque encontrei um Salles da Fonseca recorrer tanto quanto possível à gestão do processo por recurso ao centro de gravidade. Procurar a maior pretexto para puxar pela cabeça. profundidade do selim com a coxa completamente Então, confrontado com a realidade e no completo descida e descontraída. desconhecimento da solução, fui aos livros... Traduzindo a Sim, o cavalo «rectivo» ainda é mais fino que os outros. erudição lida para a gíria equestre, o único livro que encontrei Tratemo-lo com tanta finura quanta nós próprios consigamos referindo o tema mandava «soltar a mão e dar um par de encontrar dentro de nós. gaitadas até o cavalo esguichar para a frente». Experimentei e... consegui ficar lá em cima com o cavalo ainda mais contraído do que antes do par de gaitadas. Claramente, essa NÃO era a solução! Pedidas as necessárias desculpas, procurei retomar a calma – minha e do cavalo – e foi com as rédeas no pescoço que comecei a pensar pela minha própria cabeça em vez de pela de outros... Portanto, se o cavalo reage mal às pernas que o mandam ir para diante, a solução não passa obviamente pelo uso das nossas pernas para o fazer avançar. O quê, então? A voz e o assiette! A voz incentivadora em simultâneo com o assiette foi a solução e no final da primeira aula específica já o cavalo reagia para diante por acção conjugada das duas ajudas. Hoje, só muito raramente recorro à voz e, mesmo assim, só no início, na fase do desenrolar. Pernas do cavaleiro minimamente contraídas e eis um cavalo

E

➧➧➧➧➧➧➧➧➧➧➧➧ apanhou uma pol-

dra mansinha!", a Distinta era uma poldra bastante "quente", muito reparadora e dada a "explosões" repentinas. Hoje está uma égua mais tranquila mas que continua reparadora e, por vezes, ainda "aquece" um pouco. Felizmente, e porque confia em mim, nessas alturas se eu me sentir e mostrar descontraída, rapidamente volta a acalmar. Entretanto desbastei uma outra égua, utilizando o mesmo método, e até foi bastante mais fácil e rápido do

que o treino da Distinta… Actualmente e, dado que a disciplina equestre com que mais me identifico é a Dressage, pois sempre fui uma admiradora da equitação clássica, tento transportar para os meus treinos os valiosos ensinamentos da equitação natural. Pareceme lógico que todo e qualquer cavalo que trabalhe descontraído e em total sintonia com o seu cavaleiro tem de apresentar um melhor desempenho! Mas, para mim, mais impor-

tante que o desempenho desportivo, uma vez que não sou cavaleira profissional, é promover o bem-estar da minha égua. A equitação natural permitiu-me transformar a Distinta numa égua mais feliz, que aprecia a minha companhia e que tem vontade de aprender coisas novas... Temos uma grande cumplicidade!! A Distinta é a minha companheira de aventuras!! n

Marta Reis Gonçalves Associação Portuguesa de Equitação Natural

Email: equitacaonatural@gmail.com Website: www.enportugal.org/ Facebook: www.facebook.com/ENPortugal

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EQUITAÇÃO NATURAL

FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS

procediMeNto e Vida social NO ARTIGO ANTERIOR, VIMOS O QUE ACONTECE QUANDO JUNTAMOS CAVALOS INTEIROS, E PORQUE OPTEI POR PERMITIR VIVEREM JUNTOS. este artigo vamos explicar quais são as condições que garantem uma segurança máxima quando os apresentamos pela primeira vez e o processo para introduzir um cavalo novo num grupo. Também descreveremos as relações amigáveis que estabelecem no dia-a-dia e como se podem alterar segundo as circunstâncias.

N

COMO

JUNTAR DOIS CAVA-

LOS INTEIROS: PROCEDIMENTO E PRECAUÇÕES

Características do lugar de encontro: u Espaço o maior possível, para que possam correr; assim como o mais limpo e plano, para não arriscar uma queda e/ou uma ferida quando um foge do outro ou quando se empurram. u Limites sem ângulos fechados (mais de 120º), onde um possa encurralar o outro e bater nele sem que haja escapatória possível, excepto partindo a vedação. 72

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u Terreno sem inclinações acentuadas (só pendentes suaves), sem obstáculos nem buracos, e sem zonas onde possam escorregar (barro, betão,…) porque vão fazer acrobacias sem olhar por onde pisam. METEOROLOGIA: u As condições meteorológicas influenciam muito o estado emocional dos cavalos. Por isso, esperaremos um dia sem muito vento ou chuva, que os torna mais inquietos e nervosos. Também não convém um dia de muito calor porque vão correr e suar. u Se forem dias com noites frias, ter o cuidado de juntá-los cedo durante o dia para poderem secar antes de anoitecer. OUTRAS

RECOMENDAÇÕES:

u Juntar independentemente os cavalos 2 a 2 numa primeira fase. u Eliminar os factores de agressividade à volta: presença de éguas, castrados ou poldros.

u Deixar uma cabeçada posta e apertada o mais baixo possível para limitar a abertura da boca e então a capacidade de fazer feridas fundas, mordendo-se. u Ficar perto com um chicote para poder afastá-los se for preciso (especialmente no caso de um dos cavalos se encontrar no chão e o outro ir por acima dele). u Os cavalos devem estar desferrados para limitar o impacto dos coices e manotaços. u Escolher o início do dia para ter mais horas de luz para os observar. PREVIAMENTE AO ENCONTRO: u Dar a oportunidade a cada cavalo individualmente de explorar o lugar do encontro, antes de os juntar. u Deixá-los em espaços vizinhos e separados pelo menos por 3 metros para que possam ver-se, cheirar-se, avaliar-se à distância e habituar-se à proximidade do outro. Não recomendo pô-los em espaços dis-

tintos que estejam separados só por uma vedação única, porque se chegam a tocar-se com a cabeça, vão começar a brincar e podem partir a vedação ou magoarem-se com ela. Também se pode habituá-los a trabalhar juntos ou a ficar em boxes vizinhas. COMO

FORMAR GRUPOS DE

CAVALOS INTEIROS:

u Os rituais seguem durante poucos dias, decrescendo em frequência e intensidade, até os dois cavalos voltarem a sua rotina: pastar e descansar. As brigas fortes demoram pouco, e é melhor deixá-los juntos depois do primeiro encontro, porque se os separamos antes que a relação esteja estável, voltarão a avaliar-se com a mesma intensidade ao próximo encontro. u Quando observarem que a relação se tornou pacífica, podem introduzir outro cavalo no grupo. Quando se juntam mais de dois cavalos, vão avaliar-se mutuamente e estabelecer a hierarquia entre eles,


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independentemente dos outros. Por isso, e também para poder intervir mais rápido se fosse preciso, é preferível apresentá-los 2 a 2 antes de juntar mais algum cavalo. Um equino novo num grupo já formado será rapidamente integrado.

u Dentro de um grupo de cavalos inteiros, formam-se “casais” de amigos. Por isso, é melhor formar grupos de números pares de cavalos. Mesmo podendo formar-se um grupinho de três, um deles vai ficar menos ligado aos outros dois. Em geral,

os cavalos que vivem juntos desde há muito tempo e já tem um amigo, não vão mudar quando se introduzir mais um cavalo. u Se escolherem formar vários grupos, é preferível juntar cavalos da mesma “fase de vida”.

Quero dizer: um grupo de poldros até aos 3 anos, um grupo de adolescentes dos 4 até aos 8, um grupo de cavalos adultos, e outro de cavalos mais velhos. Assim serão mais equilibrados porque terão as mesmas necessidades de brincar ou de correr.


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DEPOIS

DO PRIMEIRO EN-

CONTRO: VIDA SOCIAL

O dia de um cavalo inteiro no campo, decorre de maneira muito parecida ao de qualquer cavalo que vive em grupo e em liberdade: principalmente pastar e caminhar, e também descansar umas horas em vários períodos, ficar à sombra das árvores, banhar-se na barragem… É igual a qualquer cavalo, vão estabelecer amizades. Cada cavalo associa-se com um outro para formar um “casal” de amigos e ficarão sempre juntos ao longo do dia, quase até a comer a mesma erva quando tem vários hectares disponíveis. Também vão descansar juntos em posição de interajuda (paralelos com a cabeça no rabo do outro) para afastar mutualmente as moscas no verão. Por causa da sua necessidade de testar e reafirmar sempre a sua posição hierárquica, os cavalos inteiros são mais brinca74

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lhões. Vão dedicar mais tempo cada dia a brincar com os seus companheiros, repetindo os jogos de hierarquia sem agressividade e fazendo corridas. Cada vez que se encontram depois de estar longe um do outro, mesmo pouco tempo, eles vão repetir os seus rituais de saudação teatrais (barulhentos). FACTORES DESTABILIZADORES: A hierarquia estabelecida nunca é definitiva. Evolui em função de muitos factores: as circunstâncias, as amizades, a idade, etc... Mas em geral, um grupo de cavalos inteiros estará muito estável e tranquilo. Os factores principais de destabilização são a chegada de um cavalo inteiro novo num espaço vizinho e a proximidade de éguas, castrados ou poldros. Nestes casos, observei muito mais agitação dentro do grupo, com tentativas repetidas de fugirem do seu espaço para se

juntarem com os outros, partindo vedações ou cruzando a nadar a barragem. Alguns cavalos chegam a esquecer-se de comer, porque correm o dia todo ao longo da vedação. Os comportamentos serão mais agressivos se éguas, poldros ou castrados que se encontram dentro do mesmo espaço, porque vai haver competição entre os inteiros. Normalmente, como estes já se conhecem e tem estabelecido a sua hierarquia fora deste contexto, as brigas serão limitadas. Mas podem ser perigosas, e a situação demora várias horas até acalmar, durante as quais os cavalos brigam e correm muito. Também nunca chegam a voltar à estabilidade e à tranquilidade que existe dentro do grupo, antes de haver estes estímulos. Porque mesmo que um dos cavalos inteiros consiga afastar os outros e conquistar o elemento perturbador, os outros vão tentar roubá-lo com frequência.

Por isso recomendo não pôr à vista de um grupo de cavalos inteiros: éguas, poldros e castrados. É possível juntar um só cavalo inteiro com éguas ou poldros, e na maioria dos casos também com castrados. Mas alguns cavalos castrados podem ter comportamentos de inteiros em relação a “possessividade” de poldros ou éguas, e vão também enfrentar-se ao cavalo inteiro. EM CONCLUSÃO: É possível e saudável ter cavalos inteiros juntos se conseguirmos oferecer-lhes espaços respeitando as regras descritas neste artigo. Assim poderão desfrutar de uma vida normal, cumprindo as suas necessidades básicas: espaço, alimentação, vida social e afectiva. E tornaram-se cavalos felizes e equilibrados, também mais fáceis de manejar na hora de trabalhar com eles. Epona n



CRÓNICA

AS ASSOCIAÇÕES DE IDEIAS NuMa tarde de expoégua Na golegã NA ÚLTIMA ROMARIA E PELA TERCEIRA VEZ NÃO MONTEI. ENQUANTO O CORTEJO DOS ROMEIROS SE PERDIA DE VISTA A CAMINHO DO PAÚL DE BOQUILOBO, EU PASSEAVA NAS RUAS DA GOLEGÃ FAZENDO TEMPO PARA ME DIRIGIR COM O CESTO DO ALMOÇO PARA A QUINTA DO SALVADOR, ONDE IRIA PARTILHAR O FARNEL E CONVIVER COM OS NOSSOS CONFRADES E AMIGOS QUE SEMPRE VÊM, (ALGUNS DE MUITO LONGE) PARA A ALEGRIA DAQUELA TARDE DE CONVÍVIO

João Pedro Gorjão Clara

embrei-me que tinha tempo para procurar a Correaria Dantas onde deixara uma encomenda. Em Abril as minhas esporas tinham as rosetas já gastas (já não tinham bicos) eram esporas que lembravam as que alguns de nós fazíamos substituindo a roseta por moedas de 25 tostões. Será que algum dos meus leitores se lembrará desses tempos? Durante a Ovibeja entreguei-as na Correaria Dantas e combinei que mas entregariam na Golegã, naquela manhã da Romaria de São Martinho. Nessa altura os meus esporins, porque de facto são esporins e não esporas, já teriam as novas rosetas. Deixem-me dizer-vos que uso estes esporins há muito tempo, por isso já tinham as rosetas gastas, porque gosto muito deles. São de modelo invulgar. Os braços têm secção quadrangular e a pua tem 4cm de comprimento. Comprei-os há não sei quantos anos na Casa Farto, durante a Feira de São Martinho e não voltei a usar outros. Nunca mais os encontrei à venda.

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Mas porque vos estou a escrever sobre isto? Sempre me interroguei porque se chamaria Roseta a uma peça com um desenho sem qualquer relação com a forma de uma flor. De facto embora de diferentes modelos é basicamente uma roda de metal com bicos. Ocorre-me o que muito se tem escrito sobre a aplicação das esporas (toques rápidos e suaves, como choques eléctricos, como aconselhou o Mestre Nuno de Oliveira, em ataques repetidos ou em pressão contínua como ensinou o Conde de Fornos de Algodres, para se fazerem ouvir nos momentos de aperto como escreveu o Eng. Sommer de Andrade, etc, etc.).

Ora afinal existe uma explicação para que a rodela com bicos se chame roseta. Santa Catarina foi condenada à morte numa roda com um rodado com bicos acerados, um modo bem cruel de castigo. Conta a tradição que quando a Santa se benzeu e fixou o olhar na roda esta se quebrou pelo que a Santa acabou por ser decapitada. Esta lenda deu origem a que nas catedrais góticas as janelas circulares com múltiplos braços ou raios por entre os quais ficam vitrais coloridos por onde passa a luz, se denominassem rosáceas ou rosetas (por lembrarem pétalas estilizadas de rosas) e com base no martírio de Santa Catarina também se

lhes deu o nome de janelas de Santa Catarina. Assim a palavra roseta que designa as janelas redondas e trabalhadas das catedrais, ou janelas de Santa Catarina, identifica a roda de bicos das nossa esporas e esporins. Ora o que me pareceu curioso e justificar esta crónica é que Santa Catarina, como São Martinho viveram ambos no início do Século IV. Ambos morreram em Novembro. São Martinho a 11 e Santa Catarina a 25, razão porque estes são os seus dias no calendário cristão. São Martinho e Santa Catarina aparecem-nos assim ligados ao nosso espírito de Romeiros e ao nosso traje de cavaleiros. E com esta associação de ideias, tristemente apeado e sem esporins, pois afinal o Dantas não os conseguiu arranjar a tempo, lá fui ao encontro dos amigos, armar a mesa e abrir os cestos, numa tarde razoavelmente amena de Primavera. n


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NOTAS SOLTAS

1963 Sui Yumma - Égua Gyão

1964 Bahjayam - Égua Gyão

O CAVALO PURO SANGUE ÁRABE origeM e priNcipais liNHas eM portugal - parte 2

Manuel H. Domingues Heleno

ais tarde, já no século XVI, a pioneira expansão Lusitana no Mundo levou os Portugueses a dominarem muitos mercados orientais, trazendo para o nosso país o que de mais raro lá existia. E entre essas riquezas contava-se o Cavalo Oriental. A partir do século XVIII os Cavalos Árabes distinguiramse particularmente. Na GrãBretanha eles deram origem ao Puro Sangue Inglês, na Rússia ao Orloff, e, no século XIX, em França, ao Anglo-árabe. A campanha de Napoleão no Egipto acentuou a tendência para utilizar animais de raça pura, trazendo para a côrte francesa a moda do Cavalo Árabe, a montada preferida do Imperador. Uma moda que influenciou quase toda a Europa, gosto que não deixou de atingir Portugal, como documentam as importações feitas do Egipto e de Constantinopla entre 1812

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NÃO SABEMOS AO CERTO QUANDO FOI INTRODUZIDO NA PENÍNSULA IBÉRICA O CAVALO ÁRABE, MAS A PARTIR DE 710 AS SUCESSIVAS INVASÕES ISLÂMICAS TROUXERAM PARA TERRAS HOJE PORTUGUESAS NUMEROSOS CAVALOS ORIENTAIS, QUE DEIXARAM GRANDES MARCAS, DADO QUE A PRESENÇA ÁRABE NO EXTREMO SUL DE PORTUGAL DUROU ATÉ AO SÉCULO XIII (1248). e 1876. Infelizmente, destas importações, não há descendência pura reconhecida. Para a história do Árabe em Portugal, só as aquisições feitas a partir de 1902 têm interesse, por alguns daqueles animais terem uma descendência ainda hoje representada em raça pura. Assim, em 1902 foram importados da Argélia o cavalo Zerai e a égua Zélia, ambos da “Jumenterie de Thiaret”. Deixaram como descendência a égua Guizeh, mãe da Presumida e da Risonha, ambas filhas do Silfire. Em 1903, do Oriente, foram importados três machos (Fehran, Deheiman e Nemyr) e quatro fêmeas (Saada, Nazly, Fhara I e Fhara II). Duas destas éguas foram compradas em Beirute por 1.380 e 1.900 escudos, as outras duas foram adquiridas em Constantinopla, uma delas por 2.750 escudos, tendo a outra sido ne-

gociada em conjunto com um garanhão por 9.000 escudos. Também naquela cidade foram pagos 1.150 escudos e 2.000 escudos pelos outros dois machos. Todos estes animais foram transportados para Constantinopla (hoje Istambul), donde partiram por via marítima para Lisboa e depois, por caminhode-ferro, para Santarém, tendo dado entrada na Coudelaria Nacional em 25 de Março de 1903. Dos machos, só Fehran tem uma descendência que chega aos nossos dias em raça pura, por intermédio de suas filhas Syria e Umbella (filhas de Nazly), e de Uri e Zaza (filhas de Saada). Os descendentes da Umbella e da Zaza chegam até nós muito representados e estão na origem de um dos monumentos da criação cavalar portuguesa, o garanhão Xélio. A Saada foi comprada prenha e trazia no ventre o Pakir, tendo

a excelente descendência deste último, bem como a de sua mãe, chegado aos nossos dias em raça pura. A Nazly e a Saada (esta da casa de Beih Abdel Melek, da tribo Sh’ammars), podem considerar-se as matriarcas das mais antigas linhas árabes portuguesas. Da Grã-Bretanha é importado, em 1921, o garanhão Fursan, nascido em 1916, em Crabbet Park Stud, coudelaria de Lady Wenworth, que tinha comprado quase todos os seus reprodutores no deserto, onde se dirigiu amiúdas vezes. Com uma boa origem e 1 metro e 50 centímetros de altura, Fursan esteve no Depósito de Mafra até 15 de Outubro de 1925. Deixou só um filho em raça pura, o excelente Lírio (filho da Zaza), pai da Valéria. Na próxima edição prosseguiremos com o assunto em epígrafe. n


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