Revista Equitação

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N.º 101 ❙ MARÇO/ABRIL 2013 ❙ CONt. pReÇO € 4,50 ❙ www.equItACAO.COM

COMPLETO VALE SABROSO BARROCA D’ALVA DRESSAGE TAÇA DE PORTUGAL ATRELAGEM TAÇA IBÉRICA

MÁRIO WILSON FERNANDES EM DESTAQUE NO VILAMOURA ATLANTIC TOUR



EDITORIAL

or estranho que pareça, tendo Portugal uma Escola Nacional de Equitação (ENE), com resultados comprovados, criada com a intenção de subir o nível técnico dos nossos profissionais e tentar superar a grande lacuna que existe em relação ao nível dos países líderes da modalidade, assistimos com espanto, a uma Federação Equestre Portuguesa (FEP) autorizada pela "moderna legalidade", a optar por celebrar um protocolo de colaboração para o citado fim, com a GNR. Comparem-se os pratos na balança e verifiquem a ausência de bom senso que presidiu à escolha. A ENE tem como formador, os mestres militares de equitação mais experientes, com largos anos de actividade como pedagogos que foram também cavaleiros internacionais. Os seus docentes civis, alguns ainda em plena actividade, estão ao mais alto nível internacional, são reconhecidos profissionais à frente dos seus centros hípicos e em permanente actualização caminham em sintonia com os homólogos estrangeiros para proporcionar o melhor nível de um bacharelato em técnicas de equitação. Resumindo, é o melhor e mais realista corpo docente possível neste pequeno País que temos. A GNR, há muito que perdeu os mestres reconhecidos, alguns até passaram pelos jogos olímpicos, outros foram aguerridos e exemplares ganhadores nacionais e internacionais. No momento, dispõem de dois ou três cavaleiros com alguma formação e experiência curricular que devo considerar vulgar, porque já mui-

tos cavaleiros antes o conseguiram igualar ou superar. Os restantes formadores que podem propor, são pedagogos absolutamente inexperientes sem descendência visível, para além de só terem uma rodagem desportiva ao nível elementar. Mas o mais relevante para o caso, é o facto de contarmos unicamente com militares de profissão, que têm da realidade equestre profissional a mesma noção que pode ter um padre da vida matrimonial, porque nisto dos cavalos, são total e completamente amadores privilegiados. Senão vejamos: os militares da GNR, começam por nem sequer ter de pagar a formação que recebem, não têm qualquer preocupação com a compra dos cavalos, a construção e manutenção de picadeiros, pistas e restantes instalações, respectivo licenciamento, eventuais simpáticas visitas surpresa da ASAE, a aquisição de camiões, respectivos seguros, portagens e combustíveis, as despesas de ferrador e veterinário. Da cotação, armazenamento das rações e forragens também não faz falta saber nada e muito menos terão dores de cabeça para, no fim do mês, conseguirem pagar aos tratadores. Que solidariedade? Que informação profissional poderão transmitir? Vivem num mundo superior de regalias a que nenhum profissional da equitação tem acesso, para além de na prática desportiva não conseguirem exemplificar a um cavaleiro júnior o que ele precisa de saber!!! Porque surge então este descerebrado protocolo, pergun-

tarão os leitores? Porque se condena os futuros profissionais portugueses a baixarem do bacharelato que tinham garantido, para o jardim-de-infância que vão ter? Para escândalo dos que seguem de perto o desenrolar deste incrível processo, saibam que este diferendo não tem origem em nenhuma queixa técnica, quanto à pedagogia ou métodos da ENE, a única situação que se compreenderia. Nada disso! O que está na origem desta guerra FEP versus ENE é uma birra e a consequente necessidade de vingança do presidente

DIReCtOR

P

Francisco Cancella de Abreu

Formação proFissional passa para a mão de amadores

CONtINuA NA págINA 50 »»»

Pare imediatamente, o radar acaba de detectar um galope de 55Km/h. Já vais ver como elas doem!

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FIchA TécnIcA DIReCtOR eDItOR CONSeLHO eDItORIAL

COLABORADOReS

CHeFe De ReDACÇÃO ReDACÇÃO

puBLICIDADe

ASSINAtuRAS FOtOgRAFIA

pROpRIeDADe

ReDACÇÃO/puBLICIDADe

eDIÇÃO ONLINe IMpReSSÃO

ínDIcE

Francisco cancella de abreu

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eduardo de carvalho aFonso Palla (in memoriam) adolFo cardoso coronel Joaquim arnaut Pombeiro dr. domingos da costa Xavier ProF. João Pedro gorJão clara João bagulho dr. Joaquim duarte silva coronel José miguel cabedo dr. João Paulo marques dr. manuel heleno dra. rita gorJão clara dra. antonieta Janeiro dr. bruno caseirão ePona ProF. Francisco casteJón galiano Pinheiro gemma van diJK idés marchal Jaime de almeida ribeiro dra. Joana alPoim moreira João maria Fernandes dr. José Pedro Fragoso almeida eng. João moura dr. mário barbosa dr. manuel lamas dr. nuno Palma carPinteiro eng.liliana castelo Paulo vidigal eng. rodrigo coelho de almeida eng. victor malheiro

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VILAMOuRA AtLANtIC tOuR 14

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CONCURSO COMPLETO

HISTÓRIA DA ATRELAGEM AtReLAgeM NA ANtIguIDADe

DRESSAGE

pOR ALeXANDRe MAtOS e ARq. J.p. MAgALHÃeS SILVA 66

HORSEBALL ...NOVIDADeS pARA O HORSeBALL?

CIC De VALe SABROSO

pOR DR. JOÃO MARIA FeRNANDeS

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Fernanda teiXeira

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COMENTÁRIO INteRNACIONAIS DA BARROCA D’ALVA

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FEIRAS E EVENTOS

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ATRELAGEM

pOR DR. JOÃO pAuLO MARqueS 74

tAÇA IBÉRICA - COMp. LeZÍRIAS 38

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ARTE DA EQUITAÇÃO

CRÓNICA OS AReStINS, DRA. RItA gORJÃO CLARA

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CRÓNICA

eNtReVIStA AO eNg. JOÃO RALÃO DuARte

O Meu LegADO De NuNO OLIVeIRA-II

pOR DR. BRuNO CASeIRÃO

pOR DR. HeNRIque SALLeS DA FONSeCA

NOTAS IBÉRICAS

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pOR eNg. RODRIgO ALMeIDA

EQUITAÇÃO NATURAL CAVALOS JOVeNS (4 ANOS), pOR epONA

COuDeLARIA ANDRADe

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VETERINÁRIA LASeR teRApÊutICO,

CAMpeONAtO NACIONAL JuN. e JC 36

VETERINÁRIA OS CHIpS..., pOR DR. RuI MeNDeS

FeIRA DO CAVALO DA tROFA RESISTÊNCIA EQUESTRE

HORSEBALL CAMpeONAtO NACIONAL

pOR COR. JOSÉ MIgueL CABeDO

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A pROpÓSItO De uM pASSeIO A CAVALO

ana Paula oliveira ana FiliPe cátia mogo carla laureano

aurélio grilo emílio de Jesus nuno Pragana Paula Paz

SALTOS DE OBSTÁCULOS

pOR eNg. VICtOR MALHeIRO

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NUTRIÇÃO ANIMAL NutRIÇÃO De MÃO DADA COM O

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NOTÍCIAS

COMpORtAMeNtO, pOR eNg. LILIANA CASteLO

eLeIÇÕeS NA Fep DIStRIBuIÇÃO

tIRAgeM MÉDIA RegIStO eRC DepÓSItO LegAL

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A INFLuÊNCIA DOS HáBItOS ALIMeNtAReS,

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todos os direitos reservados. interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorizaçãopor escrito do editor. todos os artigos assinados são da responsabilidade exclusiva dos seus autores.

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OBSTÁCULOS

atlantic tour de regresso a Vilamoura Depois De seis anos instalaDo na Comporta, o CirCuito De saltos De obstáCulos organizaDo por antónio moura voltou a vilamoura, onDe aColheu 250 Cavaleiros De 21 naCionaliDaDes, que trouxeram 670 Cavalos.

trevor Breen/Adventure de Kannan

A

preparação da cidade equestre começou em Outubro e envolveu um investimento de aproximadamente 500 mil euros, transformando o Centro Hípico de Vilamoura num espaço completamente renovado e à altura de uma competição que juntou alguns dos melhores cavaleiros do ranking internacional. Falamos de Pénelope Leprevost, Roger-Yves Bost, Harrie Smolders, Shane Breen, Leon Thijssen ou François Mathy Jr.,entre outros, que mais uma

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François Xavier Boudant/Amadeus Z


vez acederam ao convite do organizador para participar neste concurso de pré-época. Em 16 mil m2 de área - dos quais 13 mil m2 cobertos - foram colocadas cinco pistas, quatro de areia e uma de relva, incluindo uma arena de aquecimento coberta, para abrigar os cavaleiros nos dias mais chuvosos. Uma novidade que, segundo o responsável, António Moura, "foi uma surpresa para a maioria e alguns puseram em dúvida se haveria necessidade. Eu estava longe de imaginar que o tempo não iria ser tão bom quanto o dos outros anos e realmente foi fundamental ter aquela infraestrutura, para podermos continuar sempre a ter provas". Este ano o circuito apresentase como um dos maiores da Europa e estende-se por seis semanas, com as quatro primeiras já decorridas à data do fecho desta edição (de 19 de Fevereiro a 17 de Março), e as próximas duas a terem lugar entre 26 de Março e 7 de Abril. No primeiro mês de competição, esteve em jogo um prémio monetário de 500 mil euros, distribuído pelas provas de cavalos novos, durante a semana, pelos três CSI2* disputados ao fim-desemana e pelo CSI3* que encerrou a primeira fase do circuito. O último Grande Prémio, dedicado

Harrie Smolders/emerald

António Moura

a Francisco Moura, juntou em pista 56 conjuntos e foi desenhado pelo chefe de pista dos últimos Jogos Olímpicos, Bob Ellis. Ganhou a prova o irlandês Trevor Breen, que montou Adventure de Kannan, com o qual já tinha conseguido o 3.º lugar na prova rainha da 1.ª semana. Desta vez, "a 1.ª mão estava muito grande e técnica, o Bob Ellis desenhou um percurso muito bom, era preciso saltar muito e acho que dez percursos limpos foi perfeito para ele, acertou em cheio. O triplo exigia saltar muito, assim como o duplo, mas o meu cavalo

Jerôme guery/upper Star

salta tão bem que tornou tudo fácil para mim. Na 2.ª mão [que terminou com 38,61''] vi alguns a entrar e sabia que estavam a ir rápido, apenas pensei em fazer o que sempre faço nos desempates, ir o mais rápido possível, mantendo o limpo, porque acredito que o meu cavalo pode fazêlo. Foi o que fiz e felizmente foi o suficiente para ganhar!", contou à EQUITAÇÃO o cavaleiro, que descreve a sua montada como "um cavalo adorável, um cavalheiro nos estábulos, com personalidade, fácil, gosta do que faz, e quer ganhar tanto quanto eu, até dá um pinote quando não consegue. É um cavalo feliz!". Trevor veio com o irmão Shane, e com eles uma parte da família Breen, que desfrutou ao máximo desta estadia no Algarve. No balanço da participação no concurso, o cavaleiro destaca a vitória do último GP, curiosamente no dia de um dos patronos da Irlanda, St. Patrick: "Vilamoura é linda, há tanta coisa para fazer fora da pista, só foi uma pena o tempo ao longo deste mês, mas ninguém pode fazer nada acerca disso. Gostámos muito de estar aqui e ganhar este GP tornou tudo ainda melhor!". Na prova mais importante do circuito, com os obstáculos a 1,50m, foi 2.ª classificada a francesa Marie Robert/Rhune d'Euskadi (38,78'') e 3.ª Isheau

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OBSTÁCULOS

valo portou-se bem e eu fiquei muito feliz. Quando comecei o desempate, vi os outros cavaleiros e achei que era demasiado rápido para mim. Disse que ia tentar, mas não tinha a certeza se seria possível. Pedi algumas coisas difíceis ao meu cavalo e ele respondeu bem, foi bom", afirmou o cavaleiro, que apresentou um KWPN de 12 anos, com o qual está há um ano: "Tem uma boa cabeça, é um cavalo cuidadoso, não é muito quente, mas em pista dá o seu melhor!". Pela Irlanda, Gerard Clarke/Ardragh Stein conquistou o 2.º lugar (37,88'') e Trevor Breen o 3.º posto, como já foi referido, com Adventure de Kannan (38,72''), numa prova que contou com 48 participantes.

Uma semana depois, foi a vez do português Bernardo Costa Cabral colocar o percurso do GP para 60 binómios saltarem. Harrie Smolders, foi o mais rápido em pista, com Emerald (43,06'') e fez subir a bandeira da Holanda. Para ele a 1.ª mão teve "um percurso difícil, só com sete limpos, em 67 concorrentes, e o tempo era apertado, houve um pouco essa pressão. No desempate vi os três que entraram antes de mim e sabia o que teria de fazer, pois tinha alguns conjuntos rápidos a seguir a mim. Achei que não seria suficiente para ganhar, mas acabou por ser!". Harrie, que está actualmente no n.º 28 do ranking mundial, trouxe a este GP um garanhão de nove anos, que tem

Vincent Vermeulen/global Loveaffair

Wong/Zadarijke V (40,13''), pelo Taipé, as mais rápidas dos sete conjuntos que repetiram o limpo na 2.ª mão. Já no primeiro fim-de-semana de provas, com o GP colocado por Brian Henry (IRL), a vitória coube ao belga Jerôme Guery, que montou Upper Star (36,53'').

"A 1.ª mão não foi muito difícil, pois é a 1.ª semana que estamos cá, os cavalos não têm trabalhado muito antes de vir para cá, mas o desempate já foi mais forte, havia 15 conjuntos rápidos no jumpoff, o que dificultou um pouco. Era preciso montar depressa e sem faltas, claro, mas o meu ca-

Luís Sabino gonçalves/Hemingway van de padenborre

Andreas Knippling/gROw Charisma

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desde os seis, que é "um cavalo de futuro, só precisa de mais rodagem, e foi por isso que o trouxemos ao Atlantic Tour. Ele é um pouco inexperiente, em alguns momentos ainda se nota que está «verde», por isso é que estamos a entrar com ele em provas maiores, para o levar ao mais alto nível!". Atrás do cavaleiro holandês ficou o seu aluno, o jovem Jos Verlooy, que montou Domino (44,16''), na 3.ª posição, com o francês Julien Gonin a garantir a vice-liderança, em Gina A (43,84''). À terceira semana Harrie Smolders voltou a pisar o pódio, tam-



OBSTÁCULOS

bém com Emerald, desta feita na 2.ª posição (42,45''). Bob Ellis tomou as rédeas nos desenhos de pista e a vitória sorriu ao francês François Xavier Boudant, que se destacou entre 70 binómios (42,19''). "Fui o 1.º a ir à barrage, tinha muitos bons cavaleiros atrás de mim e decidi logo arriscar, galopar e correu bem! Estou muito contente porque o ano começa bem, o meu cavalo está em forma e é um bom augúrio para esta temporada", explicou o vencedor, que montou Amadeus Z, um cavalo que já monta "há alguns anos, e acredito que pode fazer boas provas nesta época. Em termos de força tem muitos meios, muita personalidade, só é preciso canalizar a energia dele mas o resto está feito". A fechar o pódio, no 3.º posto ficou o francês Frederic Busquet com Plume de la Roque (42,75'').

Para François Xavier Boudant estes foram dias de glória, pois ao GP juntou ainda a vitória na final de 7 anos com o garanhão Chin Kiss D Ruisseau Z. GROW Charisma, um castrado de propriedade da luso-brasileira Luciana Diniz, foi o vencedor na final para cavalos de 6 anos, sob a monte de Andreas Knippling e Gobal Loveaffair conquistou o título dos 5 anos com o holandês Vincent Vermeulen. pORtugueSeS eM DeStAque Por Portugal foram 50 os conjuntos que estiveram presentes no Atlantic Tour e vários conseguiram posições de relevo ao longo do primeiro mês. Em Grande Prémio, João Chuva teve a melhor prestação lusa, ao registar o 4.º lugar na 3.ª semana, com dois percursos limpos. Foi o único português entre dez conjuntos

no desempate e preferiu não arriscar: "Não fui para tentar ganhar no desempate. Fui com muita calma, temos que ser realistas, eu não tenho muitos cavalos de grande prémio, não posso andar a fundo. Fui para fazer zero, fiquei em 4.º, já é bem bom". Entrou com Pluco T, de 16 anos, um dos quatro cavalos que levou a Vilamoura e que demonstrou estar em forma. O cavaleiro descreve-o como uma montada "valente, um bocadinho quente, mas quer sempre fazer bem e basta estar bem fisicamente para dar sempre o máximo". Na 4.ª semana João Chuva voltaria a estar presente na 2.ª mão do GP do CSI3*, ficando em 14.º, com Virginia Dream, uma égua "muito quente, com muita qualidade, mas muito fina e delicada, pois tem de estar tudo como ela quer, senão não corre bem".

Entretanto já António Vozone /Lacy Woman tinha feito um 9.º lugar no 1.º GP e Mário Wilson Fernandes tinha conseguido a 7.ª posição na 2.ª semana com o seu principal cavalo, Wintu: "Não é um cavalo muito rápido, não é um cavalo ganhador, mas faz muitos zeros e no ano passado tive muitos resultados em GP e estou contente", contou o português radicado na Holanda, para quem o melhor de Vilamoura foi "a competividade dentro de pista e o bom ambiente depois das provas". Fazer percursos limpos e ganhar era o mais difícil, mas Mário Wilson deixa o Algarve satisfeito com os seus cavalos, especialmente os mais novos: "Foi magnífico! Trouxe um cavalo de 6 anos muito verde, que fazia metro, que saltou a final muito bem. Trouxe também dois de 7 anos muito bons".

Mário wilson Fernandes/Zilverling

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Dos doze cavalos que tinha em Vilamoura, o destaque vai para Athletico Madrid, de oito anos, que o cavaleiro subiu de 1,20m para 1,35m com sucesso e também Zilverling, uma égua que fazia provas de 1,40m e ali subiu ao Grande Prémio. Também Rodrigo Giesteira Almeida teve um bom início de época neste circuito, com Wadi Rum DDH, com o qual ganhou uma grande, mas especialmente com Rome de Bacon, que a 1,30m fez vários percursos sem penalizar, contando diversas classificações entre os cinco primeiros. "É um cavalo que monto há cerca de seis meses, tem oito anos e está a fazer os seus primeiros percursos rápidos aqui em Vilamoura. É um cavalo muito rápido, muito inteligente e eu aposto toda a minha confiança nele. Ele é, sobretudo, muito inteligente e está sempre do meu lado, parece que entro em pista e não tenho de me preocupar com a falta, porque sei que é impossível que ele a faça se eu o montar bem", referiu o cavaleiro, que diz ter sentido a evolução

Rodrigo giesteira Almeida/Rome de Bacon

nos seus cavalos: "Estar aqui em Vilamoura é muito bom não só para os cavalos mas também para nós porque temos a oportunidade de saltar várias vezes na mesma pista, os mesmos sal-

tos, as mesmas distâncias e repetir isso diariamente é muito bom". Com Rodrigo veio o seu professor, Luís Sabino Gonçalves, que também fez um balanço po-

sitivo do trabalho realizado pelos seus 16 cavalos. O cavaleiro esteve em evidência nas provas para cavalos novos, com Ideal, de 5 anos e também com Hemingway van de Padenborre, as-

Ricardo gil Santos/ C’est Moi

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OBSTÁCULOS

sinalando o 14.º lugar com um e o 5.º lugar com o outro, respectivamente. À semelhança de Mário Wilson Fenandes, foi Luís Sabino quem conseguiu mais lugares classificáveis nas provas grandes, com Chai D, "um cavalo que já está a fazer bem 1,45m e eu queria agora confirmá-lo para

naturalidade, sem se desgastar tanto no ar". Luís, que tem como objectivo a participação no Campeonato da Europa, em Agosto, entende que "de uma maneira geral os cavalos foram todos muito bem. Nesta primeira fase ando aqui muito a desfrutar de montar os

tadas, enfrentou um período descendente nas classificações. "Este ano eu contava com o Zucchero para que fosse talvez o meu primeiro cavalo, a alinhar nos GP. Ele começou em grande forma, consegui quatro zeros consecutivos, depois foi-se um bocadinho abaixo, talvez um pou-

era na égua de 6 anos C'est Moi, mas "as coisas não saíram, pois a égua não estava muito bem fisicamente". Assim, acabou por ser Bacardi, de 7 anos, a surpreender o cavaleiro, no 12.º posto: "Nunca pensei estar na final, havia muitos bons cavalos a saltar os 7 anos, que já é muito

meus cavalos, não ando naquela competição a fundo, mas é mais numa de preparação para o resto da época e depois os meus melhores resultados aparecem nos objectivos que eu determino como principais e aí é que eu fico feliz de atingir a minha programação". Menos satisfeito com os resultados ficou Ricardo Gil Santos, que depois de um arranque em força com as suas quatro mon-

co de cansaço, pois nós tivemos uma época de Inverno muito parada e não está ao melhor nível agora nesta última semana. Mas na 1.ª semana claro, superou todas as expectativas e mostrouse muito bem. É um cavalo extremamente limpo, muito respeitador e por vezes isso traz-me alguns problemas quando salto tanto tempo seguido grande". A grande aposta de Ricardo Gil

grande e a égua é mínima! Assustei-me um bocadinho a ver a pista, achei que estava muito grande para ela, mas esteve sempre muito bem, fez dois percursos com quatro pontos e faltas que podia não ter cometido". Ainda assim, para o nortenho, esta rota "não tem comparação ao circuito anterior, temos o nível da Comporta no local de Vilamoura, portanto temos um con-

João Chuva/pluco t

1,50m e para 1,60m. É extremamente limpo, não gosta de tocar, é alérgico à madeira. Às vezes faz uma falta porque eu aperto um bocadinho mais e meto-lhe demasiada pressão. Para um cavalo grande e ligeiramente pesado ele até é suficientemente rápido, mas o que eu queria era que ele não fosse tão exagerado daqui para o futuro, para fazer 1,50m, 1,55m e 1,60m com mais

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OBSTÁCULOS

curso muito melhor!". E foi exactamente com comentários como este, partilhados em várias línguas, que o organizador fechou a primeira fase do circuito com um balanço muito positivo. À EQUITAÇÃO, António Moura disse que "como organizador não poderia estar mais feliz, porque foi um esforço grande que fizemos, eu e toda a

responsáveis técnicos das olimpíadas na modalidade de saltos de obstáculos. Isso diz bem do crédito que nós temos não só perante os cavaleiros, mas também perante os juízes e restantes participantes neste mundo equestre!". Para as duas semanas que faltam realizar, entre 26 de Março e 7 de Abril, são esperados cerca

Sheikh Saudita Samir Mirdad

António Vozone/ Lacy woman

pReSeNÇA De SHeIKH AgItA IMpReNSA Bernardo Moura/ quontender

equipa. Além da equipa olímpica a desenhar os percursos [Bob Ellis, Brian Henry e Bernardo Costa Cabral], tivemos o presidente do júri dos JO e o presidente dos stewarts dos JO, portanto juntámos pela primeira vez desde Londres, os três grandes

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de 300 cavalos, para saltar os percursos que serão desenhados por Bernardo Costa Cabral.n Cátia Mogo/Fotos One Shot Reportagem em Equitação TV

Na sua primeira viagem a Portugal, o Sheikh da Arábia Saudita Samir Mirdad ficou encantado com a região algarvia e cedo fez correr tinta na imprensa nacional, quando anunciou a sua vontade de investir no país. A intenção era relaxar e divertir-se, mas acabou por agendar diversas reuniões com autoridades regionais e empresários locais, numa oportunidade de negócio que lhe parece viável para as famílias reais e governos que representa no Médio Oriente. Assim, com o trabalho a ocupar-lhe parte do dia, sobraram-lhe apenas as manhãs para se dedicar aos saltos de obstáculos, o suficiente para ganhar a competição «Leading Rider». Para tal, trouxe quatro cavalos, avaliados em 20 milhões de euros, e um objectivo bem definido: "Vim com a intenção de ganhar a "Leading Rider", e muita gente me perguntou qual era o prémio, quanto é que eu iria ganhar. O dinheiro não é importante para mim, o que importa é o desafio de ganhar a competição. Isto não é uma prova em que se entra e se ganha ou se perde. Temos de ser consistentes ao longo das quatro semanas, pois estamos a falar de 12 provas! E eu ganhei e fiz segundos lugares com vários cavalos, por isso consegui cumprir os meus dois objectivos: preparar os meus cavalos para as qualificativas do Europeu, que são na próxima semana, e ganhar esta competição". Samir veio acompanhado pelo amigo e antigo campeão do Mundo, Dermott Lennon e de Portugal só levou boas recordações: "A família Moura foi muito generosa connosco e os portugueses são um dos melhores povos que já conheci, são muito acolhedores, sinto-me em casa!". n



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