REVISTA EQUITAÇÃO 107

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OBSTÁCULOS VILAMOURA ATLANTIC TOUR GREEN HORSE TOUR RIDERS COMPLETO INTERNACIONAIS DE VALE SABROSO E BARROCA D’ALVA DRESSAGE TAÇA DE PORTUGAL CDI DE BARCELONA ATRELAGEM TAÇA IBÉRICA

ANTÓNIO VOZONE CAMPEÃO EM FOCO NOS CIRCUITOS NACIONAIS




O NOVO SITE

DA EQUITAÇÃO TV

ESTÁ A CHEGAR

PREPARE-SE PARA

A GRANDE ESTREIA

BREVEMENTE

NUM COMPUTADOR

PERTO DE SI


EDITORIAL

Francisco Cancella de Abreu Director

A PROPÓSITO DO RECENTE PROTAGONISMO DOS LUSITANOS NA DRESSAGE INTERNACIONAL o Barcelona Spring Dressage Tour a raça lusitana constituía 10% dos cavalos presentes, e poderiam ainda ter ido alguns mais a nível de Grande Prémio e muitos outros nos níveis abaixo. Todos conseguiram duas das ambicionadas qualificações, seja para se confirmarem na equipa portuguesa dos próximos Mundiais, seja para integrar a lista de reservas com médias sobre os 64%, desde que a FEP com o habitual sentido de oportunidade, não resolva "inovar" os regulamentos. Brilhou por cima de todos os Lusos a égua Batuta das Figueiras a concorrer por Espanha, sob a sela de José António Garcia Mena vencendo o Grande Prémio Especial e ficando em segundo no Grande Prémio, feito notável por ser esta a sua primeira prova oficial neste nível. Confirma a enorme qualidade que prometia desde os 3 anos, pelo que quase seguramente integrará a equipa espanhola já em renhida selecção para os Jogos Equestres Mundiais da Normandia. Logo a seguir Xiripiti e Coroado com Maria

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Caetano Couceiro estiveram em prémio várias ocasiões, Alcaide e Recuerdo também estiveram em prémio com os cavaleiros espanhóis Claudio Castilla e Laura Reija, respectivamente. Carlos Pinto com Soberano não conseguiria as mesmas médias de Vidauban, mas apresentou-se bem no Grande Prémio Especial. Ainda uma nota para os estreantes Manuel Veiga e Ben-Hur da Brôa que cumpriram sem qualquer erro nos exercícios os dois Grandes Prémios em que participaram. Creio que toda esta participação e resultados fizeram crescer água na boca de cavaleiros da Alemanha e Grã-Bretanha que me contactaram tentando comprar os cavalos em concurso ou pedindo cavalos jovens correctamente trabalhados. É a confirmação da excelente aceitação que os nossos cavalos conquistaram nestes anos recentes, que só terá que ser acompanhada por um esforço de selecção na criação de um Lusitano mais poderoso, de andamentos mais correctos e completos. n

José Antonio Garcia Mena com o PSL Batuta das Figueiras

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EQUITAÇÃO

O URO D’ E LVAS

PURO SABOR LUSITANO


SUMÁRIO 04

OBSTÁCULOS VILAMOURA ATLANTIC TOUR

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OBSTÁCULOS GREEN HORSE TOUR RIDERS GOLEGÃ E ÓBIDOS

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CORRIDAS CAMPEONATO NACIONAL DE GALOPE E TROTE ATRELADO, POR VICTOR MALHEIRO

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CRÓNICA APROXIMA-SE MAIS UMA ROMARIA DE S. MARTINHO, POR JOÃO PEDRO GORJÃO CLARA

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OBSTÁCULOS SUNSHINE TOUR, ESPANHA

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COMPLETO HARLEY DAVIDSON HORSE TRIALS VALE SABROSO

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TAUROMAQUIA DE CHAPÉU ALTO... POR DOMINGOS COSTA XAVIER

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COMENTÁRIO COMPLETO, BARROCA D’ALVA POR JOSÉ MIGUEL CABEDO

58

VETERINÁRIA ATAXIA E “SINDROME DE WOBBLEER”, POR J. PAULO MARQUES

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COMPLETO CAMPEONATO NACIONAL

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DRESSAGE TAÇA DE PORTUGAL, LISBOA

GENÉTICA EQUINA O CASO DE SUCESSO NO CAVALO ALTER REAL EM DRESSAGE, POR ANTÓNIO VICENTE, NUNO CAROLINO E LUÍS GAMA

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DRESSAGE CDN E POULE, ARRUDA

64

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DRESSAGE CDI BARCELONA

NUTRIÇÃO A NUTRIÇÃO DE MÃO DADA COM O COMPORTAMENTO POR LILIANA CASTELO

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NA OPINIÃO DE... PEDRO FERRAZ DA COSTA

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EQUITAÇÃO NATURAL INVESTIR NO FUTURO DO SEU POLDRO, POR JANET HAKENEY

32

REPORTAGEM CARDIGA PARADRESSAGE TEAM

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EQUITAÇÃO NATURAL FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS, POR EPONA

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CRÓNICA O MEU LEGADO DE NUNO OLIVEIRA-8 POR H. SALLES DA FONSECA

76

NOTAS SOLTAS O PURO SANGUE ÁRABE POR MANUEL H. HELENO

78

BOLSA EQUESTRE ESPAÇO PARA ANÚNCIOS

80

EQUITAÇÃO TV GRELHA DE PROGRAMAS EQUITAÇÃO MAGAZINE

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ATRELAGEM TAÇA IBÉRICA, COMP. DAS LEZÍRIAS

36

BREVES NOTÍCIAS

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HISTÓRIA DA ATRELAGEM A GRÉCIA PRÉ-CLASSICA POR J. ALEXANDRE MATOS E J.P. MAGALHÃES SILVA

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CRÓNICA MAIS DO QUE UM OLHAR ATENTO! OBSERVAR! POR RITA GORJÃO CLARA ARTE DA EQUITAÇÃO CASA CADAVAL, POR BRUNO CASEIRÃO

FICHA TÉCNICA

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Director: Francisco Cancella de Abreu Editor: Eduardo de Carvalho Conselho Editorial: Afonso Palla (in memoriam); Adolfo Cardoso; Coronel Joaquim Arnaut Pombeiro; Dr. Domingos da Costa Xavier; Prof. João Pedro Gorjão Clara; João Bagulho; Dr. Joaquim Duarte Silva; Coronel José Miguel Cabedo; Dr. João Paulo Marques; Dr. Manuel Heleno; Dra. Rita Gorjão Clara Colaboradores: Dra. Antonieta Janeiro; Dr. Bruno Caseirão; Epona; Galiano Pinheiro; Dr. Henrique Salles da Fonseca; Idés Marchal; Janet Hakeney; Jaime de Almeida Ribeiro; J. Alexandre Matos; Arq. J.P. Magalhães Silva; Dra. Joana Alpoim Moreira; João Maria Fernandes; Dr. José Pedro Fragoso Almeida; Eng. João Moura; Dr. Manuel Lamas; Engª. Liliana Castelo; Paulo Vidigal; Eng. Victor Malheiro Chefe de Redacção: Ana Paula Oliveira Redacção: Ana Filipe; Cátia Mogo; Carla Laureano Publicidade: José Afra Rosa; José de Mendonça; Luís Trindade Assinaturas: Fernanda Teixeira Fotografia: Aurélio Grilo; Emílio de Jesus; Nuno Pragana; Paula Paz Propriedade: Invesporte, Lda; Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto.;Laranjeiro 2810-276 Almada; Cap. Social 5.000 Euros; Cont. 505 500 086; Empresa jornalística registada no ERC nº 223632 Redacção/Publicidade: Praceta S. Luís, Nº 14 CV Dto. Laranjeiro 2810-276 Almada; Tel. 21 2594180 - Fax. 21 2596268; equitacao@invesporte.pt; equitacao@netcabo.pt Edição online: www.equitacao.com Impressão: Manuel Barbosa & Filhos; Zona Industrial de Salemas; Fracção A2 - 2670-769 Lousa LRS Distribuição: Logista Portugal - Edifício Logista; Expansão da Área Ind. do Passil; Lote 1-A Palhavã - 2890 Alcochete Tiragem média: 30.000 exemplares Registo ERC: N.º 123900 Depósito Legal: N.º 93183/95. Todos direitos reservados. Interdita a reprodução total ou parcial dos artigos, fotografias, ilustrações e demais conteúdos sem a autorização por escrito do editor. Os artigos assinados bem como as opiniões expressas são da responsabilidade exclusiva dos seus autores, não reflectindo necessariamente os pontos de vista da Direcção da Revista, do Conselho Editorial ou do Editor.

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EQUITAÇÃO



OBSTÁCULOS

VILAMOURA ATLANTIC TOUR

SAUDAÇÕES AO CAMPEÃO! QUATRO GRANDES PRÉMIOS (GP) E DUAS VITÓRIAS PARA DERMOTT LENNON, IRLANDÊS CAMPEÃO DO MUNDO NOS JOGOS EQUESTRES MUNDIAIS DE 2002, EM ESPANHA. E SE A CONCORRÊNCIA ESTEVE FORTE ESTE ANO EM VILAMOURA!

O irlandês Dermott Lennon venceu dois Grandes Prémios do Vilamoura Atlantic Tour

e 11 de Fevereiro a 9 de Março, decorreu no Vilamoura Equestrian Centre mais uma edição do circuito Atlantic Tour, de acordo com o organizador, António Moura, este ano com uma afluência em que "batemos os recordes de todas as provas hípicas de obstáculos feitas em Portugal. Contámos com a presença de cavaleiros de 32 países, cerca

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de 700 cavalos e portanto estou muito satisfeito com toda esta participação, porque é a confirmação que estamos a trabalhar na direcção certa e as pessoas a agradecem estando presentes." Durante um mês realizaramse mais de 100 provas, com as semanas sempre a começarem com classes para cavalos novos. O circuito foi composto por três CSI2* e um CSI3*, com

os course designers a mudarem ao longo da rota, o que muito agradou os concorrentes. O português Bernardo Costa Cabral inaugurou as pistas, seguido de Bob Ellis (GBR), Michel Ismalun (FRA) e Frank Rothenberger (ALE). Apesar de ser um circuito de preparação, o nível de competitividade esteve muito elevado, com os primeiros lugares,

regra geral, separados por centésimas de segundo. A Grã-Bretanha foi a nação mais representada e graças a Nicole Pavitt e Laura Renwick, a bandeira tricolor foi elevada mais de 30 vezes! Nicole ganhou 17 provas, entre as quais a final de cavalos de 5 anos com o garanhão Gemmarco 16. "Não derrubou nenhuma vara durante todo o circuito, foi fantástico que também tivesse ganho a Final" afirmou a cavaleira. Já Laura Renwick venceu por 15 vezes, já para não falar dos inúmeros lugares classificáveis de ambas, que trouxeram ao nosso país sete cavalos cada uma. Nas restantes finais de cavalos novos, em 7 anos ganhou o sela francês Ti Pol Du Plessis com Frederic Busquet e nos 6, a égua hanoveriana Townhead Chaka Chaka com James Smith. Vários portugueses estiveram nas finais com destaque para o 5.º lugar de Miguel Viana com Quidarco Z em 7 anos e Rafael Dinis Rocha com Lady Clarissa nos 5. A dotação total do circuito foi de 480 mil euros, com 11 provas pontuáveis para o ranking da FEI e o último GP também qualificável para os Jogos Equestres Mundiais (JEM). Presença assídua nos circuitos organizados por António Moura, desde o tempo em que estes se realizavam na Comporta, o Campeão do Mundo em 2002, Dermott Lennon, que trouxe ao nosso país, este ano, 8 cavalos para si e outros tantos para alunos que vieram consigo. Tendo em mente o objectivo de vir a integrar a


OBSTÁCULOS

A norueguesa Cecile Hatteland venceu o Grande Prémio inaugural equipa irlandesa nos JEM da Normandia, a preparação em 2014 não podia estar a começar melhor. Em quatro GP, Dermott Lennon passou por três vezes ao desempate e conseguiu o feito de ganhar os dois últimos, na terceira semana com Loughview Lou Lou e na última com Corbeagh Luxor. Em nenhum dos casos foi o último a entrar e por isso teve que dar o seu melhor e esperar pelos percursos dos seus concorrentes. Em ambos, a "estrelinha de Campeão" acompanhou-o e o bom desempenho em pista valeu-lhe o 1.º lugar. Esta é a terceira temporada que o cavaleiro vai fazer com Loughview Lou Lou, que está a preparar para os JEM, "é um cavalo competitivo, tem feito coisas muito boas por mim, acho que tem estado sempre a melhorar e estou ansioso por ver como nos corre esta época".

A suiça Faye Schoch dominou o segundo Grande Prémio REVISTA EQUITAÇÃO

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OBSTÁCULOS

Laura Renwick (GB) foi uma das principais animadoras das provas de Vilamoura

Depois de três GP com ela, o irlandês apostou num cavalo mais inexperiente para a prova rainha de 3*, esta disputada a duas mãos, em que em ambas Corbeagh Luxor limpou - tendo aliás sido o único - "foi difícil e o tempo concedido foi decisivo. O percurso era honesto. O cavalo, não tem muita experiência e entrei com o objectivo de limpar, indo à velocidade que ele me permitisse. Estava a competir com o meu cavalo, não com os restantes conjuntos, o que acabou por correr bem" afirmou à EQUITAÇÃO o cavaleiro que neste GP final foi acompanhado de Marc Bettinger/Quannan-R (ALE) em 2.º e Bernardo Alves/ Starling 7 (BRA) em 3.º. Já no 3.º GP, foi 2.º lugar Fiona Versini/Kassandre Erger (FRA) e Mark Martens/Anastacia (HOL). O GP inaugural foi ganho pela holandesa Cecilie Hatteland com Vesta III e o segundo, pela suíça Faye Schoch em Nouvelle Europe Z. Em ambos 6

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Nicole Pavitt revelou-se uma cavaleira muito rápida e somou 17 vitórias ao longo do circuito

foi 2.º classificado Trevor Breen (IRL) com Adventure De Kannan. Na primeira semana ocupou o 3.º lugar o compatriota Alexander Butler em Will Wimble e na seguinte Bernardo Alves (BRA), desta vez com Kingly Du Reverdy. Estiveram a competir no Vilamoura Atlantic Tour, cerca de 100 cavaleiros portugueses, vários com vitórias ao longo do circuito, tal como o Campeão Nacional António Vozone, com Lacy Woman logo na primeira grande de 1,45m (a 14/02). Nas provas rainhas as melhores prestações estiveram a cargo de Luís Sabino Gonçalves/Império Egípcio Milton (11.º após jump-off no dia 16/02) e Mário Wilson Fernandes/Zurito Do Belmonte (5.º após jump-off no dia 23/02). Para o seleccionador nacional sénior e vice-presidente da FEP, Francisco Louro, este tipo de circuitos são "essenciais. É uma oportunidade única que os cavaleiros portugueses têm, não só de


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OBSTÁCULOS

preparar os seus cavalos para o resto da época, como também, de estarem a competir um directamente com cavaleiros estrangeiros. É uma iniciativa excelente!" afirmou aos microfones da EQUITAÇÃO, ele que por mais do que uma vez se deslocou a Vilamoura para assistir às prestações dos cavaleiros lusos. Foram também vários os juízes estrangeiros que passaram por Vilamoura, entre os quais o britânico Jon Doney, que estará nos JEM como Delegado Técnico. "Já tinha ouvido falar muito deste circuito e foi muito

bom para mim, vir até cá - é a minha primeira vez - e constatar a qualidade desportiva em ambas as pistas."

António Vozone e Lacy Woman foram vencedores de uma Prova Grande

UMA CIDADE EQUESTRE A CRESCER

No final de um mês de provas, o organizador afirma que "estava pronto para mais quatro semanas! A equipa que trabalha comigo foi extraordinária, correu tudo muito bem, os cavaleiros facilitaram muito, não tivemos reclamações - pelo contrário, só ouvimos elogios! - de maneira que posso dizer que este ano foi a Mário Wilson Fernandes obteve o melhor resultado luso num GP ao classificar-se no 5.º posto

Alexandre Mascarenhas de Lemos preparou a sua temporada em Vilamoura e ainda foi Comentador para a Equitação TV Luís Sabino Gonçalves/Império Egípcio Milton 8

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OBSTÁCULOS

melhor rota de sempre feita por nós desde 2003. Estou muito contente porque conseguimos realmente um grande objectivo: a maior rota de sempre, a melhor, com um Campeão do Mundo a acabar a ganhar!" Este ano, e uma vez mais, as instalações foram melhoradas, e duas das pistas de aquecimento encontram-se já cobertas, permitindo aos cavaleiros prosseguir o seu treino mesmo quando chove. Praticamente sempre em simultâneo, estiveram a decorrer provas em duas pistas, ambas com piso Otto Sport. Sobre as melhorias nas instalações, António Moura afirma que há ainda mais a fazer, até porque "os cavaleiros assim o exigem! Nós hoje temos as melhores condições equestres em Portugal e posso afirmar, sem qualquer dúvida e reparo de ninguém, que temos as duas melhores pistas Otto Sport, e portanto

Dois campeões nacionais, António Marinas Soto (baixo) de Espanha e Mark Bettinger da Alemanha (cima)

Trevor Breen (IRL) esteve sempre muito competitivo em Vilamoura

isso dá-nos essa condição. Foi um investimento grande que fizemos, o que não quer dizer que vamos parar por aqui. Temos mais uma pista para fazer e outros pequenos detalhes. Até agora tratámos da parte técnica e daqui para a frente vamos começar a tratar do embelezamento. Tenho o apoio prometido de várias entidades locais, regionais e nacionais, o que é uma garantia de que para o ano, vão encontrar aqui grandes novidades." E não haverá tempo para descanso, até porque de 26 Setembro a 18 Outubro este espaço irá receber a segunda edição do Vilamoura Champions Tour. "Coloquei o desafio à minha equipa de aumentar mais cem cavalos em relação ao ano anterior, portanto, espero ter 500 cavalos". Estes são circuitos que promovem Portugal como destino turístico e desportivo, em alturas do ano em que a chuva/neve


OBSTÁCULOS

Martim Portela de Morais - Poker du Tyl (foto: One Shot) impera em grande parte da Europa. Para Desidério Silva, Presidente da Região de Turismo do Algarve, depois da experiência positiva no ano passado, "este ano tivemos a obrigação e o dever de apoiar estas provas, que conseguem transmitir uma imagem e uma opinião sobre uma região, que muitas destas pessoas não conhecia, e tudo isto faz com que, no futuro, a promoção do Algarve seja muito forte". Exemplo disso é o do Sheikh Samir Mirdad, da Arábia Saudita, que depois da estreia em 2013, regressou este ano. "Adoro Vilamoura, as pessoas aqui são tão simpáticas e amistosas. O concurso tem uma atmosfera muito boa e condições perfeitas para montar, com pistas óptimas." Luís Sabino Gonçalves, português conhecedor de outras rotas, concorda: "as rotas demasiado grandes e com demasiados cavalos tornam-se um pouco impessoais. Aqui há um ambiente muito familiar." E de tal maneira que até os Espanhóis estiveram presentes, como foi o caso do Campeão em título António Mariñas Soto, que veio com diversos membros da família 10

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Bernardo Alves (BRA)

Whitaker, ele que espera um filho de Ellen, que por estes dias o único contacto que teve com as pistas, foi do lado de fora. Interrogado sobre se passava voltar no próximo ano, não hesitou, "sim claro, seguramente!" Ana Filipe n

Reportagem em Equitação TV

Miguel Viana - Quidarco Z (foto: One Shot)

Rafael Dinis Rocha - Lady Clarissa (foto One Shot)


CALENDÁRIO 2014

GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 21 a 23 de MARÇO

GREEN HORSE TOUR RIDERS SEIS CSN-A + UMA FINAL DE NORTE A SUL DO PAÍS

ÓBIDOS QT. ÓBIDOS COUNTRY CLUB 28 a 30 de MARÇO

DOTAÇÃO GLOBAL DO TOUR 168.000 EUROS

GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 25 a 27 de ABRIL

DOTAÇÃO DE CADA CONCURSO 21.000 EUROS

GOLEGÃ CENTRO ALTO RENDIMENTO 02 a 04 de MAIO COIMBRA MATA DO CHOUPAL 09 a 11 de MAIO ESPINHO AERO CLUB 01 a 03 de AGOSTO

FINAL PORTO ALTO COMPANHIA DAS LEZÍRIAS 29 a 31 de AGOSTO

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OBSTÁCULOS

GREEN HORSE TOUR RIDERS A TOUR DO MOMENTO! O GREEN HORSE TOUR RIDERS (GHTR) É UM CIRCUITO DE SALTOS DE OBSTÁCULOS, COMPOSTO POR CONCURSOS NACIONAIS DE CATEGORIA A E JUVENTUDE, QUE VAI CONTAR COM PROVAS EM TODO O PAÍS.

João Chuva montando Virginia Dream venceu o Grande Prémio disputado na Golegã circuito é novo e propõe-se preencher uma lacuna no calendário hípico nacional, com concursos em novos locais - como Golegã e Óbidos - e outros, bem conhecidos dos cavaleiros, mas que há muito não recebiam competições - exemplo disso, a Anadia. Eduardo Oliveira, é a cara por trás do GHTR, e explica

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esta nova iniciativa: "sentimos que há muitos eventos hípicos isolados e achámos que havia uma necessidade de criar uma tour com atractivos diferentes para os cavaleiros". Para "marcar a diferença" a organização idealizou seis qualificativas, que dão acesso a uma final, pela seguinte ordem: Golegã (Centro Alto Rendimento - Hippos) e Óbidos (Quintas Óbidos Coun-

try Club), C.H. Santa Isabel (Portimão), Coimbra (Mata Do Choupal ), Anadia (Hipódromo Da Bairrada ) e Espinho (Aero Club), com a final marcada para os últimos dias de Agosto na Companhia das Lezírias (Porto Alto). "O nosso objectivo é descentralizar" explica Eduardo Oliveira, "creio que a ideia foi bem aceite pelos cavaleiros", a comprová-lo o concurso de ar-

ranque do circuito, que "correu muito bem, com cerca de 170 conjuntos, o que para um primeiro evento é óptimo" afirma o organizador, que viu este número subir na segunda prova, em Óbidos, passando os 200 conjuntos. Marina Frutuoso de Melo, Campeã de Portugal por inúmeras vezes, foi escolhida para madrinha deste circuito, que


Foto: Marisa Suzano

OBSTÁCULOS

Hugo Carvalho com Apell Wh ganhou a prova rainha em Óbidos para além da parte desportiva, tenta estimular a confraternização entre todos os concorrentes, com um Jantar Convívio. Cada uma das classificativas

Foto: Verónica Marques

Norbert Ell foi 3.º Classificado no GP disputado Golegã

terá uma dotação de 21 mil euros, com 42 mil euros a serem distribuídos na final. No total, o Tour terá um Prize Money de 168 mil euros. Para este circuito foi cons-

truído todo um novo parque de obstáculos, que estará à disposição dos chefes de pista: Pedro Faria, Lúcia Cabrita, Bernardo Cabral, Cristina Laranjeiro, Luis D’Orey e na Final, o

alemão, Frank Rothenberger. O Grande Prémio é por excelência a Prova Rainha e coube a João Chuva e Virgínia Dream a vitória do primeiro na pista do Hippos após jump-off, em que deixou em 2.º lugar Gonçalo Perdigão/Acredo F e em 3.º Norbert Ell/T Quinta. João Chuva viria a estar em destaque também no Grande Prémio de Óbidos, onde alcançou o 3.º posto, com esta mesmo montada. "É uma égua muito delicada, de enorme qualidade. Depois dos problemas físicos no ano passado, este ano sinto-a muito bem" afirmou o cavaleiro que depois de Pluco T se ter despedido da alta competição devido a lesão, deposita nesta égua grandes esperanças. Em Óbidos ganhou o Grande Prémio SF Feeding Hugo Carvalho, com Apell Wh, cavalo de 9 anos adquirido há pouco REVISTA EQUITAÇÃO

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OBSTÁCULOS

Ana Margarida Gomes/Quattu lidera o ranking das provas de Juventude a 1,20 m mais de dois meses e que, embora ainda se estejam a adaptar mutuamente, Hugo afirma ser "um cavalo promissor. É muito observador mas tem uma qualiEm Óbidos, António Vozone venceu três provas de cavalos novos de 6 anos com Divogh Gandarinha

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dade de salto extraordinária. Nesse aspecto, é possivelmente o melhor cavalo que montei na minha carreira. Não gosta de fazer a falta por nada deste mundo." Na 2.ª

qualificativa, passaram ao jumpoff do GP quatro conjuntos, foi 2.º Felipe Ramos Guinato/ Quoit Or, 3.º o já mencionado João Chuva/Virgínia Dream e 4.º Ri-

cardo Gil Santos/Venus C. Para além de provas para cavalos novos, as classes dos concursos vão de 1m até 1,45m (GP), com níveis de Juventude. Mariana Fonseca Faria/Cordobes-S é outra das cavaleiras que se tem evidenciado nas provas destinadas à Juventude


OBSTÁCULOS

Felipe Ramos Guinato obteve o 2.º lugar no GP de Óbidos A 1,20m, o despique tem estado a ser entre as duas colegas do Sport Club do Porto, Mariana Fonseca Faria/Cordobes-S e Ana Margarida Gomes/Quattu, com esta última, de apenas 12

anos, a levar a melhor nas classes a contar para o ranking do GHTR. Nota para o número de cavaleiros inscritos nas provas de 1,10m, 1m e Iniciados, ter aumentado significativa-

mente entre a primeira e segunda qualificativas, com as classes sempre muito disputadas pelos mais novos. As sempre emocionantes provas de Dificuldades Progressivas (1,30m), têm tido o nome da EQUITAÇÃO e contado com cerca de 50 conjuntos inscritos. Na Golegã o vencedor foi Hugo Cardoso Tavares com Concorde da Anobra e em Óbidos, Hugo Carvalho com Ciara 2. Presente em ambos os concursos, Francisco Louro, vicepresidente da FEP e que, na qualidade também de seleccionador nacional, tem aproveitado a oportunidade para avaliar os conjuntos nacionais, numa altura em que falta pouco para a escolha da equipa que irá representar Portugal na Taça das Nações do CSIO de Lisboa. "Sem dúvida alguma que este circuito fazia falta, principalmente por serem concursos de categoria A. Uma das dificuldades que antes enfrentávamos, é que, quan-

do chegávamos ao CSIO de Lisboa, tínhamos muito poucos concursos feitos para seleccionar e dar rodagem à equipa. Tenho a certeza que este circuito vem ocupar um espaço que havia. Uma das razões que levou ao apoio da FEP foi o facto dos sete concursos serem ao longo do país, pois julgamos que isto é uma boa maneira de promover o hipismo em Portugal", referiu. Após dois concursos, os cavaleiros têm elogiado a iniciativa e grande parte pretende entrar em todas as provas do circuito. Como curiosidade, nota para o facto de Inês Jervell ter sido a primeira a inscreverse neste tour. A próxima etapa do GHTR está prevista para o Algarve, de 25 a 27 de Abril.n Ana Filipe Reportagem em Equitação TV


INTERNACIONAL

SUNSHINE TOUR TERMINA COM O HINO PORTUGUÊS FRANCISCO JACOME VASQUES, QUE COMPLETOU 16 ANOS NO INÍCIO DE ABRIL, FOI O VENCEDOR DO GRANDE PRÉMIO (GP) FINAL DA CLASSIC TOUR DA XX EDIÇÃO DO CIRCUITO DO SOL, EM VEJER DE LA FRONTERA, ESPANHA. MARINA FRUTUOSO DE MELO GANHOU A FINAL DE 5 ANOS COM EXCLUSIVE.

Francisco Jacome Vasques montou Watch e ganhou o derradeiro Grande Prémio do Sunshine Tour (Classic Tour) o último domingo de provas em Dehesa Montenmedio, "A Portuguesa" fez-se ouvir em honra do jovem de Vila Nova de Famalicão, Francisco Jacome Vasques, que montou Watch e ganhou o derradeiro GP, para o qual se apuraram os 60 melhores conjuntos do circuito na Classic Tour. "A prova do último GP foi muito disputada, o percurso estava muito bem desenhado e montado. Monto o Watch há 5 meses, é um

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cavalo de 11 anos extremamente limpo e com muito boa cabeça, que me tem surpreendido a cada percurso que faço. Para mim esta rota foi excelente, porque os meus dois cavalos, Watch e Candilla Royal, ganharam muita experiência", disse Francisco à EQUITAÇÃO. O cavaleiro, aluno de António e Marina Frutuoso de Melo desde Dezembro de 2013, tem como objectivos "continuar a evoluir para um dia poder ter

uma boa classificação no campeonato nacional e possivelmente num campeonato da Europa". Quanto aos professores, também foram responsáveis por alguns dos melhores resultados lusos em terras espanholas. Só Marina colocou uma montada em cada Final de Cavalos Novos, tendo mesmo ganho a classe de 5 anos, com Exclusive. Em dez provas disputadas o poldro filho de Coltaire Z, deu apenas três toques e conseguiu quatro 1.ºs

lugares. Eternity, montado por António Frutuoso de Melo, fez um derrube e terminou também esta prova no 20.º lugar. Na Final de 6 anos, Marina apurou Call Me Liberty, com o qual limpou a primeira mão e fez um derrube na 2.ª, finalizando na 17.ª posição. Já o marido montou Chassana e conseguiu o 19.º posto, com 4 pontos na 1.ª mão. Venceu a prova Detona, às rédeas de Ferenc Saringer (HUN).


INTERNACIONAL

António Frutuoso de Melo é presença assídua na Rota do Sol Na Final de 7 anos, a vitória coube a Lilly Lordanos, sob a monte do belga Gregory Whatelet. Quanto aos portugueses, Gonçalo Barradas conseguiu o 12.º lugar com Twiggy Ka e o 30.º com Top Lulu. Marina Frutuoso colocou Calubet na 24.ª posição, com 5 pontos. Portugal teve a saltar nas pistas da Rota do Sol cerca de uma dezena de cavaleiros, que levaram um total de 34 montadas para Espanha. Para além dos já referidos, destacamos as melhores prestações dos restantes: João Pedro Gomes (1.º no GP Tour A1 com Zarza Lythia), Nuno Tiago Gomes (3.º na Classic Tour D com Pantaro), Gonçalo Carvalho Martins (3.ª na Classic Tour B e C com Queen du Manoir), Gonçalo Bourbon (3.º na Classic Tour C com Zahara) , Marcelo Sousa (2.º e 3.º na Classic Tour A com Abacaxi) e Salvador Fonseca Ferreira (5.º na Classic Tour A com Timberland Z). Todos eles conseguiram por várias vezes lugares classificáveis ao longo do Sunshine Tour.

No que diz respeito aos Grandes Prémios da Big Tour, as provas maiores do circuito, as vitórias ficaram para os britânicos John Whitaker/Argento no 1.º GP e William Whitaker/ Fandango no 2.º e 5.º GP, para o espanhol Sergio Alvarez Moya/ Zipper no 3.º e ainda para o

belga Olivier Philippaerts/Cabrio Van de Heffink no 4.º. Na prova Ladies, no último dia do circuito, Marina Frutuoso de Melo levou Calubet e ficou na 21.ª posição. Ganhou a competição, pela GrãBretanha, Holly Gillott com Vinny Douglas. O circuito realizou-se entre

18 de Fevereiro e 23 de Março e teve um prize-money de cerca de 800 mil euros. Ao longo das cinco semanas, houve 15 provas pontuáveis para o ranking FEI e entraram em pista cerca de 1500 cavalos e 300 cavaleiros vindos de mais de 40 países. n

Cátia Mogo/Fotos: Moisés Basallote

Marina Frutuoso de Melo, entre outros bons resultados, venceu a final dos Cavalos Novos de 5 anos REVISTA EQUITAÇÃO

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COMPLETO

NORTE-AMERICANA LEVA A HARLEY-DAVIDSON À 5.ª EDIÇÃO DOS HARLEY-DAVIDSON HORSE TRIALS, EM VALE SABROSO JÁ FORAM ENTREGUES QUATRO MOTAS: DUAS PARA AS MÃOS DA BELGA KARIN DONCKERS, OUTRA PARA O AUSTRALIANO CLAYTON FREDERICKS E AGORA SEGUIU MAIS UMA PARA A NORTEAMERICANA LIZ HALLIDAY-SHARP, UMA ESTREANTE NESTE CONCURSO.

Organização entrega mais uma Harley-Davidson o final do concurso a cavaleira mal podia acreditar, "não tenho carta de mota, mas o meu marido tem. É um prémio incrível, sintome honrada por ter sido eu a recebê-lo! Estou chocada por nunca ter cá vindo antes. O evento é fantástico, irei voltar de certeza", garantiu à EQUITAÇÃO a vencedora. Liz Halliday-Sharp, entrou em pista com Fernhill By Night, e saiu com a HarleyDavidson Sportster XR 1200, depois de uma prova bastante renhida. "Foi difícil do início ao fim, estivemos sempre muito próximos, havia aqui muito bons cavaleiros e cavalos. No dia do cross foi um desafio, o tempo estava muito apertado e tínhamos de nos bater para ganhar, assim como nos obstáculos, porque este piso é um pouco traiçoeiro para saltar", contou a cavaleira sedeada no Reino Unido, que finalizou com 43,1 pontos o

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CIC2*. Liz apresentou-se em pista com Fernhill By Night, um cavalo que monta há cerca de ano e meio, com o qual espera chegar aos Jogos Olímpicos de 2016: "É um super-cavalo, é um cavalo muito especial, acredito muito nele porque tem muito talento, como se pôde ver, estamos só a consolidar o conjunto, mas acho que já somos uma equipa. Ele é tudo para mim e provavelmente

Liz Halliday-Sharp foi a vencedora CIC2* merece mais isto do que eu". À espera de uma escorregadela de Liz estava o irlandês Fraser Duffy, com Fernhill Revelation, ele que acompanhou de perto a norte-americana até à última prova, onde um derrube o colocou na 3.ª posição com 48,2pts, atrás da holandesa Elaine Pen e Vira que fez 46,7pts. O jovem cavaleiro britânico David Doel/Chap foi

Elaine Pen (HOL) Vencedora CIC1*

4.º, com 54,5pts e Elaine Pen colocou ainda Undercover na 5.ª posição, com 56,8pts. A mesma cavaleira ganhou o CIC1* na sela de Dostowjeski, com 36,3pts. Frederico Mexia de Almeida e Play de Joker foram os responsáveis pela melhor prestação lusa na prova de 2*, ao terminarem no 8.º lugar, com 59,5pts. Nas duas provas estiveram em pista cerca de 50 conjuntos. Este ano, o concurso internacional serviu de teste para o Campeonato a Europa de Jovens Cavaleiros que a Herdade irá receber em Setembro. A pensar nisso, a organização convidou a equipa técnica do Europeu a estar presente nesta competição. De acordo com Francisco Tudella Jr, da Herdade de Vale Sabroso, "foi um óptimo teste para o Campeonato da Europa, que vai ser muito mais exigente do que esta prova e a Dele-


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Francisco Stilwell com Super de Fôja gada Técnica está muito satisfeita, sai daqui perfeitamente descansada que estamos habilitados a fazer o trabalho. Ainda falta fazer muita coisa, a pista vai ser muito extensa, são praticamente seis quilómetros, e é muito trabalho em piso que nós nunca usámos". Quem não perdeu a oportu-

nidade de competir nesta pista foram os Jovens Cavaleiros portugueses, orientados pela seleccionadora Lizzel Winter. Em pista estiveram Augusto Calça e Pina/Ucrânia, Francisco Stilwell/Super de Fôja e ainda João Bacatelo/Beny Fortunuz, que esperam representar a bandeira

portuguesa em Setembro. Esteve também presente o chefe de pista responsável pelo percurso de cross, Eric Winter, ele que já acompanha estes concursos há vários anos e que também terá a seu cargo o desenho do Europeu. O britânico já está a trabalhar no percurso de campo desde que soube da nomeação da Herdade e aproveitou também para utilizar já alguns dos obstáculos que estão a ser construídos para o Campeonato. "Quando nos formos embora já vamos ter um novo troço de pista para fazer a distância que falta, que temos de começar a preparar em Maio, quando o tempo melhorar e o piso estiver seco. Vou deixar-lhes o percurso e a lista de obstáculos que vão ser construídos, com ideias giras e diferentes. É sempre divertido construir para estes grandes campeonatos!", explicou Eric, cujo grupo de trabalho ainda

vai ter de preparar cerca de 1,5km de pista extra, para alcançar a distância mínima do Campeonato. Da parte da organização, Francisco Tudella Jr afirma que o Campeonato da Europa de Jovens Cavaleiros vai ser "um grande acontecimento" e promete dar a conhecer aos concorrentes estrangeiros um pouco de Portugal, num evento que terá "muitas surpresas". Está garantida uma tenda VIP para os patrocinadores, entre os quais a Haley-Davidson, e ainda um concerto intimista da fadista Mariza. Em paralelo com o Europeu, que decorre de 18 a 21 de Setembro, irão realizar-se também um CIC1* e um Preliminar. n

Cátia Mogo

Reportagem em Equitação TV

SaPato dE CamPIno dISPoníVEL Em VárIaS CorES

Expoégua De 22 a 25 de Maio na Golegã XXVI Festival Internacional do Cavalo Puro Sangue Lusitano De 19 a 22 de Junho VII Feira do Cavalo de Ponte de Lima De 26 a 29 de Junho


Reportagem em Equitação TV

COMENTÁRIO

PROVAS INTERNACIONAIS NA BARROCA D`ALVA José Miguel Cabedo

A HERDADE DA BARROCA D`ALVA É UM ESPAÇO DE ELEIÇÃO PARA A PRÁTICA DO DESPORTO EQUESTRE, NOMEADAMENTE PROVAS DE CAMPO – O CONCURSO COMPLETO DE EQUITAÇÃO.

Gostámos de ver Elaine Pen da Holanda no CIC 3* que venceu e bem Foto: Aurélio Grilo

cerca de 30 Km de Lisboa, tem um micro clima especial que permite a realização de provas com um tempo excepcional. Depois de ter chovido, bastante até, o piso ficou extraordinário e foi elogiado por todos os concorrentes. É evidente que também já se realizaram provas com chuva torrencial mas desta vez isso não se passou. Claro que para todos é mais agradável que o tempo esteja bom, seja para os concorrentes, seja para quem trabalha na montagem dos percursos, seja até para todos aqueles quem ali se deslocam para assistir às provas. Neste segundo fim-de-semana 6 a 9 de Mar. a moldura humana esteve bem melhor e é agradável ver pessoas interessadas neste

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tipo de provas, desfrutando de uns dias maravilhosos. Além disso havia uma casa de madeira que servia almoços “camperos” e houve até que ali fizesse um enorme piquenique. No espaço, junto aos escritórios, esteve montada uma

tenda grande para descanso, para conversas, para tomar umas bebidas e para comer o que se quisesse – bifanas, pregos, hambúrgueres e uns óptimos cachorros, tudo na roulotte do Marco. Ambiente agradável onde muita gente se juntou no

Merel Blom, destacou-se em todas as provas em que entrou Foto: Aurélio Grilo

final das provas, aguardando a chegada dos resultados. No período de 6 a 9 de Mar. disputaram-se as provas Preliminar, CCI 1*, CCI 2* e CIC 3*. Muitos dos concorrentes vêm à Barroca desde que se começaram a realizar este tipo de provas. Entre eles alguns vêm para “aquecer” as suas montadas já que, sendo uma das primeiras provas da época, e tendo percursos em terreno sem grandes esforços, preparam-se então para os grandes eventos. Vemos depois muitos deles participarem nos Campeonatos do Mundo, nos Jogos Olímpicos, em Badminton, em Burghley e outros. Sobre as provas não se pode deixar de falar na sua concretização. Uma vez mais a família Lupi leva a cabo, com grande espírito de organização, com elevado espírito desportivo, e com uma dinâmica que se sente por todos os lados, um evento que agrada a todos. E isso sente-se quando há concorrentes que vêm de longe, caso da Eliska Opravilova da República Checa que está com os seus cavalos na Áustria, e que veio a conduzir o transporte das montadas, desde lá. Com muita graça dizia que a sua ajudante lhe dava uns sopapos na cara para ela não adormecer durante a viagem. Da Holanda, Bélgica, França, Itália, Irlanda, vêm concorrentes nossos conhecidos. Mas este ano, da Espanha veio a maior delegação de sempre: quarenta entradas em pista. Os concorrentes portugueses


COMENTÁRIO

não se destacaram neste evento. No entanto participaram com grande desportivismo e vontade de cumprir mas… há sempre um mas, apareceram toques, provas de ensino menos boas e às vezes excesso de tempo. Das provas podemos dizer que, se não fosse o concorrente irlandês Fraser Duffy que venceu o CCI 2*, todas as outras tiveram como vencedores concorrentes femininas. Já no evento anterior, 27 de Fev. a 2 de Mar., aconteceu o mesmo: Merel Blom da Holanda venceu duas provas e a americana Elizabeth Halliday o CIC 2*. Os melhores portugueses no evento de 6 a 9 de Mar. foram: no CIC 3* Francisco Seabra com Zarthago em 8.º lugar; no CCI 2* Frederico Mexia de Almeida com Play the Joker em 5.º lugar, e na Preliminar Miguel Catela com Dali d`Equigenne em 4.º lugar. Os cinco primeiros classificados de cada prova foram os seguintes: PRELIMINAR 1.º Jori Gildersleeve/Ura33,9pts; 2.º Merel Blom/Chiccolinno -36,3pts; 3.º Umberto Riva/Phoenix d`Amigny-38,7 pts; 4.º Miguel Catela/Dali d`Equigenne-39,5pts; 5.º Merel Blom/She`s a Rebel-43,5pts. CCI 1* 1.º Karin Donckers/Lamicel Charizard-41,1pts; 2.º Florinoor Hoogland/Captain Henessy44,3pts; 3.º Jan van Beek/Vamp du Monselet-45,6pts; 4.º Karin Donckers/Gini ten Hunsel-46,0

Anthony Lupi Hart Foto: Aurélio Grilo

pts; Rodolphe Schrerer/Tzar of Her Dreams-47,2pts CCI 2* 1.º Fraser Duffy/Fernhill Revelation- 48,1pts ; 2.º Gonzalo Blasco Botin/Al Pan Pan48,7pts; 3.º Victoria Scott/Song du Magay- 51,6pts; 4.º Karin Donckers/Calloa Van Het Kloosterhof Z-54,4pts; 5.º Frederico Mexia de Almeida/Play the Joker- 56,0pts CIC 3* 1.º Elain Pen/Dostowjesky54,2pts; 2.º Merel Blom/Rumour Has It-59,6pts; 3.º Joris Vanspringel/Lully des Aulnes62,4pts; 4.º Rodolphe Schrerer/Makara de Montiege70,9pts; 5.º Karin Donckers/ Gandioz- 71,1pts Como se pode ver a cavaleira holandesa Merel Blom, destacou-se em todas as provas em

que entrou e com boas classificações. Gostámos de ver Elaine Pen da Holanda no CIC 3* que venceu e bem. Anthony Lupi Hart é sempre uma figura que se destaca pelo seu desembaraço e presença em pista. Madalena Viegas de Almeida fez uma prova notável montando Napalm de Foja, cavalo com 20 anos, que se apresenta numa forma física extraordinária. Terminadas as provas temos a obrigação de agradecer e reconhecer todo o trabalho feito pela família Lupi ao levar a cabo, com êxito, um evento tão complexo como este; e foram dois seguidos! E tudo funcionou: inscrições, listas de entrada, alojamentos, convites a entidades, juízes e demais oficiais, refeições, fer-

rador, ambulâncias, tudo a cargo de Maria da Graça Lupi Hart. A construção dos obstáculos de campo com tudo o que isso envolve: pessoal, ferramentas, viaturas, distâncias, pinturas, estacas e cordas a delimitar as pistas, etc, a cargo de Nicholas Hart, que se desembaraçou como sempre, e a contento de todos. José Ricardo Lupi nas suas funções de impor a autoridade, sempre necessária, diga-se. No gabinete de dados Teresa Marta Lupi Caldeira que sabe rodear-se de competentes colaboradoras desenvolve uma actividade fundamental no desenrolar das provas e contribui para o bom êxito de que se têm revestido. Teve uma recente aquisição – a Assunção Ravara que é rigorosíssima nos trabalhos que assume no gabinete de dados. Os juízes nos obstáculos, sempre com grande vontade de cumprir, portaram-se à altura e são de grande importância num evento desta categoria. Na parte dos almoços, jantares e pequenos-almoços, na missão difícil de a todos agradar, esteve uma equipa chefiada pela incansável Júlia. E, como já é hábito, foi de uma eficiência extraordinária, pois além dos concorrentes ao evento tivemos, em sobreposição, todo o pessoal de filmagens de um concurso que em breve chegará aos ecrãs da TV. Parabéns a todos. n

Fraser Duffy venceu o CCI 2*

Madalena Viegas de Almeida

Miguel Catela

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COMPLETO Reportagem em Equitação TV

MEXIA DE ALMEIDA CONQUISTA O OURO O CAMPEONATO NACIONAL SÉNIOR DE CCE TEVE LUGAR NO PRIMEIRO FIM-DE-SEMANA DE PROVAS NA BARROCA E CONSAGROU FREDERICO MEXIA DE ALMEIDA COM PLAY THE JOKER.

Frederico Mexia de Almeida Foto: Aurélio Grilo

dias de partir para a Dinamarca, onde está agora a viver, Frederico Mexia de Almeida esteve na Barroca d'Alva a disputar o título máximo na disciplina de Concurso Completo. Focado no objectivo de trazer para casa a medalha de ouro, o cavaleiro apostou em melhorar a prestação no ensino, tendo treinado com Paulo Santos: "sabia que a minha directa concorrência, neste caso, era o Francisco e eu podia ficar à frente no ensino, porque normalmente ele salta bem e galopa no cross, por isso, se eu não tivesse essa margem no ensino, estava em 2.º à partida", afirmou o Campeão, que terminou a competição com 58,1pts, tendo liderado desde o ensino. Na primeira prova fez o único resultado abaixo de 50 (49,7pts), fez ainda

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4,4pts por excesso de tempo no cross e mais 4 por um derrube nos saltos. Montou Play the Joker, de 16 anos, com o qual está desde Novembro, que descreve como "um galopador nato, um cavalo com muito sangue irlandês, que galopa e salta bem". Tal como Frederico previa, no encalço seguiu sempre FranFrancisco Seabra

cisco Seabra, em Belmonte do Cahim, de 8 anos. O conjunto fez 52,2pts no ensino, 2,8 no cross e ainda 4 por um derrube nos saltos, o que totalizou 59pts e a medalha de prata no Campeonato, a menos de um ponto do campeão. "Toda a prova foi muito competitiva e o Frederico montou muito bem, fiquei muito

contente por ele. Ganhei-lhe terreno na prova de cross e dei um toque nos saltos, que ele também deu - eu gostava que ele tivesse dado dois - mas não deu e não chegou para ganhar, ficámos muito juntos", disse à EQUITAÇÃO o Vice-Campeão. O 3.º posto foi ocupado por Francisco Stilwell, que montou Super de Fôja, de 15 anos. Em preparação para o Campeonato da Europa de Setembro, em Vale Sabroso, o Jovem Cavaleiro, decidiu participar no nacional, conseguindo mesmo um lugar no pódio dos séniores, com um total de 71,2pts (57,2 na dressage, 10 no cross e 4 nos saltos). Na opinião do cavaleiro, "o ensino correu bem, dentro dos possíveis, porque é uma prova que não estou habituado a fazer, no cross fui com calma, com tempo, nos saltos fiz um derrube e passei à frente de outro cavaleiro, que deu dois toques". Neste Campeonato, que foi integrado num CIC2*, entraram ainda Miguel Catela/Ultimato de Fiúza (4.º), Manuel Grave/Bocage (RET) e Francisco Medeiros/Zuidor(El.).

Francisco Stilwell

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DRESSAGE

Raquel Falcão/Real

TAÇA DE PORTUGAL 1.ª JORNADA EM LISBOA EM 2014 A TAÇA DE PORTUGAL DE DRESSAGE VAI SER COMPOSTA POR QUATRO JORNADAS, ATÉ CONHECER A FINAL EM DEZEMBRO. A PRIMEIRA DECORREU NA SOCIEDADE HÍPICA PORTUGUESA (SHP), EM LISBOA NO FINAL DO MÊS DE MARÇO. competição contou com cerca de 45 conjuntos. Na Intermediária II, nível mais elevado disputado nesta jornada, participaram cinco cavaleiros. Nos dois dias levou a melhor Raquel Falcão e Real, binómio vencedor na Big Tour da Taça em 2013, com médias superiores a 69%. Em ambas os dias de prova, foi 2.ª classificada Luciana Inácio com Watami, com Filipa Carneiro e Treinado em 3.º. Na S. Jorge, Duarte Nogueira levou o cavalo de Alter Beirão, ao 1.º posto. No sábado ocuparam o 2.º lugar ex-aequo Luis Lupi/Zamorim e Nuno Vi-

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cente/Xarlot. No domingo foi a vez de José Carlos Gonçalves/Waesteiner ser 2.º e Luís Lupi 3.º, desta vez com Caravaggio. Foi o nível Complementar o escalão que maior adesão registou com 13 binómios. Em ambos os dias a supremacia foi de Nuno Chaves de Almeida com Fidélio Plus. Na 1 ocupou o 2.º posto Leonor Ramalho/ Fred Astaire, com Miguel Ralão Duarte/Distúrbio em 3.º. No dia seguinte, na Completementar 2, Ralão trocou de lugar com Leonor Ramalho. Os cavalos da Dressage Plus estiveram em destaque em vá-

rios níveis. Em cavalos novos de 4 anos, também montados por Nuno Chaves de Almeida, foi 1.º e 2.º, Fox Plus e Forlady Plus. Ocupou o 3.º lugar Fogo, às rédeas de Tiago Albergaria. Na Elementar foi Sandro Plus o vitorioso, num dia atarefado para Nuno Chaves de Almeida, mas que saiu de Lisboa com a mala cheia de rosetas. Nas duas provas da jornada ficou em 2.º João Castelão/Equador CC e em 3.º Leonor Ramalho/Extravagante do Pilar. Na Média 1 Ricardo Assunção Reis/Duque do Pinheiro ficaram em 1.º com Gonçalo Diabinho/Devoto em 2.º, po-

sições que se inverteram na Média 2 de Domingo. João Castelão e Diu CC foram das duas vezes 3.º classificados. A 2.ª jornada da Taça de Portugal está marcada para Azeitão (24 e 25 de Maio), com a 3.ª em Ponte de Lima, durante a Feira do Cavalo (27 a 29 de Junho), seguindo-se Alfeizerão, nas instalações do CEIA (6 e 7 de Setembro). Como tem sido hábito nos últimos anos, a Final da Taça de Portugal decorrerá no Centro Hípico da Quinta da Beloura, em Sintra (12 a 14 de Dezembro). n

Ana Filipe/Foto: Aurélio Grilo


DRESSAGE

ÉPOCA DESPORTIVA DE DRESSAGE

ARRANCA NA ACADEMIA A TEMPORADA NACIONAL 2014 DE DRESSAGE, COMEÇOU NOS DIAS 22 E 23 DE FEVEREIRO EM ARRUDA DOS VINHOS, COM UM CDN E POULE ORGANIZADOS PELA DRESSAGE FIRST. a prova maior do CDN, o GP, no sábado ganhou Filipe Canelas Pinto/Der Clou, com uma nota de 67,433%, seguidos de Manuel Borba Veiga/Ben-Hur da Brôa (66,167%) e Filipa Carneiro/Treinado (64,267%). No dia seguinte, já sem a presença de Filipe, Manuel Veiga ascendeu à liderança com 65,233%. Raquel Falcão/Real - 4.º classificados no sábado - ocuparam o 2.º lugar (64,433%), com Filipa Carneiro a repetir o 3.º posto (63,967%).

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Em ambas as jornadas, ganhou no nível Preliminar Tiago Albergaria/Fogo, na Média Gonçalo Diabinho/Devoto, na S. Jorge Filipa Carneiro/Ulisses XIV, com Nuno Chaves de Almeida melhor na Elementar com Sandro Plus e com Fidélio Plus na Complementar. Em Juniores venceu Miguel Castelo/ Weserprinz, com Inês Valença Câncio/Xeque-Mato, como única concorrente na classe de Jovens Cavaleiros. Um total de 17 conjuntos optou por entrar na poule. AF/Foto: Alda Santiago n

Filipa Carneiro


DRESSAGE

Maria Caetano Couceiro/Coroado

BARCELONA DRESSAGE TOUR PORTUGUESES MOSTRAM VALOR O BARCELONA DRESSAGE TOUR DECORREU DURANTE DUAS SEMANAS, COM CDI3* (18 A 23 DE MARÇO) E CDI4* (25 A 30 DE MARÇO), AO LONGO DOS QUAIS OS CAVALEIROS LUSOS FORAM APRESENTANDO BONS RESULTADOS. stiveram em Espanha, Maria Caetano Couceiro, Daniel Pinto, Carlos Pinto, Manuel Veiga e Maria Paes do Amaral, com excepção desta última, todos com cavalos lusitanos. A raça nacional esteve aliás em evidência neste concurso, com diversos concorrentes espanhóis e franceses a competirem com PSL. Coroado, é um filho do Alter Real Rubi, propriedade da Coudelaria Espanhola Finca Tineo, de Juan Cordeiro, criador que o confiou a Maria Caetano Couceiro há cerca de um ano. Em Barcelona entraram no CDN2* e logo nos

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Maria Caetano Couceiro com Xiripiti (Foto Rui Godinho cedida por PCI)


DRESSAGE

Batuta, com o espanhol José A. García Mena (70,457%), conjunto que viria a ganhar no dia seguinte o Grande Prémio Especial, então com 71,235%, numa classe em que Maria e Xiripiti ocuparam o lugar do bronze com 70,059%. Nesta prova, Daniel e Xelim foram 14.º com 64,725%. Ao Grande Prémio Freestyle, Maria levou Zíngaro De Lyw, onde 67,268% lhe valeram o 11.º posto, com Manuel Veiga em Ben-Hur da Brôa em 15.º com 64,75%. A nota mais elevada foram os 73,232% de Jessica Michel (FRA) vitoriosa com Riwera. Para o CDI4* chegaram nomes como Ed-

ward Gal (HOL), Hans Peter Minderhoud (HOL) ou Carl Hester (GBR) e o que se viu em pista, confirmou as previsões de grandes reprises, logo no Grande Prémio, onde entraram meia centena de conjuntos. A prova foi ganha por Gal com Interfloor Next One e 76,057%, bem afastados dos 2.º e 3.º classificados, embora todos com notas superiores a 70%. Carl Hester/Dances With Wolves foi 2.º (71,514%) e Beatriz Ferrer-Salat/Sir Radjah 3.º (70,843%). Por Portugal, Maria Caetano Couceiro e Xiripiti ocuparam o 12º lugar (67,557%), seguidos de Carlos Pinto e Soberano II (67,443%). Maria Paes do Ama-

Edward Gal/Interfloor Next One primeiros dias ficaram em 2.º lugar com 68,341% e 69,902%. Na segunda semana, na clássica 1, o conjunto foi 3.º com 69,707%, e na clássica 2, 4.º com 69,657%. Resultados que, para Paulo Caetano, pai e treinador da cavaleira, são "muito recompensadores". No Grande Prémio do CDI3* competiram pela bandeira das quinas Maria, Daniel Pinto e Manuel Veiga. A cavaleira foi 5.ª classificada às rédeas de Xiripiti, avaliada em 68,586%, e 22.ª com Zíngaro De Lyw, com 65,957%, imediatamente seguida na tabela classificativa por Manuel Veiga e Ben-Hur da Brôa com 65,871%. A fechar o top 25, Daniel Pinto e Xelim com 64,886%, entre mais de 40 conjuntos. A prova foi ganha por Spencer Wilton (GBR) com Super Nova II (70,729%). Também com uma nota superior a 70%, o 2.º classificado, o lusitano, criação da Herdade das Figueiras,

Spencer Winton/Super Nova II

Escola Profissional de Desenvolvimento Rural de Alter do Chão


DRESSAGE

José Antonio Garcia Mena com o PSL Batuta

Beatriz Ferrer-Salat montando Sir Radjah

ral/Trancos foram 21.º (66,343%), Manuel Veiga/ Ben-Hur da Brôa 26.º (65,686%), Maria Caetano Couceiro/Zíngaro De Lyw 31.º (64,971%) e Daniel Pinto/Xelim 39.º (62,529%). Graças ao resultado no Grande Prémio, por estar a montar um cavalo de Pura Raça Espanhola, Maria Paes do Amaral foi a vencedora neste nível da Copa ANCCE com Trancos, ela que também entrou com Wonderman 3. Na S. Jorge fez 67,342% (12.º), subindo bastante a média na Intermediária 1 Freestyle, para 28

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69,95%, que lhe assegurou o 4.º posto. No Grande Prémio Freestyle, mais uma vitória para Edward Gal e Interfloor Next One, desta vez com 79,321%. Em 2.º o compatriota Hans Pet Minderhoud em Glock's Tango (74,339%) e em 3.º lugar, a espanhola Carmen Naesgaard RP com Ricardo (73,839%). Uma média final de 68,518% valeu a Maria Caetano Couceiro e Xiripiti o 9.º lugar, com Maria Paes do Amaral e Trancos em 12.º com 67,643% e Manuel

Veiga no Ben-Hur da Brôa em 14.º avaliados com 65,768%. Carlos Pinto optou por entrar com Soberano II no Grande Prémio Especial, finalizando em 8.º com uma nota de 65,994%, em prova ganha pelo britânico Spencer Wilton/Super Nova II (70,938%). Em 2.º Carl Hester/ Dances with Wolves (70,784%) e em 3.º Beatriz Ferrer-Salat/Sir Radjah (68,445%).

Carl Hester/Dances With Wolves

Houve ainda provas de CDIJ, CDIY, CDIYh, CDICh, CDIP. Participaram no Barcelona Dressage Tour, mais de 200 conjuntos com cavaleiros de 17 nações e a presença de 12 juízes internacionais de nível 5*, no CDI4*com o mesmo painel que estará nos Jogos Equestres Mundiais da Normandia, este Verão. n

Ana Filipe/Fotos: Top Iberian



NA OPINIÃO DE...

A PARTIR DESTE NÚMERO, A EQUITAÇÃO TEM UMA NOVA RUBRICA ONDE CONVIDA UMA PERSONALIDADE DO PANORAMA EQUESTRE A ABORDAR TEMAS NA ORDEM DO DIA. INAUGURAMOS ESTA SECÇÃO “NA OPINIÃO DE...” COM O CRIADOR PEDRO FERRAZ DA COSTA.

O QUE MUDOU COM A ACTUAL CRISE

NA CRIAÇÃO DO CAVALO PSL uma constante do comportamento humano levar as coisas longe demais. Tem sido assim ao longo dos séculos. Os que estudam as finanças dos Estados demonstram que nos últimos 800 anos, desde que há registos contínuos, que a períodos de forte expansão se seguiram sempre crises e bancarrotas. Dizse sempre que desta vez é diferente. Mas não é. A ambição humana acredita que vale sempre a pena aproveitar o crescimento, ultrapassando o razoável e o possível. Exemplo disso há muitos séculos, a Holanda faliu quando todos acreditaram que venderiam as tulipas cada vez mais caras. De alguma forma os criadores de cavalos lusitanos também acharam que os venderiam cada vez mais caros, fosse qual fosse a quantidade ou a qualidade. Passou-se da selecção para a multiplicação quase indiscriminada. Qualquer égua podia ser uma reprodutora e nem nos machos se aceitava a necessidade de seleccionar rigorosamente. Entraram muitas pessoas nesta actividade – prestigiada e aparentemente fácil – e nos últimos anos temos assistido ao desaparecimento de muitas coudelarias. Alguns diziam que o mercado iria seleccionando os melhores e que a APSL não se devia imiscuir em nada que cerceasse a liberdade de levar o disparate até… um grande estoiro. Mas não há mercado sem infor-

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mação de preços. Nos cavalos não tem havido mercado. O que o mercado não fez nos últimos 10 ou 15 anos fêlo a crise actual, que tem várias componentes. A primeira é o número muito elevado de animais de qualidade

insuficiente produzidos nos últimos anos; algo que não se vê nos festivais onde só vão os melhores, mas que é muito evidente para quem ande pelo País, de norte a sul. A segunda advém do facto de a esmagadora maioria dos

lusitanos vendidos como cavalos de sela terem sido a primeira compra desses clientes e ser agora necessário esperar até que precisem de mudar de cavalo. O que é mais longo do que nos automóveis. Sem querer ser muito pessimista, essa renovação do “parque cavalar” sentir-se-á depois de 2020. A terceira vem da crise europeia e das dificuldades em entrar nos mercados emergentes que usam regras sanitárias inspiradas nas americanas. Mesmo criadores que exportavam quase todos os seus cavalos tiveram de 2009 a 2013 muito menos potenciais compradores. E a recuperação vai ser lenta. A tributação em IVA nos países do norte da Europa de todos os custos associados à manutenção de um cavalo fez com que quem tinha três já não trocasse o primeiro ficando só com dois, com efeitos brutais nas vendas. Continua, no entanto, a haver muitos interessados nos nossos cavalos e cavalos com dimensão aceitável, bonitos, com bons andamentos e, sobretudo, bem ensinados vendem-se a preços compensadores. Para os médios, e pior ainda para os fracos, o mercado desapareceu. Até os ciganos levam hoje atrás das carroças cavalos com muito melhor aspecto do que há quatro ou cinco anos. Portanto, a crise seleccionou violentamente e confio que a maioria dos criadores acabou por se desfazer das piores progenitoras, reduzindo o número


NA OPINIÃO DE...

de nascimentos, utilizando, através de inseminação artificial, garanhões reconhecidos e subindo muito a qualidade média. Foi doloroso mas será positivo pois estávamos a exportar muitos animais que não prestigiavam a raça. Temos, aliás, exemplo próximo de como o excesso de produção piora a imagem e prejudica a aproximação que se vinha fazendo dos preços dos nossos cavalos aos preços do norte da Europa. Se é indiscutível que os criadores tiveram que suportar uma baixa importante dos seus preços médios de venda, sou da opinião que essa baixa ainda não se repercutiu nos diversos serviços a que a criação recorre. Refiro-me aos custos veterinários e de ferração, mas também aos custos dos serviços oficiais. Muitos cavalos terão sido vendidos que não cobriram nem sequer os custos dos resenhos, livros azuis, inscrições no livro de nascimentos e no livro de adultos, licenças de exportação, desparasitações, ferrações, etc. O facto de aumentar a proporção dos cavalos que são vendidos montados, tornou o papel dos cavaleiros/treinadores muito mais importante. E acho que a APSL no geral e os criadores em particular, ganhariam em criar um forum de discussão em que a opinião dos que estão mais perto do mercado, influenciasse as decisões da criação. É o que acontece, por exemplo, na Holanda onde os comerciantes constituem uma profissão reconhecida e ouvida, ou na Alemanha onde são muitas vezes os leiloeiros que fazem a selecção do que vai a leilão desde os poldros de ano até aos cavalos montados, tendo os leilões uma expressão muito grande no total da comercialização.

do País vai ter que fazer, não há que restruturar o sentido da actividade mas tão somente melhorar a sua eficácia. Já exportamos uma parte muito grande da produção e isso até deverá aumentar. Uma produção cavalar virada para o mercado externo não poderá contar vender no seu país de origem, tão pequeno, mais do que cinco a 10% da sua produção. Temos é que nos organizar para que a produção seja mais sustentável economicamente e crescer a partir daí. Há muito mercado.

É preciso é produzir um produto diferenciado e que, na utilização, corresponda aos desejos dos clientes. E em conjunto saberemos fazer isso. Quanto à saída da Troika, no que diz respeito à evolução da economia portuguesa, existe sempre, infelizmente, a possibilidade de regressar aos desvarios das duas últimas décadas, mas o peso da dívida é tal e o desemprego tão elevado, que é de esperar que as actividades produtivas viradas para exportação deixem de ser despreza-

das, como foram no passado, e que os seus agentes sejam ouvidos com mais atenção pelos governantes. Não é no entanto de esperar que haja qualquer espaço para uma retoma do consumo interno. E isto durante muitos anos. Para dar uma ideia de quantos, chegará dizer que a Comissão Europeia acompanhará a situação financeira portuguesa, no que diz respeito ao pagamento da dívida, até 2037. Portanto, poucas ilusões e muitas realizações. n

Pedro Ferraz da Costa

O QUE SE ESPERA TROIKA Numa actividade que já está tão virada para o exterior, ou seja, que já fez o que o resto COM A SAÍDA DA

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REPORTAGEM

CARDIGA PARADRESSAGE TEAM EQUIPA MARAVILHA CONSTANÇA CLARO, PEDRO FÉLIX, RITA OLIVEIRA, ANA ISABEL MOTA VEIGA E SARA DUARTE SÃO OS CINCO ELEMENTOS DA CARDIGA PARADRESSAGE TEAM E VÃO REPRESENTAR A ACADEMIA EQUESTRE JOÃO CARDIGA (AEJC) A PARTIR DESTE ANO. lema "Equitação para todos" já é antigo e agora tornou-se ainda mais palpável na Academia, com a oficialização de uma equipa de atletas de Paradressage que irão competir a nível nacional e internacional. A apresentação da "Cardiga Paradressage Team" decorreu no início de Março, nas instalações do Centro Hípico, e, nas palavras de M.ª de Lurdes Cardiga, Presidente da Direcção da AEJC, tratou-se de um dia simbólico: "É apenas um evento que vale o que vale. É a partir de hoje que assumimos este desafio em que temos de ter o dobro da coragem, do que temos tido até aqui. É o concretizar de um sonho de termos uma ver-

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dadeira equipa e não apenas uma atleta, de promovermos efectivamente a Paradressage e aquilo que em que acreditamos: a Equitação para todos". À cavaleira paraolímpica Sara Duarte juntam-se assim quatro atletas, entre os 15 e os 39 anos, que preenchem praticamente todos os graus da Paradressage: Rita Oliveira e Ana Mota Veiga competem no grau IA, a própria Sara Duarte está no grau IB, Pedro Félix irá entrar em provas de grau III e Constança Claro vai competir no grau IV. Dos cinco cavaleiros, quatro são portadores de paralisia cerebral e uma sofre de neuropatia numa das mãos, devido a acidente. De referir ainda

que Rita Oliveira, que se desloca em cadeira de rodas, conta com uma sela especialmente adaptada para si, com apoios para as costas, pernas e mãos, que lhe permite montar com mais segurança e conforto. De acordo com Lurdes Cardiga, esta oficialização da equipa é o resultado de um trabalho de longa data. "A sementeira que foi feita através da Sara e a aposta naquele magnífico Lipizzano, o Neapolitano Morella, durante 14 anos, foi a origem do que acontece hoje. Foi sempre nossa convicção que - apesar de ser uma cavaleira que era muitas vezes a única em pista - era uma esperança, uma bandeira para que outros viessem atrás. Foi pre-

ciso alguns anos para que isso acontecesse, mas a verdade é que aconteceu. Graças à aposta, ao desafio, ao empenho e à coerência deste trabalho, é que chegamos a este ponto", explica. Esta foi também a oportunidade para conhecer as montadas dos cavaleiros no picadeiro principal da Academia, entre as quais Damasco I, da Coudelaria Oliveira Santos, que surgiu pela primeira vez em público às rédeas de Sara Duarte. Recorde-se que Neapolitano Morella, antigo companheiro da cavaleira paralímpica, deixou-nos recentemente, pelo que para Sara poder continuar a perseguir o sonho de estar presente nos Jogos Equestres


REPORTAGEM

Mundiais e nas Olimpíadas do Rio de Janeiro em 2016 foi preciso encontrar-lhe uma nova montada, apresentada oficialmente nesta ocasião. Damasco I, de seis anos, foi cedido pelo criador Vasco Oliveira Santos, e é o novo parceiro e esperança da cavaleira para o futuro. Tal como Sara, quem também partilha os desejos de ir aos grandes palcos das competições equestres é a experiente Ana Isabel Mota Veiga, com Vento da Devesa, que em 2014 se juntou à Academia. Lurdes Cardiga aposta forte nestes dois binómios: "Com a Sara e com a Ana queremos fazer dois ou três internacionais, entre os quais o Campeonato do Mundo. Com os restantes pretendemos uma equipa que vá crescendo devagar, com calma, portanto que façam as provas a nível nacional, que vão aparecendo, que se vão co-

SaraDuarte/Damasco

nhecendo a si próprios e percebam se é este mesmo o desafio que querem. Enfim, dar-lhes esse tempo, respeitar esse ritmo, para que possam crescer como atletas e chegar a 2016 já de outra forma". Da parte da AEJC fica ainda o apelo aos cavaleiros que tenham montadas que já não constituam um desafio para a sua carreira, que os cedam a esta causa, permitindo aos atletas da paradressage competir em cavalos com mais possibilidades do que os actuais, que são maioritariamente cavalos de escola ou animais com alguma idade. O evento teve casa cheia e contou com a presença de diversas entidades locais, bem como os directores de Marketing da Allianz e dos Jogos Santa Casa, que apoiam este projecto como patrocinadores. n

Cáia Mogo


ATRELAGEM

NA PRIMEIRA MÃO DO DUELO ENTRE PAÍSES VIZINHOS, PORTUGAL SAI A PERDER, COM UMA CONTRA DUAS VITÓRIAS NAS PROVAS QUE DECORRERAM NA COMPANHIA DAS LEZÍRIAS. ugo Frias, na classe de Parelhas, foi o luso que se destacou, ao conquistar a vitória (com 180,47pts) frente ao espanhol José Gayan Pacheco (com 183,55pts). Já nas restantes classes foram "nuestros hermanos" que ficaram à frente, ainda que sempre

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TAÇA IBÉRICA ATRELAGEM AGITA LEZÍRIAS Francisco Ballester

Hugo Frias

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ATRELAGEM

José Barranco Reyes

Ana Cristina Guerreiro

Manuel Campilho

com os condutores portugueses no encalço. Em Singulares, Francisco Ballester fez o melhor resultado, com 118,18pts, seguido do compatriota Joaquín Rodriguez, que totalizou 119,06pts. Por Portugal, José Freixa fez 121,22 e Jorge Baixo 121,45, ocupando respectivamente a 3.ª e 4.ª posição. Em 4 cavalos José Barranco Reyes finalizou as três fases com 193,21pts, com Ana Cris-

tina Guerreiro em 2.º (210,88pts) e Manuel Campilho em 3.º (312,92pts). A 1.ª etapa da Taça Ibérica de Atrelagem realizou-se em Portugal entre 21 e 23 de Março, na presença de concorrentes espanhóis, portugueses e ainda um belga. A classificação final só será conhecida após a disputa da 2.ª mão, em Dehesa Montenmedio (Espanha) de 4 a 6 de Abril. n

Cátia Mogo/Fotos: Toninha Melo Breyner

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BREVES ANTÓNIO MOURA PRESIDE À DIRECÇÃO DA ASSOCIAÇÃO EQUESTRE DO ALGARVE António Moura, responsável pelo Vilamoura Equestrian Centre e organizador de concursos como as rotas Vilamoura Atlantic Tour e Vilamoura Champions Tour, assumiu no início do mês de Março a Direcção da Associação Equestre do Algarve, sucedendo a Marcelo Calixto. À EQUITAÇÃO, António Moura explicou o que o levou a aceitar este

cargo: "o ter aceitado o convite de tomar em mãos a Associação Equestre do Algarve, deveu-se ao facto de hoje ter chegado a um patamar em que a minha experiência me permite realmente ajudar esta região. Foi aqui que comecei em 1998, portanto tenho toda a obrigação de ajudar esta região, que tem muito potencial e que está desprezado. Com certeza que as instalações do Vilamoura Equestrian Centre vão ficar ao dispor da comunidade equestre do Algarve, porque seria um 'crime' não o fazer e este local estar fechado, portanto, vamos organizar competições regionais aqui e tentar fazer o melhor pelo Algarve". Acompanham António Moura na Direcção como Vice-Presidentes, Fernando Caetano, Fernando Santos, Peter Mattews, Teresa Correia, Luís Pereira e Adelino Rosário.

IRMÃOS PINTO DESTAQUE EM VIDAUBAN Carlos e Daniel Pinto estiveram de 26 de Fevereiro a 9 de Março a competir no Vidauban Dressage Festival, em provas de CDI3*, com ambos a fazer soar o Hino Nacional. Ao comando do PSL Soberano, Carlos foi 3.º no primeiro Grande Prémio (GP), avaliado em 65,940%, dia em que Daniel e Xelim fizeram 62,500% (15.º). Carlos entrou no Grande Prémio Especial (GPE), na jornada seguinte, tendo feito 66,353% que lhe valeu o 6.º posto. Na segunda semana, uma vez mais em GP, 66,460% colocaram Soberano em 5.º, com Daniel e Xelim em 16.º (62,760%). O dia 8 de Março foi quando o melhor resultado surgiu: 69,314% e a vitória de Carlos e Soberano no GPE. Daniel ocupou a 11.º posição com Xelim (64,059%). Ambos os cavaleiros estiveram a competir com dois animais. Na primeira semana, com Samira, Carlos Pinto foi 6.º na S. Jorge (65,763%) e 8.º na Intermediária I (64,395%). Na segunda, o conjunto foi 3.º na S. Jorge (67,816%) e 5.º na Intermediária I (65,579%). Já Daniel Pinto/Santurion de Massa, que na primeira semana havia sido 2.º classificado na Intermediária A com 68,143% e 3.º na Intermediária B com 65,786%, entrou a ganhar na segunda semana do circuito. Com 68,257% venceu a Intermediária A, fazendo 68,190% no dia seguinte na B. Crédito fotográfico: Laurent Vilbert

PORTUGUESES NO CHI AL SHAQAB Luís Príncipe e Filipe Canelas Pinto estiveram a participar no CDI5*. Um total de 21 conjuntos entrou no Grande Prémio, onde Luís Príncipe/World Performance Washington foram avaliados em 66.920% e Filipe Canelas Pinto/Der Clou, com 66.100%, finalizando, respectivamente, em 12.º e 13.º. Com estes resultados os dois lusos conseguiram a passagem ao Grande Prémio Freestyle, onde Príncipe teve uma nota de 70.350%, repetindo assim o 12.º lugar. Filipe Canelas Pinto com Der Clou obtiveram 67.725%, concluindo na 14.ª posição. Nathalie zu Sayn Wittgenstein/Digby (DIN), ganhou ambas as provas. O CHI Al Shaqab (10 a 15 de Março), em Doha, contou ainda com competições de Volteio e Saltos de Obstáculos. No CSI5*, Portugal esteve representado por Luciana Diniz, 13.ª classificada no Grande Prémio com Fit For Fun, ela que por estes dias conseguiu um 2.º lugar com Upper Star, a 1,50m.

LUSITANOS LEVAM BRASIL AO PÓDIO NOS JOGOS SUL-AMERICANOS As provas de Dressage da 10.ª edição dos Jogos Sul-Americanos decorreram entre 7 e 18 de Março, no Chile. A equipa do Brasil foi composta por quatro conjuntos, três com cavalos lusitanos: João Victor Marcari Oliva/Xamã dos Pinhais, João Paulo dos Santos/Veleiro do Top e Pia Aragão/Zepelim Interagro. Completou a equipa Leandro Aparecido da Silva/Di Caprio. A primeira prova foi a de equipas com o Brasil a conquistar o ouro, medalha a que juntou o ouro, prata e bronze individual: João Victor Marcari Oliva conquistou o 1.º lugar na final individual Freestyle com o PSL Xamã dos Pinhais e 70,781%; João Paulo dos Santos e o também lusitano Veleiro Top, com 68,938%, garantiram a medalha de prata e Leandro Silva com Di Caprio e 68,281% ficou com a medalha bronze. Pia Aragão com o lusitano Zepelim Interagro, avaliada em 65,750%, terminou a prova em 6.º lugar. No ano da estreia, estes não podiam ser jogos mais felizes para João Victor Marcari Oliva, que também foi 2.º classificado na Intermediária I. Com apenas 18 anos foi o cavaleiro mais jovem da REVISTA

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equipa do Brasil, embora conte já no seu currículo com o título de Penta-Campeão brasileiro de Dressage. No final da prova, afirmou "é a maior alegria que um atleta pode ter! Minha primeira competição internacional defendendo o Brasil e estou voltando para casa com três medalhas. Essa conquista é de toda a equipa que foi muito unida e parceira, todos se esforçaram para chegar aqui. A minha motivação para continuar nessa carreira só aumentou e vou continuar trabalhando duro para tentar mais pódios para o Brasil". Este evento assinalou também a estreia da belga Mariette Whitages como técnica de Dressage do Brasil. Crédito fotográfico: Wander Roberto/Inovafoto/COB



HISTÓRIA DA ATRELAGEM

A GRÉCIA PRÉ – CLÁSSICA: A GUERRA DE TRÓIA: LENDA, TRADIÇÃO LITERÁRIA E REALIDADE ARQUEOLÓGICA EM ANTERIOR ARTIGO DESTA SÉRIE DEDICADA À ATRELAGEM NA ANTIGUIDADE REFERIMOS COMO HEINRICH SCHLIEMANN PROCUROU TRÓIA BASEADO NOS TEXTOS ANTIGOS DE HOMERO, MAIS PRECISAMENTE, NA ILÍADA. ulgamos do maior interesse mencionarmos aqui aspectos da guerra de Tróia que se relacionam directamente com o tema agora tratado. Em certa parte da narrativa, Aquiles, herói sempre vitorioso, por todos considerado como o mais importante chefe guerreiro do exército grego que punha cerco a Tróia, incompatibilizado com as chefias, recusa-se a participar nas lutas. Pátroclo, seu jovem amigo e seguidor, resolve substitui-lo envergando a sua armadura, escudo e restantes armas sem lhe dar conhecimento. Para infelicidade de Pátroclo, quem o enfrenta é Heitor, filho de Príamo, rei de Tróia, e máximo expoente do valor troiano, que lhe dá morte em combate frente às muralhas da cidade. Aquiles, furioso e revoltado com a morte do amigo apronta o seu carro para o combate (fig.1), e, por sua vez, ajudado pela sua invencibilidade de origem divina, enfrenta Heitor, vence-o e tira-lhe a vida em duelo presenciado pelos dois exércitos. Mas, dirá o leitor, o que tem a ver com a atrelagem toda esta história? Pois muito, dizemos nós, já que logo a seguir à morte de Heitor, Aquiles ata-o ao seu carro de cavalos e arrasta-o de forma ignominiosa (fig.2), para desgosto dos troianos, os quais, das muralhas, têm de observar impotentes enquanto o cadáver do seu herói segue no rasto do carro de Aquiles em várias

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J. Alexandre Matos

voltas às muralhas de Tróia. Homero confirma aquilo que os historiadores na maioria avançam no que toca à utilização do carro de cavalos grego em contexto de guerra. Os chefes deslocam-se até ao campo

J.P. Magalhães Silva

porte dos chefes até ao local do combate e não como arma de intervenção directa em batalha. Aliás, no caso de Tróia, tal como relata Homero, para além do ataque às muralhas, sempre inexpugnáveis graças

Figura 1

de batalha, ou em viagem, em carro, mas combatem a pé, junto dos seus homens. Os especialistas de história antiga designam este aspecto dos hábitos de guerra gregos como a teoria do “táxi”, em que o carro de guerra grego, geralmente uma biga ligeira (2 cavalos), é preferencialmente utilizado como veículo de trans-

aos arqueiros defensores, as lutas decorrem sobretudo nos terrenos fronteiros à cidade cercada pelos Aqueus. No entanto são de referir textos ligados à civilização hitita, mitaniana e até de povos ligados aos egípcios no que é hoje a Síria, Israel e a Jordânia, textos esses em que o poder das cidades ou dos potentados locais é

medido pelo número de carros de guerra que dispõem. Os Aqueus são povos que chegaram à Grécia supostamente pelo norte fundando a cidade de Micenas. Esta cidade espalha a sua influência por todo o Mediterrâneo oriental, com colónias em Creta, e comércio com Chipre, Rodes e Ásia Menor em geral, conhecendo-se estabelecimentos seus em Canã e até na Sicília. O seu domínio é vencido pelo dos Dórios, vindos também supostamente do norte, um povo mais rude mas que dispõe de armas de ferro com que subjugam a Grécia. Julgamos que Homero é o intérprete de uma visão grega pela qual o carro de guerra, pelo seu custo, pelas dificuldades de manutenção do material e treino dos animais ligados à prática e o inconveniente do mau piso do terreno grego e das suas ilhas, faz do veículo de guerra um privilégio de chefes nobres e aristocratas abastados. É o que se deduz do texto da Ilíada e é a opinião prevalecente da historiografia dessa época, com algumas raras excepções como aquela que, no artigo anterior, nos referimos, citando Heródoto, no que toca a uma batalha de carros em


N.º 1 EUA Não deixe que moscas, mosquitos ou moscardos estraguem o melhor do seu dia Figura 2

seus deuses e os seus mortos importantes, celebravam corridas de carros de cavalos, a eles dedicados. Foi o caso de Pátroclo, cuja morte em plena campanha militar, é honrada pelos seus companheiros com corridas em que (ao que se supõe) bigas entram em competição empenhada, glorificando o seu nome (fig.3). Outro aspecto significativo é que o corpo de Pátroclo é cremado numa pira de grandes dimensões, com cerimonial que se crê hoje ser típico de um grande chefe, onde prisioneiros

troianos são sacrificados, para além das armas, cavalos, carro e arreios que pertenciam ao homenageado. Estes rituais, mais tarde confirmados por achados arqueológicos que os corroboram, têm assim aspectos comuns a muitas culturas, mas é relevante que em todas elas o cavalo e o carro de guerra estão presentes num contexto de prestígio e de ligação religiosa com o além, como um dos máximos sacrifícios para captar e honrar a benevolência divina.

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Salamis, na ilha de Chipre. Mas ainda na sequência dos relatos da Ilíada e no que diz respeito aos costumes funerários e seu contexto religioso, é do maior interesse constatar o detalhe com que Homero descreve as honras funerárias que Aquiles e os gregos dão a Pátroclo e isto tem a ver com a atrelagem em dois aspectos relevantes que servem de referência para ajuizar dos costumes gregos pré-clássicos no contexto da sua cultura. Assim, é curioso constatar que os gregos, para honrar os

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CRÓNICA

MAIS DO QUE UM OLHAR ATENTO! OBSERVAR! UMA DA MANHÃ! SENTADA NO SOFÁ DA SALA, QUENTE E CONFORTÁVEL, SINTO UMA PREGUIÇA IMENSA DE ME IR DEITAR.

televisão já desligada e o sono profundo de sob constante vigia e acompanhamento) fez-me todos os outros elementos da família lembrar o “Pintinhas”. (inclusive da Pintas, a nossa cadela de O Pintinhas é um cavalo appaloosa, talvez não casa) fazem com que a casa esteja em absoluto excepcionalmente bem conformado, mas forte e silêncio… bem não é bem em absoluto pois como com uma alma selvagem mas leal, cheia de força! qualquer casa velha, há sempre alguns ruídos, de Seu dono, que gostava muito de ter alguns Rita Gorjão Clara uma madeira a estalar ou do vento a entrar pela poldros malhados, soltou o “Pintinhas” para uma chaminé, além disso, embora agora não se esteja a cerca grande juntamente com seis ou sete éguas. ouvir nada, na minha cabeça soam gargalhadas Todos os dias ia ver como estavam e achou-o alegres e conversas divertidas só de olhar para um jogo caído, sempre bem! umas almofadas tortas no sofá, um lápis de cor esquecido em Mas certo dia, um dos seus netos, resolveu ir buscar o cima da mesa. Na verdade a casa está em silêncio, mas “Pintinhas”! A época de reprodução tinha acabado e o cavalo olhando bem para ela conseguimo-nos aperceber do som que podia voltar a casa. Assim que lhe colocou o cabeção percebeu ela absorveu algumas horas antes. que havia ali qualquer coisa errada! Quando lhe abriu a boca, Preguiçosamente, pego no iPad e começo a ver fotografias. faltavam-lhe alguns dentes e outros estavam partidos! O No meio de imensas fotografias na praia, no monte a apanhar acidente devia ter acontecido há muito tempo pois a assimetria um bezerro para o brincar ou com patas ou cabras bebés nas de crescimento dos dentes era tão grande que o podre animal mãos, encontrei uma que me fez lembrar que tinha de escrever mal conseguia mastigar! o artigo e me deu o mote para o mesmo. Tem sido um trabalho árduo e moroso para voltar a colocar Dia 5 de Novembro, sentados nas varolas da manga do os dentes nivelados de forma a que a mordida se faça Arneiro, Francisco e Eduardo deliciam-se com umas castanhas correctamente. Não pode ser feito de uma só vez pois se se bem quentinhas. Quem os visse deveria pensar que tinham chegar à polpa do dente, dar-lhe-á tantas dores que ele, aí sim, uma Mãe muito deixará de comer desnaturada, onde já se completamente. viu? Noite escura, os dois Neste momento está (aparentemente sozinhos) quase no melhor que se divertidos e deliciados a pode fazer, mas ainda há comerem castanhas? muito trabalho pela frente. É verdade, eles parecem O que vos quero dizer é algumas vezes alegremente que sempre que tenham sozinhos, mas o meu olhar cavalos, éguas, poldros a de lince mantém-nos bem campo, não basta ir vê-los vigiados. No fundo doutodos os dias (isso já eu lhes liberdade, pois acho tinha comentado há essencial que tenham alguns artigos atrás). É liberdade para poderem preciso mais! É preciso vêadquirir responsabilidade, los de perto, abrir-lhes a mas tenho-os sempre boca, olhar para os “debaixo de olho”. membros, enfim ter a Neste momento calculo certeza que se encontram que se estejam a mesmo bem! perguntar, mas o que é que Assim como aos moços, isto tem a ver com eu estou sempre de olho cavalos? neles, mas de vez em Na verdade, esta quando pergunto-lhes se fotografia (de liberdade estão bem!

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ARTE DA EQUITAÇÃO

A HISTÓRIA DO CAVALO LUSITANO

FAZ-SE TAMBÉM NO FEMININO! A HISTÓRIA DA CASA CADAVAL CONFUNDE-SE COM A DE PORTUGAL COMO SE CONFUNDE TAMBÉM COM A DO CAVALO LUSITANO POIS, NA MARGEM ESQUERDA DO RIO TEJO, NA HERDADE DE MUGE, QUE PERTENCE À FAMÍLIA ÁLVARES PEREIRA DE MELLO (CADAVAL) HÁ QUASE QUATRO SÉCULOS (DESDE 1648), SEMPRE SE CRIARAM AQUELES QUE TERÃO SIDO OS ANTEPASSADOS DO NOSSO LUSITANO. a verdade, a herdade e respectiva coudelaria, esta seguramente uma das mais antigas, se não mesmo a mais antiga do país, entraram por dote na família, com o casamento, no séc. XVII de D. Maria de Faro com D. Nuno Álvares Pereira de Melo, 1.º Duque de Cadaval. Naturalmente que, desde essa altura até à actualidade, a Coudelaria sofreu vários cruzamentos ao gosto e necessidades das épocas. Por exemplo, no séc. XVII, a éguada foi dividida em duas manadas. Nasceram assim dois tipos de cavalos completamente distintos, uns mais pesados próprios para o trabalho no campo e tiro, outros muito ligeiros e finos para a sela. Já em 1930 a manada era com-

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Bruno Caseirão

posta sobretudo de núcleos de éguas Ervideira, Veiga e Sommer e, a partir de 1954, sob a orientação de Fernando Sommer d'Andrade – nome incontornável no que concerne o Cavalo Lusitano e grande amigo da família Cadaval – a linha seguida tem sido a utilização de garanhões Lusitanos, com predomínio do Ferro da Casa, Sommer e Veiga. Na actualidade, e desde 1998, a “Senhora” de Muge é Teresa Schönborn Wiesentheid, neta

da Marquesa Olga de Cadaval, nome incontornável das Artes europeias. Tendo nascido alemã, Teresa Schönborn escolheu “ser” portuguesa e cria com paixão Cavalos Lusitanos, os quais são como “uma marca de cultura”. Devem ser prontamente identificados como Cadaval, não só pelo ferro, pela cor, mas também, pela morfologia, funcionalidade e carácter pois “têm de ser nobres”. É da singularidade de tudo o que anteriormente foi mencionado,

de alguém que procura com pragmatismo a “justa medida” entre Tradição e Inovação que falaremos com Teresa Schönborn e com Bento Castelhano, também ele um nome por demais conhecido do Universo do Cavalo Lusitano e o Consultor para a Criação da Casa Cadaval, de uma Casa cuja História se tem escrito há já cinco gerações no feminino e, ultimamente, por alguém que tem a sabedoria e o bom humor de afirmar "como não sei como se sente um homem por ser homem neste negócio, sinceramente não sei dizer a diferença que faz ser mulher". Como é ser a herdeira de um legado como o da Casa Cadaval? Teresa Schönborn: Uma res-


ARTE DA EQUITAÇÃO

ponsabilidade que eu assumo com toda a naturalidade. É a 5.ª Geração de Mulheres à frente de uma das maiores herdades do Ribatejo, num país de Marialvas fanfarrões e algo barulhentos e de “mães coragem” silenciosas e discretas. Conhecendo-a calculo que não tenha sido de todo um problema, no entanto, gostaria de ter a sua opinião! TS: [risos!] Calculo que o facto de ser a quinta geração de mulheres à frente da Casa Cadaval, habituou-os a lidar com isso!!!! Como surgiu a sua notória paixão pelos cavalos? Tendo ascendência germânica não se enamorou pelos warmblood mas sim pelos Lusitanos? O que a cativou?! TS: Toda a vida montei Lusitanos e convivi com eles. Quando vivia na Alemanha também tive a experiência de

montar cavalos alemães, mas a docilidade e nobreza de carácter dos nossos cavalos fizeram-me apaixonar por esta raça. Porquê o lusitano? Pela tradição familiar do lado português? TS: Como lhe disse anteriormente o cavalo Lusitano tem características de carácter únicas. Também o facto de ter uma criação de cavalos das mais antigas do país, terá contribuído. Caro Bento Castelhano, como surgiu a oportunidade de colaborar com uma coudelaria com a longa história como a da Casa Cadaval? Bento Castelhano: A colaboração iniciou-se de forma muito natural. A Sr.ª D.ª Teresa Schönborn questionou-me um dia se estaria interessado em assessorar a sua coudelaria. Fiquei até hoje! Mas quais são as suas fun-

ções específicas? Aconselhamento? Equitador? BC: Actualmente o acompanhamento dos equitadores da Casa Cadaval está entregue, e bem, à Maria Faria de Carvalho. Eu sou consultor para a criação dos cavalos, na selecção, na nutrição e, em estreita colaboração com a Embriovet, programamos a reprodução. Sempre que necessário ajudo no trabalho dos cavalos, o que me vai dando informação funcional sobre o que temos. Mesmo quando não tenho de acompanhar o ensino dos animais, não abdico nas minhas visitas mensais de observar atentamente como avançam os animais recolhidos do campo. Pegando nas suas palavras, que tipo de cavalo Lusitano está o Bento a criar, a desenvolver na Casa Cadaval? O que procura? BC: A Casa Cadaval tem

um objetivo muito concreto: produzir animais para Dressage e, sempre que possível, para Grande Prémio. Todos sabem que a imagem exterior é a dos cavalos castanhos, o que só por si nos limita a escolha dos reprodutores, especialmente quando compramos sémen a garanhões de fora. Mas também a testagem funcional na Raça Lusitana para o nosso objetivo é escassa (nos machos, mas em especial nas fêmeas). A minha colaboração inicial com a Casa Cadaval foi no sentido de fazer cavalos dentro do Padrão Racial, mas apercebemo-nos que havia em casa alguns animais que não sendo típicos, tinham uma funcionalidade muito interessante, que até passava de geração em geração. Devo dizer que se não fosse o conhecimento profundo da Sr.ª D.ª Teresa dos seus animais, eu teria refugado muitos antes de me REVISTA EQUITAÇÃO

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ARTE DA EQUITAÇÃO

tamos seguros que nenhuma outra raça no Mundo pode servir melhor os interesses do Desporto Amador na Dressage. Os cavaleiros profissionais devem conseguir montar qualquer cavalo com potencial, frequentemente mais difíceis, mas para um amador sem possibilidade de praticar todos os dias da semana, nenhuma raça será melhor que a Lusitana para alcançar níveis de prova acima dos básicos. Neste aspecto, o facto de na Raça o tamanho médio não ser muito grande até constitui uma vantagem. Animais muito grandes e atléticos são muito mais difíceis de manter em forma e manejáveis em prova. Voltando à minha questão e conhecendo o Projecto diria que um dos trunfos do mesmo é a forma como se consegue conciliar os conhecimentos técnicos do Bento Castelhano com a sensibilidade e intuição de Teresa Schönborn? BC: Concordo! Eu julgo que se conciliam de forma muito

harmónica. Tal como o Bruno diz, a Sr.ª D.ª Teresa é uma pessoa de grande sensibilidade, mas também de rara educação. As duas coisas tornam-na uma proprietária com a qual é facílimo colaborar. Hoje é muito raro ter uma camada de poldros na “desmama” em que algum tem mecânica incorreta. Nem todos chegam a ficar pela exigência que também pomos na testagem do carácter, da montabilidade e da morfologia. Mas a percentagem de animais muito interessantes é substancialmente mais alta que quando iniciámos. São muitos os exemplos destes anos de trabalho juntos em que o sucesso foi devido à teimosia de um ou à do outro. Tal foi sempre motivo de humor e nunca de discórdia. Voltando à alma mater da Casa Cadaval. Como é que a Teresa Schönborn caracteriza o Cavalo Lusitano da “sua” Casa Cadaval? O que nele procura? TS: Gostava de reforçar a ideia de que fazemos uma sele-

ção muito apertada para criar um cavalo com as características de docilidade e nobreza de carácter acima descritas mas com aptidões para Dressage. Tem um garanhão, o Zircon, que se está a impor na Alemanha com a nossa conhecida Martina Hannover. Será esta a síntese entre as suas duas “pátrias” Alemanha e Portugal? TS: Ainda este fim-de-semana voltou a ganhar em Intermediária! Voltando à sua pergunta, no princípio não foi, mas depois a própria Martina Hannover, começou a acreditar mesmo no cavalo e hoje em dia já se veem os resultados. Não houve uma síntese houve sim o reconhecimento de um "produto" excelente produzido em Portugal e apreciado na Alemanha. Ao longo desta entrevista ambos têm colocado muito a tónica na tipicidade de temperamento com a funcionalidade. Neste sentido, convém não esquecer que o Bento

Foto: Cátia Castro (cedida por Casa Cadaval)

conseguir aperceber das suas qualidades funcionais. Graças a ela estamos hoje com os actuais objectivos. Estaremos perante um equilíbrio, uma síntese, entre o que Teresa Schönborn e Bento Castelhano querem individualmente? BC: O projecto é exclusivamente da Sr.ª D.ª Teresa Schönborn! Eu tenho de me resumir a potenciar com o meu conhecimento técnico o que é a vontade da criadora. Claro que nem sempre estamos de acordo e nestes já longos anos de colaboração, desenvolveu-se uma enorme Amizade que só é possível quando há respeito pela diferença. Mas sempre que dou uma opinião técnica, procuro apenas ter em vista o interesse do Criador. No nosso projecto estamos convencidos que o Cavalo Lusitano tem um interesse único no panorama mundial da Dressage. Acreditamos que poucos serão os Lusitanos que podem ser referência mundial na disciplina, mas também es-

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Foto: Cátia Castro (cedida por Casa Cadaval)

ARTE DA EQUITAÇÃO

Retoque Castelhano é em certa medida o descendente de uma linhagem de Homens de Cavalos versados simultaneamente na criação mas que também montavam a cavalo e procuravam uma síntese entre ambas. No fundo o que lhe quero perguntar é o que ajuda o engenheiro zootécnico ao cavaleiro e vice-versa? BC: Creio que o Bruno se refere a pessoas como o Eng.º Fernando Sommer D’Andrade e o Dr. Guilherme Borba. Eu, de forma nenhuma, me sinto capaz de lhes ser comparado, nem por conhecimento, nem por contributo para a Raça Lusitana. Quanto ao final da sua pergunta, eu creio que a ajuda é mútua. Daqueles que admirei e com os quais tentei aprender na Raça, o seu conceito de correcção na Morfologia e no Padrão da Raça vinha da Função. Nessa medida, como zootécnico, entender a “máquina biomecânica” que é o cavalo ajudoume a mais objectivamente estabelecer critérios de qualidade nos animais que tinha para analisar. Este conceito seria muitíssimo incompleto sem a minha

noção da prática da equitação. Não conheço animais perfeitos morfologicamente, mas conheço muitos animais que se superam nas suas aparentes dificuldades anatómicas, assim como muitos outros que, sem essas dificuldades, não são úteis para o cavaleiro. Ouvi muitas vezes ao Dr. Guilherme Borba uma frase que mais ou menos seria: “é muito fácil identificar defeitos em cavalos, mas muito mais importante e difícil é perceber até que ponto existem neles qualidades que superam os problemas, identificá-las e valorizá-las”. E ao Cavaleiro? O que ajudou a zootecnia à equitação... BC: Também na equitação a zootecnia me ajudou muito. Ao contrário do que muitos pensam, nunca fui um cavaleiro talentoso. Fui muito mais um “engenheiro da equitação”. Aprendi por estudo, dedicação e paciência dos meus professores, dos quais destaco o meu grande amigo e principal mentor Eng.º João Lopes Aleixo. A propósito, quais considera terem sido os Nomes Maiores na História do Cavalo Lusitano?

BC: Em qualquer obra que dure mais de uma geração, o mais difícil é começar. Essa homenagem, quanto a mim, tem de ser rendida à Família Andrade. Primeiro com o Dr. Ruy D’Andrade, seguido pelo seu filho Eng.º Fernando Sommer D’Andrade. É sempre muito mais fácil criticar ou melhorar trabalho que iniciá-lo. Eles foram os primeiros a estruturar o registo zootécnico, creio, por terem consciência da identidade genética que existia e cuja preservação/desenvolvimento dependia dessa organização. Qualquer programa de melhoramento tem de passar pela identificação. Também penso que foi família Veiga quem melhor “isolou” a funcionalidade que verdadeiramente nos identifica e que nos torna únicos relativamente a características equestres que não têm paralelo em mais ne-

nhuma raça de cavalos no Mundo. Cheguei ao gosto pela criação dos Lusitanos contagiado pelo Arq.º Arsénio Raposo Cordeiro. O Dr. Pedro Ferraz da Costa desde que iniciou a compra dos seus primeiros animais, quase sempre me pediu uma opinião e recordo que foi realmente o entusiasmo contagiante do Arq.º Arsénio Cordeiro, a quem o Dr. Ferraz da Costa adquiriu muitas das éguas com que iniciou a criação, que me motivaram. Sinceramente, antes disso não tinha grande interesse pela criação. Volto à sua pergunta. A pessoa que conheci com maior genialidade na criação foi o Sr. Manuel Moura Tavares. Por intuição aplicava os melhores critérios da Genética e do Melhoramento Animal, não só em cavalos como em cães, galinhas, vacas alentejanas e, curiosa-


ARTE DA EQUITAÇÃO

sua ascendência e percurso de vida, mas também, por ter sido Vice-Presidente da Associação Alemã dos Criadores de Cavalo Lusitano, tem uma dupla perspectiva, nacional e internacional do nosso Cavalo. Qual a percepção que tem? Como é que vêem o Lusitano lá fora?

TS: O cavalo Lusitano tem vindo a granjear cada vez mais adeptos. Temos que saber manter esse interesse no estrangeiro mantendo também a qualidade dos cavalos em Portugal. Também o Bento Castelhano conhece como poucos a realidade do Cavalo lusitano. É indiscutível que o mesmo

Foto: Cátia Castro (cedida por Casa Cadaval)

mente, o meu contacto com a Família Romão Tavares aconteceu por testagem de reprodutores ovinos da raça Merino Branco. Tive a felicidade de os meus melhores resultados desportivos de sempre terem sido conseguidos com dois reprodutores seus. A Teresa Schönborn, pela

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tem evoluído nas últimas décadas. Quais considera ser as grandes alterações e mudanças no Universo do Cavalo Lusitano? BC: A Raça além de ter evoluído, também conseguiu eliminar muitos dos seus maus exemplares. A qualidade média tem subido não só por se produzirem cada vez melhores animais, mas especialmente por se eliminarem muitos dos que eram de fraca qualidade morfofuncional. Ainda há um longo caminho a percorrer, em casa e na Raça, até porque quanto mais acima se estiver para o objectivo de criação, cada vez será maior a dificuldade em escolher reprodutores dentro da Raça. A Raça é muito pequena! Quais são os planos futuros da Teresa Schönborn para os seus cavalos? TS: Manter e melhorar o trabalho que temos vindo a fazer há muitas gerações. Como gere - não só nos cavalos mas em todas as actividades da Casa Cadaval - a tradição, da qual é herdeira, com a inovação que necessariamente tem de acontecer? TS: Nada se faz sozinho, tenho uma equipa jovem e dinâmica que me ajuda na gestão e inovação da Casa Cadaval. Quase a finalizar gostava de perguntar ao Bento Castelhano o que é para si o Cavalo Lusitano “Ideal” e o que falta para o alcançarmos? BC: Não me sinto capaz de dar a resposta para o cavalo ideal. Posso dar uma opinião pessoal, que não é exatamente coincidente com a opinião de muitos criadores. Mas na Raça tem de se fazer o que os Criadores decidirem, não o que eu penso! Penso que deveriam existir pelo menos dois objectivos de criação na Raça Lusitana: um mais ligado ao uso tradicional (Toureio, Equitação de Trabalho, Equitação Artística, etc.) que preserve e desenvolva o que tornou até hoje


o Lusitano único e um objectivo mais desportivo (Dressage, Atrelagem, etc.) onde o desenvolvimento de certos e necessários carácteres pode fazer perder as tais características únicas. O objectivo Tradicional é fundamental à Raça! Julgo também que o passar do tempo e o crescente interesse pela Raça, com a “pressão externa” nos vão levar a novas formas de avaliação da qualidade genética dos nossos reprodutores. Melhoramento Genético em produção animal é Certificação de Qualidade produzida! Há técnicos em Portugal muito capazes de assessorar a Raça Lusitana neste necessário trabalho, mas tem de haver vontade! Foi também Secretário Técnico da APSL e possui uma experiência de décadas, como engenheiro zootécnico, cavaleiro campeão de Equitação de Trabalho, também no Ensino, juiz internacional da raça

e professor/formador. Em que medida, olhando retrospectivamente, o que aprendeu com toda essa experiência acumulada? Se tivesse de sintetizar esse conhecimento numa frase ou máxima, qual seria? BC: Tentar ser humilde! Naturalmente que a concluir, e pensando nessa plêiade de grandes personalidades ligadas ao Cavalo Lusitano, não posso deixar de pedir a Teresa Schönborn que termine falando-nos daquela que estou certo terá sido a sua maior referência e mesmo influência, a sua avó, e por todos nós conhecida como a Marquesa Olga Cadaval? TS: A minha avó foi e continua a ser um grande exemplo para mim. Sendo conhecida pela sua contribuição para a cultura em Portugal, poucos sabem do entusiasmo com que geriu, dinamizou e modernizou a Casa Cadaval.n

Foto: Boiselle (cedida por Casa Cadaval)

ARTE DA EQUITAÇÃO

Teresa Schönborn e Bento Castelhano


CORRIDAS

CAMPEONATO NACIONAL DE GALOPE E TROTE ATRELADO DA LIGA 2014 VISITA NOVAMENTE A FEIRA NACIONAL DO CAVALO DA GOLEGÃ E ALTER REAL O CALENDÁRIO OFICIAL DO CAMPEONATO NACIONAL DE GALOPE E TROTE ATRELADO 2014 DA LIGA JÁ ESTÁ QUASE CONCLUÍDO, COM CERCA DE DEZASEIS PROVAS PREVISTAS, SÓ FALTANDO FIRMAR ALGUNS ACORDOS IMPORTANTES QUE PRETENDEM LEVAR AS CORRIDAS À ZONA TURÍSTICA DO PAÍS POR EXCELÊNCIA NO VERÃO, O ALGARVE. BREVEMENTE SERÁ DIVULGADA A VERSÃO DEFINITIVA DO CALENDÁRIO, MAS NA SUA ESSÊNCIA SERÁ MUITO PARECIDO COM O DO ANO ANTERIOR, COM O COMEÇO AGENDADO PARA ABRIL NO HIPÓDROMO MUNICIPAL DA MAIA.

Victor Malheiro

erto é a realização de duas provas na Golegã, na Feira Nacional do Cavalo e na Expoégua, na pista do Hippos, depois do sucesso que foi em 2013, e em Alter Real, uma prova que na época passada provocou muito interesse entre os turistas estrangeiros que queriam aproveitar para visitar a coudelaria e ver uma corrida ao mesmo tempo. A realização de provas de corridas de cavalos nestes dois expoentes máximos da equitação em Portugal só vem mostrar o bom trabalho que a Liga fez ao longo dos anos e traz-me à memória o longo caminho percorrido, com as corridas desregulamentadas e perigosas que se faziam no fim dos anos oitenta e que mancharam até hoje a imagem destas, a anos-luz das corridas que se realizam hoje em dia pela Liga, reconhecidas mundialmente, obviamente tendo em

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conta as limitações físicas e económicas e a castração ao seu desenvolvimento que é a falta das Apostas Mútuas Hípicas Urbanas. O caminho foi e é longo e espinhoso e infelizmente continuam a não haver apostas hípicas oficiais, enquanto que de forma irónica e ilegal, aposta-se impunemente nas empresas de apostas online que continuam a prosperar sem pagar impostos nem gerar riqueza

nem desenvolvimento. As provas previstas para o calendário nacional serão organizadas na pista do Hippos, na Golegã, onde as duas reuniões terão o apoio financeiro e técnico da Feira Nacional do Cavalo e da Expoégua, sendo consideradas uma mais valia para enriquecer ainda mais o programa de tão importantes eventos pelo Presidente da Câmara Municipal da Golegã,

Manuel Lince Medinas Duarte. Depois da extinção da Fundação Alter Real por parte do Governo, um processo feito de forma desconexa que criou um vazio de poder, as provas na pista da Coudelaria de Alter tiveram sempre unicamente o apoio financeiro da Câmara Municipal de Alter do Chão, sem isso seria impossível organizá-las, cujo Presidente, Joviano Martins Vitorino, reco-


CORRIDAS

nhece que são uma bandeira turística importante para uma região interior e desertificada. A Coudelaria de Alter Real dá um contibuto essencial, ao ceder a sua pista e infraestruturas. Além destes locais, temos as já tradicionais provas no Hipódromo Municipal da Maia, a edilidade que há mais tempo e de forma consistente tem investido nas corridas e nas infraestruturas, primeiro sobre o impulso de um Presidente da Câmara dinâmico e que marcou toda a região, José Vieira de Carvalho, com a continuação dos planos de desenvolvimento do pólo equestre da pista de Silva Escura atravês do atual Presidente, António Bragança Fernandes. A gestão do espaço cabe agora ao Centro Equestre da Maia, cujo seu Presidente, Manuel Armando, vê um futuro risonho para o espaço, até porque a Maia será Capital Europeia do Desporto e onde não

vão faltar atividades equestres. Em Felgueiras, no Hipódromo da Quinta da Granja, as corridas têm algum apoio da edilidade local, através do seu Presidente, Inácio Ribeiro, mas é o seu proprietário, Ricardo Carvalho, que assegura o financiamento

e o apoio técnico e logístico das provas que se irão lá realizar. Sendo uma das pistas melhor equipadas, é seguro afirmar que vai receber mais do que uma das reuniões mais importantes da temporada. São novamente as Câmaras

Municipais a apoiar duas das mais populares e animadas provas em pleno agosto, qua atraem milhares de pessoas, Cabeceiras e Celorico de Basto. Cabeceiras de Basto já se tornou num ponto de passagem obrigatório, por isso mesmo o novo Presidente da Câmara Municipal, China Pereira, manteve todos os acordos firmados entre a Liga e o anterior presidente. A prova de Celorico de Basto, também é apoiada pela Câmara Municipal, através do seu Presidente, Joaquim da Mota e Silva. Ambas as edilidades sempre reconheceram que as corridas de cavalos enriquecem ainda mais a nível turístico uma região que tipicamente é visitada por milhares de pessoas no verão, entre turistas e emigrantes. Existem vários planos que ainda não estão totalmente concretizados, pois as corridas


CORRIDAS

visitarão outros locais de Portugal, mas com a divulgação em breve do calendário definitivo e oficial eles serão desvendados. Pessoalmente, acho que a Liga teria todas as vantagens em fazer certas alterações ao calendário, nomeadamente reduzir o número de provas, apesar de compreender a necessidade de realizar algumas delas. Como aconteceu no passado com calendários muito extensos, há sempre o risco de não haver concorrentes, financiamento, nem as condições climatéricas já serem adequadas. Isso é uma questão que está a ser estudada. GOVERNO CRIA VÁRIOS PROBLEMAS QUE COMEÇARAM COM A EXTINÇÃO MAL PLANEADA DA FUNDAÇÃO ALTER REAL Seria mais prejudicial do que benéfico, abordar em detalhe a profunda trapalhada que o Governo causou ao mundo das corridas, ao puro-sangue inglês e à sua imagem, pois estão a decorrer negociações cruciais, 50

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com a total inépcia de algumas associações que estão ligadas às corridas, mas só de nome, porque na prática o seu trabalho é nulo há anos. Felizmente as mais altas instituições equestres internacionais reconhecem e apoiam totalmente o trabalho da Liga, o que permitiu minimizar os estragos feitos, mas os problemas ainda não foram totalmente resolvidos. Para desbloquar situações ur-

gentes, a Liga reuniu logo no início dos problemas com o Secretário de Estado do Ministério da Agricultura e do Mar, Nuno Brito e após múltiplas reuniões com múltiplas entidades, a Direção-Geral de Alimentação e Veterinária emitiu no dia 30 de Março, um documento oficial que dá poderes à Liga no que diz respeito aos assuntos relativos às corridas de cavalos, porque existe um vazio legal,

causado pelo Governo, desde a extinção da Fundação Alter Real, sobre quem é realmente a entidade responsável por todos os assuntos referentes às corridas de cavalos em Portugal. É inacreditável como um Governo comete semelhante erro, mas é verdade! Pelo lado positivo, agora, enquanto nenhum Ministério assumir a tutela das corridas de cavalos em Portugal, é a Liga que tem oficialmente esse poder e dessa forma podem-se já desbloquear várias situações, por exemplo, a participação em provas no estrangeiro de profissionais portugueses e de cavalos registados em Portugal. Infelizmente, para tornar o caso ainda pior, a questão das Apostas Mútuas Hípicas Urbanas, quase à beira de ser resolvida há pouco tempo através das apostas online, voltou a sofrer mais um revés, novamente por culpa do Governo, pois também aqui passou a haver um vazio legal sobre qual Ministério será o reponsável. Esta situação está aparentemente a começar a ser resolvida e voltaremos em breve a este assunto. Todas as informações atualizadas podem ser consultadas no website da Liga: www.ligacavaloscorrida.com n



CRÓNICA

APROXIMA-SE MAIS UMA ROMARIA DE S. MARTINHO! PENSANDO NOS ANOS ANTERIORES RECORDO COMO FOI CRESCENDO A PARTICIPAÇÃO DOS ROMEIROS E DOS AMIGOS DOS CAVALOS E DO CONVÍVIO AO AR LIVRE NUMA TARDE RADIOSA DE PRIMAVERA.

João Pedro Gorjão Clara

em a crise fará esmorecer o entusiasmo dos que cansados de meses de chuva e frio, sem feiras nem outros encontros importantes de amazonas e cavaleiros durante o Inverno, dos que rumarão à Golegã, Catedral dos Romeiros, para cumprirem o voto anual: a participação na Romaria de S. Martinho, patrono dos Romeiros. Ocorrem-me recordações da Romaria à Senhora del Rocio, onde uma embaixada de Romeiros de S. Martinho deixou inesquecível imagem pela postura e particularmente pelo traje dos Romeiros que suscitou em muitos as perguntas: “Quiénes son? De dónde vienen?” Recordo esse evento porque os que fomos caprichamos no pormenor do nosso traje Português de Equitação. Aconteceu-me pensar nisso porque adivinho que aqui na Golegã, no próximo dia 23 de Maio, vamos voltar a ver o que se passou na última Feira

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Nacional do Cavalo. Mal trajados, bonés, mangas de camisa à vista, bota alta de borracha, traje meio andaluz meio coisa nenhuma, monturas, selim inglês ou à cowboy, um desleixo que nos envergonha e enxovalha! Caros Romeiros estimulem os nossos amigos e companheiros a serem elegantes e rigorosos no modo de participar na Romaria. Lembrem-lhes que um dos fundamentos dos Romeiros é a preservação do nosso traje de equitação, herança que recebemos dos nossos avós e que temos de deixar aos nossos netos. Afinal um traje correcto custa o mesmo que um traje “aldrabado” na indumentária e nos adereços e é menos caro que a sela à Portuguesa com todos os seus atavios. Romaria é dia de festa e o traje deve por isso ser o traje rico e não o traje do campo. Apesar do calor o uso do colete e da jaqueta é obriga-


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no Mundo e na Península Ibérica

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CRÓNICA

da indumentária masculina, e podem usar bota com tacão não raso, mas com salto de prateleira como os dos cavaleiros. Muitas vezes falei nisto mas tenho sido pouco ouvido: a cor dos trajes, em particular as cores das jaquetas. Cinza e preto são os tons dominantes, mas não devia ser assim. Temos de procurar outros tons, fugir ao aspecto de que vestimos “farda” que a monotonia cromática faz de imediato recordar a quem nos vê. As amazonas, para mais porque é Primavera, devem usar tons alegres, cores claras. Têm tantas opções, tantas hipóteses de variar, porque persistem nos tons escuros, pesados, quentes demais para montar num dia de Sol ardente? O nosso cavalo “companheiro, um amigo quase um irmão” como canta a letra do Hino dos Romeiros, pode ir entrançado “à Portuguesa” mas não à Inglesa com a crina separada por elásticos a desenhar xadrez na tábua do pescoço. A sela não deve ter o suadouro à vista e as caneleiras, as “cloches”, as ligaduras não devem ser colocadas nesse dia

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como fazemos quando montamos no picadeiro. Todos os Romeiros devem usar a Cruz das cinco espigas de trigo ao peito e a meia capa vermelha sobre ombro esquer-

do. Não faz sentido que não usem os símbolos que os identificam nesse dia. A todos apelo para que a próxima Romaria seja um renascer do rigor de bem trajar,

como já foi há alguns anos atrás. Que a alegria do nosso reencontro se espelhe no colorido da nossa rigorosa indumentária. n

Fotos: Nuno Matos



TAUROMAQUIA

DE CHAPÉU ALTO… NO “MUNDILLO” EXISTEM FRASES FEITAS, QUE CONTUDO SÃO PLENAS DE SIGNIFICADO E TOURERIA. uito se fala, por exemplo, das cornadas de tabaco, de ganhar para o tabaco, dos trajes de luzes de tabaco e oiro (a cor preferida de Joselito “El Gallo”) e importa que se refira que neste início de temporada, averba uma “cornada de tabaco” o consagrado Enrique Ponce, que no seu primeiro compromisso em sua Valência averbou depois de uma faena que creditou com duas orelhas (recebidas pela quadrilha e entregues na enfermaria.), colhido na sorte suprema e “brin-

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REVISTA EQUITAÇÃO

Domingos da Costa Xavier

dado” com uma cornada na axila que o penetrou vinte e cinco centímetros (é obra, da axila ao pescoço, com a sorte de não ter tocado nem vasos importantes nem nervos) e lhe partiu uma clavícula, em ano de consagração pelas suas vinte

e cinco temporadas no activo. Sonhos adiados até à recuperação, o de Chiva continua a pensar em voltar ao activo atrevendo-se até a prever a apresentação pós colhida na sua prevista comparência em Sevilha, na segunda data. Com o

que respeita a toureiros, até devemos acreditar em impossíveis. Outra frase comum, consiste no facto de nos referirmos às coisas importantes como de “chapéu alto”, assim se designando as faenas cumbres e o estar em suprema classe que alguns toureiros conseguem quando estão por cima do que é comum. Aprendi há muito, que os toureiros só são pagos para tourear, e, é uma suprema sorte que tenhamos a sorte de os ver tourear bem. Em boa verdade, este início de temporada, teve o condão de nos explicitar à evidência as duas frases feitas que venho a referir. Curiosamente, o maior génio do toureiro, que se passeia pelas arenas ao momento, José António “Morante de la Puebla”, resolveu este ano publicitar o que supostamente irá ser a sua temporada, com um filme “El


TAUROMAQUIA

Arte no Tiene Miedo” em que termina passeando pelas areias do Guadalquivir vestido ao jeito do século XVIII de casaca e chapéu alto. Que gostosa excentricidade; de chapéu alto, que graça e que simbologia. Confesso a minha debilidade no que reporta ao apreciar o toureiro do génio actual que é Morante. Congratulo-me com o facto de que não há muito o velho Miguel “Litri” o considerava o melhor capoteiro de todos os tempos, opinião corroborada entre outros por Luís Francisco Esplá, ou Juan António Ruiz “Espartaco”, em declarações recentes. Pessoalmente, em situação vivida, cumpre-me referir opinião

São escassas as feiras taurinas decorridas, Olivença (que me orgulho de ter ajudado a lançar, sabendo que se dizia que era a última praça de Espanha e ironicamente a primeira de Portugal, quando o saudoso Júlio Gabirra nos veio pedir ajuda para a promoção dos jovens Cutiño e Dominguez, que arrancavam com a nova empresa, em tempos em que eu fazia “Tauromaquia”, na RTP 2), que agora vem sendo um êxito tão grande, que segundo afirmou no canal Bio o empresário José Cutiño tem cento e trinta profissionais da comunicação social acreditados, permitiu a consagração de “El Juli” e a gesta de António Ferrera que colhido

Serrano “Finito de Córdoba” confirmar o que havia evidenciado em Zaragoza em fim de temporada, exibindo classe e toureria, que bem fazem falta no actual panorama. Depois, ante um de Juan Pedro, Morante, bordou de tal forma o toureio com o capote que é de todo impossível que se atinjam tais maneiras por parte das outras figuras. Manzanares, cumbre, deixou provado e à evidência que a criatura já ultrapassou o criador; a sua colocação é brilhante e saca faenas que deleitam quem as vê. “El Juli” voltou a dar um recital de toureio, com técnica, arte e poderio.

com um trajecto de vinte e cinco centímetros e fractura da clavícula como já atrás vos disse. Nessa tarde os outros também triunfaram, mas foi a sua cornada que conferiu grandeza ao toureio. Quando vemos homens que se vestem de luzes para jogar a vida, temos de facto, que os respeitar. Com ligeireza faleivos aqui de uns quantos figurões, que não pretendi sequer elaborar qualquer resenha das corridas, porque vos queria evidenciar a sua vontade de superação, malgrado qualquer deles já tenha atesourado meios que lhes permitiriam viver sem medos e sobressaltos, não fora o terem sido mordidos

que expandi depois de o ver de Bezerrista em Barrancos, em que por graças dos deuses antevi a matéria de que era feito. Contrariado por “entendidos” à altura, sinto cócegas no ego por ver confirmada a minha antecipação da razão. Depois, tudo em sua carreira, com altos e baixos, nos tem provado que era certa a minha convicção. Ao momento entre a década de figuras actuais, é o único que nos merece o epíteto de genial.

reapareceu em Valência com os pontos frescos após quatro dias da cornada. Valência, uma feira muito bem montada por Simón Casas, foi também um verdadeiro sucesso, com três novilhadas com ganadarias de qualidade com que os novilheiros triunfaram, e com corridas de toiros também capazes que constituíram eventos de qualidade. Sobretudo esta feira taurina permitiu que se visse um Juan

E, por fim Enrique Ponce, em ano de comemoração das suas vinte e cinco temporadas, na praça em que é idolatrado, permitiu-se estar como se novilheiro fora, com a entrega e o pundonor que é atribuível à sua sede de triunfo, entrando a matar tão recto em faena de duas orelhas que não queria deixar fugir, que lhe custou que o toiro lhe levantasse os pés e depois no chão lhe propinasse uma cornada na axila,

pelo “Gusanilho” da toureria. Já agora que refira que todos estiveram por cima dos toiros, e que os triunfos foram conseguidos com o seu valor e com o calor de um público muito justo e comunicativo. Sempre o público, que é quem paga e jamais deve ser ignorado. Glória e tragédia, emoção e desfrute em estado puro. Em tudo isto reside a grandeza da festa de toiros. n

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VETERINÁRIA

ATAXIA E “SÍNDROME DE WOBBLER” É FREQUENTE SEREM DETECTADOS SINAIS DE ATAXIA EM CAVALOS DE QUALQUER IDADE, QUE PODEM INTERFERIR EM MAIOR OU MENOR GRAU COM A ACTIVIDADE EM QUE O CAVALO É UTILIZADO CONSOANTE A GRAVIDADE DOS SINTOMAS.

Joana Alpoim Moreira

que é a Ataxia? Ataxia não é uma doença, mas sim um sintoma (ou conjunto de sintomas) que se traduz numa incoordenação motora que afecta geralmente em maior grau os membros posteriores. Pode ter outras causas mas sem dúvida a mais frequente é o “Síndrome de Wobbler”, designação comum utilizada para descrever uma doença neurológica que resulta da compressão da medula espinal a nível do pescoço do cavalo (fig. 1). Outros termos mais científicos para designar esta doença são “Malformação Vertebral Cervical”, “Mielopatia Estenótica Vertebral Cervical” ou ainda “Mielopatia Compressiva Vertebral Cervical”, entre outros. Esta doença caracteriza-se

pelo aparecimento (geralmente progressivo) de sinais de ataxia (descoordenação) e parésia (debilidade/fraqueza dos membros), afectando principalmente os membros posteriores (fig. 2), com défices de propriocepção (ou seja, com perda parcial da capacidade de sentir onde se encontram os próprios membros e o resto do corpo no espaço). Esses sinais são mais evidentes a passo do que em andamentos mais rápidos, e podem incluir posturas anormais (fig. 3), tendência para tropeçar, arrastar dos membros (com desgaste anormal do casco), tendência para o cavalo “se alcançar” com os membros posteriores, aparente falta de força nos membros posteriores quando o cavalo pára, rotação exagerada (movimentos circulares) e ou-

tros movimentos anómalos dos membros posteriores em círculo (fig. 4) ou ao recuar. Outros sinais são os movimentos hipermétricos dos membros – movimentos exagerados com muita elevação e alguma espasticidade. Sem querer contribuir para polémicas, facilmente constatamos que este tipo de movimentos é considerado por alguns como desejável na Dressage (fig. 5), havendo mesmo quem diga que se tem vindo a seleccionar inadvertidamente reprodutores com estas características contribuindo para aumentar a sua fre-

Fig. 1 – “Síndrome de Wobbler” causado por compressão da medula espinal

Fig. 2 – Alguns testes simples permitem detectar sinais de parésia (debilidade)

Fig. 3 – Posturas anómalas podem indicar défices de propriocepção

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João Paulo Marques

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quência (no caso dos Warmbloods, por exemplo). TIPOS DE SÍNDROME WOBBLER Este Síndrome afecta principalmente 2 grupos de cavalos: DE

1- Cavalos muito jovens (fig. 6), geralmente machos (maioritariamente castrados), nomeadamente Warmbloods e Puro Sangue Inglês. Aparece muitas vezes durante o primeiro ano de vida em poldros de rápido crescimento – embora possa passar despercebido e só ser detectado mais tarde – acreditando-se que existe uma predisposição genética. Nestas idades a doença é causada por um estreitamento anatómico do canal vertebral associado a desenvolvimento

Fig. 4 – Os círculos pequenos permitem detectar movimentos anormais


VETERINÁRIA

Fig. 7 – Exemplo de Osteoartrite das articulações intervertebrais

Fig. 5 – Alguns movimentos exagerados dos membros são desejáveis no Ensino

anormal das articulações intervertebrais. 2- Cavalos mais velhos, com Osteoartrite (“artrose”) das articulações entre duas vértebras cervicais adjacentes em que essas articulações aumentam de volume e começam a ocupar uma parte do canal vertebral e a pressionar a medula espinal (fig. 7).

Fig. 6 – Os sinais de Ataxia podem surgir em animais muito jovens, de crescimento rápido

geral em que são realizadas radiografias após a injecção de um meio de contraste radiográfico no canal vertebral, permitindo detectar com maior exactidão os locais de compressão da medula espinal.

Fig. 8 – O exame neurológico inclui vários testes lações intervertebrais, as “infiltrações articulares” com corticosteróides estão indicadas para reduzir a inflamação e o volume da articulação. Os “tratamento não convencionais” (Quiroprática / Osteopatia, Acupunctura, tratamentos por Laser…) podem ser uma ferramenta muito eficaz se utilizada por profissionais com experiência (fig. 12). O tratamento cirúrgico é uma possibilidade e consiste em provocar a fusão de um ou l

tratados adequadamente, especialmente se desenvolverem uma massa muscular adequada que forneça estabilidade e permita compensar parcialmente os défices neurológicos. Mas o prognóstico está muito dependente não só da gravidade do processo mas também da utilização pretendida para o cavalo. A utilização de um cavalo com um grau ligeiro ou

DIAGNÓSTICO O diagnóstico passa por um

TRATAMENTO Quando detectado em cavalos jovens (até 1 ano de idade), são recomendadas altera-

Fig. 9 – Exame radiográfico da últimas vértebras cervicais

Fig. 10 – Deve ser radiografado todo o pescoço

Fig. 11 – Mielografia

Fig. 12 – Exemplo de ElectroAcupunctura

exame clínico cuidadoso (fig. 8), devendo ser realizado um exame Radiográfico de todo o pescoço (fig. 9 e 10) que permita identificar malformações congénitas, estreitamento do canal vertebral e outras alterações (fracturas, Osteoartrite, etc.). O exame Radiográfico normal pode revelar-se inconclusivo, podendo então ser realizado uma Mielografia (fig. 11) – exame que necessita de anestesia

ções da dieta (restrições alimentares que limitem o crescimento rápido, suplementação com Vit. E e Cobre, equilíbrio da relação entre Cálcio e Fósforo, etc.) e restrição de exercício (para evitar traumatismos na região cervical que agravassem a situação), além de eventual tratamento médico. Quando detectado em cavalos mais velhos, associado a alterações crónicas das articu-

vários segmentos da coluna vertebral cervical através da aplicação de um implante de metal, estabilizando a coluna e impedindo os movimentos que causam compressão da medula.

mesmo moderado de ataxia pode ser relativamente aceitável para a Dressage ou mesmo para um cavaleiro profissional de Saltos de Obstáculos até um certo nível, mas constitui claramente um risco para actividades como o Concurso Completo de Equitação ou para cavaleiros amadores – e crianças!

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PROGNÓSTICO Na minha experiência os cavalos novos têm tendência para melhorar se o grau de ataxia for pouco acentuado e se forem

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J. P. M. (jpaulomarques@hotmail.com)

REVISTA EQUITAÇÃO

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GENÉTICA EQUINA

AVALIAÇÃO GENÉTICA PARA A FUNCIONALIDADE NO LUSITANO:

O CASO DE SUCESSO DO CAVALO ALTER REAL EM DRESSAGE O CAVALO DE PURO-SANGUE LUSITANO (PSL) É A MAIS IMPORTANTE RAÇA AUTÓCTONE PORTUGUESA DE EQUINOS. ESTE NOBRE ANIMAL TEM UMA LONGA HISTÓRIA EVOLUTIVA, SENDO CONSIDERADO UMA DAS MAIS ANTIGAS RAÇAS DE CAVALO DE SELA DO MUNDO (APSL, 2011).

António Vicente

a,b,c

Nuno Carolino

d,c

Luís T. Gama

c,*

Escola Superior Agrária do Instituto Politécnico de Santarém; bUnidade Estratégica de Investigação e Serviços de Biotecnologia e Recursos Genéticos, INIAV; cCIISA - Faculdade de Medicina Veterinária, Universidade de Lisboa; dEscola Universitária Vasco da Gama, Coimbra; a

Lusitano é o resultado da seleção de milhares de anos como animal de caça e de combate (nas guerras, condução de gado e combate à gineta entre outros). Este Ginete Ibérico ou Hispânico, como também pode ser designado, representa o arquétipo do cavalo barroco, apresentando um modelo muito típico e harmonioso, dotado de extrema coragem mas, ao mesmo tempo, docilidade e sociabilidade, sendo reconhecido há muito tempo como um dos melhores cavalos de sela do mundo, aliando ao bom temperamento andamentos fáceis e cómodos (Cordeiro, 1989). No panorama equestre português apresentam especial relevância as eguadas pertencentes ao Estado Português, nomeadamente da Coudelaria de Alter Real e da Coudelaria Nacional, sendo consideradas, a par das Coudelarias D´Andrade e Veiga, as 4 principais linhas existentes na população Lusitana. Neste documento vamos centrar as nossas atenções no cavalo de

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REVISTA EQUITAÇÃO

Alter Real e no seu desempenho desportivo em Dressage. Todos os anos, os criadores da raça Lusitana, tal como criadores de outras raças, deparam-se com a complexa tarefa de selecionar os animais (machos e/ou fêmeas) para utilizarem como reprodutores que possam transmitir características desejáveis aos seus descendentes (Figura 1). Assim, os criadores tentam identificar animais geneticamente superiores para as ca-

racterísticas que mais lhes interessam, para serem utilizados como reprodutores e, desta forma, transmitirem-nas aos seus descendentes. O programa de seleção da raça Lusitana tem, até ao presente, assentado essencialmente na escolha de animais com base na informação fenotípica (morfologia e andamentos) e pedigrees (genealogias), mas seria importante a inclusão de outros objetivos de melhoramento que traduzam a funcionalidade do

Figura 1 – Existe sempre o dilema de qual reprodutor escolher?

animal. Quando se pretende selecionar para um conjunto de características que constituam o objetivo de melhoramento numa determinada população, a seleção é mais eficaz se for praticada com base no valor genético estimado para essas características (Gama et al., 2004). Como um reprodutor transmite à descendência apenas metade dos seus genes e não as condições ambientais a que foi sujeito, interessa ao criador conhecer o valor genético dos animais, ou seja, qual o valor de um animal num programa de seleção ou o que o animal poderá transmitir à descendência. O valor fenotípico de um animal para determinado registo (e.g., pontuação morfológica = 80 pontos ou altura ao garrote = 1.60 m) pode ser um indicador do seu valor genético, mas também reflete as condições ambientais (criador, ano, época de nascimento, idade, sexo, alimentação, método de treino, etc.) a que o mesmo foi sujeito. Desta forma, a infor-


GENÉTICA EQUINA

VG = - 4 cm AltG A

X

- 2 cm

=

8 cm

4 cm

X

B VG = + 4 cm AltG

= + 2 cm

Figura 2 – Demonstração prática do conceito de valor genético - Altura ao Garrote mação fenotípica de um indivíduo, por si só, poderá ser um indicador pouco preciso do seu mérito genético. O valor genético de um animal representa o seu valor como reprodutor e pode ser interpretado como a sua superioridade ou inferioridade genética para o caracter em causa, cuja metade será transmitida à descendência (Figura 2). O valor genético tem significado essencialmente em termos comparativos. Por exemplo (Figura 2), se o macho A tiver um valor genético estimado de -4 cm para a altura ao garrote e o macho B tiver um valor genético de +4 cm, esperamos que, quando cada um dos machos é acasalado com uma fêmea qualquer da população, os filhos reflitam metade do valor genético do pai. Assim, é de esperar que os filhos do macho A tenham uma inferioridade de 4 cm (-4 cm) na altura ao garrote relativamente aos descendentes do macho B, já que ½(-4 cm) – ½(+4 cm) = -4 cm. Ou seja, em média, os descendentes do macho A serão 4 cm mais baixos que os descendentes do macho B. O mesmo raciocínio poderá ser efetuado quando consideramos o valor genético para outro qualquer caracter morfo-funcional, como seja a Dressage.

A predição dos valores genéticos constitui assim um passo essencial no processo de seleção, e a metodologia ideal para obter aquelas predições é o BLUP – Modelo Animal, que incorpora a informação de todos os parentes e leva em conta os efeitos fixos adequados (Henderson, 1994). O BLUP quando comparado com a seleção fenotípica, apresenta diversas vantagens que, em termos práticos, significam que o valor genético de um indivíduo predito por esta metodologia considera: A informação de todos os seus parentes mais ou menos distantes (pela inclusão da matriz de parentescos); • O valor genético dos participantes nos diferentes acasalamentos; • Todos os registos produtivos/funcionais disponíveis; • Os efeitos ambientais a que um registo é sujeito. Através da avaliação genética com o BLUP - Modelo Animal, pretende-se estimar com a maior precisão possível o valor genético de cada animal para as diversas características de interesse para o criador/selecionador, com base na informação produtiva (morfológica, funcional, etc.) disponível (própria e de parentes) e levando em consideração os efeitos aml

bientais que possam mascarar a expressão do potencial genético (ano e mês de nascimento, sexo, idade do animal, etc.). Assim sendo, a compilação e análise de elementos sobre aspetos funcionais no cavalo Lusitano permitirá uma seleção mais eficaz e, consequentemente, o melhoramento genético das suas aptidões. Como tal pretende-se neste trabalho apresentar os primeiros resultados sobre a avaliação genética na disciplina de Dressage na raça Lusitana, algo que será inédito nesta população autóctone, mas que já é prática corrente há vários anos nas principais raças de desporto mundiais. Com base nos resultados desta avaliação genética, iremos também proceder a uma apreciação relativa das qualidades do cavalo Alter Real em Dressage, dentro do horizonte da raça Lusitana. Neste estudo utilizou-se a base de dados do RNE da FAR e completou-se com informação sobre dados desportivos em Dressage fornecidos pela Federação Equestre Portuguesa, Federação Equestre Internacional e diferentes federações nacionais. Depois de editada e validada, a informação continha um ficheiro de genealogias com 53417 indivíduos (nascidos entre 1824 e 2009) e um ficheiro de 12131 resul-

tados de competição desportiva de 759 cavalos Lusitanos entre 2000 e 2012. Analisou-se a performance em dressage (expressa como classificação percentual) utilizando um modelo misto BLUP – Modelo animal univariado com registos repetidos. Inicialmente obtiveram-se estimativas dos parâmetros genéticos inerentes às características em estudo e posteriormente obtiveram-se predições do valor genético de cada animal. O modelo animal utilizado incluiu os efeitos fixos do evento (combinação de data e local de prova), nível de competição (desde Preliminar até Grande Prémio), sexo e ainda o efeito linear da consanguinidade e o efeito linear e quadrático da idade à prova. Os efeitos aleatórios considerados foram o valor genético do animal e o seu efeito ambiental permanente. As estatísticas descritivas e parâmetros genéticos do cavalo Lusitano para a Dressage estão expostas na Tabela 1. De realçar que se conseguiu compilar um manancial relevante de resultados desportivos de cavalos Lusitanos em Dressage, com cerca de 12 mil resultados de mais de sete centenas de cavalos diferentes, com uma classificação média global de aproximadamente 63%. Após as estimativas dos parâmetros genéticos no cavalo Lusitano pudemos então realizar a desejada avaliação genética para a Dressage, com o intuito de obter valores genéticos para os diferentes animais que compõem esta população. Com isto podemos obter rankings de animais consoante o seu valor genético estimado para diferentes características estudadas (morfológicas, funcionais, etc.). De realçar que as estimativas dos valores genéticos são dinâmicas, querendo dizer que devem ser atualizadas frequentemente (numa base anual) e à medida que vamos dispondo de mais informação desportiva poderREVISTA EQUITAÇÃO

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GENÉTICA EQUINA

se-ão alterar. Na Tabela 2 apresenta-se o ranking do mérito genético estimado dos melhores 22 animais Lusitanos em Dressage, ordenados a partir do mais alto valor genético para a Dressage (expresso em %). Para além do valor genético para a Dressage (expresso em %), podemos ainda observar o valor genético estimado para a altura ao garrote (expresso em cm), que evidencia o potencial genético de um determinado reprodutor na dimensão/tamanho que pode transmitir à descendência. Para as duas características, apresenta-se ainda a precisão das estimativas do valor genético, que traduzem a maior ou menor quantidade de informação existente. Como curiosidade indica-se ainda a pontuação dada a cada cavalo na inscrição no Livro de Adultos (LA) da raça e ainda a sua altura ao garrote.

Tabela 1 – Estatísticas descritivas e parâmetros genéticos para a Dressage em cavalos Lusitanos CARACTERÍSTICA N.º DE REGISTOS N.º DE CAVALOS MÉDIA ± DP (%) % MÍNIMA % MÁXIMA COEF. VARIAÇÃO (%) h2 re

DRESSAGE 12131 759 62.74 ± 4.47 37.00 89.6 7.13 0.32 0.60

DP – Desvio Padrão; h2 – heritabilidade; re – repetibilidade De realçar que no topo do ranking do mérito genético dos primeiros 22 cavalos em Dressage mais de 1/3 (8 indivíduos) são animais criados pela coudelaria de Alter Real, evidenciando os seus créditos firmados de uma coudelaria “com funcionalidade” e onde os animais se podem utilizar como cavalos de sela, fruto também do apurado trabalho de seleção desde

o tempo do Dr. Ruy D´Andrade, passando pela Escola Portuguesa de Arte Equestre. Não podemos deixar de referir o garanhão Rubi, conhecido mundialmente e líder do ranking global de avaliação genética para a dressage da raça, com um valor genético estimado de +6.03%, que se encontra mais de 2 desvios padrão genéticos acima da média. Di-

Tabela 2 – Ranking de mérito genético para a Dressage do Top 22 animais de raça Lusitana. Especial realce (a negrito) para os animais Alter-Real NOME

SEXO CRIADOR

PT

AG

COUDELARIA DE ALTER JOAO P. RODRIGUES PEDRO PASSANHA, D. COUDELARIA MEIA LUA COUDELARIA DE ALTER CASA CADAVAL COUDELARIA DE ALTER COUD. MONTE VELHO PEDRO FERRAZ COSTA COUD. STA.MARGARIDA JOAO P. RODRIGUES COUDELARIA DE ALTER COUDELARIA DE ALTER SOC. QUINTA TERRAS CIPARQUE COUD. OLIVEIRA SANTOS COUDELARIA DE ALTER PAULO CAETANO COUDELARIA DE ALTER SOC. QUINTA TERRAS JULIO E GUILHERME BORBA COUDELARIA DE ALTER

72.0 78.5 76.0 74.5 69.5 73.5 74.5 73.5 72.5 81.0 76.0 -77.0 72.5 80.0 73.0 72.5 70.5 76.5 80.0 66.0 75.0

1.65 1.66 1.70 1.71 1.71 1.62 1.61 1.66 1.67 1.64 1.62 -1.60 1.69 1.63 1.60 1.62 1.62 1.61 -1.64 --

Média

74.5

1.64

ANO NASC VG_DRES Prec_DRES VG_AG

Prec_AG

retamente ligado a este importante garanhão estão todos os seus parentes (He-Xila - mãe, Beirão, Coronel, Coroado, Berinjela, Caramulo - filhos) também com índices genéticos elevados. Pensamos que assim fica objetivamente provado todo o valor e potencial do cavalo Alter Real em funcionalidade, em particular na disciplina de Dressage, onde se tem distinguido e evidenciado nos últimos anos. Desta forma, a avaliação genética com o BLUP – Modelo Animal pode-se considerar como a metodologia de seleção atualmente mais precisa, tendo em consideração os objetivos de melhoramento da raça Lusitana em Portugal e no mundo. Somente desta forma podemos ser mais objetivos na escolha dos reprodutores a utilizar no futuro e como tal revela-se fundamental a realização de avaliações genéticas para a morfologia e funcionalidade de forma rotineira, numa base anual, que permitam maximizar o progresso genético na raça Lusitana. ■

RUBI BARILOCHE ZAIRE OXALIS MEIA LUA BEIRAO ZIRCON CORONEL QUIXOTE TALISCO SPARTACUS ROUXINOL COROADO HE-XILA ALTIVA XAQUIRO BARLAVENTO PAJEU UTIL BERINJELA DRAGAO FIGUEI. REGENTE CARAMULO

M M M F M M M M M M M M F F M M M M F M M M

1998 2006 2004 1995 2006 2004 2007 1997 2000 1999 1998 2007 1989 2005 1980 2006 1996 2001 2006 2008 1998 2007

6.03 6.01 5.66 5.40 5.19 5.14 5.09 5.04 4.95 4.94 4.90 4.90 4.89 4.83 4.73 4.62 4.62 4.56 4.55 4.41 4.38 4.37

0.79 0.73 0.74 0.75 0.73 0.70 0.74 0.76 0.77 0.80 0.65 0.71 0.62 0.71 0.87 0.75 0.72 0.75 0.56 0.71 0.62 0.56

2.77 2.61 2.61 4.06 2.90 1.28 3.36 0.88 1.81 3.12 3.34 1.00 0.93 5.80 2.68 1.99 0.04 1.05 3.27 5.88 3.83 3.42

0.83 0.66 0.66 0.79 0.64 0.67 0.64 0.87 0.86 0.88 0.87 0.65 0.87 0.80 0.97 0.68 0.82 0.85 0.66 0.66 0.81 0.68

PT – Pontuação Total; AG – Altura ao garrote; ANONASC – Ano de nascimento; VG_Dress – Valor genético para a Dressage (em %); Prec_Dress – Precisão da estimativa para a Dressage; VG_AG – Valor genético para a Altura ao Garrote (em cm); Prec_AG – Precisão da estimativa para a Altura ao Garrote 62

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AGRADECIMENTOS: À FEP e Jump-Off pela disponibilização dos resultados desportivos de cavalos Lusitanos, à FAR/AR pela disponibilização da base de dados da população Lusitana e à APSL por todo o apoio neste estudo. BIBLIOGRAFIA CONSULTADA APSL (2011). Catálogo 2009|2011. Ed. Associação Portuguesa de Criadores do Cavalo Puro Sangue Lusitano, 183 pp. Cordeiro, A. (1989). Cavalo Lusitano: O filho do vento. Edições Inapa, Lisboa, 231 pp. Gama, L. T, Matos, C. P. e Carolino, N. (2004). Modelos Mistos em Melhoramento Animal. Arquivos Veterinários, Nº7, Direcção Geral de Veterinária - Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e Pescas, Portugal. Henderson, C. R., 1994. Applications of Linear Models in Animal Breeding. Third printing. University of Guelph, Canada.



NUTRIÇÃO

EQUINOS: A NUTRIÇÃO DE MÃO DADA COM O COMPORTAMENTO CHEGÁMOS À PAIXÃO DO TOURO GRAÇAS AO CAVALO, OU É O TOURO QUE NOS LEVA A AMAR O CAVALO? NA PENÍNSULA IBÉRICA O TOURO É REI. E O CAVALO LUSITANO UM CAVALO DE REI. ERA NORMAL QUE A HISTORIA OS FIZESSE ENCONTRAREM-SE E…APRECIAREM-SE MUTUAMENTE (BOULIN, 2004).

Liliana Castelo

epois do “divórcio” com o cavalo Andaluz (até aí denominado como o cavalo Ibérico) a então adjectivação mais que correcta, finalmente o Nosso Cavalo, o Cavalo Lusitano. O Nosso Lusitano: Nobre Guerreiro e Grande Toureiro. Corajoso, Voluntarioso, mas Submisso; Activo e de Reflexos rápidos; Estimulante, Dinâmico mas sereno, quase Calmo; Ágil e Manejável; Rápido e Hábil; Possante; Inteligente e Brilhante… Mas não há como negar que a criação Lusitana atravessasse algumas crises, o que levou a que fossem usados como reforços os Cruzados; mostrando resultados satisfatórios capazes de impressionar os seus próprios parentes Lusitanos. Mais ligeiros, mais ágeis, mais dinâmicos e sobretudo excelentes no galope (Boulin, 2004). Mais tarde, os nossos criadores trariam de volta ao mundo o Lusitano Guerreiro e Toureiro. Nas palavras do meu querido amigo, o cavaleiro tauromáquico Jorge D’ Almeida, para tourear havia 3 tipos de cavalos: os génios Lusitanos, os craques Luso-Àrabes, e os melhores “3 Sangues”.

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Sabemos que, quando se menciona um cavalo de Toureio, quando nos referimos a ele sobre a sua óptima prestação naquela tarde de Verão, com o pôr-do- sol como pano de fundo, ou nas suas linhas genealógicas, ou como poderá ganhar o prémio da época, ou como nunca o imaginamos a tourear desta forma, enfim…não pensamos nele como um atleta, mas somos obrigados a fazêlo. O Cavalo de Toureio é um cavalo Desportista! E como tal,

assim como todas as outras modalidades desportivas requerem uma dieta alimentar específica, este caso não foge à regra; tendo em conta obviamente, que é uma modalidade especial, sendo considerada uma Tradição, e que se rege apenas pela chamada Temporada, que ocupa as estações da Primavera e Verão; assim, Outono e Inverno são aproveitados para que toureiros e cavalos se possam recompor de um período bem preenchido e extenuante, e

para que possam preparar a Temporada seguinte dedicando-se a cavalos novos, retomando o trabalho diário dos cavalos já confirmados, sem qualquer tipo de stress ou pressão. Quando conversámos com um cliente e grande amigo, o cavaleiro David Gomes, sobre a dieta alimentar que pretende para os seus cavalos, pedimos que nos explique na prática como quer “sentir” os seus cavalos quando os monta, durante


NUTRIÇÃO

a Época/Temporada, quer nos treinos, quer nas corridas. David, explica-nos que em primeira-mão necessita ter os seus cavalos tranquilos, para aguentar não só a pressão que lhes é imposta numa corrida, mas durante toda a época; necessita de os “sentir” energéticos, rápidos, para por exemplo, quando tem que sair da cara do touro e/ou ir à cara do touro, e ao mesmo tempo resistentes, também não só para aguentar a corrida como a época (que inclui corridas, treinos, transportes, etc). No nosso entender, enquanto em outras modalidades equestres, o cavalo é induzido a ultrapassar quaisquer que sejam as barreiras/dificuldades que lhe são impostas (exercícios, obstáculos, percursos, circuitos, etc), toda esta modalidade, toda esta tradição engloba uma “mística com cores diferentes”; onde estão envolvidos, para além do nosso conjunto (cavalo+cavaleiro) e público (sinal de barulho), outro elemento importantíssimo, outro ser vivo, que tal qual o cavalo, também apresenta medos, emoções, agilidade, bravura, nobreza, grandeza…o Touro! Este será o PONTO FULCRAL da dieta alimentar do nosso Cavalo de Toureio. Pode parecer um pouco confuso, mas não é. Este cavalo

tem que ser muito bem trabalhado mentalmente. Aliados à sua conformação, morfologia, condições ambientais a que está sujeito, condição corporal/ fitness e classificação da Temporada; as suas emoções, o seu temperamento e a forma como nós queremos que se apresente em Praça, serão a chave mestra da nossa dieta! O Cavalo de Toureio, querse Atento, que seja Preciso, Rápido e que Reaja depressa, para responder à velocidade de carga da “bomba preta”. Aqui já não tem direito a erro, ele sente-o, ele sabe-o. Adivinhase nele, uma emoção nascente, uma concentração nova, um olhar penetrante (Boulin, 2004); nunca esquecendo, que precisamos dele Resistente, uma Época inteira. Como nota, a dieta deste tipo de cavalo é um pouco semelhante à dieta do cavalo de Dressage, tendo depois os seus “pózinhos mágicos” necessários à sua actividade. A sua Dieta é baseada numa percentagem de Proteína Média (neste caso, teremos que fazer referência aos malefícios da P em excesso nestes cavalos relativamente a sua actividade), numa percentagem de Fibra Alta e à presença muito importante do aminoácido Triptofano. À medida que vamos

esmiuçando esta dieta, obviamente faremos referência a Gordura, Vitaminas e Minerais. Ora, sabemos que o Cavalo de Toureio, assim, como todos os outros cavalos atletas, necessita de Energia. Neste caso específico, “cozinhamos” uma dieta rica em Fibra e com uma “pitada” de Gordura e uma “pitadinha” de Açúcares e Amidos. Serão estes dois últimos, que nos darão a rapidez e a precisão de reacção, ainda que ajudados (o que será explicado mais adiante); e a primeira, um pouco ajudada pela segunda, a sempre requisitada resistência. A nossa dieta em Gordura não irá além de uma percentagem média, e baixa, no que diz respeito aos Açúcares e Amidos; isto porque, mesmo sendo a Gordura traduzida em E lenta (E que se “vai gastando”), é a primeira a ser directamente absorvida; enquanto que os Amidos e Açúcares, fornecem um aporte energético brutal pois, são absorvidos rapidamente em comparação com a Fibra e Gordura, traduzindo-se em E rápida. Relativamente à Gordura, já não é novidade o que descrevemos, ou seja, qualquer que seja a modalidade, qualquer que seja a dieta, qualquer que seja o concentrado, a forma desta ser introduzida é sob a forma de Óleos, sendo o mais usual, o Óleo de Soja.

Também se pode usar como suplemento, em casa, o Óleo de Girassol ou Milho, principalmente, em cavalos que se “esgotem” demasiado depressa. No nosso ponto de vista, este tipo de suplementação no Cavalo de Toureio deverá ser em último recurso. Na Fibra, está focada toda uma fonte de Energia e nutrientes, e um intestino a funcionar de “forma capaz”, para que problemas não possam ocorrer, e o metabolismo do cavalo tirar o maior partido de uma ingestão adequada. Serve ainda como armazenamento de fluidos no Intestino Grosso, que hidratam o cavalo, à medida que vai havendo perdas por sudação, respiratórias e urinárias. Sendo também uma fonte de E lenta, tal qual a que advém da Gordura, só não fica disponível tão rapidamente devido aos diferentes tipos de digestão. Assim, teremos o nosso cavalo rápido e reactivo, através da E obtida em parte pela Gordura (apesar de ser E lenta, é absorvida rapidamente) e pelos Amidos e Açúcares (E rápida); e resistente através de uma E lenta obtida pela ingestão de Fibra que deverá ser contínua e adequada em relação ao trabalho, ao cavalo, fitness e à quantidade de concentrado; e em parte também pela Gordura. A Proteína, não é dos itens mais relevantes pela positiva, mas pela negativa; ou seja, segundo a nossa opinião, a nossa dieta deverá ter uma Proteína Bruta Média, que não necessitará ultrapassar os 12-12,5%. Querse sim, uma proteína de qualidade e não em quantidade! Já revelámos em artigos anteriores que a luzerna e a soja são fontes de proteína de qualidade! Este tipo de cavalo, é um cavalo, que, como nos pede o cavaleiro David Gomes: “que seja rápido, rápido a ir à cara do touro, rápido a sair da cara do touro…”. Ora, se quando formulamos uma dieta alimentar para este tipo de cavalo, se REVISTA EQUITAÇÃO

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NUTRIÇÃO

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o injectamos com proteína, o que vai acontecer?! Vamos “enfartar” o cavalo, vamos tornálo lento para o “zás e vira”, vamos fazer com que se canse mais depressa e não consiga responder ao que o seu cavaleiro lhe pede, vamos aumentar a sudação, estimular a diurese, aumentar as necessidades em água, desequilibrar a termoregulação, aumentar-lhe o stress e torná-lo ainda mais nervoso (caso já o esteja). “É bonito, está redondinho”…mas NÃO é funcional! Queremos sim, um cavalo bonito, bem apre-

cavalo, que necessite realmente, de um aminoácido essencial deveras importantíssimo no “turbilhão” temperamento, designado por Triptofano, a ser incorporado no seu alimento composto ou em preparações tipo suplementos. Este aminoácido essencial¹ é um precursor do neurotransmissor serotonina, que está implicado na sedação e inibição do comportamento agressivo, medo e stress. É através deste aa que obtemos toda a tranquilidade que necessitamos neste tipo de cavalo; não só em casa, mas principalmente

exigências por parte do organismo atleta, principalmente para contrariar as perdas na sudação e urina; quer seja no concentrado, quer seja com suplementos. Damos relevância ao Fe, pois está incorporado na hemoglobina (60%), mioglobina do músculo (20%), e formas de armazenamento (20%), enzimas oxidativas musculares (0,2%), funcionando como factor anti anémico; ao Se, que em combinação com a vitamina E, actua como um anti-oxidante para prevenir a oxidação de ácidos gordos poli-insaturados prote-

sentável em termos de condição física, com um bom tónus muscular, em termos de pelagem, mas que em praça consiga combater “frente a frente” com a “bomba negra”. É aqui que entra para nós, o tal ponto fulcral supra referido, o Triptofano. Presentemente, o interesse à volta da nutrição e dietas alimentares está muito focado, muito voltado para o temperamento e tratabilidade (Waltham, 2006). Aliás, para nós, em Portugal, este é talvez o único tipo de

nos treinos e corridas. O nosso cavalo, que tem tendência a ter medo, acaba por perdê-lo, não entra tanto em stress e consegue manter-se calmo ou mais calmo ainda quando e sempre que necessário. Relativamente aos Minerais, estes desempenham um papel estrutural e co-factor importante em muitos processos metabólicos no organismo. A suplementação dos Macro minerais ( Ca, P e Mg) e Micro minerais ( K, Cl, Na, Fe, Cu, Se, Io, Zn), dos quais K, Cl e Na são Electrólitos, é inevitável devido às elevadas

gendo as membranas musculares e celulares; Electrólitos. Pedese a presença contínua de uma pedra de sal por cavalo. As Vitaminas, essas, as mais usuais são a A, D e E, podendo neste caso incorporar-se a Vit C; são essenciais a vários processos metabólicos, equilíbrio de minerais, produção de hormonas e regulação de tantas outras funções vitais. A Vit E, que como já supra referido, associada ao Se, protege a gordura de reserva da oxidação e participa na protecção do músculo e todas as membranas biológicas.

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A Vit C, passa a ser utilizada para estimulação do metabolismo muscular, tornando-se tão importante quanto a Vit E como antioxidante (Castelo, 2014). A nossa amiga Biotina, também pode ser incorporada no nosso alimento concentrado, mas tenha-a sempre por perto, pois os nossos atletas necessitam dela para cascos, pele e pelagem. É deveras importante concentrarmo-nos cada vez, cada hora, cada minuto, em que tentamos idealizar uma dieta para um determinado cavalo. Nunca, mas nunca esquecer de ter o seu comportamento em questão. A Nutrição de um cavalo, não vale só pelo seu sistema digestivo; vale pela sua mente, pelo seu comportamento, pelas condições ambientais a que está sujeito, pelo seu cavaleiro, pelos seus gostos (palatibilidade, apetência, vontade). Esta modalidade, mais Tradição, se quiserem, mostra-nos isso mesmo. Esta dieta é baseada no cavalo do rei, no cavalo de lazer, com necessidades de manutenção, e que automaticamente se converte num Guerreiro! Posto isto, pensamos não necessitar quase escrever mais… Quando temos, um Cavalo pronto para entrar em Praça, para enfrentar “cara a cara” a “bomba negra”, sabemos no nosso coração que podemos confiar nele, pois nutricionalmente fizeram tudo de forma correcta, em casa treinámos bem, e que ele, o nosso Cavalo de Toureio, está atento, reactivo, sente-se com velocidade de arranque, com “estofo” e o mais importante, impávido e sereno, calmo, como “que levitasse”, tranquilo…e entregase ao seu cavaleiro…sai em ovação…e descansa à espera da próxima “bomba negra”… Grande Abraço Equino! ■

¹ Aminoácido que não é sintetizado pelo organismo do cavalo. Queria deixar aqui um agradecimento especial aos amigos cavaleiros pela cortesia das fotos.


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EQUITAÇÃO NATURAL

INVESTIR NO FUTURO DO SEU POLDRO - PARTE 2 NO ARTIGO ANTERIOR FALEI SOBRE O PRIMEIRO “RITUAL DE PASSAGEM” NA VIDA DE UM CAVALO, ISTO É, QUANDO ELE É DESMAMADO E SEPARADO DA SUA MÃE. O SEGUNDO “RITUAL DE PASSAGEM”, PARA A MAIORIA DOS CAVALOS DOMESTICADOS, É A PRIMEIRA VEZ QUE SÃO MONTADOS POR UM CAVALEIRO. sua preparação para este momento, tanto física como psicológica, é crucial e pode vir a ditar o sucesso ou fracasso no futuro. Temos de parar de recriar o cenário em que poldros de três anos assustados e de olhos esbugalhados são trazidos do campo e fechados num estábulo (a “solitária”). Mal estão “domados” antes de serem atados a uma corda e exercitados em círculos maquinais. Certos processos são lhes "aplicados” e o seu livre-arbítrio é-lhes retirado. O foco deste processo é no seu desenvolvimento físico, em vez de se focar no seu bem-estar emocional. Muitas das vezes,

A

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estes poldros, que são trazidos do campo aos três anos de idade são postos num estábulo para nunca mais voltarem a experienciar a liberdade, a interacção com outros cavalos ou sentir a relva por baixo dos seus cascos. Psicologicamente falando, isto é uma tragédia. O confinamento, a perda de livre-arbítrio e contacto com outros cavalos é, para muitos deles, mais do que conseguem suportar e consequentemente desenvolvem doenças mentais. Isto é visível nos olhos mortiços, nos vícios de estábulo, no “mau feitio” e em alguns problemas veterinários induzidos pelo stress, experienciados por ca-

valos que vivem permanentemente fechados em estábulos. Temos de mitigar o stress do processo de treino, incluindo introduzir gradualmente o conceito de confinamento aos cavalos jovens e ajudá-los a aceitarem-no. Estes necessitam de querer voluntariamente relacionar-se connosco, ao invés de os fazermos sentir completamente impotentes quanto a todo o processo. Investir tempo nos nossos cavalos jovens paga dividendos gigantescos mais tarde. Não esperamos até que as nossas crianças sejam adolescentes para os ensinar e pôr na escola pois não? Da mesma forma, começar a

aprender numa idade formativa também é muito melhor para os cavalos. As melhores e mais competentes escolas criam um ambiente estimulante onde as crianças se sentem seguras para se exprimirem. Os seus professores focam-se na tarefa de fazer com que as crianças se apaixonem pelo processo de aprender e com que desenvolvam mentes curiosas e inquisidoras. Os melhores professores ou treinadores de que todos nos iremos relembrar para toda a vida são aqueles que nos guiaram, inspiraram e incentivaram. Quando estávamos nas suas aulas, respeitávamo-los e que-


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ríamos aprender e dar o nosso melhor para eles. Os professores mais fracos, que não desenvolveram empatia com os seus alunos e em vez disso usaram coação para os disciplinar e se focaram apenas nas notas e nos resultados das competições, evocam memórias bem diferentes em nós. Podemos a partir daí fazer analogias com o treino de cavalos jovens. É necessário que lhes mostremos como viver em domesticação, uma vez que viver assim não é natural para eles, por isso quanto mais cedo começarmos melhor. Para se ser um bom treinador temos de nos focar em construir uma boa relação com o cavalo e em mostrar-lhe que é divertido aprender. Temos de conseguir que ele se interesse em cooperar connosco e temos de nos ligar à sua mente, pois é a mente dele que controla o seu corpo e move os seus cascos. Se conseguir ligar-se à mente do seu cavalo de uma forma positiva, conseguir mover o corpo dele da maneira que quer e para onde quer, torna-se muito mais fácil. Assim que começar a criar puzzles para o cavalo resolver e ele lhe começar a fazer perguntas, tem aí o início de uma relação de parceria (e sim, para aqueles que acabaram de se rir, os cavalos fazem-nos perguntas quando estamos a fazer bem as coisas). Os puzzles que criamos para os cavalos jovens são pequenos e parecem insignificantes em si mesmos mas, tal como as crianças que brincam com blocos de construção, estes ensinam-lhes a como se envolverem no processo de aprendizagem e desenvolvem confiança e uma mente inquisidora. O treino é uma mistura de sensitização e dessensitização. Queremos que eles fiquem calmos e/ou que ignorem coisas que naturalmente os podem assustar. A lista destas coisas é muito longa e começa com os seres humanos, mas pode incluir coisas como cordas, sacos de

plástico, barulhos altos, carros, cobrejões, mangueiras, água, máquinas de tosquiar, selas, injecções do veterinário, estábulos ou o atrelado. Mas queremos que eles desenvolvam sensibilidade a outras coisas, tais como a respeitar o nosso espaço pessoal para que não nos atropelem, a prestar atenção à nossa linguagem corporal para que saibam ler o que lhes estamos a pedir e que nos saibam dar respostas fáceis e leves a ajudas de pressão directa ou indirecta. Os cavalos só aprendem positivamente se se sentirem seguros. Sentirem-se seguros é a sua primeira prioridade. Por isso, independentemente do porquê de um cavalo estar preocupado, temos de honrá-lo e respeitá-lo ao aceitar que ele está preocupado e que não se sente seguro, e ajudá-lo a ultrapassar isso. O conceito da “Chávena da Preocupação” é útil neste caso. Todos os cavalos têm a sua própria “Chávena da Preocupação”. Alguns cavalos têm uma chávena tão

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Foto: Anne Langan

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pequena que um problema pequenino é suficiente para a encher e a fazer transbordar, enquanto que outros têm uma chávena com um litro de capacidade e é preciso muito que os assuste para a encher até acima. Seja qual for o tamanho da chávena do seu cavalo, se continuar a enchê-la de preocupações esta eventualmente há-de transbordar. O nosso objectivo é manter a chávena tão vazia quanto possível. Isto é melhor aprendido antes do cavalo ser montado, porque se não aprendermos a ajudar o cavalo a “esvaziar” as suas preocupações pode ser o cavaleiro a pagar o preço, ao ser ele próprio “esvaziado” para o chão quando a chávena do cavalo transborda. Os cavalos jovens têm de ser expostos em doses pequenas a uma variedade de objectos e situações que irão encontrar na sua vida domesticada. Desenvolver curiosidade e capacidades de resolução de problemas através do uso de jogos, obstáculos, brinquedos e mudanças de ambiente acaba por acelerar a aprendizagem e produz um cavalo que está pronto para ser montado, não só fisicamente mas também emocionalmente. A técnica principal para a 70

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dessensitização é “Aproximar e Recuar”. Isto soa muito simples mas o timing deste processo é crucial. Se recuar no momento errado pode estar a ensinar o oposto do que quer. Por exemplo: assim que já conseguimos levar o cavalo por uma corda e tocar-lhe no corpo todo com as nossas mãos sem ele ter medo de nós, um dos exercícios mais simples a fazer é atirar uma corda para cima do seu dorso. Fazemos isto para que o cavalo se habitue a movimentos rítmicos. O objectivo é que ele fique quieto e relaxado durante o exercício. O cavalo tem um cabresto e uma guia longa (usamos guias de 4 metros para este tipo de exercícios). Devemos estar com uma postura relaxada e a cerca de um metro do ombro do cavalo e ritmicamente atirar a ponta da corda sobre o seu dorso, de forma a que aterre suavemente neste. O exercício deve ser feito num lugar amplo e o cavalo não deve ser impedido de mover os seus cascos se sentir essa necessidade. Não tente fazer com que ele fique quieto, pois o objectivo aqui é fazer com que ele QUEIRA estar quieto. Ao permitir que ele tenha o livre-arbítrio de fazer essa escolha, está a honrá-lo. Inicialmente muitos cavalos jo-

vens têm medo e afastam-se da “cobra voadora”. Se parar de mover a corda (parar É recuar) quando eles se estão a afastar, está a ensiná-los a escapar. Se o seguir continuando o mesmo movimento rítmico da corda a passar-lhe para cima do dorso, de forma gentil, e no momento em que ele parar e ficar quieto você parar de atirar a corda, está a ensinar-lhe que parar quieto é a resposta certa. Ele pode mexer-se de novo a seguir, mas nesse instante ele ficou quieto e você parou. Repita isto algumas vezes e em breve ele irá entender. Este exercício tem de ser feito em ambos os lados do cavalo. Se eles tiverem mesmo muito medo deste exercício, então volte a um exercício mais básico no qual leva o cavalo pela guia atrás de si e vai a balançar a corda à sua frente. Nesse caso ele está a andar na direcção da corda, a qual se está a afastar dele. Portanto você está a “recuar” mas ele está a avançar na direcção do que o estava a assustar. Os predadores não recuam, portanto ao fazê-lo está a enfatizar que você não é nem vai agir como um predador. Todo este processo desenvolve confiança, curiosidade e bravura no cavalo para que, quando voltar ao exercício de atirar a

corda para o seu dorso, ele esteja mais receptivo a aceitálo. Durante estes exercícios preste particular atenção a onde está o foco de atenção do cavalo. As suas orelhas são um bom indicador disso. Ele está a olhar para si? Pelo menos uma das orelhas dele está virada ou a virar para a sua direcção? Se ele estiver a piscar os olhos isso significa que ele está a pensar. Se ele não está a piscar os olhos, então está tenso. Se o vir a lamber-se e a mastigar isso é um sinal de que ele está a aprender e a processar nova informação. Este estágio do “treino PréSela” continua até à primeira vez em que um cavalo é montado a qual, se a nossa preparação foi a correcta, deve correr tranquilamente. Se algum criador ou estabelecimento de treino de cavalos que tenha cavalos jovens estiver interessado em que eu vá até lá por uma ou duas semanas para demonstrar as técnicas usadas na Equitação Natural para o treino Pré-Sela, por favor contacte a APEN através do nosso endereço de correio eletrónico equitacaonatural@gmail.com para que possamos organizá-lo. n

Janet Hakeney, Presidente da Associação Portuguesa de Equitação Natural Tradução: Patrícia Baptista

Email: equitacaonatural@gmail.com Website: www.enportugal.org/ Facebook: www.facebook.com/EnPortugal


FEIRAS E EVENTOS

FEIRA ANUAL DA TROFA CANNABIS CAMPEÃO DE CAMPEÕES DEPOIS DO ADIAMENTO DEVIDO AO MAU TEMPO, AS ACTIVIDADES EQUESTRES DA FEIRA DA TROFA DECORRERAM NOS DIAS 7, 8 E 9 DE MARÇO, SEM SOBRESSALTOS E EM CLIMA DE FESTA, COMO É HABITUAL. Concurso de Modelo e Andamentos, atrai sempre inúmeros criadores do norte e contou com cinco classes para fémeas e igual número para machos. Cannabis, criação da Quinta dos Pedros e propriedade de Paulo Bessa, foi o vencedor da classe de poldros de 5 ou mais anos (medalha de ouro), e posteriormente eleito Campeão Macho e Campeão de Campeões. Nas éguas, o título de Campeã Fémeas foi entregue a Hizis, vencedora da classe de poldras de 2 anos (medalha de prata), criação e propriedade de Luís Pires dos Santos. Manuel Maia Correia foi o Melhor Criador e Carlos Ramalhete eleito o Melhor Apresentador. Por estes dias realizaram-se ainda diversas provas desportivas. No Derby de Atrelagem, a contar para o Campeonato Regional do Norte, ganhou Pedro Gomes (Pónei), Rodrigo Silva Jr. (Pónei Parelhas), Fer-

O

nando Almeida (1 Cavalo) e Nuno Silva (Parelha de Cavalos). Na jornada do Campeonato Regional do Norte de Equitação de Trabalho, estiveram melhor: Miguel Fonseca

(Cavalos Debutantes), Mariana Campos (Cavaleiros Debutantes), André Costa (Juvenis), Bruno Pinto (Juniores) e Vitor Silva (Consagrados B). Houve ainda Horsepaper -

ganho por Ricardo Duarte na categoria de Cavalos Montados e Miguel Flores em Carro de Cavalos - e Cavalhadas - onde Carlos Filipe apresentou maior destreza. AF/Fotos: Trofa Tv n

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FORMAR GRUPOS DE CAVALOS INTEIROS

RITUAIS HIERÁRQUICOS E SUAS CONSEQUÊNCIAS É EXCEPCIONAL VER CAVALOS INTEIROS JUNTOS, MAS MUITO POUCA GENTE NO MUNDO LHES PERMITE ESTA CONVIVÊNCIA. NORMALMENTE DEIXAM-SE JUNTOS OS MACHOS SÓ ATÉ COMEÇAR O DESBASTE, E DEPOIS ESTÃO FECHADOS EM BOXES PARA TREINÁ-LOS OU PARA SERVIR COMO GARANHÕES. EU DECIDI EXPERIMENTAR JUNTAR OS MEUS CAVALOS INTEIROS E ESTÃO A VIVER FELIZES E SAUDÁVEIS EM GRUPOS NO CAMPO. cavalo inteiro é sempre considerado mais perigoso que uma égua ou um cavalo castrado, por isso está condenado a viver fechado numa boxe e isolado dos outros cavalos. Mas na realidade, o cavalo inteiro tem as mesmas necessidades que qualquer cavalo! E se lhe oferecemos condições de vida etológicas e ecológicas, torna-se um cavalo tranquilo e sociável, tirando obviamente alguma excepção devido ao seu historial, mas quanto mais isolado e imobilizado estiver, mais frustrado e nervoso fica. Como já vimos noutro artigo, é essencial para o equilíbrio emocional e físico de um cavalo, ter espaço para se movimentar, estar a mastigar o dia todo uma comida à base de forragem ou pasto natural, e ter companheiros equinos com os quais se relacionar. Se não estiverem respeitadas estas necessidades, o cavalo desenvolve problemas de saúde assim como comportamentos nervosos ou agressivos, por consequência de uma carência afectiva e social. A maioria das pessoas pensam que se juntarem cavalos inteiros, este vão simples e radicalmente matar-se! Pela minha experiência, comecei a juntar os meus oito cavalos inteiros há 8 anos. Fi-lo com precaução, a pouco e pouco, experimentando vários

comum é esta, mesmo não sendo uma regra geral porque sempre depende do animal. u Segundo, porque um animal inteiro (macho ou fêmea) sempre será guiado pelo seu instinto de reprodução e ficará mais pendente dos seus congéneres em períodos de fertilidade das fêmeas. u Terceiro, porque um garanhão, na natureza, é responsável pela segurança da sua manada e a preservação da sua espécie. Por isso, estará sempre em estado de vigilância, à espera da chegada de um predador ou de um rival que queira roubar-lhe as suas éguas; e estará pronto a defender. Por isso é mais inseguro, agitado, reactivo, e preparado para o ataque. O cavalo inteiro, por instinto de sobrevivência, tem que demostrar que é o mais forte e o mais bonito! E aceita mais dificilmente submeter-se.

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grupos de dois, de quatro e até ter os oito todos juntos. Agora tenho 14 cavalos machos em vários grupos. Tive a oportunidade de observar as reacções e a convivência de cavalos de vários tipos de idades e carácteres, em vários tipos de circunstâncias (presença ou vizinhança de poldros, castrados ou éguas). E quero partilhar com vocês agora estas minhas observações e conclusões…

PORQUE OS CAVALOS INTEI-

QUE ACONTECE QUANDO DOIS

ROS BRIGAM MAIS?

CAVALOS INTEIROS SE JUNTAM?

Em geral, é mais complicado lidar com ou treinar cavalos inteiros: u Primeiro, qualquer animal castrado deixa de ser influenciado pelas suas hormonas que alteram as suas emoções. Por isso, um animal castrado é sempre mais estável, constante no seu comportamento, mais previsível, tranquilo e pacífico. A tendência

Vão sistematicamente avaliar-se, através de rituais e atitudes muito bem codificados, para definir a hierarquia entre eles dois. Estas avaliações serão breves, teatrais, barulhentas e de intensidade crescente até um dos dois desistir. Descrição dos rituais de avaliação por grau de agressividade:


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Desafios à distância: u Os cavalos cheiram o material fecal dos outros, e dejectam em cima de um monte, e viram-se para cheirar as suas próprias fezes. u Rasgam o chão com uma mão, impacientes por se encontrarem com o outro, chamando a atenção. u Cheiram-se a si próprios debaixo dos braços. u Emitem gritos específicos agudos. u Mostram-se o mais bonitos e altos possível, colocando a cabeça verticalmente com a nuca alta, elevando as espáduas e baixando a garupa, oferecendo um espectáculo quando se movimentam. Contacto sem agressão: u O primeiro contacto é imóvel, frente a frente ou de lado com a cabeça virada para

soprar no nariz do outro; ou cheirando as partes genitais ou também debaixo dos braços do outro. u Os cavalos empurram-se com a cabeça ao nível da barriga do outro. u Depois de um tempo a chei-

rarem-se (alguns minutos), começam a gritar e a lançar uma mão bem alto na sua frente (como se efectuassem um passo espanhol), ou levantam-se sobre os posteriores, batendo com as mãos. u Colocam os pescoços acima das costas dos outros.

Agressões: u Os cavalos tentam ajoelhar ou deitar o outro, mordendolhes as pernas ou as mãos. u Agarram o garrote dos outros com a boca e empinam-se para os deitarem no chão. u Atiram-se bruscamente


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acima de qualquer parte do corpo dos outros para os morder. u Viram-se rapidamente e dão coices para se defenderem de uma mordidela. u Agarraram-se um aos outros com os braços depois de se empinarem sobre os posteriores. Finalização: u Depois de alguns minutos destes rituais muito teatrais, um dos dois começa a correr e iniciam ambos uma corrida. u Depois podem ou não repetir estes rituais, até o perseguidor deixar de correr atrás do perseguido, e os dois desinteressarem-se pela briga. u Começam a dar sinais de relaxação: lambem-se, bocejam, procuram comida, rebolamse… O tempo e a intensidade dos rituais dependem do carácter de cada cavalo e das circunstâncias. Mas na maioria dos casos, se as condições do encontro estiverem adequadas (descritas no meu próximo artigo: espaço, ausência de éguas, etc…), não chegam a ferir-se. Trata-se mais de atitudes e gritos para impressionar o adversário, onde rapidamente (15 a 20min) um dos dois desiste e tenta fugir do outro para demostrar a sua submissão. Durante os dias seguintes vão repetir-se estes rituais de vez em quando, com duração e intensidade muito limitadas, para reafirmar a sua posição. Consequências: Depois de um encontro, assim como durante a convivência dos cavalos no campo, o tipo de feridas que observei foram superficiais: u As mordidelas provocam: pêlo arrancado, por vezes um pouco de pele, e mais raramente um corte linear pouco profundo. O pêlo nestas zonas volta a crescer mais escuro nos cavalos russos. u As mordidelas e os coices 74

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provocam hematomas que muito raramente se transformam em abcessos. Em alguns casos, observei também fibras musculares partidas, que não estorvaram nenhum movimento do cavalo, mas deixaram uma irregularidade no músculo à superfície do corpo. u No caso de brigas mais fortes, noutras situações que descreverei no meu próximo artigo (quando há competição pela presença de uma égua ou de poldros), observei alguns cortes mais profundos e tive que chamar um veterinário para coser o cavalo. Nunca observei feridas graves que acabassem por diminuir a mobilidade de um cavalo, tem-

porariamente nem permanentemente. Não estou a dizer que não pode acontecer, mas que nunca me aconteceu. E considerando o número de cavalos que juntei, e o tempo que ficaram juntos, posso dizer que a probabilidade é muito baixa, respeitando algumas regras. Sempre pode haver má sorte, em qualquer circunstância da vida de qualquer cavalo. E um coice que bate mais forte ou num lugar mais frágil, pode chegar a magoar o cavalo, ou ele próprio pode fazer um movimento mal controlado e torcer uma articulação. Mas as feridas mais graves que tive com os meus cavalos não foram devido a encontros ou brigas.

Em conclusão, os numerosos encontros e brigas que presenciei nunca provocaram feridas graves que pusessem em risco a vida do cavalo e a sua funcionalidade. As consequências só foram estéticas. Por outro lado, tenho cavalos felizes, calmos e equilibrados, que são mais fácies de manejar e de treinar. Por isso a minha escolha é esta de ter cavalos inteiros juntos no campo. Monto e dou aulas de equitação sem ferro na boca e em pêlo, e trabalho em sessões de terapia no chão com eles. E oferecemme todos os dias espectáculos com as suas brincadeiras e corridas, que me trazem imensa satisfação! No próximo artigo, veremos como proceder para juntar cavalos inteiros, como se relacionam entre eles no dia-a-dia, e como reagem a estímulos externos perturbantes. Epona n


CRÓNICA

O MEU LEGADO DE NUNO OLIVEIRA - 8

O ESTRIBO SERVE PARA DESCANSAR A PONTA DO PÉ ESTA ERA UMA DAS FRASES QUE MAIS OUVIA AO MESTRE NUNO. A PERNA DO CAVALEIRO DEVE CAIR NORMALMENTE E NÃO HÁ QUE TER A PREOCUPAÇÃO DE ASSUMIR POSIÇÕES ANORMAIS PONDO O BICO DO PÉ PARA FORA OU O CALCANHAR PARA BAIXO. ESSAS POSIÇÕES FORÇADAS SÓ PODEM TRANSMITIR CONTRACÇÃO QUANDO O QUE SE PRETENDE EM EQUITAÇÃO É EXACTAMENTE O CONTRÁRIO, A DESCONTRACÇÃO. de pedir desculpa a todos os cavalos que entretanto «tensão desportiva» de que tanto se ouve hoje martirizou. falar tem que ser uma consequência da Sim, mesmo em climas como o português, é possível impulsão e da energia suavemente contida. A ensinar um cavalo desde o desbaste até à equitação não ser assim, experimente-se pedir a um cavaleiro superior sem o suor fazer espuma – basta deixar o habituado a essa tensão que, à guia (para o cavalo não cavalo fluir e não querer que ele faça coisas para que vaguear sem rumo), solte as rédeas e que meta a trote Henrique ou a galope. Muito provavelmente esse cavaleiro não Salles da Fonseca não esteja preparado. A impulsão é uma consequência que se obtém pela boa vontade natural do cavalo se aguentará em cima do cavalo e cairá. Porquê? descontraído, não é resultado de pernas e nádegas Porque está habituado a agarrar-se à boca do cavalo hirtas, de pernadas ou de esporas afiadas. A tensão desportiva para se aguentar em cima dele. Por outras palavras, não está a também não se consegue com rollkurs ou martingalas cavalo. Vai uma sugestão? Volte à iniciação. E não se esqueça martirizantes mas sim pela impulsão física e mentalmente descontraída. Mas para isso é imprescindível que o cavaleiro também esteja descontraído desde o âmago do cérebro até à ponta do pé. E para que a ponta do pé se possa descontrair, é necessário que o estribo sirva de ponto de descanso e não de plataforma de lançamento sabe Deus para que órbitas... É claro que estou a referir-me a quem monta por puro prazer e não a um polícia montado que tenha que perseguir um bandido ou a um militar que, a cavalo, tenha pressa em percorrer montes e vales para emboscar um inimigo desenfiado. Reconheço que a urgência da equitação militar ou de combate tauromáquico pode obrigar ao cumprimento de parâmetros diferentes dos dos tranquilos e cumpridores pagadores de impostos. Eis por que uso o estribo para descansar a ponta do pé. Finalmente, uma palavra de despedida desta série em que recordei algumas «coisas» que aprendi com o Mestre Nuno Oliveira. E não faltará quem se pergunte se só aprendi isto que referi nestas oito pequenas peças. Muito bem, respondo de imediato: não me arrogo ser grande sabedor destas «coisas». Mas uma coisa posso garantir a quem me tenha lido nesta série: os meus cavalos desconhecem em absoluto o significado da palavra stress pois não tenho Regulamentos a pressionarem-me e acabam todos a fazer alguns desses ares de que todos gostamos. Haja saúde e até à próxima se Deus quiser! E desculpem qualquer coisinha.

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NOTAS SOLTAS

1909 Skowronek - O Cavalo do Seculo XX

1930 Kuhailan Afas - Nascido no deserto

O CAVALO PURO SANGUE ÁRABE SUA ORIGEM E SUAS PRINCIPAIS LINHAS EM PORTUGAL - PARTE 1 HÁ UMAS CENTENAS DE ANOS, O EMIR ABD EL-KADER AFIRMOU QUE: “O PARAÍSO TERRESTRE SE ENCONTRA SOBRE O DORSO DE UM CAVALO, NA LEITURA DE UM LIVRO E ENTRE OS SEIOS DE UMA MULHER”

Manuel H. Domingues Heleno

uitas fábulas e lendas tentam dar uma explicação para a incógnita da origem do Cavalo Oriental. Pela sua simplicidade, a que mais seduz é aquela que conta que: Deus agarrou então daquele vento do sul um punhado e criou um cavalo a quem disse “Nomeio-te e crio-te Árabe”. Conta-se que Maomé, nascido na Meca em 570, profeta de Alá, ordenou que numa cerca à borda de um ribeiro de águas límpidas e frescas, uma centena de éguas fosse voluntariamente privada de beber durante vários dias. Maomé mandou depois abrir a vedação. As éguas correram

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precipitadamente para o ribeiro. O profeta chamou-as. Só cinco vieram alegremente ter com o dono, antes de beberem. Então, Maomé abençoou-as. São conhecidas pela denominação das “5 do profeta” e seriam elas as matriarcas da raça Árabe. Em verdade, a origem do Cavalo Árabe é muito discutível e cada região da África do Norte, do Próximo ou do Médio Oriente, pode reivindicar a honra de ser o berço da raça. Mas, se não podemos ter uma certeza sobre o local de origem do cavalo antepassado do actual Puro Sangue Árabe, não restam dúvidas que foi na antiga Mesopotâmia que o Cavalo Oriental começou a sua prodigiosa e

vertiginosa carreira. Com efeito, foi naquela zona geográfica que as rivalidades entre tribos e as frequentes guerras mostraram as suas capacidades na batalha e o tornaram indispensável para vencer. Pessoalmente, estou convencido que os antepassados do Árabe devem ser procurados na Mesopotâmia, talvez entre o Tigre e o Eufrates, ali mesmo onde viveu uma das primeiras civilizações do Mundo. E que foi daquela região que, provavelmente, ele passou para a Península Arábica, país não muito propício ao cavalo, mas onde a paciência, o carinho, a inteligência e a tenacidade dos beduínos triunfaram de todas as dificuldades.

E mesmo se a proveniência do Cavalo Árabe é incerta, temos a certeza que a sua individualidade se formou nas dificuldades do nomadismo, na austeridade do deserto, na experiência de um clima inóspito, na dureza das batalhas, na poeira das caçadas e numa natureza em que só uma elite sobreviveu, o que nele incrementou as suas fabulosas qualidades de rapidez, de coragem, de sobriedade e de resistência, que desde logo o distinguiram de qualquer outra raça. De qualquer forma, seja ela qual for a origem longínqua do Cavalo Oriental, só por si ele representa um importante traço de união entre os países Árabes


NOTAS SOLTAS

e o resto do Mundo. A fascinação pelo Cavalo pode ser considerada um atributo distintivo do povo Árabe, que desde a época pré-islâmica o descreveu detalhadamente, empregando o seu génio poético para dar a conhecer aquele que o servia em todas as actividades. Mais tarde surgiu uma literatura menos romântica, mais técnica, que nos presenteou com os primeiros tratados sobre hipologia e hipiatria. A partir do século V, para mais facilmente definirem as particularidades do Cavalo Oriental e para melhor ilus-

com as pinturas rupestres, aos nossos dias. Mas é com o Cavalo Oriental, e particularmente com o Cavalo Árabe, que ela atinge o seu apogeu. Poetas, pintores, escultores, todos se extasiaram face à beleza, graça, personalidade e nobreza do Cavalo Oriental. Seja em que época for, a todos inspirou, tenham eles a nacionalidade que tiverem. E a todos uniu numa cultura sem fronteiras e sem preconceitos, dando à Arte a universalidade que ele mesmo representa. O Puro Sangue Árabe resulta de uma selecção natural e hu-

1938 Wielki Szlem - Polónia

trarem o que queriam transmitir, autores antigos fizeram comparações diversas, algumas cheias de imaginação e humor, fazendo por exemplo o paralelo entre os dois seres vivos que mais amavam, a mulher e o cavalo. E é assim que: Como a mulher, a boa égua devia ter o peito alto, a anca redonda e a mansidão. Na história da sua terra natal o Cavalo Oriental embeleza quase todas as manifestações artísticas, o que representa um prodigioso enriquecimento cultural para o Mundo. A presença daquele equídeo na Arte é intemporal. Estende-se da época pré-histórica,

mana que visou a rusticidade, a docilidade, a resistência, a velocidade, a funcionalidade, as origens e a beleza. Em verdade, naqueles tempos, os povos orientais julgavam os seus animais na acção, pela resistência à fadiga, à fome e à sede, pela maneabilidade no combate, pela coragem na caça e pela obediência e dedicação ao seu dono. Sem dúvida davam uma maior importância às qualidades físicas e de carácter, que aos dons puramente estéticos. Isto não quer dizer que a beldade do animal não tinha importância. Tinha-a e muita, pois era sinónimo da tão procurada e indispensável pureza, definindo

“o tipo” do Cavalo Oriental que mais tarde se tornaria no Puro Sangue Árabe. Norteada por qualidades tão diversas e praticadas durante séculos, esta selecção deu ao Árabe uma polivalência nunca atingida pelos outros equinos, o que faz dele um animal completo e capaz de transmitir às outras raças cavalares todos os seus dons, como é claramente demonstrado pelo facto de que nenhuma raça cavalar, digna desse nome, ter existido antes do Árabe melhorar as éguas autóctones dos diferentes países. Mas esta apuração de pouco

valo Oriental também sofreu um importantíssimo apuramento ditado pelas corridas, ao longo de séculos. Em monumentos egípcios com 4.500 anos, já estão representadas corridas de carros puxados por dois cavalos orientais. Maomé foi provavelmente o primeiro a servir-se das corridas como modo de selecção: o vencedor era eleito reprodutor de elite, e chamavam-lhe “ôtant”, que significa “aquele que tira preocupações ao seu dono”. Felizmente, nos nossos dias, a corrida plana continua a servir as necessidades de selecção de

1953 Comet - Um dos melhores padriadores do Mundo - Polónia

teria servido, se uma atenção particular não tivesse sido dada à reprodução cavalar deste a noite dos tempos. Os povos do Médio Oriente e África do Norte escolhiam minuciosamente os cruzamentos e preocupavam-se primordialmente com as origens, reportando sobre o animal o gosto que tinham da sua própria genealogia. As linhas maternas eram as mais importantes e eram transmitidas oralmente de pai em filho. As cobrições faziam-se sempre na presença de testemunhas, que as podiam confirmar. Gerouse assim um primeiro Livro Genealógico de tradição oral. Além do que já referi, o Ca-

alguns países, como é o caso da Polónia e muito mais recentemente da França. Para não falar do actualíssimo apuramento realizado pelas duríssimas provas de Endurance, praticadas hoje em todos os continentes. Com estas premissas, não é surpreendente que hoje se encontrem Cavalos Árabes completos, polivalentes, capazes de rivalizar com as outras raças e mesmo vence-las em muitas disciplinas equestres, e particularmente em Longa Distância, provas em que o PSA é rei incontestado. Na próxima edição prosseguiremos com o assunto em epígrafe. n

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