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Música e Batuque

O batuque é património cultural de Cabo Verde e talvez a mais antiga expressão musical de dança e de coreografia do arquipélago - de origem no Continente Africano chegou a ser reprimido e proibido antes da independência. É interpretado por mulheres, as batucadeiras, que cantam mensagens inspiradas em estórias do dia-a-dia, dançam e efetuam batimentos num instrumento fabricado em madeira, esponja e foro de napa, colocado entre as pernas. A txabeta corresponde ao ponto alto do batimento e canto em uníssono de todas as cantoras, que funciona como refrãoo e que acompanha uma das executantes na dança (chamado da ku tornu), utilizando um pano amarrado às ancas. O ritual realizado no terreru reveste-se de um significado social e é realizado em dias santos, em certas ocasiões cerimoniais, em festas, antes e durante os casamentos.

Grupos de batuque da ilha do Maio

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Grupo Localidade

Nova imagem Pilancão

Rais de Monter Penoso Alcatraz

Nos Cultura

Fidjus de Djarmai

Fidjus de São Jose

Dunas Figeira

Cidade do Porto Ingles

Calheta

Morrinho

Batucaderas de Cascabulho Cascabulho

Narrativas de memória

Batucadeiras

Musica Nos somos batucadeiras, viemos do Pilancan Somos filhos de Cabo-Verdianos e somos da raça africana Estamos no batuque porque o batuque é cultura Com a cultura de Cabo Verde estamos unidos. (bis) Cabo Verde sem o batuque é como a terra sem a água, como um filho sem a sua mãe e como um barco sem rumo O nosso batuque, a nossa tabanca a nossa cultura a riqueza de Cabo Verde Estamos aqui porque o batuque é cultura Com cultura de Cabo Verde estamos unidos.

Dulcelina Ferreira, mais conhecida por Neusa. Sou a responsável pelo grupo “Batucadeiras Nova Imagem” que foi fundado no dia 10 de março de 2013 e somos 14 pessoas. O batuque não teve origem na ilha Maio mas sim em Santiago e nós fundámos o nosso grupo, porque é uma cultura e uma riqueza e “tomamos com força”. Normalmente são as mulheres que cantam e dançam o batuque, então acho que as mulheres têm mais interesse no batuque. O batuque traz mensagens do dia-a-dia, da imigração… tem muitas histórias para contar e transformamo-las em letras para músicas do batuque. A inspiração, às vezes, vem quando estamos nos nossos afazeres em casa, constatamos as situações do dia-a-dia e.. dá-se a música! Utilizamos a “txabeta” que é feita com madeira, esponja e foro de napa. Temos as nossas fardas idênticas para não ter diferença e também o pano, para amarrar na anca, que ajuda na dança “ku torno”. O pano é uma tradição da terra da ilha de Santiago porque no Maio não se fabrica. Quem canta são as pessoas que tem uma voz bonita e a melodias combinam com a música. Na dança colocamos as mais novas para dançarem “ku torno”.

Tabanca

Inês Lourenço Monteiro, mas conhecida com Iuni.

Existe tabanca na ilha do Maio mas a tabanca antigamente era mais alegre e querida, vinham pessoas do interior, mas agora tem pouca gente, praticamente somos nós da vila que festejamos a tabanca.

A festa de tabanca de Santa Cruz começa no dia 25 de Abril até ao dia 8 de maio.

Na tabanca começamos a tocar o “tambor, a corneta e o bombolom”…temos a comida, vinho e o ponche e, de tudo um pouco. Começamos assim e acabamos assim. No dia 3 de maio saímos da casa dos juízes, que são o rei e a rainha da Santíssima Cruz, para celebrar a missa da Nossa Senhora da Luz.

Na casa dos juízes é “armada uma corte”: “arma-se num altar, onde se vai colocar a Santíssima Cruz vinda da casa dos juízes do ano anterior. Na hora de ir para a celebração da missa uma pessoa carrega a Santíssima Cruz para a igreja – esse é considerado o Pai do Santo.

Os Juízes vão na frente e nós atrás a tocar tambor, corneta e a cantar a cantiga da Santa Cruz, até chegar a igreja.

Quando terminar a missa, vamos para casa dos juízes do ano anterior para dançar, brincar e comer. Às três da tarde saímos com os tambores rumo à cruz da salina. Ali se faz a ladainha e a Cruz é entregue aos outros juízes do ano seguinte. Dali caminhamos para casa dos novos juízes para fazer a reza e cantar a cantiga. Por fim regressamos a casa dos juízes do ano presente para grande festa de muita comida e bebidas, onde se faz a matança de cabras, vacas e porcos. Faz-se uma festa bonita, todos os que vêm ficam contentes.

NOITE DE PORTO INGLÊS

Tibau Tavares

Noite de Port Inglês El é um noite de inspiração Cu luar ô sem luar Ele é sempre silenciose Ondas ta kebra de mansim Ta lembran cantar de Santa Cruz

Ele é um noite tão linde Qui ta fazem txeu emoção Sima um cretxeu ta ovi um serenata Ele ta parcê tão hem Ma ele tem si alegria Sima um criola apaixonada

Hora qui ta madruga Ta parcê qualquer movimento Pescador ta sai pa mar Lavrador pa sês lugar Jornaler pa sês jornal Mudjer pa sês salina

Galo ta começa canta um atraz de ote Pa marca hora de madrugada Hora qui ta maxê Pardal na sês raboliço Um clarão na céu ta ilumina

Maio sempre foi ilha de musica onde o ambiente de serenata criou e inspirou grandes compositores maienses, com expressão na cena musical de Cabo Verde e internacional.

Horace Silver, filho de pai maiense nascido em Connecticut (1928), é dos nomes maiores da história do Jazz e figura de prestigio da música norte americana. "The Cape Verdian Blues" e "Song for my father" consagram a sua origem familiar caboverdiana do Maio.

Betú (Adalberto Silva), Tibau Tavares e Jorge Tavares Silva são alguns dos nomes de filhos do Maio que contribuíram para a valorização da morna, classificada como Património Imaterial da Humanidade pela UNESCO em 2019.

Narrativas de memória (continuação)

Adalberto Silva (Betú)

Betu como artista do Maio em Cabo Verde

Na altura da minha infância, o Maio, em termos musicais, não tinha expressão em Cabo Verde. Não haviam cantores e compositores no Maio que eu saiba, apenas, um senhor, o Lino Senhorinha, que tem a famosa musica “cascabujjo tem baleia” que depois foi gravada com os tubarões - mas não se conhecem outras pessoas que se pudessem considerar criadores de música.

Eu faço parte dessa geração nova de compositores do Maio. Mas é evidente que o Maio sempre foi ilha de música, não como compositores, mas uma ilha onde se vivia a música, principalmente nos bailes, de rebeca e de serenatas, para alem do ambiente religioso da igreja… o meu primeiro ambiente musical é um ambiente religioso, da igreja.

Não é por acaso que as minhas músicas falam do Maio, amor à terra, da emigração…

Desde muito cedo tive, não sei se é sorte ou azar, de assumir cargos de alguma responsabilidade, mas também comecei cedo a compor, a fazer música. As primeiras músicas foram gravadas ainda estava no liceu. Agora, já com cinquenta e muitos e, talvez por isso, o conjunto total das composições na chega a cinquenta.

…a música é imprescindível… não me consigo imaginar sem musica.