Renda de Bilros de Peniche - Caderno de especificações para a certificação

Page 1

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

1

CADERNO DE ESPECIFICAÇÕES PARA A CERTIFICAÇÃO

renda de bilros de peniche

PEÇA DE RENDA DE BILROS PERTENCENTE AO ESPÓLIO DE D. IDA DA CONCEIÇÃO GUILHERME


ficha técnica Título: Renda de Bilros de Peniche Caderno de Especificações para a Certificação Texto: Graça Ramos e Pedro Rêgo

Contributos: Cristina Santos Graça Maria Ramos Marisa Ferreira Raquel Janeirinho Fotografia Câmara Municipal de Peniche Ângela Santos Design: Câmara Municipal de Peniche Vitor Glória Edição: Câmara Municipal de Peniche junho de 2021

2

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


FIG. 2 - PEÇA DE RENDA DE BILROS PERTENCENTE AO ESPÓLIO DE D. IDA DA CONCEIÇÃO GUILHERME

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

3


Mensagem do Presidente da Câmara Municipal de Peniche

Mensagem da Vereadora do Pelouro da Cultura da Câmara Municipal de Peniche

A Renda de Bilros de Peniche enquanto tradição perpetuada, ao longo dos séculos por muitas mulheres, que das suas mãos teceram autênticas peças de arte em busca do sustento das suas famílias em tempos do defeso da pesca, assume-se, desde há muito, como uma arte de inquestionável valor para o nosso território e para as nossas gentes.

A Renda de Bilros de Peniche é, sem dúvida, o mais reconhecido artesanato tradicional existente no concelho de Peniche. Esta importância deriva da elevada qualidade artística associada a esta produção e do facto de se tratar de um artesanato com mais de quatrocentos anos que ainda hoje assume uma grande relevância no seio da nossa comunidade.

O investimento municipal na valorização e salvaguarda desta importante produção artesanal, desde o ano de 2018, vê-se agora refletido no reconhecimento da Renda de Bilros enquanto produção cujas características únicas, genuínas e identitárias estão expressas no presente Caderno de Especificações.

O Município de Peniche soube ao longo das últimas décadas implementar um conjunto de ações no sentido da preservação, valorização e divulgação desta importante arte penichense. Se a Renda de Bilros de Peniche é uma manifestação artística secular, transmitida de geração em geração, que urge conservar enquanto verdadeiro património vivo, também não é de somenos importância a dimensão económica associada a este artesanato. Neste sentido, o reconhecimento da Renda de Bilros de Peniche como Artesanato Tradicional Certificado assume particular significado enquanto garante da matriz técnica tradicional e autenticidade desta produção.

Chegados a este patamar de prestígio e reconhecimento nacional, é com enorme orgulho que dedico este documento de referência para a manutenção da salvaguarda e identidade da Renda de Peniche a toda a comunidade. Dedico-o sobretudo a todas as rendilheiras que, com o seu labor contribuíram para que a arte de tecer a Renda de Bilros de Peniche fosse um importante e diferenciador património de todo o Concelho. Património este que é agora reconhecido como Artesanato Tradicional Certificado cumprindo todos requisitos impostos pelo Decreto-Lei 121/2015 de 30 de junho. Henrique Bertino Batista Antunes

4

Esperamos que a certificação da Renda de Bilros de Peniche possa servir de estímulo à produção deste artesanato, para que este possa, tal como no passado, afirmar-se como importante atividade económica para a comunidade de Peniche. Ana Rita Trindade Petinga

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Índice

Prefácio

14

Introdução

16

1. Nome que identifica o produto e respetivo logótipo (marca de indicação geográfica - IG)

16

2. Referenciais histórico-geográficos que contextualizam a ocorrência e a continuidade da produção

17

2.1. As rendas – contexto europeu

17

2.2. As rendas – contexto nacional

19

2.3. A Renda de Bilros em Peniche

23

2.3.1) Séculos XVI e XVII

23

2.3.2) Século XVIII

25

2.3.3) Século XIX

25

2.3.3.1) Os registos de passaportes internos

26

2.3.4) Limitações da indústria das Rendas de Bilros de Peniche na segunda metade do século XIX

28

2.3.5) O ensino das Rendas de Bilros

30

2.3.5.1) A Escola Industrial e Comercial D. Maria Pia

32

2.3.5.1.1) O papel revolucionário de Maria Augusta Bordalo Pinheiro

34

2.3.5.2) A Escola Josefa de Óbidos

36

2.3.5.2.1) A concorrência das oficinas de rendas privadas e das fábricas de conservas e congelados

37

2.3.5.2.2) A Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos

40

2.3.6) A Crise da Indústria das Rendas de Bilros de meados do século XX

41

2.3.6.1) Reflexos da crise na Escola de Rendas de Peniche

42

2.3.7) Novos centros de formação

43

2.4. Momentos marcantes das últimas décadas do século XX e inícios do século XXI

44

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

5


2.4.1) A criação da Rendibilros

44

2.4.2) O Selo de Garantia– primórdio do processo de qualificação e certificação

46

2.4.3) O Concurso de Renda de Bilros de Peniche e a Mostra Internacional de Renda de Bilros

46

2.4.4) O Monumento à Rendilheira

47

2.4.5) O Museu da Renda de Bilros de Peniche

47

2.4.6) A certificação da Renda de Bilros de Peniche

48

2.5 Implicações socioculturais da produção de rendas de bilros de Peniche: um breve apontamento antropológico

49

3. Delimitação geográfica da área de produção

50

4. Identificação e caracterização das matérias-primas utilizadas

52

5. Descrição do modo de produção, designadamente técnicas, ferramentas utilizadas e equipamentos auxiliares

52

5.1 Descrição do modo de produção e técnica

52

5.2 Termos usados

60

6. Identificação das principais características físicas dos produtos

62

6.1 Pontos utilizados

62

6.2. Motivos que individualizam a produção rendeira de Peniche

76

6.3 Exemplos de rendas

107

7. Condições de inovação no produto e no modo de produção que, abrindo essa possibilidade, garantam a preservação da identidade do produto

147

BIBLIOGRAFIA

148

6

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Índice de figuras Fig. 1 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

1

Fig. 2 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

3

Fig. 3 Logótipo do Museu de Renda de Bilros de Peniche

16

Fig. 4 Fotografia de uma oficina particular de rendas de Peniche, década de 20 (séc. XX), retirada de “Peniche 100 anos através da fotografia” de Luís Correia Peixoto, 1993

31

Fig. 5 Retrato de Maria Augusta Bordalo Pinheiro, retirada de “Dicionário Histórico e Biográfico de Artistas e Técnicos Portugueses” de Arsénio Sampaio de Andrade, 1959

34

Fig. 6 Fotografia na Oficina de Rendas da Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos de Peniche, década de 20 (séc. XX) disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

37

Fig. 7 Fotografia na Oficina de Rendas da Escola Industrial Josefa de Óbidos de Peniche, década de 30 (séc. XX) disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

40

Fig. 8 Fotografia na Escola Industrial e Comercial de Peniche, década de 60 (séc. XX) disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

42

Fig. 9 Fotografia na Oficina de rendas da Associação Peniche – Rendibilros, 1998, disponível no blog de D. Ida daConceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

45

Fig. 10 Cartaz da Mostra Internacional de Renda de Bilros de 2018

46

Fig. 11 Fotografia do Monumento à Rendilheira

47

Fig. 12 Fotografia do edifício onde se situa o Museu de Renda de Bilros de Peniche

47

Fig. 13 Mapa do concelho de Peniche e respetivas freguesias (Direcção-Geral do Território, Carta Administrativa Oficial de Portugal (CAOP), versão 2013)

50

Fig. 14 Rolos de fio de algodão usado na confeção das rendas de bilros

52

Fig. 15 Representação da confeção de renda de bilros

52

Fig. 16 Começo ou início de uma peça de renda de bilros

53

Fig. 17 Terminar ou fim de uma peça de renda de bilros

53

Fig. 18 Cerzir de uma peça de renda de bilros

53

Fig. 19 Almofada, utensílio usado na confeção de renda de bilros

54

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

7


Fig. 20 Alfinete de almofada, utensílio usado na confeção de renda de bilros

54

Fig. 21 Alfinete, utensílio usado na confeção de renda de bilros

54

Fig. 22 Banco, utensílio usado na confeção de renda de bilros

55

Fig. 23 Bilros, utensílios usados na confeção de renda de bilros

55

Fig. 24 Cartão, utensílio usado na confeção de renda de bilros

56

Fig. 25 Desenho, usado como suporte ao trabalho a executar na confeção de renda de bilros

56

Fig. 26 Rolo de linha de algodão, usado na confeção de renda de bilros

56

Fig. 27 Papel quadriculado, usado como suporte ao trabalho a executar na confeção de renda de bilros

57

Fig. 28 Picadeira, utensílio usado na confeção de renda de bilros

57

Fig. 29 Peso, utensílio usado na confeção de renda de bilros

57

Fig. 30 Pique, usado como suporte ao trabalho a executar na confeção de renda de bilros. Pertence ao espólio da Escola Secundária de Peniche, e está à guarda do Museu de Renda de Bilros de Peniche

57

Fig. 31 Peça em renda de bilros pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche, à guarda do Museu de Renda de Bilros de Peniche, na exposição permanente

58

Fig. 32 Conjunto de todos os utensílios e ferramentas utilizadas na confeção de renda de bilros. Peça em renda de bilros pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche, à guarda do Museu de Renda de Bilros de Peniche, na exposição permanente

59

Fig. 33 Pique da renda feita com ponto “Carreiras abertas”

62

Fig. 34 Renda feita com ponto “Carreiras abertas”

62

Fig. 35 Pique da renda feita com ponto “Carreiras duplas”

62

Fig. 36 Renda feita com ponto “Carreiras duplas”

62

Fig. 37 Pique da renda feita com ponto “Carreiras fechadas a meio ponto”

63

Fig. 38 Renda feita com ponto “Carreiras fechadas a meio ponto”

63

Fig. 39 Pique da renda feita com ponto “Diagonal a meio ponto”

63

Fig. 40 Renda feita com ponto “Diagonal a meio ponto”

63

Fig. 41 Pique da renda feita com ponto “Diagonal em paninho”

64

Fig. 42 Renda feita com ponto “Diagonal em paninho”

64

Fig. 43 Pique da renda feita com ponto “Favos”

64

Fig. 44 Renda feita com ponto “Favos”

64

8

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 45 Pique da renda feita com ponto “Filigrana com bicos abertos”

65

Fig. 46 Renda feita com ponto “Filigrana com bicos abertos”

65

Fig. 47 Pique da renda feita com ponto “Filigrana com bicos fechados”

65

Fig. 48 Renda feita com ponto “Filigrana com bicos fechados”

65

Fig. 49 Pique da renda feita com ponto “Grade”

66

Fig. 50 Renda feita com ponto “Grade”

66

Fig. 51 Pique da renda feita com ponto “Guipure”

66

Fig. 52 Renda feita com ponto “Guipure”

66

Fig. 53 Pique da renda feita com ponto “Meio Ponto”

67

Fig. 54 Renda feita com ponto “Meio Ponto”

67

Fig. 55 Pique da renda feita com ponto “Paninho”

67

Fig. 56 Renda feita com ponto “Paninho”

67

Fig. 57 Renda feita com ponto “Pastilhas crespas”

68

Fig. 58 Pique da renda feita com ponto “Pastilhas ovais”

68

Fig. 59 Renda feita com ponto “Pastilhas ovais”

68

Fig. 60 Pique da renda feita com ponto “Pastilhas quadradas”

69

Fig. 61 Renda feita com ponto “Pastilhas quadradas”

69

Fig. 62 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos cruzados”

69

Fig. 63 Renda feita com ponto “Pãezinhos cruzados”

69

Fig. 64 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos em meio ponto com pastilhas nos cruzamentos”

70

Fig. 65 Renda feita com ponto “Pãezinhos em meio ponto com pastilhas nos cruzamentos”

70

Fig. 66 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos simples”

70

Fig. 67 Renda feita com ponto “Pãezinhos simples”

70

Fig. 68 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos simples armados e fechados em meio ponto”

71

Fig. 69 Renda feita com ponto “Pãezinhos simples armados e fechados em meio ponto”

71

Fig. 70 Pique da renda feita com ponto “Quadradinhos de meio ponto”

71

Fig. 71 Renda feita com ponto “Quadradinhos de meio ponto”

71

Fig. 72 Pique da renda feita com ponto “Quadradinhos em paninho”

72

Fig. 73 Renda feita com ponto “Quadradinhos em paninho”

72

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

9


Fig. 74 Pique da renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos abertos”

72

Fig. 75 Renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos abertos”

72

Fig. 76 Pique da renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos fechados”

73

Fig. 77 Renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos fechados”

73

Fig. 78 Pique da renda feita com ponto “Rosa simples”

73

Fig. 79 Renda feita com ponto “Rosa simples”

73

Fig. 80 Pique da renda feita com ponto “Tranças com bicos nos cruzamentos”

74

Fig. 81 Renda feita com ponto “Tranças com bicos nos cruzamentos”

74

Fig. 82 Pique da renda feita com ponto “Tranças com bicos por fora”

74

Fig. 83 Renda feita com ponto “Tranças com bicos por fora”

74

Fig. 84 Pique da renda feita com ponto “Tranças compostas”

75

Fig. 85 Renda feita com ponto “Tranças compostas”

75

Fig. 86 Pique da renda feita com ponto “Tranças simples”

75

Fig. 87 Renda feita com ponto “Tranças simples”

75

Fig. 88 Pique da renda feita com ponto “Tule”

76

Fig. 89 Renda feita com ponto “Tule”

76

Fig. 90 Peça de renda de bilros “Estrelas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

77

Fig. 91 Peça de renda de bilros “Bola” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

77

Fig. 92 Peça de renda de bilros “Capelinhas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

78

Fig. 93 Peça de renda de bilros “Dentinho de cão” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

78

Fig. 94 Peça de renda de bilros “Filhó” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

79

Fig. 95 Peça de renda de bilros “Leque fino” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

79

Fig. 96 Peça de renda de bilros “Limão lecrão” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

80

Fig. 97 Peça de renda de bilros “Meias luas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

80

Fig. 98 Peça de renda de bilros “O Casar” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

81

Fig. 99 Peça de renda de bilros “O segredo” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

81

Fig. 100 Peça de renda de bilros “Os Antónios” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

82

Fig. 101 Peça de renda de bilros “Canteiros” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

83

Fig. 102 Peça de renda de bilros “Pinha” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

83

10

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 103 Peça de renda de bilros “Poesia Rendilhada” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

84

Fig. 104 Peça de renda de bilros “s/referência 01” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

84

Fig. 105 Peça de renda de bilros “Conchinha” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

85

Fig. 106 Peça de renda de bilros “Renda da D. Berta” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

85

Fig. 107 Peça de renda de bilros “Renda da ervilha” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

86

Fig. 108 Peça de renda de bilros “Renda da pena” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

86

Fig. 109 Peça de renda de bilros “As Margaridas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

87

Fig. 110 Peça de renda de bilros “Renda dos Castelinhos” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

87

Fig. 111 Peça de renda de bilros “Renda dos Diademas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

88

Fig. 112 Peça de renda de bilros “Rosa dobrada” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

88

Fig. 113 Peça de renda de bilros “s/referência 02” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

89

Fig. 114 Peça de renda de bilros “s/referência 03” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

89

Fig. 115 Peça de renda de bilros “s/referência 04” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

90

Fig. 116 Peça de renda de bilros “s/referência 05” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

90

Fig. 117 Peça de renda de bilros “s/referência 06” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

91

Fig. 118 Peça de renda de bilros “Alfaquique” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

91

Fig. 119 Peça de renda de bilros “Búzio” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

92

Fig. 120 Peça de renda de bilros “Cavalo marinho” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

92

Fig. 121 Peça de renda de bilros “Mexilhões” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

93

Fig. 122 Peça de renda de bilros “Naperon dos peixes” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

93

Fig. 123 Peça de renda de bilros “Peixe” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

94

Fig. 124 Peça de renda de bilros “Peixe 01” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

94

Fig. 125 Peça de renda de bilros “Babete” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

95

Fig. 126 Peça de renda de bilros “Gola” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

96

Fig. 127 Peça de renda de bilros “Lírios” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

96

Fig. 128 Peça de renda de bilros “Magnólias” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

97

Fig. 129 Peça de renda de bilros “O Trevo” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

97

Fig. 130 Peça de renda de bilros “Ramo de Tulipas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

98

renda de bilros de peniche

11

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 131 Peça de renda de bilros “Parras” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

98

Fig. 132 Peça de renda de bilros “Renda das Tulipas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

99

Fig. 133 Peça de renda de bilros “s/referência 07” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

100

Fig. 134 Peça de renda de bilros “s/referência 08” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

100

Fig. 135 Peça de renda de bilros “s/referência 09” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

101

Fig. 136 Peça de renda de bilros “s/referência 10” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

101

Fig. 137 Peça de renda de bilros “s/referência 11” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

102

Fig. 138 Peça de renda de bilros “Sombrinhas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

102

Fig. 139 Peça de renda de bilros “Babete” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

103

Fig. 140 Peça de renda de bilros “Borboleta” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

103

Fig. 141 Peça de renda de bilros “Creoula” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

104

Fig. 142 Peça de renda de bilros “Guarita” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

105

Fig. 143 Peça de renda de bilros “Guitarra portuguesa” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche 105 Fig. 144 Peça de renda de bilros “Onda” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

106

Fig. 145 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

107

Fig. 146 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

108

Fig. 147 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

109

Fig. 148 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

110

Fig. 149 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

111

Fig. 150 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

112

Fig. 151 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Gu ilherme

113

Fig. 152 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

114

Fig. 153 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

115

Fig. 154 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

116

Fig. 155 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

117

Fig. 156 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

118

Fig. 157 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

119

Fig. 158 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

120

Fig. 159 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

121

12

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 160 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

122

Fig. 161 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

123

Fig. 162 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

124

Fig. 163 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

125

Fig. 164 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

126

Fig. 165 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

127

Fig. 166 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

128

Fig. 167 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

129

Fig. 168 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

130

Fig. 169 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

131

Fig. 170 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

132

Fig. 171 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

133

Fig. 172 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

134

Fig. 173 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

135

Fig. 174 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

136

Fig. 175 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

137

Fig. 176 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

138

Fig. 177 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

139

Fig. 178 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

140

Fig. 179 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

141

Fig. 180 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

142

Fig. 181 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

143

Fig. 182 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

144

Fig. 183 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

145

Fig. 184 Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

146

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

13


Prefácio

RENDA DE BILROS DE PENICHE. UM PASSADO COM FUTURO Graça Ramos

Associação Portugal à Mão

As rendas de bilros afirmam-se, a partir do século XVII, como uma importante indústria artesanal em várias localidades costeiras portuguesas. Peniche, nessa época o segundo porto piscatório do país, é uma das localidades que recebeu esta influência, trazida por via marítima, a partir do norte da Europa. No entanto, as sucessivas proibições impostas pela coroa portuguesa ao uso de rendas nos séculos XVII e XVIII, tentando assim atalhar aos prejuízos e dívidas a que incorriam os súbditos na compra de artigos de luxo e excessos supérfluos, fizeram com que esta indústria tenha conhecido momentos difíceis e de incerteza, só ultrapassados em meados do século XVIII com a liberalização do fabrico e comercialização das rendas nacionais, permitindo a sua utilização sem restrições. Foi este momento de grande impulso das indústrias nacionais que permitiu o desenvolvimento da indústria artesanal da renda de bilros em Peniche, consolidando empregos de muitas mulheres e permitindo às famílias locais um complemento importante ao seu parco rendimento proveniente maioritariamente da pesca. Acresce ainda a proximidade do grande mercado de Lisboa que facilitou o escoamento da produção, possibilitando o desenvolvimento e o dinamismo em torno da produção de rendas de bilros em Peniche, ajudando à sua afirmação e reconhecimento.

14

Pese embora o bom acolhimento que a renda de bilros de Peniche tinha quer em Portugal, quer no estrangeiro, na segunda metade do século XIX foram-se tornando notórios alguns problemas que a indústria das rendas enfrentava e que foram sendo responsáveis pela sua decadência. A desadequação entre as rendas produzidas e as demandas do mercado, a desqualificação do trabalho, sobretudo no que respeita às matérias-primas utilizadas e ao desenho que comprometia o resultado final da renda, a deficiente remuneração das rendilheiras e o circuito de comercialização montado para escoamento do produto (em que os intermediários ficavam com as maiores margens de lucro), foram fatores que contribuíram sobremaneira para o seu declínio. Na transição do século XIX para o século XX assistiu-se a um ressurgimento do interesse pela manufatura de renda de bilros com a criação de escolas técnicas onde se aliava o ensino da técnica dos bilros com a indispensável aprendizagem do desenho e onde a ênfase era colocada na qualificação estética das rendas produzidas. O sucesso deste empreendimento ficou a dever-se a inúmeras personalidades envolvidas, com especial destaque para Maria Augusta Bordalo Pinheiro, cuja cultura e sensibilidade foram determinantes na renovação e no novo rumo que esta produção então conheceu.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Com o avançar do século XX e o desenvolvimento da indústria conserveira portuguesa (para abastecimento do corpo expedicionário na I guerra mundial), houve muita deslocação de mão-de-obra feminina das rendas para as conservas. Surgiram, pela mesma altura, oficinas de rendas privadas que empregaram muitas das rendilheiras existentes e que aí eram mais bem remuneradas. Também a crescente concorrência das rendas mecânicas feitas pelas fábricas têxteis, veio dificultar a já árdua tarefa de manter a indústria artesanal das rendas de bilros. Com a eclosão da II guerra mundial e o período de crise generalizada que se seguiu, a indústria rendeira entrou em profunda recessão. Apesar da perda de relevância da indústria da renda de bilros de Peniche, as entidades públicas locais, nomeadamente a Autarquia, nunca deixaram de tentar projetar e promover as rendas, entendido como importante elemento diferenciador da identidade local. A aposta na formação com inúmeras escolas-oficinas, a Mostra Internacional de Rendas de Bilros, o concurso de renda de bilros de Peniche, o monumento à Rendilheira, o Museu da Renda de Bilros de Peniche, constituem alguns dos importantes passos dados para a dignificação e reconhecimento deste importante elemento patrimonial, a que se vem juntar, agora, o processo de certificação desta atividade artesanal tradicional.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Este Caderno de Especificações, documento normativo que estabelece os parâmetros para a implementação do processo de certificação, contém o conjunto de elementos que definem as características técnicas e estéticas que tornam única a produção de renda de bilros de Peniche, individualizando e diferenciando esta produção artesanal relativamente a outras similares, produzidas em Portugal e em outros países. Assim, a um passado que conheceu momentos áureos (a par de alguns menos bons) sucede um presente cheio de esperança para as rendas de bilros de Peniche. O processo de certificação agora implementado permitirá a salvaguarda e a valorização das características identitárias da renda de bilros de Peniche, repositórios de um valor patrimonial e afetivo que reflete saberes, vivências, modos de ser e de estar coletivos fundamentais na afirmação e na diferenciação cultural do território. Viabilizará, de igual modo, uma inovação qualificada que permitirá um renovado posicionamento desta produção artesanal e a sua recolocação em mercados mais atrativos e viáveis adivinhando um futuro promissor e pleno de desafios para a renda de bilros de Peniche.

15


Introdução O Caderno de Especificações da Renda de Bilros de Peniche é um documento normativo que suporta todo o processo de certificação nacional associado à arte de tecer a Renda de Bilros. Inclui todas as características intrínsecas à feitura da Renda de Peniche, individualizando-a e protegendo-a de eventuais imitações e/ou descaracterizações nacionais

ou estrangeiras. A concretização deste Caderno teve o seu início em 2018 e é reflexo do forte investimento municipal no domínio da preservação e valorização da Renda de Bilros de Peniche. Nele constam todos os elementos que caracterizam e singularizam esta arte tão típica Penichense, conferindo-lhe identidade e territorialidade.

1. Nome que identifica o produto e respetivo logótipo (Marca de Indicação Geográfica - IG) A Renda de Bilros de Peniche é um produto artesanal único, com uma imagem forte e singular facilmente identificável no conjunto das rendas portuguesas. Refletindo essa imagem emblemática, o logótipo

desenvolvido e a denominação de venda do produto são os que a seguir se demonstram e encontram-se registados como Marca e IG – Indicação Geográfica com o nº 611 (2021) junto do INPI, I.P. (Instituto Nacional da Propriedade Industrial).

Fig. 3 Logótipo do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Símbolo de Indicação Geográfica “Renda de Bilros de Peniche”

16

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2. Referenciais histórico-geográficos que contextualizam a ocorrência e a continuidade da produção 2.1. As rendas – contexto europeu As rendas são um produto da cultura europeia que nasceram na transição do século XV para o XVI em Itália, em cidades como Milão e Veneza (BROWNE: 2004). Na sua origem estão os bordados feitos com fio de linho branco que, naquela época, começam a decorar as extremidades de diversas peças de vestuário, como as mangas, os colarinhos, as golas ou os punhos. Este bordado adquire uma transparência algo parecida com a da renda através das técnicas do desfiado e dos pontos cortados, originando assim interrupções na continuidade do tecido. Esses espaços vazios, ou buracos, começam depois a ser preenchidos com pontos que partiam do tecido preexistente, dando origem a uma técnica designada em Itália por reticellae que, com o passar do tempo, dá origem à renda de agulha. Enquanto a reticella obtinha um aspeto semelhante ao da renda através da manipulação de um tecido preexistente, a renda, propriamente dita, é ela própria um tecido. A autonomização da renda de agulha forneceu o enquadramento ideal para o florescimento das rendas de bilros em Itália no século XVI, uma técnica que foi buscar inspiração a lavores de sabor oriental. Veneza, situada na costa do mar Adriático e vizinha dos Balcãs, esteve no centro de um ecossistema de trocas comerciais muito antigo estabelecido entre o oriente e o ocidente, a rota da seda. Este facto permitiu-lhe tomar contacto com técnicas de origem árabe percussoras da renda de bilros, como a passamanaria e o macramé, que depois difundiria por outras cidades. Milão era, por sua vez, na transição do século XV para

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

o XVI, um importante centro produtor de ricos galões, guarnições e toda a passamanaria executada com recurso a fios de seda, prata e ouro, refletindo na arte têxtil a sua imensa riqueza. A passamanaria consiste no entrecruzar sucessivo de fios que vão passando de uma mão para a outra [do castelhano passamanes] formando assim um tecido. “Para se manterem controlados os níveis de tensão dos vários fios e para não se ensarilharem, estes começam a ser fixados com alfinetes, num dos seus extremos, numa almofada dura, enquanto as outras extremidades começam a estar enroladas em pequenos chumbos, ou pedaços de madeira ou de osso (…). Estas primeiras rendas de bilros são feitas, sobretudo, de seda, ouro e prata, resultando deste facto a sua extrema raridade.” (RÊGO, PIRES: 2005, p. 9, 10) Estilisticamente, estas primeiras rendas estavam muito próximas dos trabalhos de passamanaria, apresentando motivos muito lineares ou desenhos geométricos pouco imaginativos. A evolução técnica e estilística das rendas manufaturadas com bilros foi impressionante e, a partir de inícios do século XVII, as rendas de bilros já adornavam o vestuário das classes de maior prestígio e poder, reflexo do prestígio alcançado. A expansão europeia das rendas de agulha e de bilros foi igualmente veloz. Por um lado, a matéria-prima predominante na confeção das rendas, o linho, estava amplamente disseminado pelo continente, facilitando a propagação daquelas técnicas. Para além disso, a invenção da imprensa em meados do século XV, por parte de Gutenberg, propiciou a ampla divulgação dos

17


chamados livros de riscos, publicações repletas de motivos e desenhos para as senhoras experimentarem nos seus trabalhos de renda, ajudando a consolidar o imaginário deste novo tecido na consciência dos europeus.

A escala destes empreendimentos, conjugada com as intensas relações comerciais que Portugal mantinha com os portos do norte da Europa, poderá estar na origem da chegada, por via marítima, das rendas de bilros ao nosso país e, no caso concreto, a Peniche.

Assim, é de realçar que, apesar do berço das rendas de bilros ter sido Itália, desde muito cedo esta técnica passou a ter o seu centro na Flandres, de onde irradiou para muitos outros locais.

Esta hipótese adquire maior expressão se levarmos em linha de conta que, tal como defende Maria Clementina de Moura, o centro rendeiro de Malines (Flandres) possui tradicionais semelhanças com as rendas de bilros nacionais “(…) a mesma fluidez, o mesmo delicado contraste entre o desenho ligeiro – levemente acentuado pelo fio de contorno –, o fundo transparente e o mesmo ponto de fundo no interior dos motivos. Uma única diferença: a forma das malhas do fundo. (…) Nas nossas rendas os fundos são quase sempre em malha quadrada, no género «Valenciennes», malhas que em Peniche dão pelo nome de carreiras abertas.” (MOURA: 1940, p. 315)

Em meados do século XVI existiam já verdadeiras organizações empresariais montadas a uma escala transnacional, dedicadas à produção e comercialização dos trabalhos de bordado a branco, assim como das rendas de agulha e de bilros. A família do grande editor renascentista Christophe Plantin (1520-1589), por exemplo, era uma das que possuía um negócio deste tipo. A empresa tinha sede na Flandres e em França, embora contando com entrepostos distribuídos pela Alemanha, Espanha e Itália. As rendilheiras, por sua vez, distribuíam-se pelo sul de Holanda, pela Flandres e pelo norte de França, sendo o seu trabalho controlado por uma série de feitores e intermediários. Depois de concluídas, as peças eram encaminhadas para as diversas lojas do grupo, estando as principais localizadas em Antuérpia e Paris. (LEVEY: 2002)

18

Também Calvet de Magalhães encontra afinidades entre a renda de Peniche e as de proveniência da europa setentrional. Segundo o autor, “Em Peniche existem mesmo apreciáveis colecções de rendas estrangeiras do século XVIII (Valenciennes, Binche, Flandres, Chantilly, Dinamarca e da Holanda) e da segunda metade do século XIX (Bruxelas – aplicação a ponto de agulha) -, Valenciennes, Valenciennes-Brabante, Malines, Bruges, Aleçon, Argentan, Duquesa, Puy, torchon, e a renda de croché chamada ponto da Irlanda.” (MAGALHÃES: 1995, p. 119)

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.2. As rendas – contexto nacional À luz dos conhecimentos atuais, a palavra renda foi usada em Portugal pela primeira vez num diploma legislativo datado de 1560, intitulado Lei sobre os vestidos de seda e feitios deles. E das pessoas que os podem trazer. A Pragmática de D. Sebastião (apesar de ser da responsabilidade de sua avó, a rainha D. Catarina, regente do reino na menoridade do rei D. Sebastião), como ficou conhecido esse documento, tinha por objetivo moderar o luxo e as elevadas despesas em que incorriam os vassalos do reino na confeção das suas vestes. “Primeiramente, por se escusarem os grandes gastos e despesas que se fazem nos feitios dos vestidos e cousas contidas na dita ordenação. Mando que daqui em diante pessoa alguma de qualquer qualidade que seja (posto que tenha cavalo) não possa usar no vestido, nem em outra alguma coisa, posto que seja de pano de broslado, forros, debruns, alamares, laçaria, guarnição de serrilha, trocelado, fitas, tranças, passamanes, antretalhos, nem de pespontos (…) E os que usarem das ditas coisas contra forma desta lei, incorrerão em todas as penas da dita ordenação. (…) E assim hei por bem que as donzelas da Rainha minha senhora e avó, e da Infanta dona Maria, minha muito amada e prezada tia, e da Infanta dona Isabel, minha muito amada e prezada tia, não possam trazer pela mesma maneira em seus vestidos e cousas de que se servirem (…), os ditos broslados, forros, debruns, barras, antretalhos, guarnições de tranças e de alamares, passamanes de seda, laçaria, serrilha, trochado, atrocelado, fitas, pespontos, nem quartapisas nem rendas (…)” (PORTUGAL: 1560) O texto da Pragmática não especifica de que tipo de rendas se trata, se de agulha ou de bilros, ambas já existentes na Europa naquela época. Independentemente da sua tipologia, a verdade é que o uso das rendas já se encontrava então bastante disseminado pelo reino, de tal forma que a rainha D. Catarina se viu obrigada a limitar o seu uso.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Atendendo à ineficácia das leis anteriores, Filipe II irá promover, em 1609, nova pragmática contra a “(…) grande demasia e excesso que há nos trajes e feitio deles (…)”, pretendendo assim travar os “(…) demasiados e desnecessários gastos e despesas que se fazem nos ditos trajos.” (DURÃES: 2010, p. 254) Passa a ser proibido aos homens trajar mantéus, punhos de guarnição, rendas, ou outros desfiados. Paralelamente, as ligas, bandas ou sendais não poderiam conter pontas de retrós, nem rendas ou franjas. (DURÃES: 2010, p. 255) Apesar de não se poder ignorar os imperativos de ordem económica que nortearam estas reformas, não deixa de ser verdade que as pragmáticas foram igualmente instrumentos de preservação de uma ordem social tradicional, num contexto em que uma elite se via crescentemente ameaçada por uma classe emergente de novos-ricos. É dessa forma que se devem interpretar as diversas exceções que esta Pragmática, por exemplo, concedeu a fidalgos, desembargadores ou cavaleiros, entre outros. Apesar de todas as tentativas de limitação do seu uso, a verdade é que o gosto pelas rendas manter-se-á por todo o século XVII, levando o rei D. João IV, em 1643, a aprovar nova pragmática. Considerava o monarca que o dinheiro dos seus vassalos era melhor empregue na defesa do reino do que em bens supérfluos, um argumento de peso numa altura em que Portugal procurava consolidar a sua recém-conquistada independência. Em 1677, contudo, a influência das correntes mercantilistas favorecidas pelo Conde da Ericeira induz D. Pedro II a legislar no sentido de permitir o uso de rendas de fabrico nacional pelas mulheres do reino, protegendo assim a indústria de rendas portuguesa: “(…) e só permito que [as mulheres] possam trazer

19


guarnição de seis dedos de largura, não sendo dos géneros acima proibidos, e poderão ser de rendas feitas no Reino e da mesma largura”. (SOUSA: 1914, p. 14) Já no século seguinte, esta legislação vai ser revertida por uma Pragmática de D. João V datada de 1749, voltando a proibir o uso de rendas, independentemente da sua origem. Pretendia desta forma o monarca limitar as dívidas dos seus vassalos, assim melhorando a condição económica do reino. No preâmbulo daquela lei pode ler-se: “Faço saber aos que esta lei e pragmática virem que tendo de atalhar os prejuízos dos meus vassalos não pude deixar de advertir com desprazer quanto lhes tem sido pernicioso o luxo, que entre eles se tem introduzido de algum tempo a esta parte. Este foi sempre um dos males que todo o sábio governo procurou impedir, como origem de ruína não só da fazenda, mas dos bons costumes; e contra ele se armou frequentemente a severidade das leis sumptuárias, para que evitando os povos a despesa, que malogravam em superfluidades, o estado se mantivesse mais rico, e se não extraísse dele a troco de frívolos ornatos, que com um breve uso se consomem, a mais sólida substância, que convém conservar para estabilidade das suas forças, e aumento do seu comércio. Não se descuidou nesta parte o zelo dos Reis meus predecessores, antes se opôs à desordem dos gastos com diversas pragmáticas, que enquanto foram observadas, deram a conhecer a grande utilidade, que resultava das suas providências; mas prevalecendo, como ordinariamente sucede, a inclinação, e o gosto das novidades, paulatinamente se foram pondo em esquecimento tão proveitosas disposições; e o dano, que vão experimentando os meus vassalos excita o meu paternal cuidado a procurar desarreigá-lo com eficazes remédios.” (DIAS: 1956, p.116) Assim, logo no primeiro capítulo da Pragmática se referia, “Proíbo usar nos vestidos, e enfeites de fitas lavradas, ou galões de seda, nem de rendas, de qualquer matéria, ou qualidade que sejam, ou de outros lavores que imitem as rendas; como também trazê-los na roupa

20

branca, nem usar delas em lenços, toalhas, lençóis ou em outras algumas alfaias (…) Toda a pessoa que usar de algumas das coisas proibidas no presente capítulo, perderá a peça em que se achar a transgressão: e pela primeira vez será condenada a pagar vinte mil réis; pela segunda quarenta mi réis, e três meses de prisão; e pela terceira vez, pagará 100 mil réis, e será degradada 5 anos para Angola” (DIAS: 1956, p. 117) Esta legislação vai ser energicamente contestada por produtores e comerciantes de rendas. Em Vila do Conde, as autoridades locais decidem enviar à Corte, em Lisboa, a rendilheira Joanna Maria de Jesus, enquanto representante de todas as rendilheiras do norte do país, no sentido de sensibilizar o monarca para a necessidade de alterar a lei. Também a Mesa do Bem Comum do Comércio irá reagir contundentemente contra a Pragmática de D. João V, propondo a manutenção da proibição das rendas importadas mas apelando ao rei no sentido de permitir a produção e o comércio das rendas nacionais: “Que se proíba o uso das rendas de fora em que os vassalos de V. Mage. despendiam tanto ou mais do que nas rendas de ouro, é tão justo, como necessário, porque era um dos meios, que a nobreza eclesiástica e secular tinha buscado para instrumento da sua perdição, despendendo grossas quantias, em uma vara de renda de fora, parece Senhor que custando tão pouco qualquer vara de renda da terra não pode ser proibida como a de fora. (…) porque nas rendas de fora todo esse avultado preço porque se compram é transmutado para os reinos estranhos, e a respeito das rendas da terra, todo o preço das compras que fica dentro do reino disperso pelos vassalos de V. Mage. é lucro de tal sorte, que ou se atenda à matéria ou ao laborioso do artefacto, tudo é dentro do Reino, sem que esse lucro passe aos estranhos.” (DIAS: 1956, p. 109, 110) E concluía, mais à frente, aquela instituição defensora dos interesses dos mercadores e negociantes:

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


“(…) pelo que esperam os suplicantes e humildemente suplicam, prostrados aos reais pés de V. Mage., queira dignar-se de mandar ver e examinar esta matéria por pessoas doutas, e prudentes, para que reconhecida a verdade do que expõem nos prejuízos do comércio, seja uma nova declaração da lei a que evite os danos futuros, declarando-se, que só se entendem proibidas as rendas de fora, em que os vassalos consumiam os cabedais, e não as da terra, de que tantas famílias se sustentam.” (DIAS: 1956, p. 114-115) Algum efeito estas iniciativas obtiveram já que, ainda no mesmo ano, é publicado um alvará a retificar a Pragmática anterior. Nele se lê: “Eu El-Rei, Faço saber aos que este meu alvará, com força de lei virem, que na pragmática de 24 de Maio deste presente ano mandei proibir, pelos motivos nela expressados, todas aquelas superfluidades, e excessos, que tinha introduzido o luxo, e a vaidade em grande prejuízo de meus vassalos; e entre as cousas expressamente proibidas foi uma delas o uso das rendas, não só nos vestidos, e enfeites pessoais, mas também em lenços, toalhas, lençóis, e em todas as mais alfaias, em que podia servir esta guarnição (…) Porém, por justas, considerações do meu serviço, e bem dos meus vassalos, sou servido declarar, que a proibição feita no dito Cap.º 1 sobre o uso das rendas em lenços, toalhas, lençóis, e outras alfaias de serviço doméstico só tenha seu vigor, e efeito nas rendas de fora, ficando permitido o uso de todas aquelas, que se fabricarem nos meus domínios, exceptuando porém do dito uso tudo o que pertencer ao ornato das pessoas, como voltas, punhos, adereços de mulheres, e outras cousas semelhantes; porque nesta fica em seu vigor a proibição imposta na mesma pragmática (…).” (DIAS: 1956, p. 129) A publicação deste alvará correspondeu, pelo menos em parte, aos anseios dos produtores e comerciantes do reino, ao permitir o fabrico e venda das rendas nacionais, limitando, porém, o seu uso às alfaias domésticas e proibindo a importação das rendas estrangeiras, impedidas assim de concorrer com as portuguesas.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Foi apenas, porém, com a publicação de um alvará por parte de D. José, datado de 21 de abril de 1751, que se liberalizou totalmente o fabrico e comercialização das rendas nacionais, permitindo a sua utilização também no vestuário. Esta iniciativa enquadrava-se na filosofia mercantilista advogada pelo Marquês de Pombal, de acordo com a qual se previa a proteção e fomento das indústrias nacionais. “Eu El-Rei faço saber aos que este alvará com força de lei virem, que, sendo-me presente que depois da promulgação da Pragmática de vinte e quatro de Maio de mil setecentos quarenta e nove, se tem achado na prática dela alguns inconvenientes tão dignos da Minha Real Atenção, como foram esterilizarem-se diferentes obras das fábricas destes Reinos, e faltarem assim os empregos ao útil, e necessário tráfico dos artífices, e pessoas que dele se costumavam sustentar; (…) E procurando promover o bem comum dos meus vassalos, e facilitar os meios de viverem do seu útil trabalho aos que a ele louvavelmente se aplicam; Hei por bem declarar, modificar e limitar a dita pragmática, ficando ela aliás sempre em sua força, e vigor, na maneira seguinte: (…) Item da proibição do mesmo Capítulo I exceptuo todas as rendas, que se fizerem dentro nos limites do Continente de Portugal, e do Algarve, por vassalos meus, nascidos nos referidos reinos: permitindo que estas ditas rendas possam servir assim na roupa branca do uso das pessoas, como nas toalhas, lençóis, e outras alfaias da casa, como se praticava antes da publicação da dita Pragmática.” (CALADO: 2003, p. 75) De forma a garantir a proveniência nacional do produto, a legislação estabelecia que os escrivães das câmaras dos lugares de onde as rendas eram originárias deveriam passar guias a acompanhá-las, de modo a que a alfândega de Lisboa pudesse colocar o respetivo selo. As rendas que fossem apanhadas sem selo seriam perdidas a favor do Hospital Real. O que aqui vemos é, nada mais nada menos, do que uma

21


das primeiras tentativas de certificação das rendas de origem nacional. O alvará concluía com a seguinte disposição: “E porque nesta manufactura se empregam somente pessoas pobres, que vivem do trabalho das suas mãos, ordeno que assim as guias, como os despachos e selos, sejam feitos, e postos sem por isso se levar algum emolumento, sob pena de suspensão, até a nova mercê Minha, contra os transgressores.” (CALADO: 2003, p. 75) O impulso da legislação setecentista viria a desaguar, no século seguinte, na criação de escolas industriais onde passou a ser ministrado o ensino das rendas sob supervisão de uma classe docente qualificada, procurando-se aliar, pela primeira vez, o ensino das técnicas com a indispensável aprendizagem do desenho. Neste contexto podem ser referidas a Escola de Desenho Industrial de Peniche, criada em 1887, assim como as de Viana do Castelo, de Setúbal e de Faro, fundadas em 1888. O papel destas escolas foi fundamental no ressurgimento que a indústria de rendas nacional

22

vivenciou na transição do século XIX para o século XX. Em meados do século passado, porém, já o panorama da manufatura das rendas de bilros era de acentuada crise. Duas guerras mundiais, com irreversíveis implicações culturais e socioeconómicas, transformaram o tradicional papel social da mulher, cuja emancipação foi acompanhada por profundas mudanças no campo da moda. À medida que os consumidores foram perdendo o fascínio e reverência pelas rendas, estas foram perdendo o espaço que antes ocupavam no vestuário e no lar. Para além disso, a emergência de novas oportunidades de emprego para as mulheres, que um acelerado processo de industrialização ditou, secundarizou também a importância económica das rendas de bilros, um processo que se prolongou por todo o século XX. No século XXI, os processos de certificação das rendas de bilros de Vila do Conde e, agora, das rendas de bilros de Peniche vão no sentido de ajudar a revitalizar estas indústrias tradicionais, encaradas como importantes elementos identitários e patrimoniais dos territórios de onde são originários e que urge preservar e promover.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.3. A Renda de Bilros em Peniche A partir do século XVII, as rendas de bilros afirmam-se como uma importante indústria de uma série de vilas e cidades costeiras portuguesas. Se atentarmos, porém, ao exemplo de Nisa, povoação do interior alentejano com tradição naquela arte manual, vemos que os bilros não se limitavam às póvoas litorais como Viana do Castelo, Vila do Conde, Peniche, Setúbal, Lagos, entre outras. Neste sentido, é difícil assinalar as razões que presidiram à emergência desta arte em determinados locais. Parece-nos razoável presumir, no entanto, e levando em linha de conta que foi nos centros piscatórios que as rendas de bilros mais se desenvolveram, que este trabalho têxtil surgiu como uma forma de complemento económico familiar face à imprevisível atividade piscatória. Era, aliás, por alturas do defeso, no Inverno, em que os homens ficavam em terra, que tradicionalmente as mulheres faziam mais renda. Peniche é desde há muito tempo, aliás, um dos principais portos piscatórios nacionais. Em inícios do século XVII,

por exemplo, era o segundo mais importante do país, apenas ultrapassado pelo de Setúbal. (FERREIRA: 1997) Ao cenário de incerteza e angústia da vida no mar, opunha-se o trabalho rotineiro e demorado das rendas de bilros, cujos lucros ajudavam a compor o orçamento familiar. Outras razões existirão para explicar o aparecimento desta indústria em diversos povoados costeiros, como a difusão por via marítima, a partir do norte da Europa, das rendas de bilros, mas aquele fator económico fará certamente parte do concerto de causas que o justificam. Relativamente a Peniche, a sua proximidade ao grande mercado lisboeta poderá também ter facilitado o desenvolvimento das rendas de bilros nesta localidade, ajudando ao escoamento da sua produção. Todos estes fatores permitiram que, com o tempo, a execução de rendas de bilros se estendesse a todo o território do atual concelho, como nos sugere a documentação consultada e as entrevistas realizadas.

2.3.1) Séculos XVI e XVII O primeiro documento com uma referência direta à existência de um centro de manufatura de rendas em Peniche data de 1749. Anteriormente a esta data os vestígios documentais que comprovam a existência desta atividade têxtil artesanal em Peniche não são tão claros. O historiador Mariano Calado, no seu livro História da Renda de Bilros de Peniche, refere, por exemplo, os registos de óbito de três mulheres, efetuados entre 1598 e 1599, e onde cada uma delas aparece identificada como rolloa. (CALADO: 2003) Segundo aquele historiador, uma hipótese a considerar será a de que a palavra rolloa serviria para identificar a

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

mulher que trabalha com o rolo, nome porque ainda hoje é conhecida a “(…) abertura circular que, atravessando longitudinalmente a almofada, permite que a rendilheira, introduzindo nela as mãos, a possa fazer rolar à medida que a renda se vai desenvolvendo. (…) Assim, de início, «roloa» poderia ter sido o nome dado à trabalhadora do rolo, isto é, à trabalhadora da almofada, ou seja, à rendilheira.” (CALADO: 2003, p. 86) Outro sinal comummente apresentado como testemunho da presença de um centro rendeiro em Peniche no século XVII é o quadro Menino Jesus Salvador do Mundo, da pintora Josefa de Óbidos. Nascida em Sevilha em

23


1630, Josefa de Ayala Figueira veio para Portugal com apenas 4 anos de idade, vivendo quase toda a sua vida em Óbidos. No referido quadro, pintado algures entre 1660 e 1670, o menino Jesus encontra-se sobre uma peanha envergando uma túnica transparente decorada com rendas. Segundo a teoria, foram as rendas de bilros manufaturadas em Peniche, local que Josefa de Ayala visitava amiúde, que presidiram à opção da pintora em decorar com motivos de renda a túnica do menino Jesus. “Ora, tendo em conta as dificuldades de deslocação e comunicação próprias do tempo, é lícito supor que os quadros de Josefa de Óbidos tenham sido influenciados não tanto pelo conhecimento do que se passava em qualquer centro rendeiro da Europa, por demais remoto (…) mas sim por uma actividade que eventualmente se desenvolvia em local perto de onde vivia, reunindo Peniche, por isso, toda a probabilidade de, pelo menos no que à renda de bilros diz respeito, ter sido a musa inspiradora de Josefa.” (CALADO: 2003, p. 80) De referir também que, em meados do século XVII, a Santa Casa da Misericórdia de Peniche era possuidora de diversas peças em renda, ficando por esclarecer, no entanto, a sua proveniência.

24

Ainda no século XVII, e segundo Hernâni de Barros Bernardo, uma Ata da Vereação Municipal de Peniche do ano de 1683 apresenta, à frente do nome de uma tal Maria Annes, a abreviatura rend.ª, o que é interpretado pelo autor como significando rendilheira. (BERNARDO: 1965) Estes são, portanto, o conjunto de referências que, segundo alguns autores, sugerem a existência de um centro rendeiro em Peniche nos finais do século XVI e século XVII. É bastante provável, no entanto, que já no século XVII Peniche se distinguisse como centro de uma importante indústria rendeira, de maneira similar ao que sucedia em alguns outros pontos do país. No ano de 1616, por exemplo, a Câmara de Vila do Conde deliberou sobre a forma como as rendilheiras daquele local haviam de participar na procissão do Corpo de Deus, facto que denota a importância que aquela atividade já teria então naquele lugar. (RÊGO, PIRES: 2005) Esta procissão, como indica Mariano Calado, terá chegado também a realizar-se na vila de Peniche. (CALADO: 1968). Até ao momento, no entanto, não foi possível encontrar qualquer documento que nos elucide acerca da participação das rendilheiras nesta cerimónia católica.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.3.2) Século XVIII

Data do século XVIII o primeiro documento em que a vila de Peniche é diretamente referida como um centro rendeiro. Trata-se de um manuscrito exarado pela Mesa do Bem Comum do Comércio, no qual se exerce o protesto contra a Pragmática de D. João V, e no qual figura o seguinte excerto: “(…) são muitas as terras deste Reino, em que as famílias se ocupam, e o que mais é, que só se sustentam deste lucro, sem terem outro que concorra para a sua subsistência, como se viu praticado em Peniche, Cascais, em Setúbal, e muita parte da província do Alentejo, Algarve, e todas as outras (…)”(DIAS: 1956, p. 109) Não há dúvida, portanto, que em meados do século XVIII já as rendas eram uma atividade económica de grande importância em Peniche, não só para as rendilheiras como também para os comerciantes que forneciam os artigos indispensáveis à sua arte. A este propósito, refira-se que na documentação pertencente a um comerciante de Peniche, datada das décadas de 40 e 50 do século XVIII, se encontram

evidências da sua atividade relacionada com a compra e venda de alfinetes, linhas (entre as quais linhas de Flandres), torçal de várias cores, retrós preto, açafrão (a partir do qual se fazia a cor dos piques) e papel, produtos que parecem ter como destino o abastecimento da indústria das rendas daquele lugar. (CALADO: 2003) Outra nota curiosa, que confirma a existência de manufatura de rendas de bilros em Peniche no século XVIII, encontra-se num documento de Pedro Cervantes Figueira datado de 1865. Intitulado A Indústria de Peniche, nele o autor dá conta do testemunho de duas irmãs rendilheiras com mais de 80 anos que lhe referiram que já a sua tia-avó lhes mostrava piques das rendas que havia feito em menina. (FIGUEIRA: 1865) Esta tia-avó daquelas idosas rendilheiras teria vivido em meados do século XVIII, fazendo parte certamente do grupo que o documento da Mesa do Bem Comum do Comércio procurava proteger da Pragmática de D. João V.

2.3.3) Século XIX Em 1810, e na sequência das invasões francesas, toma posse como Governador da Praça Militar de Peniche o general inglês Richard Blunt, uma personalidade com uma sensibilidade especial que o leva a interessar-se genuinamente pelo bem daquela vila, não se eximindo a apontar os problemas que então a afetavam, bem assim como as virtualidades que achava que podiam ser exploradas. Neste sentido, e com o objetivo de estimular a indústria rendeira penichense, Richard Blunt, em ofício enviado à

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Câmara Municipal no ano de 1814, propõe oferecer um prémio anual de vinte duros (moeda espanhola de prata) ao mais virtuoso pescador da vila, bem como uma soma do mesmo montante à rendilheira que execute “(…) a renda mais fina e do maior preço; esperando assim animar um espírito de indústria, ainda que, se estou bem informado, lhes falte o objecto essencial para continuarem vantajosamente as suas inclinações, por não terem os meios adequados para procurarem com abundância os artigos próprios para a sua manufactura, porém, como

25


uma pequena soma supera esta falta, espero que as autoridades julguem este exame digno das suas atenções.” (CALADO: 2003, p. 96, 97) Já então eram apontadas pelo general inglês algumas insuficiências que caracterizavam esta indústria, como a falta de materiais adequados para a elaboração de peças mais perfeitas, uma queixa que irá repetir-se anos depois, como veremos mais adiante. A Vereação Municipal, contudo, parecendo reagir, num primeiro momento, de modo favorável aos intentos de Richard Blunt, opta em 1815 por atribuir aquele prémio a “(…) uma pessoa ou mestra que ensinasse as meninas mais pobres desta povoação a fazer costura, meia e outras coisas próprias do seu sexo.” (CALADO: 2003, p. 100). Desvirtuaram-se assim os propósitos do empenhado súbdito inglês. Já depois das guerras liberais o cargo de Governador da Praça de Peniche seria ocupado, entre 1834 e 1838, pelo brigadeiro José de Barros e Abreu de Sousa e Alvim. Segundo uma tradição local, a sua esposa, D. Margarida Iriarte Cocio, argentina e futura condessa do Casal, desempenhou um papel importante no enriquecimento das rendas de bilros de Peniche, apostando na importação de linhas de maior qualidade e contribuindo

para a renovação dos seus padrões. (ARAGÃO: 1945) Teria ficado a dever-se também à sua iniciativa a participação das rendas de Peniche em diversas exposições nacionais e internacionais, decorridas na segunda metade do século XIX, onde arrecadaram algumas distinções importantes. Depois de estarem presentes na Grande Exposição de Londres, em 1851, e na Exposição Internacional de Paris, em 1855, as rendas de bilros de Peniche marcaram presença nas exposições industriais realizadas no Porto em 1857 e 1861, em ambas arrecadando uma Medalha de Prata. “Na de 1857, diz um júri, referindo-se às rendas de Peniche «por rivalizarem com os produtos estrangeiros», e na de 1861 «por achar bem feitos e de bom gosto destes produtos»” (FIGUEIRA: 1865, p. 4) Mais tarde, as rendas de Peniche estiveram presentes na Exposição Internacional de Viena de 1873, onde obtiveram uma Medalha de Mérito. Por sua vez, integraram também o pavilhão português na 3ª Exposição Internacional de Paris, realizada em 1878, onde foram bastante apreciadas.

2.3.3.1) Os registos de passaportes internos No âmbito da realização deste trabalho foi possível analisar, no Arquivo Municipal de Peniche, os registos de passaporte internos emitidos entre os anos de 1856 e 1862 (Livro de registo de passaportes – 1856-1862. Caixa 67).Estes passaportes serviam para os seus detentores poderem circular dentro do território português e foram abolidos em 1863. Através do exame destes preciosos documentos foi possível detetar as viagens efetuadas, durante aquele período, pelos negociantes de rendas

26

naturais de Peniche, que assim as iam vender a outras terras. Ao todo foram consultados 52 passaportes passados a vendedores de rendas naquele período, 51 a homens (identificados como negociantes ou vendilhões de rendas) e 1 a uma mulher, identificada como rendeira. Existe ainda um passaporte emitido a uma mestra de rendas mas que não deverá estar relacionado com

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


qualquer atividade comercial.

compreendidos debaixo da designação diferentes terras.

A distribuição anual dos passaportes é a seguinte:

Vale a pena registar o nome de todos os vendedores envolvidos neste trânsito comercial, em baixo ordenados segundo o número de viagens efetuadas.

1859 – 7; 1860 – 20; 1861 – 14; 1862 - 11 Note-se que entre os anos de 1856 a 1858 não foram encontrados quaisquer passaportes passados a negociantes de rendas, o que não quer dizer, contudo, que tal atividade não tenha existido. Sabemos como o registo de certos atos administrativos esteve sempre dependente do zelo dos seus intervenientes ou do contexto político existente, mais ou menos exigente na prossecução da legislação em vigor. Relativamente ao destino procurado pelos negociantes de rendas para vender os seus produtos temos os seguintes resultados: Lisboa: 17; Lisboa e mais terras: 20; Porto: 1; Coimbra: 1; Figueira e mais terras: 1; Terras do Minho: 1; Diferentes terras: 11. É possível assim concluir-se que os vendedores do início da segunda metade do século XIX se deslocavam primordialmente para a cidade de Lisboa, sendo muito escassas as incursões pelo norte ou centro do país, confirmando-se aquele que historicamente foi um dos principais mercados para este produto. Apesar de tudo não nos é possível discernir quais os destinos

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Felipe Quaresma – 14 António dos Santos – 12 José Marcelino da Silva – 10 José Francisco de Lemos – 4 António Maria Monteiro – 4 Francisco José de Lemos – 2 José Joaquim Monteiro – 2 Felipe António Pereira – 1 João Marcelino da Silva – 1 Guilhermina dos Remédios – 1 Os passaportes tinham, na sua esmagadora maioria, uma duração de 30 dias. Algumas vezes, terminado o prazo, os vendedores regressavam de novo a Peniche para se abastecerem, sendo-lhes depois emitido novo passaporte para mais uma viagem. António dos Santos, por exemplo, pediu um passaporte no dia 5 de dezembro de 1859, sendo-lhe emitido outro em 9 de janeiro de 1860. Noutros casos havia um maior espaçamento entre as viagens. Tal foi o caso, por exemplo, de Felipe Quaresma que solicitou passaporte para o dia 6 de setembro de 1859, tendo apenas pedido novo documento para o dia 9 de janeiro de 1860.

27


2.3.4) Limitações da indústria das Rendas de Bilros de Peniche na segunda metade do século XIX O bom acolhimento que as rendas de Peniche foram tendo, em Portugal e no estrangeiro, na segunda metade do século XIX, não ocultava, porém, os problemas que essa indústria então enfrentava, uma realidade apontada por diversos autores da época. Entre esses problemas pontificavam a ausência de ligação das rendas de Peniche às tendências do mercado, sendo o trabalho das rendilheiras exercido isoladamente e sem qualquer tipo de orientação superior, a utilização de matérias-primas desadequadas, a má remuneração das artesãs e a falta de conhecimentos na área de desenho das mulheres encarregues de fazer os piques, o que resultava em produtos esteticamente pouco apelativos e monótonos. Pedro Cervantes Figueira, por exemplo, considerava que os prémios obtidos nas exposições portuenses foram um “(…) resultado assaz lisonjeiro para uma indústria, que vegeta sem direção, dispersa, entregue ao esforço próprio dos indivíduos pobres, desprotegidos e privados do estímulo do interesse, que tudo anima e vivifica.” (FIGUEIRA: 1865, p. 4) Segundo este autor, que apontava para a existência em Peniche de cerca de 1000 rendilheiras na década de 60 do século XIX: “Esta indústria, estando sujeita à flutuação e ao capricho dos consumidores, carece de uma inteligente direção, que espreite as exigências da moda, e procure mercados para os seus produtos (…) A direção a que nos referimos, é nossa humilde opinião, que só se lhe poderia dar por meio de uma companhia, que se encarregasse de escolher os desenhos das rendas, de adquirir as melhores linhas e sedas para a sua fabricação, de procurar mercados para elas, de satisfazer encomendas por uma módica percentagem, enfim de velar pelo bem acabado dos artefactos.” (FIGUEIRA: 1965, p. 5)

28

De salientar como, já no século XIX, eram defendidas opiniões tão sensatas e plenas de atualidade para colmatar os problemas da indústria rendeira então (como agora) sentidos. Outra disfunção do setor prendia-se com o modo como eram comercializadas as rendas e que garantiam as maiores margens de lucro para os intermediários e vendedores. Explica Pedro Cervantes Figueira que: “Ainda na escola, já as mães d´estas raparigas lhes procuram rendeiros: rendeiro é um homem, ou mulher, que negoceia em rendas e faz adiantamentos às fabricantes em dinheiro, em comestíveis, e em artigos de vestuário, sempre cotados por um preço exorbitante, para receber em paga as rendas que vão produzindo: logo que os rendeiros têm reunido uma porção de rendas, entregam-nas aos vendedores, que são outros homens ou mulheres, que vão percorrer Lisboa, Porto e outros sítios de concorrência, como Caldas, Figueira, praia da Nazaré, foz do Douro no tempo dos banhos. Estes vendedores recebem 10 por cento de comissão de venda.” (FIGUEIRA: 1865, p. 3) O autor acrescenta ainda que as mães das rendilheiras mais novas, “(…) começam a pedir [aos rendeiros] vestuário, calçado e comestíveis, à custa da almofada das filhas, isto é, por conta das rendas que hão de ir fazendo; os adiantamentos sucedem-se e as pobres infelizes vão pagando, mas (…) nunca chegam a limpar o rol, porque três ou quatro vinténs por dia, preço de rendas pagas por metade do seu valor, nunca chega para saldar a conta da capa, do vestido, dos açafates, da linha e dos comestíveis vendidos pelo preço que costumam pagar os que vivem a crédito.” (FIGUEIRA: 1983)

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


De facto, o papel destes intermediários, embora importante, em muito contribuiu para a decadência desta indústria, tais eram as condições impostas e os preços praticados. O negócio do intermediário sobrepunha-se ao da produção das rendas, sendo os preços espremidos ao máximo e as rendilheiras exploradas sem quaisquer escrúpulos. Como precisavam de vender, sujeitavam-se a troco de parcos “empréstimos” e de bens essenciais. Também Ramalho Ortigão, no livro As Praias de Portugal, se deixou encantar com as rendas fabricadas em Peniche. Tal como outros autores, porém, não deixou de constatar a ignorância artística que presidia ao trabalho das rendilheiras, assegurando que “Nem em Vila do Conde nem em Peniche encontramos uma só operária que soubesse desenhar.” (ORTIGÃO: 1876, p. 86)

em desenho das mulheres responsáveis pela sua elaboração. (LAMARRE, LAMY: 1878) Estas são críticas recorrentes ao longo do século XIX. Afastadas do mercado, exercendo o seu trabalho com matérias-primas de pouca qualidade, socorrendo-se de desenhos pouco imaginativos, sem orientação e mal remuneradas, as rendilheiras de Peniche conseguiam, apesar de tudo, e valendo-se das suas virtudes técnicas, fazer peças de elevada complexidade e perfeição. É um retrato algo decadente, aliás, que o Inquérito Industrial de 1881 revela:

A confeção de rendas em Peniche foi também alvo de análise por parte de críticos estrangeiros na segunda metade do século XIX. Na sequência da Exposição Internacional de Paris de 1878, dois autores franceses, ClovisLamarre e Georges Lamy, publicaram um livro intitulado Le Portugal etl´Exposition de 1878 onde, entre outros assuntos, se debruçam sobre a indústria de rendas nacional.

“A indústria das rendas é tradicional em Peniche. A população feminina desta vila ocupa-se quase exclusivamente deste fabrico, que leva muitas vezes ao mais alto grau de perfeição. Com um bom desenho e escolhidas as matérias-primas, as rendas de Peniche podem rivalizar com as melhores do estrangeiro. Não obstante, porém, a perfeição do fabrico e a exiguidade dos salários, esta indústria apresenta-se sensivelmente decadente. As condições da produção das rendas são precárias. Esta indústria, como dissemos, está espalhada por toda a vila. As mulheres apenas interrompem o trabalho, que começa ao alvorecer e termina pela noite adiante, para tratar dos deveres domésticos. O trabalho das rendeiras, que é considerado fatigante, o que é perfeitamente atestado pelo seu aspeto doentio e anémico, é retribuído parcamente. Os salários variam entre 30 e 100 réis. A média será 60 réis. O trabalho não é pago aos dias, calcula-se a tanto por metro de renda, e segundo a qualidade dela.

Segundo eles, os principais centros rendeiros situavamse então em Viana do Castelo, na Horta, em Setúbal e em Peniche, este último o mais apreciado no país. Apesar de considerarem que desde há um quarto de século as rendas portuguesas se encontravam num período de franco desenvolvimento, não deixavam de criticar o isolamento em que as rendilheiras de Peniche desenvolviam o seu ofício, parcamente remunerado pelos intermediários, e da ausência de formação

Segundo informações que colhemos, a população empregada no fabrico das rendas é aproximadamente de 1200 pessoas, mulheres e crianças. A produção anual é avaliada entre 18.000$000 e 20.000$000 réis. Esta produção pode elevar-se muito se melhorarem, pelo emprego de quaisquer meios, as condições muito desfavoráveis em que atualmente se encontram. Do Brasil, da França e da Inglaterra têm sido feitas grandes encomendas, raras vezes satisfeitas por falta absoluta de recursos. (…)

O conhecido escritor considerava que “A criação de uma escola de desenho pública e gratuita é tão necessária em qualquer destas localidades como a escola das primeiras letras. A essas mulheres, que tão fiel e escrupulosamente executam os riscos, seria facílimo ensinar a manejar o lápis.” (ORTIGÃO: 1876, p. 86, 87)

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

29


A manufatura das rendas perpetua-se nas famílias, conservando os mesmos padrões e os mesmos processos de trabalho. Os modelos sucessivamente transportados e alterados lentamente vão mudando de forma até apresentarem uma completa modificação, perdendo a graça e a originalidade. Modelos novos não os há geralmente. A variedade e o bom gosto dos padrões, que constituem um elemento de vida para esta indústria, são tidos em pouca conta em Peniche. A má escolha das matérias-primas contribui também para o seu estacionamento. O comércio das rendas é feito por duas ordens de intermediários que especulam com a pobreza das rendeiras. Há na localidade dez ou doze casas que compram, não diretamente às fabricantes, mas a mulheres que estão em contacto com elas e lhes fazem as encomendas. A necessidade obriga

as operárias a solicitar-lhes adiamentos que as põe numa sujeição completa, dando margem à agiotagem. A colocação das rendas no mercado é completamente descurada. A conservação e o aperfeiçoamento desta indústria depende essencialmente de uma organização metódica que, reunindo os elementos poderosos que existem, regule o trabalho e introduza no fabrico todos os aperfeiçoamentos de que tanto carece. Uma companhia que tomasse esta empresa levantaria esta indústria e auferiria por certo um juro remunerador para os seus capitais.” (PORTUGAL: 1881, p. –219-220) Foi com o objetivo de obviar a alguns destes constrangimentos que impendiam sobre a indústria de rendas de Peniche que foi criada, em 1887, a Escola Industrial e Comercial de Peniche.

2.3.5) O ensino das Rendas de Bilros Antes, porém, de falarmos acerca daquela importante escola, importa dizer que a formação das rendilheiras foi sendo, ao longo da história, uma atividade exercida no âmbito doméstico. O saber das mães, avós e tias, era transmitido às meninas mais novas da família, assegurando-se assim um vínculo entre as diversas gerações que preservou a arte das rendas de bilros da voragem do tempo. Na segunda metade do século XIX, porém, a formação já evidenciava um grau de maior formalidade, evidente nas 8 escolas particulares de rendas que então existiam na vila e nas quais as meninas, por volta dos 4 anos de idade, ingressavam. Lá aprendiam não apenas a fazer rendas de bilros, mas também outros lavores femininos, assim como lhes era ensinado a ler, a escrever, a contar e a rezar. Pedro Cerveira Figueira dá-nos conta do ambiente vivido numa dessas escolas no século XIX, no seguinte excerto:

30

“(…) vê-se ali a mestra encruzada diante da almofada, tendo sempre junto de si uma longa cana; diante dela, em fileiras estão vinte ou mais raparigas, de costas para a mestra, sentadas às almofadas. A cada uma já foi destinada a empreitada ou tarefa que deve acabar num determinado espaço de tempo, e ai daquela que fala com a companheira, que lhe fica próxima, ou se distraia, porque se a mestra dá por isso lá vai a cana adverti-la.” (FIGUEIRAS: 1865, p. 3) Não queremos com isto dizer, naturalmente, que com o surgimento das escolas o ensino doméstico tenha sido interrompido. É óbvio que numa família de rendilheiras há sempre troca de experiências, sendo que as mais velhas ajudam sempre que podem as mais novas a melhorar a sua destreza e apuro técnico. Para além disso, nem todas as futuras rendilheiras passaram por aquelas –escolas-oficinas particulares, também chamadas de sujeição, pelo facto das crianças estarem sujeitas ao controlo e disciplina das mestras.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Segundo Mariano Calado, entre o universo destas escolas populares, algumas delas ainda em atividade em pleno século XX, merecem destaque a de Conceição Frederica (também conhecida como sendo do Sr. Pacífico), situada na Rua Salvador Franco (e frequentada pelas rendilheiras Rosa Avelar e Ida Guilherme, por ex.), a de Joaninha Melo, na Rua de José Estêvão, a de Maria Farto, localizada na rua Marquês de Pombal, a de Maria Lagariça, com morada no Largo de Castilho, a de Rosa Pintassilga, que funcionava na Rua 1º de Dezembro, a de Maria Conceição Trapoila, no Largo de São Paulo, a de Rosa Pipas, na Rua Marquês de Pombal e, finalmente, a de Adelaide Ferrador. (CALADO: 2003) De referir ainda que, paralelamente a estas escolas, existiam algumas oficinas detidas por empresários onde também trabalhavam bastantes rendilheiras. As suas rendas, feitas sob supervisão de experientes mestras, eram depois vendidas diretamente pelos proprietários das oficinas, eliminando-se assim o papel dos intermediários. Entre essas oficinas encontravam-se as de José Maria de Oliveira (fundada no início do século XX), a funcionar na Praça Jacob Rodrigues Pereira, a de Francisco Cervantes, a de Jacinto Alexandre e a de

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 4 - Fotografia de uma oficina particular de rendas de Peniche, década de 20(séc. XX), retirada de “Peniche 100 anos através da fotografia” de Luís Correia Peixoto, 1993

Francisco de Freitas Trindade. (CALADO: 2003) O caso destas oficinas parece aproximar-se um pouco do conceito da companhia defendido por Pedro Cervantes Figueira no seu livro A Indústria de Peniche e que expusemos atrás.

31


2.3.5.1) A Escola Industrial e Comercial D. Maria Pia O empreendimento escolar historicamente mais importante para as rendas de bilros de Peniche, no entanto, foi a Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia, conhecida mais tarde como a Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos. A escola surge no contexto das reformas encetadas na segunda metade do século XIX no sentido de melhorar o ensino industrial no país. O acelerado processo de industrialização, com o seu cortejo de novas tecnologias e métodos de trabalho, e o sucesso das exposições internacionais, como a ocorrida em 1851 no Palácio de Cristal de Londres, encorajaram muitos países a enveredar por profundas reformas educativas, tendo o ensino profissional como centro, um papel que no antigo regime estava a cargo das corporações de ofício. Nas conclusões do Relatório Anual de 1850-1851 do Conselho Superior de Instrução Pública lê-se que“A instrução secundária e complementar carece de dilatar a esfera do ensino, na parte relativa às disciplinas industriais, adiantar os conhecimentos práticos e de aplicação, tão necessários para o progresso da agricultura e para o desenvolvimento de todas as artes e ofícios.” (MARTINHO: 2006, p. 54) Tratava-se então da necessidade de investir na instrução popular, nomeadamente no ensino vocacionado para a formação de técnicos, com o objetivo de aperfeiçoar os produtos industriais e agrícolas. Foram-se estabelecendo assim as condições legislativas necessárias para a criação de escolas industriais em diversas localidades do país, procurando adaptar-se a oferta formativa às especificidades dos lugares onde estavam inseridas. Emídio Navarro, Ministro das Obras Públicas, teria um papel preponderante nesta evolução, edificando novas escolas, ampliando aquelas já existentes e preocupando-se com a contratação de

32

professores no estrangeiro. É no contexto deste afã legislativo que em 1887 é fundada, em Peniche, a Escola de Desenho Industrial de Peniche. Segundo as orientações emanadas do ministério de Emídio Navarro, as escolas de desenho industrial tinham como objetivo ensinar desenho com aplicação às indústrias predominantes dos locais onde eram criadas. A escola, que a partir de 1888 foi batizada de Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia, ministrava formação em desenho elementar e industrial a crianças de ambos os sexos, possuindo também em funcionamento uma oficina de rendas, frequentada por 48 rendilheiras no ano letivo de 1889/1890. Estas, para além de receberem formação técnica especializada na arte das rendas de bilros, dividiam-se pelas aulas de desenho elementar e desenho industrial, que se subdividia, por sua vez, nas disciplinas de desenho geométrico e ornamental. O ensino do desenho era considerado a base para a produção de peças de qualidade técnica e estética elevada, que acrescentassem valor à produção e constituíssem ponto de viragem para a indústria da renda de bilros. O sucesso deste empreendimento contou com a atenção e o entusiamo de Fonseca de Benevides, o inspetor das escolas da circunscrição do sul a quem, na prática, coube organizar a escola de desenho e a oficina de rendas, inaugurada oficialmente a 26 de setembro de 1887. No relatório da sua autoria sobreas escolas industriais e de desenho industrial da circunscrição do sul relativos aos anos letivos de 1886-1887, Fonseca de Benevides explica: “Desde tempos remotos a indústria das rendas é, com a da pesca, o foco da vitalidade da vila de Peniche. É conhecida em todo o mundo civilizado a perfeição do trabalho das rendas de Peniche; entretanto, nestes últimos anos, a

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


indústria tem-se mostrado decadente, não na beleza e perfeição da execução dos artefactos, mas na falta de desenvolvimento e variedade de produtos, e na desgraçada condição das mulheres, que, na vila de Peniche, cultivam esta indústria essencialmente doméstica e caseira. Desenvolver a indústria, debaixo do ponto de vista artístico, pelo ensino do desenho e trabalho na oficina da escola, e melhorar as condições das pobres mulheres, raparigas e crianças, que se entregam ao fabrico das rendas, eis os principais fins que, a meu ver, levaram o atual ministro das obras públicas a criar uma escola de desenho industrial na vila de Peniche.” (BENEVIDES: 1885, p.33) A organização prática da oficina de rendas não foi, porém, tarefa fácil, pelas dificuldades sentidas por Fonseca de Benevides em adquirir o material e o pessoal necessário para o seu bom funcionamento. Em Peniche, para seu grande espanto, não havia lojas que vendessem almofadas ou bilros. As rendilheiras, por sua vez, e como o referido inspetor verificou, trabalhavam na dependência das rendeiras, que lhes vendiam os materiais do seu ofício, assim como lhes adiantavam os géneros indispensáveis à vida quotidiana, créditos pagos depois com as rendas feitas pelas devedoras. Para Fonseca de Benevides, esta situação só poderia ser ultrapassada através do pagamento de uma soma pecuniária às rendilheiras que aceitassem trabalhar na oficina da Escola Industrial de Peniche, libertandoas assim das amarras que as prendiam aos rendeiros. A prosa de Fonseca de Benevides é reveladora das dificuldades que sentiu para implementar o novo sistema: “A primeira dificuldade foi encontrar raparigas que quisessem ir trabalhar na oficina da escola. As rendeiras não davam licença, e as operárias estavam em grande número empenhadas, e tinham medo de abandonar as rendeiras que, desde longos anos, e sempre, lhes davam trabalho, para trocarem por um novo patrão, o governo, sem

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

terem certeza da duração da nova oficina, antes receando que em breve acabasse (…). Enfim, depois de muitas diligências, consegui, na noite de 23 para 24 de Setembro de 1887, angariar algumas raparigas, a quem prometi pagar as dívidas, que elas declarassem ter para com as rendeiras, e na manhã do dia 24 se inaugurou a oficina, ainda antes de se inaugurar oficialmente a escola, o que se verificou no dia 26 do mesmo mês.” (BENEVIDES: 1885, p. 34, 35) Nesse mesmo dia, Fonseca de Benevides doou a cada uma das rendilheiras, em nome do governo, as quantias necessárias para saldarem as dívidas junto dos seus rendeiros, libertando-as finalmente do seu jugo. O quadro da oficina de rendas cresceu rapidamente para albergar 25 operárias. O trabalho decorria entre as 9 da manhã e o meio-dia e, da parte da tarde, das 14 até às 18 horas, no verão, ou até o sol se por, no inverno. As rendilheiras auferiam um salário que variava entre os 40 e os 200 réis diários, um valor superior ao que poderiam obter trabalhando em casa para os rendeiros. Para além disso, todas as rendilheiras frequentavam as aulas de desenho. Os materiais como almofadas, bilros, bancos, linhas e alfinetes foram comprados a particulares em Peniche e Lisboa, embora a maioria destes objetos tenha sido mandada fazer em Viana do Castelo. Fonseca Benevides teve ainda o cuidado de dotar a oficina de amostras de rendas de outros locais, assim como de fotografias, estampas e livros, notável espólio que muito deverá ter contribuído para o enriquecimento das rendilheiras. A Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia eliminava assim, pelo menos para as operárias que a frequentavam, dois grandes problemas que vinham sendo apontados à indústria rendeira de Peniche ao longo do século XIX: a dependência das artesãs de intermediários sem escrúpulos e a falta de uma supervisão qualificada capaz de modernizar a gramática decorativa associada às rendas, tornando-as em objetos mais apelativos ao gosto do presente.

33


2.3.5.1.1) O papel revolucionário de Maria Augusta Bordalo Pinheiro A primeira diretora da Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia foi Maria Augusta Bordalo Pinheiro (1841-1915), conhecida pintora de motivos florais, irmã do ilustrador Rafael Bordalo Pinheiro e do pintor Columbano Bordalo Pinheiro. A sua cultura e sensibilidade foram determinantes no traçar de um novo rumo estético para as rendas de bilros. Sob a sua direção artística e orientação intelectual, as rendas de Peniche conseguiram renovar-se, afastandose de uma certa estagnação que até então definia os seus desenhos e motivos. Segundo Maria Filomena Brito, a ação de Maria Augusta Bordalo Pinheiro inaugurou “(…) um movimento de tendência erudita que excepcionalmente dominou a confeção de rendas portuguesas até às primeiras décadas do presente século [referindo-se ao século XX]” (BRITO: 1997, p. 33)

Fig. 5 - Retrato de Maria Augusta Bordalo Pinheiro, retirada de “Dicionário Histórico e Biográfico de Artistas e Técnicos Portugueses” de Arsénio Sampaio de Andrade, 1959

Para Afonso Lopes Vieira, por sua vez, “Ela logrou fazer da renda vulgar, industrial, de Peniche, que operárias habilidosas, sim, mas sem cultura nem gosto, nem terem quem lhos ministrasse, urdiam sem ideal, - ela conseguiu fazer da renda gorda das operárias os seus modelos sublimes de poesia. Assim pode ser criada, como obra de arte moderna, a Renda Portuguesa, e estilizada dentro de um conceito nacionalizador e de uma técnica purificada e desenvolvida.” (VIEIRA: 1915, p. 103) Finalmente, no catálogo ilustrado à secção portuguesa de Belas Artes, elaborado no contexto da Exposição Nacional ocorrida no Rio de Janeiro em 1908, refere-se que “Quanto às rendas, é a Sr.ª D. Maria Augusta Bordalo Pinheiro que se deve tudo. O nome d´esta artista, é já hoje, em Portugal, inseparável d´esta indústria d´arte, pois

34

que é a ela que se deve o seu ressurgimento em melhores moldes. Inspirando-se na fauna e flora nacional, e em alguns dos nossos motivos de decoração arquitectónica mais puros, a Sr.ª D. Maria Bordalo, sem desprezar os velhos padrões, não só reatou a tradição das nossas rendas, cujo maior centro produtor era Peniche, mas, mais do que isso, desarticulou essa indústria enriquecendo-a com novas e originalíssimas modalidades (…) Deixando de ser feita só com moldes quase rectilineos, a Sr.ª D. Maria Bordalo, com a aplicação e entrelaçamentos de curvas, enriqueceu-a, tornando das mais sumptuosas esta nossa indústria d´arte.” (FIGUEIREDO: 1908, p. 26, 27)

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Os efeitos da liderança de Maria Augusta Bordalo Pinheiro foram rapidamente visíveis no apreço com que as rendas oriundas da Escola foram recebidas nas exposições em que participaram nos anos seguintes, como na Exposição Industrial de Lisboa de 1888.

Maria Augusta Bordalo Pinheiro permaneceu menos de dois anos à frente da Escola de Peniche. No regresso a Lisboa fundou uma oficina de rendas de bilros na rua do Tesouro Velho, onde trabalharam algumas rendilheiras de Peniche.

Seria, no entanto, na Exposição Universal de Paris de 1889 que as rendas de bilros de Peniche alcançariam a desejada consagração internacional, validando assim o trabalho que vinha sendo desenvolvido na oficina de rendas da Escola Industrial de Peniche, instituição que recebeu uma Medalha de Ouro pela qualidade dos trabalhos apresentados naquele certame.

Para a substituir no cargo, foi nomeada, em 1890, Etelvina de Assunção, que havia ingressado na Escola de Peniche no ano letivo de 1888/1889 como ajudante de Maria Augusta Bordalo Pinheiro. Etelvina Assunção dirigiu a Escola por mais de 35 anos, dando continuidade às linhas de rumo esboçadas por Maria Augusto Bordalo Pinheiro.

Os jurados internacionais responsáveis pela atribuição da medalha elogiaram particularmente a diretora da escola, Maria Augusta Bordalo Pinheiro, responsável pelos inovadores desenhos aplicados às rendas e que tomavam inspiração nas plantas e conchas achadas ao longo da costa. À qualidade do desenho juntava-se a perfeição na execução das rendas, razão suficiente para a atribuição da referida Medalha de Ouro (PINTO: 2018).

Em 1893, por exemplo, a estrutura curricular do Curso de Rendas era a seguinte:

Nas palavras da investigadora Teresa Pinto,

2º ano: Ponto de tule, filete, pastilhas, picotes e suas aplicações. Combinações e exercícios das espécies estudadas. Cópia e execução de piques e desenhos complexos.

“A atenção, nacional e internacional, obtida pelas rendas de bilros da Escola de Peniche, impulsionou um sentimento de orgulho nacional relativamente a este trabalho manual, posicionado na intercessão da arte e da indústria. As rendilheiras não apenas preservaram, através do seu trabalho, os traços de uma cultura portuguesa tradicional, como também projetaram o seu trabalho como algo resolutamente moderno. Tendo investido na Escola de Peniche, o governo teve orgulho nas suas conquistas; em poucos anos contribuiu para o desenvolvimento duma indústria artesanal vital para a economia local. Mas o local teve ramificações nacionais e internacionais também. Começando com a medalha de ouro na Exposição Universal de Paris de 1889, as rendas de bilros tornaram-se num símbolo nacional da arte industrial portuguesa, considerada entre as melhores da Europa.” (PINTO, 2018, p. 12 do documento disponível online) [Tradução nossa]

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

1º ano: Nomenclatura geral e utensílios do ofício. Troca, meio ponto, ponto de rede, espiguilha, ponto inteiro ou paninho. Tranças. Combinações e exercícios simples dos pontos estudados. Cópia de piques e desenhos de trabalhos executados e a executar.

3º ano: Ponto português ou filigrana. Combinação e exercícios desenvolvidos de aplicação (obra miúda). Desenho de adaptação de elementos e trechos ornamentados (modelos nacionais). 4º ano: Exercícios e aplicações de diversos pontos em peças completas. Desenho de adaptação de elementos e trechos de ornato, de figura e de paisagem. Execução dos piques. Em 1894, frequentavam a Escola Industrial de Peniche 217 alunos: 35 rapazes, inseridos nas aulas de desenho geral e ornamental, e 182 raparigas distribuídas pelos cursos de costura, bordados e rendas. O Curso de Rendas era então composto por 45 rendilheiras e as

35


aulas decorriam de segunda a sábado, das nove da manhã até às seis da tarde. (CALADO: 2003) Refira-se que desde a sua fundação e até 1910, o

número de alunas a frequentar as oficinas da Escola de Desenho Industrial D. Pia seguiu sempre em crescendo: (SANTOS: s./d., p. 9)

PERÍODO

NÚMERO DE ALUNAS A FREQUENTAR AS OFICINAS

1887-1890

164

1891-1900

468

1901-1910

884

TOTAL

1516

2.3.5.2) A Escola Josefa de Óbidos Já depois da implementação da república, e por decisão do Ministério do Fomento publicada em Diário da República a 4 de Outubro de 1912, a Escola de Desenho Industrial Rainha D. Maria Pia passa a chamar-se Escola Josefa de Óbidos, na sequência da nova política de batizar com nomes de portugueses ilustres as escolas do ensino elementar industrial e comercial. O regime republicano iria promover amplas reformas educativas, tendo publicado em 1918 um decreto onde reorganiza o ensino comercial e industrial, no âmbito do qual são criadas as escolas de artes e ofícios. É precisamente à categoria das escolas de artes e ofícios que a Escola Josefa de Óbidos passa a pertencer, juntamente com outras 18 escolas espalhadas pelo país, assumindo de forma decisiva a sua vertente de ensino de âmbito exclusivamente feminino a partir do ano letivo de 1919/1920.

faziam parte as disciplinas de desenho elementar (dois anos), e desenho ornamental (três anos). Independentemente da estrutura curricular com a qual funcionou, a Escola Industrial de Peniche foi sempre uma escola de vertente eminentemente utilitária, virada para o ensino funcional e prático. Pode questionar-se, neste contexto, a forma como descurou o ensino de outras áreas do saber, como o português e a matemática, que contribuiriam para uma educação mais completa e integrada das suas alunas.

A Escola tinha então a funcionar os cursos de rendas e costura, com 4 anos cada, de cujo programa curricular

36

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 6 - Fotografia na Oficina de Rendas da Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos de Peniche, década de 20 (séc. XX) disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

2.3.5.2.1) A concorrência das oficinas de rendas privadas e das fábricas de conservas e congelados Apesar do contexto favorável, a Escola Josefa de Óbidos começa a sofrer uma redução no número de matrículas e um aumento no número de abandonos escolares a

partir de 1915, pelo menos, como se pode constatar pelos seguintes dados apresentados pela própria diretora da escola, Etelvina d´Assunção. (CALADO: 2003)

Número de alunos matriculados por ano letivo: ANO LETIVO

ALUNOS

ALUNAS

TOTAL

1915/1916

9

69

78

1916/1917

4

67

71

1917/1918

3

55

58

1918/1919

7

36

43

37

37

1919/1920

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

37


Abandono escolar feminino: ANO LETIVO

Nº DE ALUNAS QUE PERDERAM O ANO POR FALTAS

1915/1916

41 (59,4% do total de alunas matriculadas)

1916/1917

38 (56,7% do total de alunas matriculadas)

1917/1918

35 (63,6% do total de alunas matriculadas)

1918/1919

20 (55,5% do total de alunas matriculadas)

1919/1920

17 (45,9% do total de alunas matriculadas)

1920/1921

16 (57,1% do total de alunas matriculadas)

Uma hipótese explicativa para este fenómeno prendese, desde logo, com a instalação das primeiras fábricas de conservas e congelados em Peniche, que poderão ter funcionado como uma alternativa de trabalho viável para as rendilheiras. Recorde-se que a mão-de-obra empregue nesta indústria era essencialmente feminina. (Bernardo: 1945)

se muitas mulheres de Peniche, uma boa percentagem delas, seguramente, rendilheiras que, face à perspetiva de um emprego mais certo e melhor remunerado, aí ingressaram. Neste sentido, algum do abandono escolar sentido, a partir de 1915, na Escola Josefa de Óbidos, poderá estar relacionado, efetivamente, com o surgimento destas unidades fabris.

A I Guerra Mundial (1914-1918), aliás, favoreceu imenso as fábricas de conserva portuguesas, responsáveis pela exportação de elevadas quantidades de conservas destinadas ao abastecimento do Corpo Expedicionário Português, assim como de outras nações aliadas, que combatiam nas trincheiras.

As fábricas de conservas, porém, não explicam totalmente o decréscimo no número de matrículas e o aumento do abandono escolar, até porque uma boa parte dos operários daquelas fábricas eram oriundos de outras províncias do país, sobretudo do Algarve.

Durante aquele conflito assistiu-se ao nascimento de muitas unidades conserveiras em Portugal. Em 1915 foi fundada a primeira fábrica de conservas de Peniche, a Júdice Fialho & C.ª, à qual se iriam suceder mais 12 ao longo do século XX. Nestas fábricas empregaram-

38

É preciso também levar em linha de conta que, em consequência da ação de rejuvenescimento empreendida na escola de desenho industrial, as rendas de bilros de Peniche eram, em finais do século XIX e início do século XX, uma indústria com amplo reconhecimento nacional e internacional e, portanto, atraente para quem nela quisesse

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


investir. Em 1908, por exemplo, a Escola de Peniche arrecadou duas Medalhas de Ouro na Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil, ocorrida no Rio de Janeiro em 1908. (PINTO: 2018) As rendas de Peniche tinham, portanto, um certo potencial económico, um facto que não passou despercebido aos investidores responsáveis pela criação, em 1920, de duas oficinas de rendas em Peniche, uma delas detida por uma sociedade portuense e a outra propriedade de Francisco Cervantes, onde diversas rendilheiras da Escola passaram a trabalhar. Em carta datada de 1922, Etelvina de Assunção declara que: “A quebra de frequência tem sido motivada pelas novas oficinas. Em 1920 montaram em Peniche duas oficinas de rendas uma por conta de uma sociedade que organiza uma exposição de diversas indústrias no Palácio de Cristal no Porto outra pertencente a um particular, o Sr. Francisco Cervantes, uma e outra destinam quase todos os seus produtos ao estrangeiro. Até esta data havia uma só oficina propriedade do Sr. José Maria de Oliveira (…) Quando as duas últimas oficinas se montaram saíram da Escola bastantes operárias a quem foram oferecidos salários superiores aos que aqui recebiam por serem boas rendeiras. Presentemente recebem todas as rendeiras; às menos hábeis dão trabalhos de menos importância mas o seu fim é ter seguro o trabalho. Tem mesmo rendeiras crianças a quem pagam os trabalhos pelo preço que corre no mercado tendo a vantagem de lhe fornecerem a linha.” (CALADO: 2003, p. 181, 182) Como se percebe, havia mercado para as rendas, sobretudo no estrangeiro. Perante a perspetiva de auferirem um ordenado melhor nas oficinas privadas, muitas rendilheiras abandonaram a Escola Josefa de Óbidos. Havia também aquelas que continuavam a produzir para intermediários, à maneira antiga, uma modalidade de trabalho que num mercado ascendente,

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

como o que se verificava no primeiro quartel do século XX, se justificava. “As rendeiras que não frequentam as oficinas e que são a maior parte as casadas ganham presentemente tudo o que querem porque a procura de rendas tem aumentado consideravelmente e os rendeiros que presentemente são muitos percorrem as casas das rendeiras oferecendo-lhes preços mais altos do que o que já tinham por encomenda e assim prejudicam-se uns aos outros chegando as rendas a um preço fabuloso. Apesar disso deixam os lucros ao rendeiro 50% e mais.” (CALADO: 2003, p. 182) E conclui: “Toda a população feminina de Peniche trabalha em rendas e ainda assim há falta deste artigo devido às inúmeras encomendas. Todos os dias aparecem pedidos que não posso satisfazer por não ter pessoal que pudesse executar as encomendas.” (CALADO: 2003, p. 182) A juntar a este quadro, é ainda de realçar o atraso sistemático no pagamento das rendilheiras da Escola Josefa de Óbidos, um forte desincentivo à sua permanência naquele estabelecimento escolar. As primeiras décadas do século passado são assim marcadas, por um lado, pelo aparecimento das fábricas de conservas e congelados e, por outro, pelo aumento da procura das rendas de Peniche, facto que resultou no surgimento de oficinas de rendas privadas. Ambos os fatores devem ser considerados para explicar a redução na frequência da Escola Josefa de Óbidos. Na verdade, e como preconizam diversos autores, as rendilheiras empregadas na indústria conserveira não deixavam de fabricar rendas nos seus tempos livres. As duas atividades não eram mutuamente exclusivas. É isto mesmo que se deve concluir a partir da constatação de Etelvina de Assunção de que, na década de 20 do século passado, todas as mulheres de Peniche faziam renda. As dificuldades atravessadas na década de 20, aliás, fizeram com que a Escola nem sequer tenha aberto

39


portas no ano letivo de 1927/1928, por insuficiências do corpo docente. Apesar das contrariedades, a Escola Josefa de Óbidos, desde 1928 superiormente orientada pelo poeta e pintor Vergílio de Sousa Amaral, manteve-se como uma referência no ensino das rendas de bilros até aos finais da década de 40. Neste contexto, a escola viria a conquistar uma Medalha de Prata na Exposição Ibero-

Americana de Sevilha de 1929. Compreendendo a importância da escola para a sustentabilidade futura da indústria rendeira de Peniche, a Câmara Municipal de Peniche institui, a partir de 1929, um prémio monetário anual destinado às duas melhores alunas da escola, consistindo em 100$00 para a primeira e 50$00 para a segunda.

2.3.5.2.2) A Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos Segundo a reforma do ensino industrial levada a cabo pelo decreto nº 18420 de 4 de junho de 1930, aperfeiçoado pelo decreto nº 20420 de 21 de outubro de 1931, as escolas de artes e ofícios transformaram-se em escolas industriais. Neste sentido, a Escola Josefa de Óbidos passou a denominar-se Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos, mantendo o curso de rendeira, a par com o de costura e bordados, sendo o pessoal docente composto por 1 professor e dois mestres. O curso de rendeira tinha agora uma extensão temporal de 8 anos. O seu programa curricular, no entanto, mantinha apenas a existência de duas disciplinas: oficinas e desenho, continuando a descurar o ensino de outras matérias. Em 1933, por exemplo, a Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos era frequentada por 78 alunas, situadas entre os 8 e os 16 anos de idade, que se dividiam pelos cursos de rendeira e costura e bordados, partilhando ambos as mesmas aulas de desenho. (AMARÍLIO: 1933)

40

Fig. 7 - Fotografia na Oficina de Rendas da Escola Industrial Josefa de Óbidos de Peniche, década de 30 (séc. XX) disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.3.6) A Crise da Indústria das Rendas de Bilros de meados do século XX O fulgor das rendas de bilros de Peniche nas primeiras décadas do século XX foi o canto de cisne desta indústria. As duas guerras mundiais, a industrialização e o crescimento urbano acelerado tiveram enormes repercussões no papel social da mulher, cuja emancipação foi acompanhada por profundas modificações no mundo da moda. A posição de relevo que as rendas tinham no vestuário ou na decoração do lar foi desaparecendo, provocando uma drástica diminuição do seu consumo ao longo do século XX. A crescente concorrência provocada pelas rendas mecânicas das fábricas têxteis apresentou também um desafio significativo às rendas manuais, apesar da sua produção se limitar à renda corrida, de pouca largura e escassa variação de motivos. A verdade, porém, é que as rendas corridas mecânicas vendiam dez vezes mais do que as manuais da mesma tipologia. Neste sentido, as fábricas dominavam em meados do século XX o mercado das rendas mais baratas, deixando para as manuais as de confeção mais complexa e, logo, mais cara. (SOUSA: 1942) Para além destes fatores, a industrialização favoreceu a empregabilidade das mulheres numa série de outros setores económicos, como vimos atrás com as fábricas de conservas, facto que acentuou a concorrência na procura de mão-de-obra, limitando a expansão da indústria manual das rendas. Repare-se que em 1940 o ganho diário das rendilheiras não excedia os 3 escudos diários. Com a eclosão da II Guerra Mundial e o período de crise generalizada que inaugurou, a indústria rendeira entrou numa profunda recessão.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

No relatório publicado a propósito do Inquérito à Indústria de Rendas, realizado em 1940 por Mário Queiroz Botelho de Sousa, refere-se que a indústria de rendas em Peniche e Vila do Conde se encontrava então bastante reduzida face ao passado, consequência de uma redução enorme da procura. A este propósito, refere o autor, que “As causas fundamentais desta diminuição de consumo não podem deixar de ser atribuídas à evolução da moda e dos costumes contemporâneos. Para verificar tal asserção basta fazer uma comparação entre os vestuários femininos de há 100 anos, ou mesmo de há 30, e os actuais. Nota-se logo que a renda já quase se não usa, a não ser em roupas interiores. Mas, nestas, foi tal a simplificação e redução em número e na dimensão, que o gasto de renda para as guarnecer diminuiu extraordinariamente. Mas não foi só deste modo que a moda prejudicou a renda de bilros, pois, também, a aplicação de outras rendas, especialmente mecânicas (…) lhe vieram fazer concorrência.” (SOUSA: 1942, p. 983) Esta situação, agravada pelo período de crise provocado pela guerra, redundou numa diminuição dos preços das rendas, o que resultou, finalmente, numa diminuição do número das rendilheiras a nível nacional e mesmo à extinção de alguns centros produtores, como Setúbal, Viana do Castelo e Lagos. Mário Queiroz Botelho de Sousa calculava que em 1940 deveriam existir 1000 rendilheiras no país, repartidas entre Vila do Conde e Peniche concluindo que “A indústria tem vivido entregue a si própria sem orientação ou auxílio de qualquer entidade.” (SOUSA: 1942, p. 987)

41


2.3.6.1) Reflexos da crise na Escola de Rendas de Peniche

Este quadro desanimador parecer ter tido reflexos, sobretudo a partir de meados da década de 50, na frequência do curso de rendas da Escola Josefa de Óbidos que, com a reforma do ensino técnico-profissional de 1948, passa a chamar-se Escola Industrial de Peniche.

anos, não garantia a qualidade técnica e artística das rendas, que no sector privado se viam sob o jugo do lucro fácil. (….) o ensino das rendas haveria de desaparecer da escola técnica e com ele a existência de um corpo docente especializado que garantia a qualidade do produto (…) “ (SANTOS, s./d., p. 26)

Número de alunas a frequentar o curso de rendas na Escola Industrial de Peniche (SANTOS: s./d., p. 27)

Com o aviltamento da formação perdeu-se a capacidade de renovar os piques, os desenhos e os padrões, baixou-se o nível de exigência técnica às rendilheiras, enfim, perdeu-se a linha de rumo traçada por personalidades como Maria Augusta Bordalo Pinheiro e que tanto contribuiu para o novo impulso que as rendas tiveram na primeira metade do século XX.

ANO LETIVO

Nº DE ALUNAS

1950/51

56

1951/52

63

1952/53

59

1953/54

69

1954/55

5

1955/56

5

1956/57

1

A segunda metade do século XX ficou assim marcada pelo signo do esmorecimento, quer no número de rendilheiras, quer na qualidade do produto apresentado, fator que se refletiu numa descida generalizada dos preços.

Fig. 8 - Fotografia na Escola Industrial e Comercial de Peniche, década de 60 (séc. XX) disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

O curso de rendas, que vinha a operar com a configuração adotada pela reforma de 1930, encerrou de forma definitiva no ano letivo de 1956/57, quando era frequentado apenas por 1 aluna. Paralelamente ao curso, a oficina de rendas continuou a funcionar como uma disciplina de opção para as alunas que frequentavam o ensino primário e, mais tarde, secundário. “O regime de oficinas, que era frequentado em regime de voluntariado e quase exclusivamente por alunas do ensino primário, também estiolava ante o desinteresse geral, porque as crianças furtavam-se às rendas quando obtinham o diploma de ensino primário. E mesmo este ensino elementar, que se ministrava a crianças de 8 e 9

42

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.3.7) Novos centros de formação

Apesar do declínio do ensino de âmbito escolar, foram surgindo a partir de meados do século XX outras instituições que tomaram sobre si a responsabilidade de continuar a ensinar a arte das rendas de bilros. É o caso, por exemplo, da Escola-Oficina da Casa de Educação e Trabalho das Filhas dos Pescadores, criada em 1943 pela Junta Central da Casa dos Pescadores, e onde as filhas dos mesmos, entre outras disciplinas que contribuíam para a sua formação, aprendiam a rendilhar. A Escola conseguia albergar 150 meninas de cada vez e funcionou até 1993. Ao longo do tempo, frequentaram a Escola centenas de crianças entre os 10 e os 15 anos. A Escola-Oficina do Clube Stella Maris, criado em 1962 pelo pároco de Peniche, Manuel Bastos de Sousa, foi mais um esforço no sentido de revitalizar e aperfeiçoar o ensino da arte de rendilhar. Aí exerceram o papel de mestras pessoas como Ester Rasteiro, Maria do Carmo Farto e Lourdes Baeta. A obra desta Escola seria mais tarde continuada, em parte, pela Associação dos Artesãos de Santa Maria, entidade criada em 1987 no âmbito dos esforços empreendidos pela igreja local no sentido de preservar

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

e projetar o fabrico de rendas de bilros em Peniche. A ela aderiram as senhoras anteriormente ligadas à Escola que funcionou no Clube Stella Maris, passando desde então a manufaturar rendas na oficina da associação. O dinheiro da venda das rendas revertia para as obras sociais da paróquia local. Apesar da perda de relevância económica da indústria, as entidades públicas locais, como a Autarquia, nunca deixaram de tentar projetar e dignificar as rendas de Peniche, entendidas como um importante elemento da identidade local. É disso testemunha a criação de um núcleo dedicado à Renda de Bilros no Museu Municipal, inaugurado em 1984 na conhecida Fortaleza daquela localidade, composto por duas salas de exposição e uma Escola-Oficina. Foram aí professoras Maria do Rosário Leitão, Lídia Ribeiro, Iria Rodrigues e Graça Maria Ramos. (CALADO: 2003) A Escola-Oficina foi mais tarde transferida para um espaço situado no Jardim Público, onde ainda hoje existe e onde as rendilheiras produzem e colocam à venda as suas rendas, sob a orientação da professora Cristina Santos.

43


2.4. Momentos marcantes das últimas décadas do século XX e inícios do século XXI 2.4.1) A criação da Rendibilros Nas últimas décadas do século passado a situação da indústria rendeira de Peniche, apesar de alguns esforços casuísticos, era de crise. Em termos de formação, assistiu-se ao encerramento de algumas valências importantes, como a Escola de Rendas criada pela Junta Central da Casa dos Pescadores.

Joaquim José Feliciano também soube semear na capital o gosto pelas rendas, sendo presença assídua na FIL (Feira Internacional de Lisboa), onde sempre conseguiu arrecadar bastantes clientes, sobretudo junto de médicos e professores. Atualmente é o dono da loja de rendas “O Brincalhão”.

Fora de alguns núcleos de produção, como o que girava em torno de certos intermediários com maior ligação ao mercado, a situação caracterizava-se por um certo abastardamento da qualidade das rendas, imperando as deficiências na execução dos desenhos, das cerziduras ou mesmo dos piques, ao mesmo tempo que começaram a escassear o número de mestras capazes de transmitir o seu saber às gerações mais novas.

Exemplos como o de Joaquim José, no entanto, escasseavam, sendo visível no grosso da produção rendeira de Peniche o abaixamento da exigência técnica na produção das rendas, a repetição dos mesmos desenhos e motivos, alguma falta de gosto, tudo consequências da falta de um ensino pensado para as rendilheiras, o que contribuía para a quase irrelevância económica desta atividade em Peniche.

Apesar do contexto sombrio, as rendas de Peniche continuaram a ser apreciadas e valorizadas por uma sociedade mais conservadora, residente em grande parte no norte do país, ou pelas classes mais cultas de Lisboa. É este cenário que alguns intermediários começam a saber explorar a partir da década de 60 do século passado.

É com o objetivo de alterar esta situação que em 1994 é criada a Rendibilros – Associação para a Defesa e Promoção das Rendas de Bilros de Peniche, cuja primeira presidente da direção foi a rendilheira Ida Guilherme.

Joaquim José Feliciano, por exemplo, dominou uma parte considerável do mercado das rendas de Peniche na segunda metade do século XX, deslocando-se às mais importantes feiras do norte do país, vendendo sobretudo naperons, voltas de lençol, conjuntos de quarto e as recordações (como os lenços, por exemplo). Estas peças eram fruto do trabalho de cerca de 60 rendilheiras que chegaram a trabalhar para si. As peças mais vendidas, curiosamente, eram então as voltas de lençol de fio mais grosseiro, pois eram as que se aplicavam melhor nos linhos caseiros do norte do país, onde se situavam os principais consumidores.

44

Com a criação da Rendibilros, uma associação privada sem fins lucrativos, desejava-se “(…) que fosse desenvolvido e estimulado o gosto pela arte do desenho, recriando-o, tecnicamente perfeito (sem descurar as suas características tradicionais), bem como o ensino da feitura dos piques e a perfeição da técnica da picagem. Isto, para além da possível e necessária criação de uma escola – oficina para ensino de novas rendilheiras e reciclagem permanente do saber das que o já são. E, como remate de todos estes objectivos (…) pretende a Associação vir a defender intransigentemente a boa qualidade dos produtos e estudar a forma de implementação de uma rede própria de comercialização, promovendo a divulgação e a busca de mercados (nacionais e estrangeiros) e tentando a

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


venda direta das rendas produzidas pelos seus associados, o que porventura redundará no aparecimento e dinamismo de novas fabricantes.” (CALADO: 2003, p. 211) A inauguração da sua sede e Escola-Oficina (situados na Rua Arquiteto Paulino Montez, 49, 1º esq.) aconteceu logo em 1995, albergando espaços para cursos de formação e salas destinadas ao ensino da feitura de piques, desenho e fabrico do cartão. A oficina foi frequentada por dezenas de rendilheiras, adultas e crianças, ao longo dos anos. No ano seguinte, e na sequência duma candidatura apresentada ao IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) pela Rendibilros, começou a funcionar na sua sede o I Curso Profissional de Rendilheiras de Bilros, frequentado por 15 formandas, com idades compreendidas entre os 20 e os 60 anos, e que decorreu de abril de 1996 até abril de 1997. A formação era destinada, na sua quase maioria, a mulheres desempregadas com pessoas a cargo, a quem era paga o salário mínimo. O sucesso desta iniciativa tornou possível que, nos anos

Fig. 9 - Fotografia na Oficina de rendas da Associação Peniche – Rendibilros, 1998, disponível no blog de D. Ida da Conceição Guilherme (rendas-de-peniche.blogspot.com)

seguintes, mais três cursos de rendilheiras, subsidiados por fundos da União Europeia, começassem a funcionar na Rendibilros. Até 2003 tinham passado por estas formações cerca de 57 alunas. A estrutura curricular destes cursos profissionais era bastante abrangente, dividindo-se entre uma parte teórica e outra prática. A vertente teórica era composta por disciplinas como Comunicação e Relações Interpessoais, Condicionamentos Legais, Desenho Geométrico, Desenho de Observação e de Composição, Gestão de Pequenos Negócios, Elaboração de Projetos, Higiene e Segurança no trabalho, Informática, Inglês, Português, Introdução ao Design, Mercado de Trabalho, História das Rendas de Bilros, entre outras. Na parte prática, por sua vez, eram ministrados conhecimentos nas áreas do fabrico das almofadas, do debuxo, do cartão, do pique, do risco, da cerzidura, das rendas, das embalagens e, finalmente, da conservação de rendas. Pelos seus planos curriculares se percebe que o objetivo destes cursos era fornecer um ensino integrado às rendilheiras, vistas como mais do que meras executantes, capacitando-as para criarem e gerirem os seus próprios negócios. Afastavam-se assim do teor programático dos cursos desenvolvidos a partir de finais do século XIX, muito focados na aprendizagem técnica, mas descurando outras vertentes e disciplinas que poderiam ter contribuído para a emancipação das rendilheiras. Infelizmente, depois destes quatro cursos mais nenhum chegou a ser realizado, um dos aspetos mais lamentados pelas rendilheiras atuais, que se queixam da ausência de uma formação dirigida às futuras rendilheiras que compreenda o ensino integrado da arte. A própria disciplina opcional de rendas, dirigida a alunos do primeiro ciclo e ministrada na Escola Secundária de Peniche, terminou em finais do século passado. Deste cenário resulta que atualmente os mais jovens têm apenas um contacto casuístico com as rendas de bilros, seja na Escola Municipal de Renda de Bilros de Peniche,

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

45


geralmente uma vez por semana, ou nos Ateliês de Verão ministrados por essa mesma entidade, ou então através da descentralização dos serviços prestados pela Escola às freguesias rurais, como acontece com a de Serra d´El-Rei, onde cerca de 12 crianças têm aulas uma vez por semana. A falta de uma formação séria e rigorosa explica as

deficiências técnicas hoje sentidas por muitas das rendilheiras mais jovens, que não conseguem elevar a fasquia das suas produções por falta de conhecimentos técnicos. É, aliás, uma absoluta raridade encontrar atualmente uma rendilheira que saiba desenhar, fazer os piques e cerzir.

2.4.2) O Selo de Garantia– primórdio do processo de qualificação e certificação Entre os objetivos da Rendibilros encontrava-se também a criação de um selo de garantia que afiançasse aos consumidores a autenticidade e qualidade das peças vendidas sob a designação de Renda de Bilros de Peniche. Assim, em 1994 a Câmara redigiu e aprovou um regulamento no sentido de poder atribuir um Selo

de Garantia de autenticidade. De acordo com esse regulamento, o selo (feito de chumbo, com oito milímetros de diâmetro, e contendo no verso a inscrição “Rendas de Bilros de Peniche”) é atribuído segundo parecer de uma comissão de peritos composta por três elementos nomeados pelo Presidente da Câmara Municipal. Com a implementação do processo de certificação este selo de garantia vai deixar de existir.

2.4.3) O Concurso de Renda de Bilros de Peniche e a Mostra Internacional de Renda de Bilros Em 1990 foi instituído o I Concurso de Renda de Bilros de Peniche, iniciativa organizada por Mariano Calado enquanto diretor do Museu Municipal de Peniche a convite da Câmara Municipal. Nos anos seguintes o Concurso não se realizou, tendo retomado a sua existência apenas em 1994, ano em que foi instituído também o Dia da Rendilheira. Hoje em dia o Concurso divide-se em três categorias, formadas por crianças até aos 16 anos, rendilheiras dos 17 anos até aos 55 anos e rendilheiras com mais de 56 anos. Os trabalhos são entregues entre agosto e setembro e os resultados são anunciados em outubro. As rendas que participaram no Concurso ficam em exposição no Museu da Renda de Bilros de Peniche até meados de dezembro, sendo que o primeiro prémio passa a incorporar o espólio do Museu. Refira-se ainda que atualmente o Dia da Rendilheira está integrado na Mostra Internacional de Rendas de Bilros, um evento que existe desde 2010 e onde as palestras e os desfiles de moda e etnográficos se cruzam com o trabalho ao vivo das rendilheiras penichenses e de outros locais do mundo.

46

Fig. 10 - Cartaz da Mostra Internacional de Renda de Bilros de 2018

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.4.4) O Monumento à Rendilheira Reflexo da importância que a indústria rendeira adquiriu na história de Peniche, a Câmara Municipal aprovou a construção de um Monumento à Rendilheira em 1996, obra que foi atribuída ao escultor Fernando Marques e inaugurada no final de 1997.

Fig. 11 - Fotografia do Monumento à Rendilheira

2.4.5) O Museu da Renda de Bilros de Peniche No dia 23 de julho de 2016 foi inaugurado o Museu da Renda de Bilros de Peniche, uma instituição dedicada ao estudo, conservação, valorização e divulgação desta arte popular penichense.

Fig. 12 - Fotografia do edifício onde se situa o Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

47


2.4.6) A certificação da Renda de Bilros de Peniche O processo que visa a certificação da Renda de Bilros de Peniche (para o qual o presente estudo servirá de fundamentação e enquadramento histórico-geográfico) é o culminar de várias tentativas de valorização e salvaguarda desta produção artesanal tradicional. Antes de mais, interessa explicar que as produções artesanais alvo de certificação constituem uma componente importante do legado patrimonial dos territórios onde as mesmas se definiram e ocorrem. Fazem parte da cultura das comunidades, resultado das suas experiências, e como tal, são transmitidas de geração em geração como um saber coletivo, imprescindível para a permanência e sobrevivência de modos de vida próprios e para o conhecimento das especificidades dessas comunidades. Estas produções ocorrem em determinados territórios e a eles continuam ligadas ao longo dos tempos, quer por questões históricas (tradição), quer por fatores geográficos (localização, presença de matérias-primas, especialização de mão-de-obra), quer ainda por razões económicas e sociais (importância da atividade para a vida da comunidade e para o seu posicionamento em relação a outras comunidades). O que é certo é que são produções indissociáveis desses territórios, espaços esses que lhe emprestam o nome e lhe conferem características únicas que imediatamente se identificam em função de um referente geográfico. E é por este motivo que a figura jurídica que enforma estes processos de certificação de produções artesanais tradicionais é a Indicação Geográfica, pois cada produção tem um vínculo específico e concreto ao seu local de origem e/ou difusão. É o caso da Renda de Bilros de Peniche. Certificar uma produção implica uma sucessão de passos. O primeiro, e talvez o mais importante pois que irá permitir que todo o processo chegue a bom porto, é a realização de um estudo que apresente, fundamentando, as razões pelas quais uma determinada produção existe num território

48

específico. Esse estudo aborda questões importantes que irão permitir caracterizar a produção em função do seu enquadramento histórico e geográfico, delimita a área de produção, faz a caracterização das matérias-primas utilizadas e das fases de desenvolvimento do processo produtivo, apresentando as características físicas e formais da produção tradicional. Também importante, e porque o sistema de certificação não pode, nunca, contribuir para a estagnação das produções (antes deve fomentar a sua evolução) é considerar parâmetros de inovação para a produção em questão que permitam o seu desenvolvimento sem descaracterização, isto é, sem desvincular a produção das características específicas que a identificam e que a ligam ao território onde ocorrem. Este estudo vai permitir a definição de um documento – Caderno de Especificações – que, resultado das várias etapas do trabalho de investigação, é o instrumento onde se irão definir as características do produto e listar, fundamentando, todos os parâmetros que irão ser considerados na sua certificação. Uma vez elaborado e aprovado este documento, é registada no INPI (Instituto Nacional da Propriedade Industrial) a IG – Indicação Geográfica segundo a qual a produção artesanal vai ser identificada – no presente caso “Renda de Bilros de Peniche”. Após a aprovação do Caderno de Especificações e da IG, o processo está pronto para ser implementado no terreno por um Organismo de Certificação acreditado pelo IPAC (Instituto Português de Acreditação) e que vai ser responsável por levar a certificação até aos produtores. E essa implementação mais não é do que verificar nas unidades de produção artesanal se as orientações veiculadas através do Caderno de Especificações são refletidas nas produções e podem ser identificadas com a “marca” IG respetiva.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


2.5 Implicações socioculturais da produção de rendas de bilros de Peniche: um breve apontamento antropológico Embora este elemento não contribua diretamente para o processo da certificação da Renda de Bilros de Peniche (ajudando, no entanto, à plena compreensão deste fenómeno da cultura tradicional local), não gostaríamos de encerrar este capítulo sem nos referirmos às dimensões socioculturais que enformam esta produção artesanal. Neste sentido, importa reconhecer que as atividades humanas, por mais práticas e utilitárias que sejam, encerram em si mesmas conteúdos e significados socioculturais que passam despercebidos a uma observação mais superficial. É este, também, o caso das rendas de bilros de Peniche. Este pequeno capítulo, aliás, teve como fundamento os trabalhos levados a cabo por Rogério Cação, autor que se tem debruçado sobre esta matéria numa tentativa de melhor entender as implicações desta atividade artesanal na vida e nas vivências das mulheres penichenses e seus contextos sociais e familiares. Como diversas fotografias antigas documentam, as rendilheiras trabalhavam geralmente em pequenos grupos, assim criando um importante espaço de comunicação que as resgatavam das horas mais solitárias. Solidão que era maior nos dias em que os seus maridos se encontravam a labutar no mar. A manufatura da renda era, portanto, ocasião para o relato de histórias, notícias, adivinhas e anedotas, assim como para a troca de confidências, conselhos e desabafos. Deste modo, e para além da sua função estritamente utilitária, as rendas de bilros desempenhavam também

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

um importante papel nos processos de socialização destas rendilheiras. Debruçadas sobre as suas almofadas, estas mulheres dialogavam, dando expressão à sua necessidade de comunicar, brincar, jogar e aprender. Nas palavras de Rogério Cação, as rendas de bilros funcionaram para as rendilheiras como uma verdadeira janela para o mundo exterior. Ainda hoje, quem se desloca à Escola Municipal de Renda de Bilros de Peniche pode testemunhar como as rendilheiras que lá trabalham sublinham com as suas conversas o delicado trabalho dos bilros. Para lá desta dimensão comunicacional, as rendas de bilros foram também importantes para a emancipação das mulheres, na medida em que o dinheiro obtido com a venda das rendas era gerido, pelo menos numa boa parte dos lares penichenses, pelas próprias rendilheiras. Estas mulheres defendiam assim a sua independência, não precisando, em muitos casos, de dar sequer conta do dinheiro obtido com seu trabalho ao marido. Este espaço de autonomia contribuiu, assim, para o elevar da própria autoestima das rendilheiras, que se viam no papel de contribuintes líquidas para o orçamento familiar, tão dependente que estava do intermitente dinheiro obtido com a pesca. Acreditamos assim que estas dimensões culturais e socioeconómicas, devem também ser levadas em linha de conta para explicar a força desta atividade no concelho e a sua permanência ao longo dos séculos.

49


3. Delimitação geográfica da área de produção Peniche assenta sobre uma península com cerca de 10 km de perímetro, constituindo o seu extremo ocidental o Cabo Carvoeiro. A costa é formada por imponentes rochedos e por praias de grande extensão.

náuticos, sobretudo surf e body board.

Peniche viu, desde tempos remotos, o seu território ocupado por populações que exploravam os recursos naturais disponíveis e que tinham a pesca e a agricultura como principais atividades económicas. Hoje em dia é local privilegiado de turismo e de prática de desportos

• Atouguia da Baleia • Ferrel • Peniche • Serra d’El-Rei

Atualmente, o concelho de Peniche está dividido em quatro freguesias:

ILHA DA BERLENGA (freguesia Peniche)

Freguesias do concelho de

PENICHE

FERREL

(ÓBIDOS)

PENICHE

após a reoganização administrativa de 2013

ATOUGUIA DA BALEIA

Fig. 13 Mapa do concelho de Peniche e respetivas freguesias (Direcção-Geral do Território, Carta Administrativa Oficial de Portugal (CAOP), versão 2013)

50

SERRA D’EL REI

(LOURINHÃ)

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Como já atrás foi dito, Peniche é, desde há muito tempo, um dos principais portos piscatórios nacionais. Ao cenário de incerteza e angústia da vida no mar, opunha-se o trabalho feminino rotineiro e demorado das rendas de bilros, cujos lucros ajudavam a compor o orçamento familiar. A difusão por via marítima desta arte rendeira, a partir do norte da Europa, também justifica a sua permanência e desenvolvimento neste importante porto de mar. A partir do século XVII, as rendas de bilros afirmavam-se já como uma importante indústria neste território. Também a proximidade ao grande mercado lisboeta poderá ter facilitado o desenvolvimento deste negócio nesta localidade, ajudando ao escoamento da sua produção. Todos estes fatores permitiram que, com o tempo, a execução de rendas de bilros se estendesse a todo o território do atual concelho, como nos sugere a investigação realizada, sobretudo as entrevistas efetuadas junto de algumas das principais rendilheiras e comerciantes penichenses. Assim, considerados estes fatores históricos e dada a pequena dimensão do território e a existência de rendilheiras espalhadas um pouco por todo o

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

município, propõe-se que o processo de certificação seja implementado em todo o concelho de Peniche permitindo a adesão de todas as rendilheiras existentes, independentemente da freguesia onde residam, na perspetiva de possibilitar o alargamento e a disseminação desta atividade por uma área de abrangência mais ampla, permitindo o desenvolvimento da atividade rendeira. Desta forma, será possível que pessoas de todo o concelho que abracem a arte rendeira possam ver as suas produções certificadas, caso as mesmas estejam dentro dos parâmetros técnicos e estéticos exigidos neste caderno de especificações para esta produção artesanal tradicional. Esta valorização da produção, não só garantirá a manutenção desta arte tradicional, como a tornará mais apetecível e viável, incrementando e promovendo a sua produção. Este facto possibilitará ainda uma ação formativa direcionada a camadas mais jovens de todo o território do concelho de Peniche, que aponte novas direções e introduza uma abordagem de design contemporâneo inovadora.

51


4. Identificação e caracterização das matérias-primas utilizadas A matéria-prima usada na produção da Renda de Bilros de Peniche é o fio têxtil, de grossuras variadas. Atualmente, usa-se preferencialmente o fio de algodão mercerizado, mas também se pode utilizar o linho, a seda ou fios sintéticos (metalizados). A espessura do fio pode-se situar entre o nº 100 (para as rendas mais finas e miúdas) e o nº 12 para trabalhos mais grosseiros. Também se utilizam os fios nº 8 e 5 para contornos (torçal). Também se podem usar outros fios têxteis, como por exemplo a lã, ou de outros materiais (metal). No entanto, os trabalhos feitos recorrendo a estes materiais deverão ser alvo de avaliação pela Comissão de Acompanhamento para a certificação desta produção tradicional, que vier a ser constituída no seio do organismo de certificação nos termos da legislação em vigor, e incluídos na categoria

Fig. 14 - Rolos de fio de algodão usado na confeção das rendas de bilros

da inovação, por saírem dos critérios tradicionalmente observados na produção da Renda de Bilros de Peniche (ver ponto 7 deste Caderno de Especificações).

5. Descrição do modo de produção, designadamente técnicas, ferramentas utilizadas e equipamentos auxiliares Prendem-se numa almofada (com alfinetes) vários fios, cujas pontas soltas se enrolam à volta do bilro (pequena peça em madeira). Depois, movimentos de torção e cruzamento dos bilros seguem um esquema/desenho (preso de antemão na almofada) e que vai ser coberto pela renda cujos fios vão sendo travados com alfinetes espetados no próprio desenho.

Fig. 15 - Representação da confeção de renda de bilros

52

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


- Fases do processo de elaboração da Renda de Bilros: - Começo ou início

- Término ou fim

Fig. 16 - Começo ou início de uma peça de renda de bilros

Fig. 17 - Terminar ou fim de uma peça de renda de bilros

- Cerzir: Processo de unir duas partes da renda sem que seja percetível

Fig. 18 - Cerzir de uma peça de renda de bilros

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

53


Ferramentas e equipamentos ALMOFADA Utensílio de forma cilíndrica, feita em tecido de algodão, cheia de palha de trigo. Com uma abertura que atravessa a mesma à qual se dá o nome de rolo.

ALFINETE DE ALMOFADA Separa ou agrupa os bilros, à esquerda ou à direita consoante a execução do trabalho, deixando o espaço central livre para trabalhar.

Fig. 19 - Almofada, utensílio usado na confeção de renda de bilros

ALFINETE Pequena peça metálica pontiaguda numa extremidade e arredondada na outra.

Fig. 20 - Alfinete de almofada, utensílio usado na confeção de renda de bilros

Fig. 21 - Alfinete, utensílio usado na confeção de renda de bilros

54

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


BANCO Suporte em madeira onde se coloca a almofada para a rendilheira trabalhar

BILROS Peça em madeira onde se coloca a linha.

Fig. 23 - Bilros, utensílios usados na confeção de renda de bilros

Fig. 22 - Banco, utensílio usado na confeção de renda de bilros

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

55


CARTÃO Suporte que se utiliza para fazer os piques. Materiais: Papel manteigueiro, Papel almaço, Farinha, Água, Vinagre, Anilina, Cola líquida. Processo de feitura: mistura-se a farinha com a água e vai ao lume para cozer, depois de cozida junta-se um pouco de vinagre, deixa-se esfriar. Sobre uma superfície lisa coloca-se uma folha de papel almaço com a ajuda de um pincel aplica-se a cola feita anteriormente, de seguida coloca-se uma folha de papel manteigueiro e aplica-se novamente cola, repete-se esta operação três vezes e termina-se com papel almaço. Deixa-se secar bem, depois de seca aplica-se a anilina previamente diluída em água, deixa-se secar bem, então aplica-se a cola líquida também ela diluída em água. Deixa-se secar durante vários dias e está pronto a usar.

DESENHO Executado em papel quadriculado, onde terão de figurar os motivos e os pontos de suporte ao trabalho a executar.

Fig. 25 - Desenho, usado como suporte ao trabalho a executar na confeção de renda de bilros

56

Fig. 24 - Cartão, utensílio usado na confeção de renda de bilros

LINHA Fio de algodão mercerizado de várias espessuras, consoante o tipo de peça a executar, variando entre os nºs 5, 8, 12,18,20,25,30, 40,50,60,80,100. Alguns trabalhos eram também, e podem voltar a ser, executados em seda e linho.

Fig. 26 - Rolo de linha de algodão, usado na confeção de renda de bilros

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


PAPEL QUADRICULADO Base onde é realizado o desenho.

PICADEIRA Instrumento geralmente de madeira onde na extremidade mais pontiaguda se coloca uma agulha, esta serve para transferir o desenho feito em papel quadriculado para o cartão.

Fig. 27 - Papel quadriculado, usado como suporte ao trabalho a executar na confeção de renda de bilros

PESO Saco com areia que se coloca na parte de trás da almofada quando se está a trabalhar para servir de contrapeso.

Fig. 29 - Peso, utensílio usado na confeção de renda de bilros

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 28 - Picadeira, utensílio usado na confeção de renda de bilros

PIQUE Suporte em cartão alaranjado que apresenta o desenho a executar e os respetivos furos.

Fig. 30 - Pique, usado como suporte ao trabalho a executar na confeção de renda de bilros. Pertence ao espólio da Escola Secundária de Peniche, e está à guarda do Museu de Renda de Bilros de Peniche

57


RENDA Tecido construído com linha, resultante do cruzamento e torção dos bilros seguindo um desenho previamente definido.

Fig. 31 - Peça em renda de bilros pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche, à guarda do Museu de Renda de Bilros de Peniche, na exposição permanente

58

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

59

Fig. 32 - Conjunto de todos os utensílios e ferramentas utilizadas na confeção de renda de bilros. Peça em renda de bilros pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche, à guarda do Museu de Renda de Bilros de Peniche, na exposição permanente


5.2 Termos usados ACERTAR O PIQUE – sobreposição de dois piques para dar continuidade ao trabalho.

LAÇADA – volta ou alça que prende a linha ao bilro para este não desenrolar.

ALFINETE – pequena peça metálica pontiaguda numa extremidade e arredondada na outra.

LINHA – Habitualmente fio de algodão mercerizado, de várias espessuras, consoante o tipo de peça a executar, variando entre os nºs 5,8,12,18,20,25,30,40,50,60,80,100. Alguns trabalhos eram tradicionalmente, e podem voltar a ser executados em fio de seda e/ou linho.

ALFINETE DE ALMOFADA – separa ou agrupa os bilros, à esquerda ou à direita consoante a execução do trabalho, deixando o espaço central livre para trabalhar. ALMOFADA – utensílio de forma cilíndrica, feita em tecido de algodão, cheia de palha de trigo. Com uma abertura que atravessa a mesma à qual se dá o nome de rolo. APLICAÇÃO – peça com características distintas e dimensões específicas. ARMAR – designação de colocar os alfinetes de suporte à renda nos respetivos furos do pique. BANCO – suporte em madeira onde se coloca a almofada para a rendilheira trabalhar. BILRO – peça em madeira onde se coloca a linha. CANTO – desenho com ângulo de 90º CARTÃO – suporte que se utiliza para fazer os piques. DESENHO – geralmente executado em papel quadriculado, onde terão de figurar os motivos e os pontos de suporte ao trabalho a executar. ENCHER O BILRO – enrolar a linha, posicionando a linha por baixo do bilro fazendo a rotação da direita para a esquerda. ENTREMEIO – renda em linha reta.

60

MESTRA – designação atribuída à pessoa com qualificações para o ensino da Renda de Bilros. NAPERON – peça de renda de várias formas geométricas, caracterizando-se por uma orla exterior (recorte) variado, podendo o seu interior ser em renda ou em tecido. PÉ COMPOSTO – orla formada por várias varinhas em forma arredondada, triangular ou outras. PÉ SIMPLES – orla formada por três varinhas. PICADEIRA – instrumento geralmente de madeira onde na extremidade mais pontiaguda se coloca uma agulha, esta serve para transferir o desenho feito em papel quadriculado para o cartão. PICAR – ato que consiste em transferir o desenho previamente feito em papel quadriculado para o cartão que posteriormente dá origem ao pique. PICÔ – renda que geralmente não excede a largura de 2 cm a 3 cm de largura. PIQUE – suporte em cartão alaranjado que apresenta o desenho a executar e os respetivos furos. PONTO – Ponto base de toda a execução da Renda de Bilros. Executa-se com 4 bilros, dois em cada mão sendo que o bilro interior da mão direita passa por baixo do bilro

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


interior da mão esquerda, seguindo-se a passagem do bilro exterior da mão direita para o interior da mesma por cima, em seguida o bilro interior da mão esquerda passa para o exterior por cima, para finalizar volta a cruzar os interiores pela mesma ordem.

TIRAR – retirar as varinhas ou bilros excedentes durante a execução do trabalho.

RECORTE – designação dada à terminação da renda que é composta por vários pares de varinhas, tendo a configuração de redonda, triangular ou outras (leque, conchinha …).

TORÇAL – fio mais grosso que contorna os motivos que se pretendem realçar.

REMATE DE NÓ – coloca-se outro fio a trabalhar em simultâneo com o fio que tem o nó, para que estes fiquem entrelaçados, e vai-se trabalhando até que o nó esteja próximo do trabalho, então retira-se o fio que tem o nó e o outro dá continuidade ao trabalho.

VARINHA – nome que designa um par de bilros ligados pela mesma linha.

RENDA DE PONTA – termo usado em rendas que possuem recorte.

VIRAR O CANTO – expressão usada na confeção de peças quadradas ou retangulares, ou outras, de modo a formar um ângulo reto.

RENDILHEIRA – pessoa que reúne o conhecimento na manufatura da Renda de Bilros (desde a interpretação do desenho até à execução da renda propriamente dita). RISCAR – desenhar no pique os motivos/ pontos a executar na Renda.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

TOALHA – acessório geralmente de algodão que envolve a almofada com a renda em execução.

TORCIDOS – movimento rotativo entre cada par de bilros.

VARINHA DE TECER – par de bilros que tece um conjunto de bilros.

VOLTA DE LENÇOL OU DOBRA – termo usado para renda que ornamenta os lençóis.

61


6. Identificação das principais características físicas dos produtos 6.1 Pontos utilizados • Carreiras abertas

Fig. 33 Pique da renda feita com ponto “Carreiras abertas”

Fig. 34 Renda feita com ponto “Carreiras abertas”

• Carreiras duplas

Fig. 35 Pique da renda feita com ponto “Carreiras duplas”

62

Fig. 36 enda feita com ponto “Carreiras duplas”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Carreiras fechadas a meio ponto

Fig. 37 Pique da renda feita com ponto “Carreiras fechadas a meio ponto”

Fig. 38 Renda feita com ponto “Carreiras fechadas a meio ponto”

• Diagonal a meio ponto

Fig. 39 Pique da renda feita com ponto “Diagonal a meio ponto”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 40 Renda feita com ponto “Diagonal a meio ponto”

63


• Diagonal em paninho

Fig. 41 Pique da renda feita com ponto “Diagonal em paninho”

Fig. 42 Renda feita com ponto “Diagonal em paninho”

• Favos

Fig. 43 Pique da renda feita com ponto “Favos”

64

Fig. 44 Renda feita com ponto “Favos”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Filigrana com bicos abertos

Fig. 45 Pique da renda feita com ponto “Filigrana com bicos abertos”

Fig. 46 Renda feita com ponto “Filigrana com bicos abertos”

• Filigrana com bicos fechados

Fig. 47 Pique da renda feita com ponto “Filigrana com bicos fechados”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 48 Renda feita com ponto “Filigrana com bicos fechados”

65


• Grade

Fig. 49 Pique da renda feita com ponto “Grade”

Fig. 50 Renda feita com ponto “Grade”

• Guipure

Fig. 51 Pique da renda feita com ponto “Guipure”

66

Fig. 52 Renda feita com ponto “Guipure”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Meio Ponto

Fig. 53 Pique da renda feita com ponto “Meio Ponto”

Fig. 54 Renda feita com ponto “Meio Ponto”

• Paninho

Fig. 55 Pique da renda feita com ponto “Paninho”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 56 Renda feita com ponto “Paninho”

67


• Pastilhas crespas

Fig. 57 Renda feita com ponto “Pastilhas crespas”

• Pastilhas ovais

Fig. 58 Pique da renda feita com ponto “Pastilhas ovais”

68

Fig. 59 Renda feita com ponto “Pastilhas ovais”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Pastilhas quadradas

Fig. 60 Pique da renda feita com ponto “Pastilhas quadradas”

Fig. 61 Renda feita com ponto “Pastilhas quadradas”

• Pãezinhos Cruzados

Fig. 62 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos cruzados”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 63 Renda feita com ponto “Pãezinhos cruzados”

69


• Pãezinhos em meio ponto com pastilhas nos cruzamentos

Fig. 64 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos em meio ponto com pastilhas nos cruzamentos”

Fig. 65 Renda feita com ponto “Pãezinhos em meio ponto com pastilhas nos cruzamentos”

• Pãezinhos simples

Fig. 66 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos simples”

70

Fig. 67 Renda feita com ponto “Pãezinhos simples”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Pãezinhos simples armados e fechados a meio ponto

Fig. 68 Pique da renda feita com ponto “Pãezinhos simples armados e fechados em meio ponto”

Fig. 69 Renda feita com ponto “Pãezinhos simples armados e fechados em meio ponto”

• Quadradinhos de meio ponto

Fig. 70 Pique da renda feita com ponto “Quadradinhos de meio ponto”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 71 Renda feita com ponto “Quadradinhos de meio ponto”

71


• Quadradinhos em paninho

Fig. 72 Pique da renda feita com ponto “Quadradinhos em paninho”

Fig. 73 Renda feita com ponto “Quadradinhos em paninho”

• Redemoinhos com bicos abertos

Fig. 74 Pique da renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos abertos”

72

Fig. 75 Renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos abertos”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Redemoinhos com bicos fechados

Fig. 76 Pique da renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos fechados”

Fig. 77 Renda feita com ponto “Redemoinhos com bicos fechados”

• Rosa simples

Fig. 78 Pique da renda feita com ponto “Rosa simples”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 79 Renda feita com ponto “Rosa simples”

73


• Tranças com bicos nos cruzamentos

Fig. 80 Pique da renda feita com ponto “Tranças com bicos nos cruzamentos”

Fig. 81 Renda feita com ponto “Tranças com bicos nos cruzamentos”

• Tranças com bicos por fora

Fig. 82 Pique da renda feita com ponto “Tranças com bicos por fora”

74

Fig. 83 Renda feita com ponto “Tranças com bicos por fora”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


• Tranças compostas

Fig. 84 Pique da renda feita com ponto “Tranças compostas”

Fig. 85 Renda feita com ponto “Tranças compostas”

• Tranças simples

Fig. 86 Pique da renda feita com ponto “Tranças simples”

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

Fig. 87 Renda feita com ponto “Tranças simples”

75


• Tule

Fig. 88 Pique da renda feita com ponto “Tule”

Fig. 89 Renda feita com ponto “Tule”

6.2. Motivos que individualizam a produção rendeira de Peniche A Renda de Bilros de Peniche individualiza-se pelo recurso continuado e recorrente a uma série de motivos que estão bem identificados e que diferenciam a produção rendeira deste centro produtor. Os motivos/composições mais utilizados podem ser florais, vegetalistas, geométricos, marinhos ou outros (onde se inserem desenhos alusivos ao património de Peniche, monogramas, animais e/ou objetos vários). Estes mo-

76

tivos podem ocorrer isolados (por exemplo, um peixe ou um barco são motivos marinhos) ou podem ocorrer em composições mistas (por exemplo floral/geométrico – um desenho floral em que as flores se repitam e enquadrem uma composição geométrica). De seguida listam-se, de forma indicativa e não exaustiva, os motivos que identificam e individualizam a produção de Renda de Bilros de Peniche.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda em oval, formada por estrelas grandes com oito pastilhas ovais cada, ladeadas por pequenas ovais em paninho e tranças com bicos por fora, os recortes são grandes, arredondados com barra dupla em paninho e cruzamentos de tranças. Na orla exterior cercadura de tranças com bicos por fora.

Nome da renda

Estrelas

Pontos da execução

Paninho, tranças com bicos por fora, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 30

Fig. 90 - Peça de renda de bilros “Estrelas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta com o fundo em tranças, motivos em forma de bola executadas em meio ponto, flor em pastilhas ovais, separa os motivos do recorte barra ondulada em paninho. Pé arredondado.

Nome da renda

Bola

Pontos da execução

Meio ponto, tranças, pastilhas, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 91 - Peça de renda de bilros “Bola” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

77


Renda de ponta, com recorte redondo em paninho e tranças com bicos por fora, fundo de tranças simples, motivos quadrados contornados por pastilhas ovais e interior em carreiras fechadas.

Nome da renda

Capelinhas

Pontos da execução

Tranças simples, carreiras fechadas, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 30

Fig. 92 - Peça de renda de bilros “Capelinhas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta ou picô em carreiras fechadas, pé e recorte, salientando-se o motivo central em torçal.

Nome da renda

Dentinho de cão

Pontos da execução

Carreiras fechadas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 e nº8

Fig. 93 - Peça de renda de bilros “Dentinho de cão” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

78

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta, com o fundo em carreiras abertas, motivos retangulares em paninho, quadrado central em pãezinhos simples e exteriores em filigrana. Todos os motivos são contornados por torçal.

Nome da renda

Filhó

Pontos da execução

Carreiras abertas, pãezinhos simples, filigranas, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 e nº8

Fig. 94 - Peça de renda de bilros “Filhó” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta em forma de leque em que o mesmo é executado por torçal entrelaçado nas varinhas que o compõem, fundo em tule e filigrana separada pelo torçal.

Nome da renda

Leque fino

Pontos da execução

Tule, filigrana

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 e nº6

Fig. 95 - Peça de renda de bilros “Leque fino” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de PenichePeniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

79


Renda de ponta, com o fundo em pãezinhos simples, motivos centrais intercalados entre quadrados de meio ponto e pastilhas ovais, o centro em meio ponto, recorte redondo formado por pequenos recortes também eles redondos.

Nome da renda

Limão lecrão

Pontos da execução

Pãezinhos simples, meio ponto, tranças simples, pastilhas ovais, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 96 - Peça de renda de bilros “Limão lecrão” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, formada por meias luas em meio ponto, centro em pastilhas ovais, quadrado de meio ponto e tranças simples, recorte redondo em meia luas de meio ponto com acabamento em tranças com bicos por fora.

Nome da renda

Meias luas

Pontos da execução

Paninho, tranças simples, meio ponto, tranças com bicos por fora

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 97 - Peça de renda de bilros “Meias luas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

80

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta, fundo em tranças com bicos por fora, volutas em paninho, recorte composto por três folhas finalizado por cruzamentos de tranças com bicos por fora, junto ao pé em paninho, meios círculos em meio ponto.

Nome da renda

O casar

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, tranças com bicos por fora, pastilhas ovais, tranças simples

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40

Fig. 98 - Peça de renda de bilros “O Casar” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, composta por tranças, pastilhas ovais e tranças com bicos por fora, pequenos recortes arrendados em pastilhas ovais e tranças.

Nome da renda

O segredo

Pontos da execução

Tranças simples, tranças com bicos por fora, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40

Fig. 99 - Peça de renda de bilros “O segredo” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

81


Renda de ponta, fundo em tranças com bicos por fora, motivos em redondo executados em meio ponto e carreiras fechadas, alternando com o conjunto de pastilhas ovais e paninho, recorte redondo, formado por pequenos recortes também eles arredondados.

Nome da renda

Os Antónios

Pontos da execução

Pastilhas ovais, meio ponto, carreiras fechadas, tranças com bicos por fora, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 100 - Peça de renda de bilros “Os Antónios” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

82

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta, formada por grupos alternados de flores com quatro quadrados em meio ponto e bolas em paninho, troncos em pastilhas ovais e tranças simples, pequenos “corações” alternando entre meio ponto e paninho simbolizando “vasos”, recortes triangulares duplos em paninho com separação de filigrana, pastilhas quadradas e bicos por fora, fundo de carreiras abertas com triângulos em filigrana e pastilhas quadradas.

Nome da renda

Canteiros

Pontos da execução

Carreiras abertas, filigranas, paninho, meio ponto, pastilhas ovais, pastilhas quadradas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão 40 e nº8

Fig. 101 - Peça de renda de bilros “Canteiros” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, composta por quadrados de pastilhas quadradas ligados entre eles por tranças simples e pastilhas ovais, recorte arredondado em tranças simples e tranças com bicos por fora.

Nome da renda

Pinha

Pontos da execução

Pastilhas ovais, carreiras fechadas, tranças simples, pastilhas quadradas, tranças com bicos por fora

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40

Fig. 102 - Peça de renda de bilros “Pinha” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

83


Renda de ponta, composição entrelaçada entre folhas verticais em meio ponto e pastilhas sobrepostas, barras triangulares em paninho, recortes em forma de meia-lua em paninho com cercadura exterior em pastilhas ovais e tranças com bicos por fora.

Nome da renda

Poesia rendilhada

Pontos da execução

Paninho, pastilhas crespas meio ponto, tranças, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40

Fig. 103 - Peça de renda de bilros “Poesia Rendilhada” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, fundo em filigrana, os motivos são compostos por pastilhas quadradas e retângulos de paninho contornadas com torçal. O pé da renda é executado em paninho. Recortes arredondados em paninho com destaque dos bicos por fora.

Nome da renda

S/referência 01

Pontos da execução

Paninho, filigrana, pastilhas quadradas, carreiras fechadas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e perle nº8

Fig. 104 - Peça de renda de bilros “s/referência 01” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

84

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta, pé simples, fundo em carreiras abertas, carreira fechada contornada por torçal formando bolinhas, recorte em forma concha executada em paninho.

Nome da renda

Conchinha

Pontos da execução

Paninho, carreiras abertas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50 e nº8

Fig. 105 - Peça de renda de bilros “Conchinha” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Entremeio com um fundo de carreiras abertas. Os motivos são compostos por quadrados em carreiras fechadas contornados com torçal. Pequenos retângulos centrais executados em paninho linha e torçal em simultâneo. A renda também pode ser executada com recorte redondo ou triangular, em ambos os lados ou em apenas um lado.

Nome da renda

Renda da D. Berta

Pontos da execução

Paninho, carreiras fechadas, carreiras abertas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 e nº8

Fig. 106 - Peça de renda de bilros “Renda da D. Berta” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

85


Entremeio com um fundo de carreiras abertas. Os motivos são compostos por quadrados e retângulos de paninho e filigrana contornados por torçal. O pé da renda é executado em paninho. A renda também pode ser executada com recorte redondo ou triangular, em ambos os lados ou em apenas um lado.

Nome da renda

Renda da ervilha

Pontos da execução

Carreiras abertas, filigranas, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e perle nº8

Fig. 107 - Peça de renda de bilros “Renda da ervilha” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, recorte em forma de pena, ponto de fundo em carreiras abertas com aplicação de pastilhas quadradas, triângulos de paninho, pastilhas ovais alternando com redemoinhos. Barras triangulares em paninho separando os motivos centrais, compostos por quadrado de filigrana e pastilhas quadradas, carreiras fechadas com grupo de quatro pastilhas ovais.

Nome da renda

Renda da pena

Pontos da execução

Paninho, pastilhas ovais, pastilhas quadradas, filigranas, redemoinhos, carreiras abertas, carreiras fechadas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50 e nº8

Fig. 108 - Peça de renda de bilros “Renda da pena” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

86

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta com motivos paralelos em repetição, formados por pequenas “estrelas” centrais de oito pastilhas ovais, alternando com pequenos “losangos” em paninho, fundo de tranças simples, recortes pequenos formados por tranças e subdivididos em três mais pequenos, arredondados em paninho.

Nome da renda

As margaridas

Pontos da execução

Paninho, tranças simples, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40

Fig. 109 - Peça de renda de bilros “As Margaridas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, composta por três pontos de fundo carreiras abertas, carreiras fechadas e pastilhas quadradas separados pelo torçal. Recorte ondulado em paninho. Nome da renda

Renda dos castelinhos

Tipologia

Geométrica

Pontos da execução

Carreiras abertas, pastilhas quadradas, carreiras fechadas, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 110 - Peça de renda de bilros “Renda dos Castelinhos” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

87


Renda de ponta, fundo em carreiras fechadas ornamentadas com tranças, pastilhas e paninho em formato de meia-lua. Recortada em ambos os lados, sendo um recorte redondo e o outro com vários recortes mais pequenos.

Nome da renda

Renda dos diademas

Pontos da execução

Paninho, pastilhas ovais, carreiras fechadas, tranças com bicos por fora

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 111 - Peça de renda de bilros “Renda dos Diademas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, recortes arredondado em paninho, pastilhas ovais e tranças com bicos por fora, ligação entre os recortes em quadrados de meio ponto, motivos centrais em grupos de pastilhas ovais ligadas no centro por tranças simples, junto ao pé em paninho o ponto de fundo em pãezinhos simples.

Nome da renda

Rosa dobrada

Pontos da execução

Meio ponto, paninho pastilhas ovais, pãezinhos antigos, tranças simples

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 112 - Peça de renda de bilros “Rosa dobrada” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

88

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta com fundo de carreiras abertas, motivos quadrados e retangulares em paninho e meio ponto contornados por torçal.

Nome da renda

S/ referência 02

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, carreiras abertas, carreiras fechadas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 ou 50

Fig. 113 - Peça de renda de bilros “s/referência 02” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, fundo em carreiras abertas, motivos em paninho, filigrana e pãezinhos simples contornados por torçal. Recorte redondo em paninho.

Nome da renda

S/ referência 03

Pontos da execução

Carreiras abertas, filigrana, carreiras fechadas, pãezinhos simples, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 e nº8

Fig. 114 - Peça de renda de bilros “s/referência 03” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

89


Renda de ponta, recorte formados por leques e barras diagonais em meio ponto, cadeia dupla de quadrados duplos e paralelos em redemoinhos e meio ponto, separados por fundo de pastilhas quadradas.

Nome da renda

S/ referência 04

Pontos da execução

Pastilhas quadradas, filigranas, meio ponto, redemoinhos, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 50

Fig. 115 - Peça de renda de bilros “s/referência 04” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta composta por cadeia dupla de pequenas curvas contornadas com fio de torçal executadas em carreiras fechadas, recortes pequenos em tule e paninho arredondados com bico por fora.

Nome da renda

S/ referência 05

Pontos da execução

Tule, filigrana, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Linha nº 50 e nº 8

Fig. 116 - Peça de renda de bilros “s/referência 05” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

90

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta, com dois motivos centrais, um em oval contornado por paninho e o seu interior em pastilhas ovais e tranças com bicos por fora. Outro em forma de flor formada por retângulos de meio ponto, interior em pastilhas ovais, centro em meio ponto, motivos centrais de forma arredondada que dão origem aos recortes complementados com tranças simples e bicos por fora.

Nome da renda

S/ referência 06

Pontos da execução

Tranças simples, tranças com bicos por fora, meio ponto, pastilhas ovais, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 117 - Peça de renda de bilros “s/referência 06” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda em forma de peixe (alfaquique) contornos em paninho, interior das barbatanas em meio ponto, interior do peixe em filigrana, pastilhas quadradas e quadrado de meio ponto com pastilha sobreposta.

Nome da renda

Alfaquique

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, filigrana, pastilhas quadradas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 118 - Peça de renda de bilros “Alfaquique” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

91


Renda em forma de búzio, executada em meio ponto e paninho alternados.

Nome da renda

Búzio

Pontos da execução

Paninho, meio ponto

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 119 - Peça de renda de bilros “Búzio” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Cavalo-marinho, contorno em paninho, bolas de paninho e tranças com bicos por fora, interior e remate exterior em tranças simples.

Nome da renda

Cavalo marinho

Pontos da execução

Tranças simples, paninho, tranças com bicos por fora

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40

Fig. 120 - Peça de renda de bilros “Cavalo marinho” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

92

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Naperon redondo, composto por motivos marinhos em paninho, fundo em tule e filigrana, cercadura em tranças.

Nome da renda

Mexilhões

Pontos da execução

Tule, paninho, filigrana, tranças

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 121 - Peça de renda de bilros “Mexilhões” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda retangular composta por motivos marinhos, executados em paninho e meio ponto, fundo em carreiras abertas, filigrana, ponto estrela e pastilhas ovais. Recorte arredondado formado por bolas em paninho, nos cantos destaque para as conchas em paninho, interior em pãezinhos cruzados.

Nome da renda

Naperon dos peixes

Pontos da execução

Paninho, carreiras abertas, filigrana, pastilhas quadradas, crespas e ovais, meio ponto, tranças com bicos por fora, trança com bicos nos cruzamentos, estrelas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 122 - Peça de renda de bilros “Naperon dos peixes” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

93


Peixe estilizado, toda a composição foi elaborada com variantes de meio ponto e paninho em destaque na cauda, formação de “escamas” e respetivas barbatanas, na cabeça, predominam o fundo de filigrana com pastilhas quadradas e novamente paninho na execução do olho e boca.

Nome da renda

Peixe

Pontos da execução

Paninho, meio ponto

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 123 - Peça de renda de bilros “Peixe” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Aplicação em forma de peixe, parte superior em tranças simples e pastilhas ovais, cabeça em filigrana e pastilhas quadradas. Barbatanas e olho em paninho, parte inferior em redemoinho, carreiras abertas e pastilhas quadradas.

Nome da renda

Peixe 01

Pontos da execução

Pastilhas ovais, paninho, tranças simples, redemoinhos, pastilhas quadradas, filigrana, carreiras abertas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 124 - Peça de renda de bilros “Peixe 01” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

94

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Babete recortado em motivos florais (volutas) como recorte, executados em paninho. Fundo principal em tranças com bicos por fora, interior com pequenos motivos em paninho formando folhas. Conjunto de volutas em paninho formando redondos com o interior em tule. Nas extremidades duas pequenas folhas em paninho semelhantes a parras.

Nome da renda

Babete

Pontos da execução

Tranças com bicos por fora, paninho, tule

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 125 - Peça de renda de bilros “Babete” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

95


Gola, composição floral em repetição, formada por dez recortes ondulados com ponta exterior em paninho contornado por torçal, motivos centrais alternados entre grupos de pastilhas ovais, barras onduladas e arcos separados por tranças simples, cercadura interna com bolas em paninho.

Nome da renda

Gola

Pontos da execução

Tranças simples, paninho, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 126 - Peça de renda de bilros “Gola” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Aplicação em forma de lírio. Pétalas executadas em meio ponto e paninho separado por torcidos e tranças com bicos fora folhas executadas em paninho com torcidos no meio.

Nome da renda

Lírios

Pontos da execução

Tranças com bico por fora, meio ponto, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40

Fig. 127 - Peça de renda de bilros “Lírios” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

96

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda de ponta, composição floral em repetição formada por flores “Magnólias” e grupos de três folhas, cercadura interior em paninho com cruzamentos centrais de varinhas torcidas, os motivos são formados por variações entre pontos: paninho, meio-ponto, carreiras fechadas e pastilhas quadradas, sobre um fundo de tranças com bicos por fora alternando com bolas em paninho e meioponto. Pé duplo em paninho interligados com varinhas cruzadas. Nome da renda

Magnólias

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, tranças com bicos por fora, pastilhas quadradas, carreiras fechadas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40

Fig. 128 - Peça de renda de bilros “Magnólias” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, motivo em flor formado por pétalas a meio ponto, ligadas por tranças simples e ornamentadas com uma pastilha sobreposta, fundo em tranças simples e com aplicação de grupos de quatro pastilhas ovais. Recorte formado por cruzamentos de tranças simples e de tranças com bicos por fora, contornando as folhas. Nome da renda

O trevo

Pontos da execução

Tranças simples, tranças com bicos por fora, pastilhas ovais, pastilhas sobrepostas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 129 - Peça de renda de bilros “O Trevo” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

97


Aplicação, ramo de tulipas executadas em paninho e meio ponto, tranças e pastilhas crespas formando os estames no motivo central. Fundo de tranças simples e com bicos por fora formando com estes pequenos círculos.

Nome da renda

Ramo de tulipas

Pontos da execução

Tranças com bicos por fora, paninho, meio ponto

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 50 e nº8

Fig. 130 - Peça de renda de bilros “Ramo de Tulipas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, fundo em tule, motivos florais em paninho contornado por torçal. Interior da renda em filigranas. Recorte triangular em paninho.

Nome da renda

Parras

Pontos da execução

Tule, filigrana, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 131 - Peça de renda de bilros “Parras” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

98

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Renda oval, com os recortes alternados entre o redondo e o triangular, fundo em carreiras fechadas, motivos florais executados em meio ponto e paninho contornados por torçal, centro em carreiras duplas.

Nome da renda

Renda das tulipas

Pontos da execução

Carreiras duplas, carreiras fechadas, paninho, meio ponto

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 132 - Peça de renda de bilros “Renda das Tulipas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

99


Renda de ponta com o fundo em carreiras abertas, motivos florais em paninho contornados por torçal, junto ao pé carreiras armadas e fechadas a meio ponto. Recorte triangular composto por filigranas contornadas por torçal.

Nome da renda

S/ referência 07

Pontos da execução

Carreiras abertas, carreiras armadas e fechadas a meio ponto, paninho, filigrana

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 133 - Peça de renda de bilros “s/referência 07” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, fundo em carreiras abertas, motivos florais em paninho contornados por torçal, barras de paninho a formar os motivos preenchidos por filigranas e pastilhas quadradas. Recorte arredondado composto por filigranas contornadas por torçal.

Nome da renda

S/ referência 08

Pontos da execução

Carreiras abertas, filigranas com pastilhas quadradas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 50 e nº 8

Fig. 134 - Peça de renda de bilros “s/referência 08” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

100

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Aplicação recortada, fundo em carreiras fechadas e pastilhas quadradas, monograma I em ponto paninho, aplicação de torçal a ornamentar.

Nome da renda

S/ referência 09

Pontos da execução

Carreiras fechadas, pastilhas quadradas, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 8 e nº30

Fig. 135 - Peça de renda de bilros “s/referência 09” pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche

Renda de ponta, composição floral em repetição, inserida e circundada por quadrados grandes em carreiras abertas, quadrados médios com o fundo em filigranas e pastilhas quadradas, os recortes são grandes, arredondados com cercadura interior de folhas compostas por voltas de fio de torçal.

Nome da renda

S/ referência 10

Pontos da execução

Filigrana, pastilhas quadradas, carreiras abertas, paninho

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 50 e nº8

Fig. 136 - Peça de renda de bilros “s/referência 10” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

101


Renda de ponta, composição floral em repetição formada por flores e grupos de três folhas, recorte interior arredondado em paninho, os motivos são formados por variações entre pontos: paninho, meio-ponto, pastilhas ovais, pastilhas sobrepostas, tranças simples. Fundo de tranças alternando com bolas em paninho. Cercadura exterior composta por tranças com bicos por fora.

Nome da renda

S/ referência 11

Pontos da execução

Tranças simples, paninho, meio ponto, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 30

Fig. 137 - Peça de renda de bilros “s/referência 11” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Renda de ponta, motivos florais em meio ponto e paninho, aplicação de pastilhas ovais sobrepostas nas folhas, fundo em tranças simples, nos cruzamentos bolas em paninho. Recortes pequenos em redondo. Pé recortado.

Nome da renda

Sombrinhas

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, tranças simples, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº30

Fig. 138 - Peça de renda de bilros “Sombrinhas” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

102

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Babete, fundo em carreiras abertas, motivo em forma de borboleta executada em paninho, tranças, pastilhas ovais. Recorte interior redondo, recorte exterior em pequenos recortes redondos em paninho.

Nome da renda

Babete

Pontos da execução

Carreiras duplas, carreiras abertas, paninho, tranças e meio ponto, pastilhas ovais

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40 e nº8

Fig. 139 - Peça de renda de bilros “Babete” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Aplicação em forma de borboleta. Corpo e antenas em paninho, olhos em pastilhas crespas, asas contornadas por barras de paninho, interior em tranças com bicos por fora e carreiras duplas.

Nome da renda

Borboleta

Pontos da execução

Paninho, tranças com bicos por fora, carreiras duplas, pastilhas crespas

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 140 - Peça de renda de bilros “Borboleta” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

103


Navio, velas executadas em meio ponto, mastros em paninho, casco em meio ponto, ondas em paninho, tranças com bicos por fora e pastilhas ovais.

Nome da renda

Creoula

Pontos da execução

Paninho, tranças simples, pastilhas ovais, meio ponto, tranças com bicos por fora

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40

Fig. 141 - Peça de renda de bilros “Creoula” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

104

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Aplicação em forma de guarita, desenho de um dos símbolos de defesa do pano amuralhado envolvente do istmo, designado de torre de vigia ou guarita. Pináculo em meio ponto e paninho, abobada superior e laterais em carreiras fechadas e pãezinhos cruzados, paninho e meio ponto. Pano de muralha em carreiras fechadas e paninho. Base em meio ponto e tranças.

Nome da renda

Guarita

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, carreiras fechadas, tranças e pãezinhos simples

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº40

Fig. 142 - Peça de renda de bilros “Guarita” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

Aplicação em forma de guitarra portuguesa. Braço e cordas em paninho, meio ponto, tranças simples e pastilhas ovais. Caixa em carreiras abertas, contornos e volutas em paninho.

Nome da renda

Guitarra portuguesa

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, carreiras abertas, tranças simples

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº 40 e fio metalizado

Fig. 143 - Peça de renda de bilros “Guitarra portuguesa” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

105


Aplicação, desenho de uma onda a ser surfada, rebentação em paninho, pastilhas ovais, base da onda em paninho, pastilhas ovais e tranças com bicos por fora. Prancha em meio ponto e contornada a paninho.

Nome da renda

Onda

Pontos da execução

Paninho, meio ponto, pastilhas ovais, tranças com bicos por fora

Tipo de linha/Nº fio

Algodão nº50

Fig. 144 - Peça de renda de bilros “Onda” pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

106

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


6.3 Exemplos de rendas

Fig. 145 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

107


Fig. 146 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

108

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 147 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

109


Fig. 148 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

110

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 149 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

111


Fig. 150 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

112

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 151 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

113


Fig. 152 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

114

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 153 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

115


Fig. 154 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

116

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 155 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

117


Fig. 156 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme

118

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 157 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio de D. Ida da Conceição Guilherme renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

119


Fig. 158 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

120

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 159 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

121


Fig. 160 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

122

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 161 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

123


Fig. 162 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

124

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 163 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

125


Fig. 164 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

126

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 165 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio da Escola Secundária de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

127


Fig. 166 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

128

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 167 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

129


Fig. 168 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

130

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 169 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

131


Fig. 170 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

132

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 171 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

133


Fig. 172 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

134

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 173 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

135


Fig. 174 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

136

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 175 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

137


Fig. 176 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

138

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 177 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

139


Fig. 178 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

140

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 179 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

141


Fig. 180 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

142

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 181 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

143


Fig. 182 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

144

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Fig. 183 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

145


Fig. 184 - Peça de renda de bilros pertencente ao espólio do Museu de Renda de Bilros de Peniche

146

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


7. Condições de inovação no produto e no modo de produção que, abrindo essa possibilidade, garantam a preservação da identidade do produto Dada a forma como, ao longo dos tempos, se produzem rendas de bilros em Peniche, não fará sentido falar-se de inovações no seu processo de produção. O banco e a almofada, os alfinetes e os bilros não afetam, propriamente, a manufatura das rendas. Os pontos e, mais importante que os pontos (que se podem utilizar em outros núcleos de produção rendeira), a forma como esses pontos são escolhidos, combinados e organizados tendo por base um determinado desenho, são os elementos que influenciam a tipologia tradicional da Renda de Bilros de Peniche. Assim, são as composições criadas e o modo como se definem e organizam, que distinguem a produção rendeira de Peniche das suas congéneres nacionais e estrangeiras. Dito isto, é importante referir que o afastamento da gramática decorativa recolhida neste caderno de especificações e que define a tipologia tradicional das rendas de bilros de Peniche torna difícil o reconhecimento e implícita certificação da produção. Alterando-se o que a renda de bilros de Peniche tem de singular e que a distingue de outras produções rendeiras, perde-se o vínculo identitário ao centro produtor e descaracteriza-se a produção deixando a mesma de poder ser associada a um determinado território e não podendo, assim, ser certificada.

fios, têxteis ou não, desde que seja garantida a ligação à tipologia característica de Peniche. A utilização de fio de lã, fios de metal ou sintéticos são admissíveis nestas circunstâncias. Porém, as peças executadas nestas condições deverão ser submetidas à apreciação da Comissão de Acompanhamento, grupo que auxilia o Organismo de Certificação na tomada de decisões, para que seja validado e aprovado o procedimento. Também no que se refere aos fios utilizados, não há qualquer restrição ao uso da cor. Para que uma peça possa ser certificada e para além do descrito nos parágrafos acima, é obrigatório que na mesma estejam presentes, no mínimo, três pontos distintos dos constantes neste Caderno de Especificações e que definem a tipologia característica de Peniche. Uma vez que a produção de Renda de Bilros de Peniche pode ter diversas vertentes, a diferenciação das peças deverá obedecer a uma das seguintes categorias, que deve ser explícita na etiquetagem das peças certificadas: - Renda tradicional (para peças da tipologia tradicional de Peniche);

Assim, a abertura à inovação nesta produção é possível sempre que os pressupostos acima referidos sejam tomados em conta.

- Renda contemporânea (para peças com introdução de aspetos inovadores, mas que respeitem o vínculo ao centro produtor de Peniche);

Quanto aos materiais utilizados, e para além das linhas referidas neste documento (nº 5 e 8 – torçal e do nº 12 ao 100 - renda), é possível introduzir novos

- Renda de aplicação (para peças têxteis que possuam uma aplicação em renda; não é a peça toda que é certificada, mas sim o pormenor em renda de bilros).

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

147


bibliografia AMARÍLIO – Escola Industrial de Rendeiras Josefa de Óbidos: rendas de Peniche. Lisboa. In: Terras de Portugal, nº 47, 1933. ARAGÃO, Helena – As Lindas rendas portuguesas também têm a sua história. In: Boletim da Junta de Província da Estremadura. Lisboa. Nº VIII, Série II, 1945. pp. 143 - 150 BENEVIDES, Francisco da Fonseca de – Relatório sobre as escolas industriaes e de desenho industrial da circumscripção do sul. Lisboa: Imprensa Nacional, 1885. BERNARDO, Hernâni de Barros – Profissões em Peniche nos séculos XVII e XVIII. In: A Voz do Mar. Peniche. Nº 191, 25 de abril de 1965. BERNARDO, Hernâni de Barros – O aspecto geográfico e económico das indústrias caseiras: o caso das rendas de bilros. In: Revista Indústria Portuguesa, órgão da Associação Industrial Portuguesa. Lisboa. Ano 18, nº 205, março de 1945. pp. 15-16. BRITO, Maria Filomena – Rendas barrocas em Portugal: colecção de rendas da capela de S. João Baptista. Lisboa: Santa Casa da Misericórdia: Livros Horizonte, 1997. BROWNE, Claire – Lace from Victoria and Albert Museum. Londres: V&A Publications, 2004. CALADO, Mariano – História da renda de bilros de Peniche. Peniche: Edição de autor, 2003. CALADO, Mariano – Peniche na história e na lenda. Lisboa: Oficina Gráfica da C.U.F., 1968.

148

LAMARRE, Clovis, LAMY, Georges – Le Portugal et le exposition de 1878. Paris: Librairie Ch. Delagrave, 1878. DIAS, Luís Fernando de Carvalho – Luxo e pragmáticas no pensamento económico do século XVIII. In: Boletim de Ciências Económicas. Vol. V. Coimbra: Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, 1956. Pp. 73-144 DURÃES, Andreia –Penhoristas do Porto no início do século XVII: homens, actividades e objectos. In: SÁ, Isabel dos Guimarães; GARCÍA FERNÁNDEZ, Máximo (dir.) –Portas Adentro: comer, vestir a habitar na Península Ibérica: séculos XVI-XIX. Coimbra; Valladolid: Imprensa da Universidade de Coimbra; Universidad de Valladolid, 2010. pp. 251-272. FERREIRA, Florival Maurício – A Santa Casa da Misericórdia de Peniche: 1626 – 1700: subsídios para a sua história. Peniche: Câmara Municipal: Santa Casa da Misericórdia, 1997. FIGUEIRA, Pedro Cervantes de Carvalho – A Indústria de Peniche. [S.l.]: Imprensa Nacional, 1865. FIGUEIRA, Pedro Cervantes de Carvalho – Peniche e as suas rendas. In: A Voz do Mar. Peniche. Nº 638, de 22 de setembro de 1983. FIGUEIREDO, José de – Exposição nacional no Rio de Janeiro em 1908: Bellas Artes: Secção portugueza. Lisboa: Typographia A Editora, 1908. LEVEY, Santina M. – Lace in theearlymodernperiod.In: The Cambridge historyof western textiles. Cambridge: Cambridge University Press, 2002. pp. 585-596.

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


MAGALHÃES, M.M: de S. Calvet – Bordados e rendas de Portugal. Seixal: Edição Assírio Bacelar (Coleção Outras Obras), 1995. MARTINHO , António Manuel Matoso – A Criação do ensino industrial em Portugal. In: Revista Máthesis, nº 15. Viseu, 2006. Universidade Católica Portuguesa. pp 53-81. MOURA, Maria Clementina Carneiro de – Rendas de Peniche. In: BARREIRO, João – Arte portuguesa: as artes decorativas. II vol. 1940. pp. 299-354. ORTIGÃO, Ramalho – As Praias de Portugal: guia do banhista e do viajante. Porto: Livraria Universal de Magalhães e Moniz, 1876. PINTO, Teresa – Rewriting Portuguese women´shistory at international exposition´s: 1889 – 1908. In: Women in international and universal exhibitions: 1876-1937. Edited by Rebecca Rogers, Myriam Boussahba-Bravard. Nova Iorque, Londres: Routledge, 2018. Disponível em: https:// repositorioaberto.uab.pt/bitstream/10400.2/6992/3/ Teresa_Pinto_Rewriting%20Portuguese%20Women_ Accepted%20Manuscript.pdf PORTUGAL. COMISSÃO CENTRAL DIRECTORA DO INQUÉRITO INDUSTRIAL – Inquérito industrial de 1881: visita às fábricas. Segunda parte. Livro segundo. Lisboa: Imprensa Nacional, 1881. PORTUGAL. Leis, decretos, etc. – Ley sobre os vestidos de seda & feitios deles. E das pessoas que os podem trazer. [S.l.: s.n.], [25 de junho de 1560]. Disponível em: http://purl.pt/14914/4/323546_PDF/323546_PDF_24-CR0150/323546_0000_1-b_t24-C-R0150.pdf

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação

RÊGO, Pedro, PIRES, Ana – Rendas de Bilros de Vila do Conde: um património a preservar. Vila do Conde: Associação para a Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde, 2005. SANTOS, Miguel Dias – Contributos para a história do ensino técnico-profissional em Peniche. Disponível em https://e30a7012-a-62cb3a1a-ssites.googlegroups.com/site/secundariapeniche/ documentos/ContributosHistESPeniche. pdf?attachauth=ANoY7crJ7hBcJK-oVUIrhV7yj-cR7-_ xnNNA0Dw47zJbDVOQgvqitkiTS_2xQjYdaguw1UmTfMEn_ l1CrTu9bqnqK1Df5lnWxQLZ-7fdDaQ69XJ2hgatwEi6vPTDoZ xhvmmo6yjallchGHCQHk2BZtAewMnSiycjUSJkNy3L0sdQC vWHeewZTr8VW-NlhbDZLR5N6g-S&attredirects=1 SOUSA, Hermínio Soares da Costa – Indústria das rendas. In: Boletim do trabalho industrial. Nº 94. Lisboa: Imprensa Nacional, 1914. SOUSA, Mário Queiroz Botelho de – Inquérito à indústria de rendas. In: Boletim da Direcção Geral da Indústria, 2ª Série, Volume 3. Lisboa: Ministério da Economia, 1942. VIEIRA, Afonso Lopes – D. Maria Augusta Bordallo Pinheiro. In: Atlântida. Lisboa. Nº 2, 15 de dezembro de 1915. pp 103 – 106.

Fontes manuscritas Arquivo Municipal de Peniche – Livro de registo de passaportes – 1856-1862. Caixa 67.

149


150

renda de bilros de peniche

Caderno de Especificações para a Certificação


Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.