Artigo Museu do Pão

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APRESENTAÇÃO & FINALIZAÇÃO

“O projeto está mais espiritualmente mimetizado do que formalmente” -Marcelo Ferraz

“A intromissão de um material no meio do outro conferiu um corte, uma leveza, como se o pilar parasse e a laje flutuasse” -Francisco Fanucci

“Esse projeto é a celebração da madeira.”

-Álvaro Sisa

MUSEU DO PÃO


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MUSEU DO PÃO


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Restauração à panificação Ilópolis uma pequena cidade do Vale do Taquari, no Rio Grande do Sul, com pouco mais de quatro mil habitantes, ganha nos anos 2000 uma rota cultural e turística, chamada o Caminho dos Moinhos. Essa rota cultural é composta por quatro municípios do Rio Grande do Sul, onde resgatam a história dos imigrantes italianos. O complexo do Museu do Pão é composto por uma oficina de panificação, um museu sobre a história do pão e o Moinho Colognese, que foi restaurado e é um dos principais moinhos da rota, pois seu museu recebeu todo acervo dos outros moinhos que não tiveram condições de restauro. Esse projeto é muito importante, pois além de resgatar a história da cidade (cultura do trabalho com o trigo e a madeira), ele traz vida á esses moinhos que ao passar dos anos foram substituídos por novas tecnologias . Essa intervenção é reconhecida internacionalmente e ganhador do Prêmio Rino Levi, conferido pela seção São Paulo do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil), e o Prêmio Rodrigo Melo Franco de Andrade, promovido pelo Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), na categoria preservação de bens móveis e imóveis.

FICHA TÉCNICA Autores: Francisco Fanucci e Marcelo Ferraz Localização: IlópolisRio Grande do Sul, Brasil Área: 330m² Área restaurada: 200m² Área do terreno: 1.011m² Ano do projeto: 2007


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MUSEU DO PÃO O Moinho Colognese foi construído todo em madeira, no começo do século XX, por uma família de imigrantes italianos. No final do século, o moinho encontrava-se abandonado e, através do projeto da Brasil Arquitetura, foi restaurado em 2007, com a intenção de reincorporá-lo ao cotidiano da cidade de Ilópolis. O projeto consistiu na restauração do moinho e na criação de mais dois novos volumes para a criação do Museu do Pão. Com o caráter de documentar a construção, todo o maquinário já existente foi mantido e operante para demonstração aos grupos de visitantes. O espaço antes usado como depósito de grãos, se tornou uma combinação de bodega, padaria e café. Os dois volumes anexados à antiga construção abrigam o Museu do Pão e a Oficina de Panificação. Eles são perpendiculares entre si, com área semelhante e escala respeitosa, de modo que nem anulam e nem se evidenciam diante

Perspectiva

do moinho. Cada um possui uso e materialidade próprios: um é completamente transparente, flutuando sobre palafitas enquanto o terreno segue em seu declive; o outro é mais privativo, protegido por empenas de concreto, abrigado em um bloco cravado no terreno. Tanto o moinho quanto os dois volumes se encontram no mesmo nível, apesar de o terreno possuir declividade, e se conectam através de passarelas, que se tornam um “mirante” de onde é possível avistar o córrego que passa na cota mais baixa do terreno. O volume existente e seu entorno não foram excluídos para a criação dos dois volumes. Todos mantém um diálogo entre si, como os próprios autores falam. “A dialética permanente entre tradição e invenção, somada à nossa abertura crítica para assimilar e recriar linguagens e informações produzidas em outros cantos do planeta, é um traço central da cultura brasileira.”


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Planta

E esse diálogo se dá principalmente pelo emprego dos materiais. Tudo é Araucária: desde o Moinho e seus mecanismos, as novas varandas e as passagens, o gradil da passarela, os painéis de brise, os capitéis dos pilares que lembram as estruturas internas dos moinhos, até o concreto, marcado pelas formas de tábuas. O conjunto foi concebido com a intenção de integrar o espaço público e o entorno. Os autores dos projetos não queriam que o museu fosse “hostil” aos visitantes, mas convidativo. E isso se manifestou na permeabilidade e acessibilidade das edificações e do espaço aberto em relação ao entorno, a partir do acesso pela esquina, da separação dos volumes entre si

Corte Longitudinal

e pela transparência da sala expositiva, que reforça a ideia de integração com a cidade. Além disso, não há a presença de muros, que foram substituídos por canaletas de drenagem que marcam os limites entre o lote e a rua. O modo como as edificações foram configuradas permitiu um pequeno pátio central, que permite a integração do espaço público com o entorno. Conectado diretamente com a rua, é um ambiente propício para atividades ao ar livre. “Pão de todos os tipos, e para todos!”, foi o desejo principal desse projeto, que contou com a participação da população local na construção dos dois volumes anexos ao moinho já existente.


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Arquitetura e o usuário A Brasil Arquitetura tenta sempre mostrar os seu ideal, arquitetura para todos, em suas intervenções. O objetivo é que os seus projetos convidem as pessoas a entrarem, a sentirem que fazem parte daquele espaço. Esse conceito tem muita influencia de Lina Bobardi já que Marcelo Ferraz (dono da Brasil arquitetura) trabalhou com ela durante 15 anos. Lina acreditava que a arquitetura deveria ir contra a mediocridade e injustiça trazendo obras convidativas, livres e rigorosas. Tendo em vista essa grande influencia, o projeto do Museu do Pão incentiva uma reflexão em cima do estranhamento de um moinho antigo com ligações a blocos arquitetônicos contemporâneos feitos de materiais simples e com uma liguagem fora do comum da região. Esse estranhamento é intencional para fazer o público pensar, gostar, odiar, entender e alimentar a curiosidade fazendo com que ele entre e conheça as atividades internas. Essas atividades também são voltadas para a interação de todos, desde ver o tratamento da farinha, a produção do pão até a sua degustação. O Museu do Pão é um projeto da Brasil Arquitetura, que acredita no envolvimento da população com a arquitetura.

FICHA TÉCNICA Alunas: Antonia Adriana F. Feitosa Danielle Macedo Oliveira Paola Gomes Referências: PACHALSKI, Glauco Assumpção. O MUSEU DO PÃO: Arquitetura, cultura e lugar. Disponível em <http:// prograu.ufpel.edu.br/uploads/biblioteca/dissertacao_o_museu_do_pao_arquitetura_cultura_lugar_ glauco_pachalski.pdf> SAMBIASI, Soledad. Museu do Pão / Brasil Arquitetura. Disponível em <https://www.archdaily.com.br/ br/01-8579/museu-do-pao-moinho-colognese-brasil-arquitetura>. SERAPIÃO, Fernando. Brasil Arquitetura: Museu do Pão. Anexos têm materialidade e uso diversos. Disponível em <http://www.arcoweb.com.br/projetodesign/arquitetura/brasil-arquitetura-10-04-2008> HORTA, Maurício. A celebração da madeira. Disponível em <http://au17.pini.com.br/arquitetura-urbanismo/168/artigo73550-2.aspx> ANTICOLI, Audrey Migliani. Brasil Arquitetura: construindo uma trajetória. Disponível em <https://www. usjt.br/biblioteca/mono_disser/mono_diss/2017/369. pdf> Fotos: Nelson Kon



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