Passeio Marítimo de Oeiras

Andar de braço dado com o Tejo

Entre o Forte de São Julião da Barra e a Praia de Paço de Arcos há um longo paredão que convida a caminhadas de olhos postos no Tejo. São quase quatro quilómetros, entre fortes, praias e esplanadas, na companhia de um rio que, entretanto, se faz mar. Apetece-lhe andar na linha? Vá até ao Passeio Marítimo de Oeiras.

Ao mesmo tempo que guarda a entrada do Tejo, o Forte de São Julião da Barra marca também o início do Passeio Marítimo de Oeiras, ex-líbris dos tempos modernos que deu os primeiros passos em 1993 e foi crescendo aos poucos. A primeira fase, concluída em 2005, estendeu uma passadeira vermelha de 2400 metros até ao Forte de São João das Maias, e a segunda, terminada em 2009, ligou mais 1450 metros (agora com o piso em verde) até à Praia de Paço de Arcos.

No total, são 3850 metros que (para já) compõem o paredão, desafiando locais e visitantes a abeirarem-se o mais possível do Tejo e a desfrutam do que ele tem de melhor, seja entre caminhadas ou corridas, banhos de água ou de sol, fortes de defesa ou assaltos à esplanada. Se não estiver a treinar para os Jogos Olímpicos, faça como nós e vá parando em todas as capelinhas.

Baleia à vista!

Partida, largada… esplanada! Ainda não tínhamos andado 100 metros e já a esplanada do Luar da Barra (antiga carruagem de comboio transformada em bar) nos tentava com dois argumentos de peso: as vistas privilegiadas - para a Praia da Torre e para o Forte de São João da Barra – e os cocktails, entre os melhores da Linha. Mas trabalho é trabalho e conhaque é conhaque, por isso ficámo-nos por uma água e seguimos sem mais demoras até à vizinha escultura do Mergulho da Baleia, ícone de Oeiras que homenageia as gentes do Faial e a despoluição do Tejo.

Uma ligeira descida (a única inclinação em todo o percurso) leva-nos depois até ao início do porto de recreio de Oeiras, vigiado de perto pela Feitoria do Colégio Militar, edificado no século XVI para servir de apoio à construção do Farol do Bugio. A partir daqui, o piso ganha a característica cor vermelha, contrastando com o azul da Piscina Oceânica que nos acompanha até aos 500 metros do percurso, altura em que o nosso olhar se desvia para as lojas náuticas e restaurantes do complexo, caso do cosmopolita Rio`s. Junto a ele, surge também o primeiro sinal de aviso para os ciclistas, proibindo a circulação de bicicletas entre as 9 e as 20 horas, de abril a outubro, exceto crianças até aos 8 anos. Os mais distraídos vão sendo lembrados ao longo do caminho com uma frase pintada no chão: “O passeio é para andar”.

Um pouco mais à frente, cruzamo-nos com o Forte de Catalazede (1762), hoje Pousada da Juventude, e logo depois com o Inatel de Oeiras, onde sobressai uma longilínea piscina e mais um conjunto de esplanadas, também acessíveis aos utilizadores do passeio. Por esta altura, já se avista a Ponte 25 de Abril, a margem Sul e o Farol do Bugio, erguido no século XVI sobre uma restinga de areia a que chamaram Cabeça Gorda. Junto a mais uma curva do rio (e do paredão) encontramos o Forte de Santo Amaro (ou do Areeiro), contruído em 1659 e, depois, uma placa com informações sobre a fauna e flora existentes ao longo do Passeio Marítimo, com destaque para mais de uma dúzia de aves, como os corvos marinhos, as garças ou os patos-reais. 

A partir daqui, a praia de Santo Amaro domina a paisagem mas antes vale a pena subir uma pequena escadaria e admirar o cenário junto à Nave Visionária, escultura assinada por Luís Vieira Batista que evoca a epopeia dos Descobrimentos. O areal chega por volta dos 1500 metros de percurso, após a Ribeira da Laje, e só termina quase um quilómetro depois, junto ao Forte de São João das Maias. Nesta parte o caminho torna-se algo ruidoso – afinal a estrada marginal passa mesmo ao lado – mas os dois bares de praia são um bom local para retemperar forças e calcular o tempo da nossa caminhada: quase 40 minutos. Os habitués deste percurso acharão muito mas convém lembrar que fomos parando muitas vezes pelo caminho, sobretudo para tirar fotografias. Será que valeu a pena? Veja a nossa foto reportagem e diga de sua justiça.

Do forte à praia

A segunda parte do Passeio Marítimo de Oeiras, concluída em 2009 no âmbito das comemorações dos 250 anos do município, liga o Forte de São João das Maias à Praia de Paço de Arcos. São cerca de 1450 metros, agora com o piso pintado de verde, e quase sem vislumbre da marginal (que só irá aparecer lá para o fim do percurso) ou sequer de grandes construções. A única execeção é mesmo o forte, um imponente edifício militar seiscentista (construído durante o reinado de D. João IV) que foi resistindo às intempéries do Tejo mas não conseguiu evitar os grafittis nas paredes. Sinais dos tempos…

A partir daqui, as vertentes escarpadas do caminho passam a ser protegidas por vegetação e por muros de pedra, umas vezes em xisto, outras em granito. Isto à nossa esquerda, porque à direita o horizonte não tem barreiras, com o Tejo a estender-se até onde a vista alcança. Um cenário desfrutado por utilizadores de todas as idades, desde crianças que aprendem a andar de bicicleta, a idosos sentados em bancos, passando por jovens casais de mão dada e desportistas que percorrem o paredão para trás e para a frente uma série de vezes.

A praia de Paço de Arcos chega à passagem dos 3.300 metros, desafiando-nos a arregaçar as calças para pisarmos a areia e molharmos os pés nas águas calmas (a bandeira verde é uma constante) destas paragens. Outra boa alternativa seria sentarmo-nos na esplanada do QB Quiosque Bar (serve bebidas, snacks e refeições ligeiras) mas a curiosidade faz-nos procurar o final do Passeio Marítimo, o que acontece pouco depois, aos 3750 metros, junto ao molhe da Direção Geral dos Faróis. Neste local ainda há uma passagem inferior que nos leva até às proximidades do jardim de Paço de Arcos mas, a partir daqui, qualquer caminhada junto ao rio terá de ser feita pelo passeio (estreito) da estrada marginal.

O objetivo da Câmara de Oeiras é continuar o Passeio Marítimo até aos limites do concelho, e uni-lo à ciclovia Ribeirinha de Algés. Um projeto que passará por mais duas fases, a primeira entre a Baía dos Golfinhos e a Praia da Cruz Quebrada (as obras já arrancaram mas, entretanto, foram provisoriamente suspensas) e a outra, técnica e ambientalmente mais complexa, entre o Forte da Giribata e a Baía dos Golfinhos. A concretizar-se, os nove quilómetros de costa do município ficarão ligados por um paredão, autêntica varanda do Tejo aberta a todos. E nós lá estaremos para mostrá-la de uma ponta à outra.

Nelson Jerónimo Rodrigues 2016-06-01

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