Relembrando a Cheia Histórica de 2014 no Rio Madeira

Jornalismo UNIR
5 min readApr 9, 2024

O rio Madeira atingiu uma marca histórica de 19,74 metros, de acordo com a mediação da Agência Nacional de Águas, resultando em uma das maiores cheias já registradas na região.

Por: Laiara Gonçalves Salles e Flávia Lohanna Alves de Souza

Em 2014, a cidade de Porto Velho, localizada às margens do rio Madeira, causou uma grave situação de cheia devido ao aumento gradual do nível da água. O rio Madeira atingiu uma marca histórica de 19,74 metros, de acordo com a mediação da Agência Nacional de Águas, resultando em uma das maiores cheias já registradas na região. A elevação do rio envolveu inundações em diversas áreas da cidade, cobrindo casas, plantações, pontos turísticos e até mesmo o cemitério local. Além disso, bens históricos, como o Complexo Turístico da Estrada de Ferro Madeira Mamoré, foram afetados pelas inundações

Foto: Thaís Tavares

Segundo um levantamento realizado pelo Corpo de Bombeiros em 2014, o número de afetados pela cheia de Rondônia atingiu 29.570, com destaque para Porto Velho e seus distritos, o que demonstra a gravidade da situação vivida pela população local, além da evacuação de 3.736 famílias devido à cheia do Rio Madeira.

A situação de calamidade resultou na interrupção do fornecimento de água potável, na falta de energia elétrica em vários pontos da cidade e na dificuldade de distribuição de bens e alimentos para a região. A cheia também impactou a operação da hidrelétrica de Santo Antônio, uma das maiores do país, que precisou ser desligada para preservar a integridade das unidades geradoras diante do volume recorde de vazão de água registrado no rio Madeira, que superou 54 mil m³ por segundo. Esse aumento significativo levou à necessidade de paralisação das operações para evitar danos e garantir a segurança das instalações.

Vozes da enchente

Nas margens do rio Madeira, em Porto Velho, as águas tumultuosas da enchente de 2014 não apenas inundaram casas e plantações, mas também deixaram marcas profundas nas vidas e memórias dos moradores locais. Enquanto as estatísticas falam de níveis de água recordes e danos materiais, são as histórias pessoais daqueles que enfrentaram a fúria das águas que revelam a verdadeira dimensão da tragédia e da resiliência humana.

Em meio às ruas alagadas e aos destroços, encontramos Thais Tavares, ex-moradora de São Carlos, no baixo madeira, cuja voz ecoa as lembranças dolorosas da enchente de 2014. “Eu posso dizer que foi desesperador, por mais que já imaginávamos o que iria acontecer, os jornais avisando todos os dias o aumento do rio, no final do dia aquela sensação nunca sumia. Quando deram o alerta que iria encher mais, a água já estava chegando na porta da minha casa, foi aí que minha mãe decidiu arrumar nossas coisas para irmos para casa da minha avó”.

Foto: Thaís Tavares

A comunidade se preparou para a eventualidade de inundação, procurando abrigo em áreas mais altas. Após a enchente, a vila enfrentou devastação, com casas destruídas, lama por toda parte e perda de bens materiais. A ex-moradora teve sua vida escolar afetada, com a escola desativada por um ano, o que a levou a se matricular em outra escola na cidade. Apesar dos desafios, a comunidade se uniu para reconstruir suas vidas e a ex-moradora adaptou-se à vida na cidade, mantendo contato com seus pais que retornaram à vila.

A vida de Junival Ramos também foi prejudicada, sobretudo em relação à sua rotina de trabalho. A necessidade de se adaptar às novas condições, muitas vezes sem horários previsíveis, trouxe grandes dificuldades. A vítima relata que teve que alterar a sua jornada de trabalho, trabalhando em horários atípicos, seja durante o dia ou à noite, devido à emergência provocada pela cheia. Assim como também enfrentou dificuldades no transporte de cargas devido às restrições impostas pela situação. Com a empresa de transporte funcionando de forma limitada, o acesso ao porto federal, conhecido como Portobrás, tornou-se essencial para escoação das mercadorias. No entanto, a alta demanda e as limitações de horário no porto dificultaram ainda mais o processo de embarque, obrigando a lidar com obstáculos logísticos inesperados.

“O momento mais marcante durante a cheia foi o início, quando ninguém esperava uma cheia daquela. A gente foi embora num dia, a água estava baixa ainda. No dia seguinte, a água já estava dentro do escritório. E foi triste ver essa situação, a perda de muitos materiais. Os clientes também perderam muitas mercadorias. Isso foi o que mais marcou.”

A vítima expressa a tristeza ao testemunhar a inundação do escritório e a perda de muitos materiais essenciais para o funcionamento do negócio. Além disso, destaca a angústia dos clientes que também sofreram com a destruição de suas mercadorias. Esse cenário de desolação e prejuízo material deixou uma marca na memória da vítima, ressaltando as consequências devastadoras e imprevisíveis de eventos climáticos extremos.

Uma década após a maior enchente da região

Passados dez anos da tragédia que abalou a vida de milhares de pessoas em Porto Velho, as palavras de Thais Tavares e Junival Ramos ainda ressoam como testemunhos vivos da força humana diante das adversidades. Enquanto Thais relembra a angústia e a superação de ter sua casa inundada e sua rotina escolar interrompida, Junival compartilha os desafios enfrentados para adaptar-se a uma nova realidade de trabalho em meio ao caos das águas.

Além disso, a recuperação ambiental também foi um aspecto importante a considerar. A inundação causou danos significativos à fauna e à flora da região, o que resultou na morte de diversos animais e na destruição de ecossistemas.

A comunidade uniu forças para reconstruir o que as águas levaram, implementando medidas de prevenção e infraestrutura para enfrentar possíveis desafios no futuro. As marcas da tragédia ainda ecoam nas memórias dos moradores, mas também ressoam histórias de solidariedade, perseverança e esperança.

Recentemente, o rio Madeira apresentou uma baixa cota de 1,44 metro, o menor nível registrado em 17 anos. No entanto, a marca foi superada e o nível chegou a 1,10 metro, de acordo com o último boletim do Madeira.

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