por Piter Kehoma Boll
Aprendemos semana passada sobre o caracol-gigante-africano e como ele se espalhou pelo mundo, prejudicando diversos ecossistemas. Pelo começo dos anos 1980, o caracol-gigante-africano era uma praga na ilha de Guam, mas subitamente seus números passaram a cair e a causa identificada foi a introdução acidental de outra espécie na ilha, a Planária-da-Nova-Guiné, Platydemus manokwari.
Descoberta nas florestas em torno da cidade de Manokwari, na Nova Guiné, mais precisamente na província de Papua Ocidental, Indonésia, a planária-da-Nova-Guiné era a princípio só mais uma planária terrestre como muitas outras encontradas pelas regiões Australásia e Indo-Malaia. Medindo cerca de 60 mm de comprimento, 7 mm de largura e apenas 2 mm de espessura, a planária-da-Nova-Guiné tem um dorso marrom-escuro, quase preto, com uma fina linha mediana amarela, enquanto o lado ventral tem uma cor bege. Pertencendo à tribo Rhynchodemini de planárias terrestres, ela só tem dois olhos na região anterior e eles são consideravelmente grandes comparados aos olhos de planárias terrestres de outras tribos e subfamílias e possuem mesmo uma lente simples sobre o cálice de pigmento, o que significa que elas provavelmente veem melhor que a maioria das planárias.
Como todas, ou a maioria das, planária terrestres, a planária-da-Nova-Guiné é um predador e suas presas favoritas parecem ser caracóis, o que a fez se tornar um método de controle bem-sucedido contra o caracol-gigante-africano em Guam. Devido a este sucesso, a planária-da-Nova-Guiné foi deliberadamente introduzida em Bugsuk, uma pequena filha das Filipinas. Cerca de 20 meses após sua introdução, sua população crescera significativamente e a população do caracol-gigante-africano diminuíra drasticamente.
Durante os anos seguintes, o interesse na planária-da-Nova-Guiné cresceu e a espécie foi introduzida deliberada ou acidentalmente em muitas ilhas do Pacífico. Contudo, lá pelos anos 1990, a situação já se tornara um pesadelo. Uma das áreas mais severamente afetadas foram as ilhas Ogasawara no Japão. Estas ilhas costumavam ter uma fauna de caracóis muito rica, mas 10 anos após a introdução da planária-da-Nova-Guiné, a maioria das espécies havia sido extinta. Contudo, apesar de remover a maioria dos caracóis das ilhas, a população da planária-da-Nova-Guiné continuou grande e logo se descobriu que ela pode se alimentar também de minhocas, nemertinos, tatuzinhos-de-jardim e mesmo de outras planárias terrestres. Sua ameaça, portanto, vai muito além dos caracóis.
Apesar de ter se disseminado através de muitas ilhas do Pacífico, a planária-da-Nova-Guiné permaneceu restrita a esta área do mundo por algum tempo, mas as coisas mudaram em 2014 quando ela foi registrada na França. Somente um ano depois, em 2015, ela foi encontrada no sul dos Estados Unidos e no Caribe. Em 2018 ela foi encontrada na Tailândia e, para piorar as coisas, ela se revelou ser também um hospedeiro do nematódeo parasita Angiostrongylus cantonensis, da mesma forma que o caracol-gigante-africano.
Não é de se surpreender então que a planária-da-Nova-Guiné também é considerada uma das 100 piores espécies invasoras do mundo. Sua disseminação recente pela Europa e pelas Américas significa que uma nova onda de extinções causada por nossa imprudência está prestes a começar.
– – –
Curta nossa página no Facebook!
Siga-me (@piterkeo) no Twitter!
Se você curte línguas e linguística, dá uma olhada no meu canal no YouTube!
Precisa de ajuda para preparar seu artigo científico? Fale com a A1 Assessoria em Produção Acadêmica. Oferecemos serviços de tradução, revisão, formatação e preparação de figuras a preços acessíveis! Nosso e-mail: a1academica@gmail.com
Se comentar que ouviu falar da A1 pelo Blog Natureza Terráquea, você ganha 10% de desconto na sua primeira tradução conosco!
– – –
Referências:
Chaisiri, K., Dusitsittipon, S., Panitvong, N., Ketboonlue, T., Nuamtanong, S., Thaenkham, U., Morand, S., & Dekumyoy, P. (2018). Distribution of the newly invasive New Guinea flatworm Platydemus manokwari (Platyhelminthes: Geoplanidae) in Thailand and its potential role as a paratenic host carrying Angiostrongylus malaysiensis larvae. Journal of Helminthology, 1–9. https://doi.org/10.1017/S0022149X18000834
Justine, J.-L., Winsor, L., Gey, D., Gros, P., & Thévenot, J. (2014). The invasive New Guinea flatworm Platydemus manokwari in France, the first record for Europe: Time for action is now. PeerJ, 2, e297. https://doi.org/10.7717/peerj.297
Justine, J.-L., Winsor, L., Barrière, P., Fanai, C., Gey, D., Han, A. W. K., La Quay-Velázquez, G., Lee, B. P. Y.-H., Lefevre, J.-M., Meyer, J.-Y., Philippart, D., Robinson, D. G., Thévenot, J., & Tsatsia, F. (2015). The invasive land planarian Platydemus manokwari (Platyhelminthes, Geoplanidae): Records from six new localities, including the first in the USA. PeerJ, 3, e1037. https://doi.org/10.7717/peerj.1037
Kawakatsu, M., Oki, I., Tamura, S., Itô, H., Nagai, Y., Ogura, K., Shimabukuro, S., Ichinohe, F., Katsumata, H., & Kaneda, M. (1993). An extensive occurrence of a land planarian, Platydemus manokwari de Beauchamp, 1962, in the Ryûkyû Islands, Japan (Turbellaria, Tricladida, Terricola). 陸水生物学報 (Biology of Inland Waters), 8, 5–14.
Muniappan, R., Duhamel, G., Santiago, R. M., & Acay, D. R. (1986). Giant African snail control in Bugsuk island, Philippines, by Platydemus manokwari. Oléagineux, 41(4), 183–186.
Ohbayashi, T., Okochi, I., Sato, H., & Ono, T. (2005). Food habit of Platydemus manokwari De Beauchamp, 1962 (Tricladida: Terrricola: Rhynchodemidae), known as a predatory flatworm of land snails in the Ogasawara (Bonin) Islands, Japan. Applied Entomology and Zoology, 40(4), 609–614. https://doi.org/10.1303/aez.2005.609
Sugiura, S. (2010). Prey preference and gregarious attacks by the invasive flatworm Platydemus manokwari. Biological Invasions, 12(6), 1499–1507. https://doi.org/10.1007/s10530-009-9562-9
– – –
* Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição Não Comercial 4.0 Internacional
** Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons de Atribuição 4.0 Internacional.