‘O diário de Anne Frank’: uma experiência dolorosa, mas extremamente necessária

Leitura deveria ser obrigatória quando o assunto é Segunda Guerra Mundial

Uma menina de apenas 13 anos escreveu um diário que entrou para a história. Anne Frank, movida pelo sonho de ser escritora, entregou ao mundo um relato doloroso sobre a vida dos judeus durante a perseguição nazista da Segunda Guerra Mundial.

O diário de Anne Frank” foi publicado pela primeira vez em 1947 e já ganhou quatro versões. A história da família judia que viveu por dois anos em um anexo secreto em Amsterdam, na Holanda, se tornou um dos livros mais lidos do mundo inteiro.

O ano de 1947 marcou a primeira publicação de “O diário de Anne Frank” – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/NDO ano de 1947 marcou a primeira publicação de “O diário de Anne Frank” – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/ND

Faz pouco mais de um mês que finalizei a leitura de Anne Frank. Demorei para encarar o diário, porém hoje entendo que foi uma decisão sábia. Apesar de ser um relato de uma garota de 13 anos, o texto é forte, machuca e reverbera por um tempo dentro da nossa cabeça. Além do livro, também conheci o anexo onde a família ficou escondida, mas antes de falar sobre a minha experiência, vamos conversar sobre quem foi Anne Frank.

O terror de uma família judia na Segunda Guerra Mundial

Filha de Otto e Edith Frank e irmã de Margot, Anne nasceu na Alemanha em 1929, num momento em que o país vivia uma situação de pobreza extrema e falta de empregos. O nazismo começa a ganhar força, assim como o ódio aos judeus, fatores que levam a família a se mudar para Amsterdam, na Holanda.

A família logo encontra um lar na nova cidade. Anne aprende a língua, passa a frequentar uma escola holandesa e faz novos amigos, enquanto os negócios de Otto prosperam. Quando a menina completa 10 anos, a Segunda Guerra Mundial começa.

Anne Frank Hui, em Amsterdam – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/NDAnne Frank Hui, em Amsterdam – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/ND

Regras são impostas para tornar a vida dos judeus cada vez mais complicada. Eles são proibidos de frequentar locais públicos, além de lojas, escolas e cinemas. Precisam inclusive utilizar uma estrela amarela para mostrar a sua origem. Otto perde a empresa, já que judeus não podiam mais ser donos de negócios.

Preocupado com o avanço da ocupação nazista, Otto Frank constrói um anexo secreto no prédio da casa comercial que administrava. Quando a família recebe um telefonema, em julho de 1942, chamando a filha mais velha, Margot, para trabalhar na Alemanha, Otto entende que é hora de se esconder.

Outras quatro pessoas se juntam à família Frank no esconderijo. O local era pequeno e apertado, com apenas os itens necessários para garantir a sobrevivência dos ocupantes. Para evitar que o anexo fosse descoberto, uma estante foi colocada na porta de acesso.

Os oito judeus passaram cerca de dois anos escondidos. Em nenhum momento deixaram o anexo, já que poderiam ser capturados e enviados a campos de concentração se fossem descobertos pela polícia nazista.

Os dias dentro do anexo foram difíceis. Faltava comida e mantimentos básicos, as discussões eram frequentes e o medo da guerra assolava todos os moradores. Anne encontrou no diário o qual ela apelidou de “Kitty”, uma maneira de se distrair do cotidiano monótono do esconderijo.

Uma menina de personalidade forte e cheia de sonhos

Sem sombra de dúvidas, Anne era uma menina à frente do seu tempo. Com personalidade forte, sonhava em ser jornalista, se dedicava de forma exemplar aos estudos, principalmente à disciplina de história e, além dos relatos diários, escrevia estórias curtas e até se aventurou a iniciar um romance.

Anne Frank era uma garota à frente do seu tempo – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/NDAnne Frank era uma garota à frente do seu tempo – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/ND

A ideia de Anne era publicar o diário como um relato fiel do período de perseguição aos judeus. No entanto as páginas de “Kitty” vão muito além de narrar as atrocidades da guerra; elas mostram as dúvidas, as “primeiras vezes” e os anseios de uma garota de apenas 13 anos, que teve a vida abreviada por um conflito desastroso.

Por vezes é difícil acreditar que o diário foi escrito por uma adolescente. Anne tinha opiniões fortes e controversas, até sobre a própria mãe. Escrevia de maneira profunda e filosófica, reconhece que está em uma posição privilegiada em relação a pessoas que não tiveram a chance de se esconder e demonstra esperança com o fim da guerra.

Um final triste

O diário termina incompleto. A polícia nazista descobre a existência do anexo secreto no dia 04 de agosto de 1944. Todos os moradores foram presos, além de pessoas que ajudaram as famílias. Anne e a irmã foram enviadas para um campo de trabalhos forçados. As duas morreram no ano seguinte, em consequência da febre tifóide, pouco antes da guerra terminar.

Capa de “O diário de Anne Frank”, edição oficial autorizada da Record – Foto: Pâmela Schreiner/NDCapa de “O diário de Anne Frank”, edição oficial autorizada da Record – Foto: Pâmela Schreiner/ND

O único sobrevivente do anexo foi Otto Frank, pai de Anne. Ele teve conhecimento sobre o diário por meio de Miep, uma das mulheres que ajudou a família no esconderijo. Após ler os relatos, decidiu realizar o sonho da filha postumamente e publicou as anotações. A primeira edição saiu no dia 25 de junho de 1947, com o título “O Anexo Secreto”.

Desde então, o diário já foi traduzido para cerca de 70 línguas e o anexo secreto se transformou no museu “Casa de Anne Frank”.

Uma experiência de leitura dolorosa

Claro que essa é apenas uma versão extremamente resumida da vida de Anne Frank. A leitura do diário deveria ser obrigatória para qualquer ser humano. A menina nos transporta para dentro do anexo secreto e para uma dura realidade que tirou a vida de milhões de pessoas.

Anne Frank Hui conta com relatos extremamente visuais – Foto: Pâmela Schreiner/NDAnne Frank Hui conta com relatos extremamente visuais – Foto: Pâmela Schreiner/ND

As divagações de Anne são a melhor parte do diário. Com toda a sinceridade de uma adolescente de 13 anos, ela fala sobre as brigas com a mãe, a amizade com o pai e até o florescimento de um possível amor com outro menino que está no anexo.

Por se tratar de uma história verdadeira, já iniciamos a leitura sabendo o final e isso dilacera o coração de qualquer leitor. Quando passamos a conhecer Anne, seus sonhos e angústias, quase criamos uma espécie de amizade com a menina. As últimas páginas são de puro choro.

Os relatos são extremamente visuais. Conseguimos nos imaginar dentro do anexo, vivendo com aquelas oito pessoas, que brigam bastante, mas também compartilham momentos de alegria, apesar do medo que os rodeia todos os dias. É importante destacar também que Anne escreve de uma maneira muito acessível.

Após concluir a leitura, conheci a “Casa de Anne Frank”, em Amsterdam. O diário já foi uma experiência intensa, mas o anexo a superou. Entrei e saí do local em prantos.

A visita é muito imersiva. Andar pelos corredores que aquela família andou, enquanto escutamos as passagens do diário, deixa qualquer ser humano desolado. Apesar de não ter sobrado muitos móveis do anexo, há diversas fotos, vídeos e até páginas originais do diário espalhadas pelos cômodos.

Estante que leva ao anexo secreto – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/NDEstante que leva ao anexo secreto – Foto: Organização Anne Frank/Divulgação/ND

Passamos por todos os ambientes descritos no diário: o escritório da empresa, a estante que esconde a entrada do anexo, as escadas, a sala comum e os quartos. Para mim, um dos detalhes mais emocionantes é a colagem que Anne fazia nas paredes. A menina se divertia recortando fotos de atrizes famosas em revistas e até organizando árvores genealógicas da realeza da época.

Não é permitido tirar fotos dentro do museu, mas a Fundação Anne Frank oferece um tour virtual muito interessante, que está disponível aqui.

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