São Vicente – Das origens aos nossos dias
17 Jun 2012

São Vicente – Das origens aos nossos dias

Descoberta no dia 22 de Janeiro de 1462 por Diogo Afonso, a ilha de São Vicente manteve-se desabitada durante quase quatro séculos. Esporadicamente visitada por navios piratas que encontravam no abundante gado pertença de alguns habitantes da vizinha ilha de Santo Antão farto alimento para as suas viagens, São Vicente ficou, durante muitos anos relegada ao esquecimento.

As várias tentativas de fixar gente na ilha de São Vicente, sempre se mostraram bastante difíceis, principalmente devido à endémica falta de água. O que é hoje o Mindelo, não passava de um simples lugarejo onde os pescadores das ilhas vizinhas encontravam abrigo nas suas lides da pesca. Segundo relatos da época, em 1795 foi concedida autorização a um habitante rico da ilha do Fogo para iniciar o seu povoamento, no entanto as dificuldades foram tantas, que o homem acabou na miséria.

A cidade do Mindelo, deve o seu nome ao facto da rainha D. Maria II, em 1835, querer assinalar o desembarque das tropas liberais comandadas pelo seu pai, no lugar do Mindelo, próximo de Viana do Castelo, em Portugal. Quarenta anos após a sua fundação, torna-se cidade por mérito próprio. É o seu porto, o Porto Grande, o motor do seu desenvolvimento. À semelhança das outras ilhas, São Vicente ainda usufruiu de mão de obra proveniente dos escravos da costa Este de África, no entanto, como não dependia destes para o seu desenvolvimento, cedo abdicou da sua presença. Este facto fez com que São Vicente se tornasse na primeira região de Portugal a libertar os escravos, muito antes das leis de 1888, impostas pelo Marquês Sá da Bandeira.

São Vicente

Devido ao importante papel do Porto Grande na navegação internacional da época, São Vicente desde cedo absorveu, como mais nenhuma das outras ilhas do arquipélago, o contacto com outras gentes, culturas e costumes. O Porto Grande torna-se então um importante ponto estratégico nas ligações entre a Europa e o Atlântico. São Vicente recebe fortes influências provenientes do mediterrâneo, com destaque para as oriundas da Madeira e Açores, e mais tarde de outros países europeus.

É a partir do século XIX que, na cidade do Mindelo, graças ao seu porto, se começa a implementar uma nova estrutura socioeconómica, com novos hábitos e gostos, trazidos pela forte presença inglesa na ilha. A ilha desenvolve-se baseada na centralidade do porto, fruto do grande volume de capitais e mão-de-obra. Cria-se pela primeira vez um imenso proletariado em Cabo Verde. O seu movimento portuário é fonte de atração das classes empobrecidas das outras ilhas.

Graças à sua privilegiada posição estratégica, São Vicente conhece uma hegemonia que contrasta com as outras ilhas do arquipélago. A sua economia depende, quase na sua totalidade, das atividades relacionadas com o Porto Grande, principal fomentador do comércio e atividade da região. São Vicente enche-se de oficinas de toda a espécie. A vida fervilha por toda a ilha. Por essa altura, o Mindelo tornou-se num importante centro cultural agregador de culturas dos mais diversos pontos da Europa, com especial relevo para a música, a literatura e o desporto.

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Por força da influencia da revolução industrial inglesa, a cidade desenvolve-se graças ao negócio do carvão. Esta, era fonte de atração das correntes migratórias, absorvendo as tradições que as pessoas mais humildes, traziam das outras ilhas. Formam-se grandes grupos sociais de empregados, domésticas e de mão-de-obra de crioulos livres. A cidade era então conhecida por morada, pois era o lugar onde se encontravam as casas de moradia, em oposição aos casebres das pessoas pobres, que se espalhavam em torno da urbe.

Falar no desenvolvimento da cidade do Mindelo é falar no desenvolvimento da atividade comercial inglesa, pois ambos estão intrinsecamente unidos. A presença dos ingleses na ilha, cedo se faz notar. Esta grande comunidade cria um clima de bem estar, refletido nos produtos de qualidade que se comercializam, pelas inúmeras atividades culturais e desportivas que fomentam e que transformam o Mindelo numa cidade de sonho, o que não acontecia em nenhuma outra ilha de Cabo Verde. Com os ingleses apareceu também outro tipo de vida, baseado no trabalho e na vontade de aprender e desenvolver. No entanto, fruto de toda esta atividade, também se criaram grandes mazelas sociais, que normalmente as cidades portuárias arrastam consigo: prostituição, alcoolismo, vagabundos e pedintes.

São Vicente desenvolve-se e torna-se num porto seguro para as pessoas provenientes das outras ilhas. Cria uma sociedade que é mais solidária e culturalmente mais desenvolvida que as restantes ilhas. Aprende a tolerar, o que se reflete nos brandos costumes das suas gentes.

Marcos importantes no seu desenvolvimento, foram a colocação, em 1874, dos cabos submarinos que ligaram a ilha de São Vicente à Madeira e posteriormente ao Brasil. Em 1886, estabeleceram-se as ligações à África e à Europa.

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No entanto, no início do século XX, com o aparecimento dos motores a diesel em detrimento do carvão, o seu porto começou a perder a hegemonia de outrora.

Do seu período áureo, a cidade do Mindelo ainda conserva um centro histórico relativamente bem preservado, onde predomina a arquitetura de estilo colonial. Aqui é bem patente toda a influência proveniente de outras paragens. O Mindelo faz lembrar as cidades portuguesas do início do século XX e por todo o lado se sente esta interposição. Inúmeros edifícios e casas, jardins e monumentos e até uma réplica da Torre de Belém de Lisboa podem ser.

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Em meados dos anos sessenta do século passado, as condições de vida de São Vicente melhoraram significativamente, quer devido a um maior interesse do governo da metrópole quer pelo aumento significativo das remessas provenientes dos emigrantes radicados nos EUA e na Europa.

Com o 25 de Abril de 1974, abriram-se as portas à descolonização e independência de Cabo Verde. Muitos quadros e técnicos que se encontravam fora, regressam à suas terras de origem, o que faz com que São Vicente e nomeadamente a cidade do Mindelo, mergulhe em mais um período de forte atividade comercial e cultural.

Atualmente, o perímetro da cidade alarga-se muito para além da Praça Nova, que, a quando da sua construção, se situava fora dos limites da então cidade. Contando presentemente com muitos residentes provenientes de outras ilhas do arquipélago, nomeadamente de Santo Antão e São Nicolau, a sua população continua a aumentar, estimando-se atualmente em cerca de 75.000 habitantes, 95% dos quais concentrados na cidade do Mindelo.

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O comércio e os serviços associados à industria naval e turística, são os motores económicos da ilha. Recentemente remodelado, o Porto Grande, continua a exercer a influência de outrora no tecido socioeconómico da sua população.

Fruto dos grandes avanços democráticos registados em Cabo Verde após a independência, São Vicente tem registado grandes progressos ao nível da educação, saúde e bem estar das suas gentes, o que as torna num povo hospitaleiro, que gosta de receber com amizade e conforto, fazendo de São Vicente a terra da morabeza.

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