O IPMA estimava que caíssem 70 a 120 milímetros de precipitação, na verdade chegaram a ser registados em Porto Moniz 178 milímetros. “Deveria ter sido emitido um alerta laranja”, assumiu esta noite Victor Prior, delegado na Madeira do Instituto Português do Mar e da Atmosfera. E essa acabou por ser a variação que promoveu o autêntico caos nas freguesias de Ponta Delgada e Boaventura, que chegou a ser descrito pelo presidente da primeira como “uma situação catastrófica” face aos estragos provocados que ainda estão por quantificar, às estradas que ficaram inacessíveis por se terem transformado em ribeiras, às casas inundadas e até mesmo a um cemitério coberto de água. “Se em 2010 foi o 20 de fevereiro, na Ponta Delgada nunca mais esquecemos o 25 de dezembro”, disse Miguel Freitas. Na última atualização, tinham sido retiradas 27 pessoas por precaução, com duas casas danificadas.

Muita chuva, granizo e inúmeras inundações. As imagens do temporal na Madeira

“Estavam em situação de grande risco e aquilo que fizemos foi resgatar essas pessoas e colocar em casas de familiares e amigos. Eram de vários pontos da freguesia, sobretudo de zonas mais baixas. Havia habitações que estavam com um ou dois metros de água. As pessoas estavam assustadas e fizemos o que foi possível fazer e agora estão em segurança. Em coordenação com a Câmara, com a PSP e com os bombeiros, estamos preparados para receber mais pessoas. A situação agora está minimamente controlada mas precisamos que pare de chover para depois percebermos se houve mais alguma situação que nos tenha passado. As nossas ruas estão cheias de inertes, intransitáveis. Houve uma habitação que desapareceu mas que não era habitada”, explicou pouco depois das 19h Miguel Freitas, em declarações à RTP3. “São situações cíclicas que acontecem, em 1981 aconteceu aqui o mesmo e também o cemitério ficou inundado”, completou depois à SIC Notícias, pedindo mais uma vez para que ninguém tentasse dirigir-se a Ponta Delgada enquanto não fosse seguro.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

[Ouça aqui as declarações de Victor Prior, delegado na Madeira do Instituto Português do Mar e da Atmosfera, à Rádio Observador]

Temporal na Madeira. “Chuva forte até ao início da madrugada”

Nenhuma das estradas da freguesia esteve transitável a não ser para elementos que tenham sido acionados e o túnel da Fajã da Areira, que liga Ponta Delgada a São Vicente, ficou inundado. Houve também oito turistas com as duas viaturas presas no túnel da via Expresso que liga Boaventura a Ponta Delgada, segundo o DN Madeira. O grupo terá tentado ainda inverter a marcha mas ficou preso entre duas derrocadas e ficou refugiado até ser retirado pelas autoridades, estando em marcha a limpeza do lado do túnel de Ponta Delgada. Já tinham sido confirmadas antes derrocadas em algumas zonas no norte da Madeira, sendo que a casa que ruiu em Ponta Delgada estava desabitada. Existiu um gabinete de crise reunido com o presidente da Câmara de São Vicente.

“Foi uma forte precipitação que culminou com várias derrocadas em vários ribeiros das freguesias da Ponta Delgada e da Boaventura, transbordou para as próprias vias e alastrou-se para os arruamentos secundários e moradias, as casas das pessoas. Foi uma situação preocupante, os meios foram acionados, foram socorridas as pessoas que mais precisavam. Foram 27 pessoas por precaução para casa de familiares e amigos, 20 da Ponta Delgada e sete da Boaventura”, disse José António Garcez, presidente da Câmara de São Vicente, às 20h30. “Existe uma casa muito danificada e mais outra com alguns danos”, acrescentou. João Fino, secretário regional dos Equipamentos, referiu que “estão a avançar trabalhos de desobstrução nas estradas regionais 211 e 220 mas apenas poderão ficar concluídos no sábado”, tendo em conta as limitações de proceder às operações durante a noite.

“Agora temos de esquecer este dia de Natal. Parece que a situação [tempo] vai ficar estável, pelo menos é o que se espera. A situação agora é de limpeza e aguardar que as máquinas façam o seu trabalho e minimizar alguma hipótese de as coisas correrem mal. Só amanhã [sábado] vamos fazer o rescaldo desta tragédia que, para mim e como autarca, classifico de tragédia. As ruas praticamente ficaram intransitáveis, só agora estamos a fazer os trabalhos de limpeza, sei que há muitas casas que ficaram danificadas mas, felizmente, não tivemos perdas humanas, pelo menos, até agora não há qualquer informação nesse sentido e os danos foram apenas materiais. A zona da Primeira Lombada está isolada, não é conveniente transitar, mas as pessoas estão seguras, estão bem e não há a reportar qualquer dano humano”, comentou à agência Lusa ao final da noite Miguel Freitas.

No Funchal também caiu granizo, embora a situação tenha ficado mais calma ao final da tarde.

Cemitério numa piscina

Posted by Fábio Freitas on Friday, December 25, 2020