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Igor, Fairy e Lily estrelam novo espetáculo no Manouche — Foto: Brenno Carvalho
Igor, Fairy e Lily estrelam novo espetáculo no Manouche — Foto: Brenno Carvalho

As luzes se apagam e surge, no palco, a figura clássica do Malandro, vestido com terno de linho branco e chapéu. Ele caminha na ponta dos pés, mostra o gingado e, bem diante do público, inicia uma metamorfose. Transforma-se numa passista de escola de samba, com cabeça de plumas e adereço nos ombros. A plateia vai ao delírio.

A performance da artista Ewä corre o país no rastro de uma cena em ascensão em diferentes cidades, como Rio, São Paulo e Curitiba: um burlesco essencialmente brasileiro. Desde que as casas de espetáculos e clubes noturnos voltaram a funcionar, depois dos longos meses de isolamento pandêmico, artistas identificados com o estilo passaram a ser mais requisitados, enquanto exibem trabalhos cheios de autenticidade.

Ewä, que morou por anos no bairro carioca da Lapa e hoje vive em São Paulo, enxerga na apresentação uma catarse pública. “É como se estivesse me libertando de correntes”, define, ao falar sobre como atualiza um estilo que tem uma de suas origens localizadas na Europa do século XVI. “O burlesco sempre foi muito branco e elitizado. Mostro que as pessoas pretas também podem falar do dia a dia delas nos espetáculos.”

Assim como ela, artistas de diferentes origens, gêneros e corpos estreitam os laços dessa arte com as pautas contemporâneas. Colega de Ewä, com quem fundou o grupo The Girls From Madureira, um dos primeiros coletivos de burlescas negras no Brasil, a artista Petit Cappuccine é dona de outra apresentação de sucesso, em que aborda a morte de um primo causada por uma bala perdida na Baixada Fluminense. “Temos liberdade de criação, porque não há a interferência de diretores”, afirma, sobre a variedade de temas. “Podemos provocar risos, e isso ser bastante desconfortável, ou levar o público a um lugar de desejo inesperado.”

A alta presença de mulheres também faz das temáticas feministas um mote frequente nos números. Um deles é protagonizado por Rubia Romani que, além de sua persona feminina Ruby Hoo, leva aos palcos Rubão, um deboche sobre os estereótipos masculinos. Em uma das montagens mais famosas, Rubão se despe diante do público até encontrar uma espécie de redenção ao revelar o corpo feminino da artista por trás do personagem. “O burlesco é uma bomba. Em cinco minutos de apresentação, você fez uma provocação e mexeu com todo o ambiente”, diz a artista.

Pioneiro dessa movimentação artística no Brasil e no Rio, onde fundou, nos anos 2010, o “Cabaré diferentão” e também o “Yes, nós temos burlesco”, que acontece anualmente no Teatro Rival, DFenix já viajou pelo mundo por meio da sua arte. Hoje é diretor de relações globais da BurlyCon, convenção dedicada ao tema baseada em Seattle, nos Estados Unidos, enquanto continua a impulsionar a cena brasileira com workshops em que ensina as bases do burlesco. “Estão ligadas à sexualidade, ao striptease e ao deboche”, cita, ressaltando também o seu foco em garantir a presença de corpos dissidentes nas apresentações. “Nas aulas, mostro a lógica da burla (de burlar padrões e convenções) e os movimentos de corpo criados por bailarinas importantes, que viveram um boom entre as décadas de 1930 e 1950, nos EUA.”

Parceira de DFenix na criação do “Yes, nós temos burlesco”, Miss G é outra pioneira em franca atividade. Hoje moradora de Curitiba, é responsável pelo espetáculo “Terça burlesca”, que rola semanalmente na capital paranaense e tem, em seu currículo, o fato de ser a mentora de vários nomes que despontaram nos últimos anos. “Sempre digo que não existe estrela solitária, mas constelação. Temos esse espírito de que precisamos estar juntos”, salienta.

Como DFenix, ela afirma que tornar o burlesco mais diverso é uma de suas maiores preocupações. Ver toda a autenticidade exibida pelos novos artistas, portanto, é um sinal de que esses esforços têm alcançado resultados. “Acho que estamos, neste momento, criando a identidade do que é o burlesco brasileiro. Olhamos para a nossa própria história, na hora de criar os números”, observa.

A bailarina Anita Malcher, que tem Miss G como inspiração, é um desses casos de puro suco de Brasil. Seus avós foram fundadores de uma escola de samba em Cametá, no interior do Pará, e ela usa justamente as plumas que restaram dos desfiles da agremiação para produzir os leques e os figurinos. E vai além: “Meu trabalho é focado em tudo o que vivenciei no Norte, com o carimbó e as danças do Pará. Também pesquiso a belle époque amazônica”. Nessa mistura, há ainda um pitada de artes visuais, outra paixão. “Estou montando um número inspirado na Vênus de Botticelli”, adianta, numa autêntica antropofagia burlesca.

De olho nessa efervescência, um novo espetáculo entrará, em breve, para o circuito carioca. O “Corpos indomáveis e outras maneiras de usar a boca” fará parte da programação mensal do Manouche, a partir de 29 de abril, e se junta a eventos como o “Noites burlescas”, no Rival, e “Cabaré tá na rua”, na sede da companhia de teatro de Amir Haddad, na Lapa. Diretora artística da casa, Alessandra Debs promete unir shows de dança e declamações de textos nas apresentações. “Estamos interessados num burlesco que fala de modo contundente dos tabus presentes na nossa sociedade, com um corpo diverso, político, social e enquanto lugar de prazer”, avisa.

Para isso, vão entrar em cena artistas como Lily Corbeau, com sua persona gótica de humor carioca, e Igor de Sá, que usa o corpo para desconstruir padrões masculinos e falar sobre bissexualidade. Junto a eles, estará Fairy Adams, uma veterana dos palcos do Rio e testemunha do “aquecimento” dessa cena. “No ano passado, fiz mais de cem apresentações. Chegamos com os dois pés na porta”, comemora, ao mesmo tempo em que reconhece a existência de um vasto território a ser desbravado. “Temos muito público a conquistar. Muitas pessoas ainda pensam que o burlesco só é forte na gringa. Só não sabem que o nosso é melhor. A gente tem ziriguidum.”

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