Fato ou Fake

É #FAKE que vacinas de RNA mensageiro provocam doenças autoimunes

Especialistas refutam vídeo com informações falsas que circula nas redes sociais.
É #FAKE que vacinas de RNA mensageiro provocam doenças autoimunes Foto: Reprodução
É #FAKE que vacinas de RNA mensageiro provocam doenças autoimunes Foto: Reprodução

RIO  — Circula nas redes sociais um vídeo sobre o funcionamento das vacinas de RNA mensageiro que diz que elas causam doença autoimune. Isso é #FAKE.

O imunologista Daniel Santos Mansur, da Universidade Federal de Santa Catarina, descreveu a ação das vacinas de RNA mensageiro como uma forma de provocar resposta imune no organismo humano para servir de proteção ao coronavírus sem que tenha ocorrido a infecção de fato. Vacinas como a da Pfizer e a da Moderna utilizam esse método para proteger o corpo da Covid-19.

"Sobre gerar uma doença autoimune, não existe nenhum dado que indique isso, nem nos ensaios clínicos de fase 3 nem nos milhões de pessoas que já foram vacinadas", disse.

"Existem alguns efeitos adversos, que podem ser graves, mas são extremamente raros. Pegar a doença é muito pior do que se vacinar e ter a possibilidade de ter um efeito colateral."

O francês Steve Pascolo, também imunologista, que atua como pesquisador da Universidade de Zurique,  afirmou à Rádio França Internacional (RFI) Brasil que as vacinas de RNA mensageiro não são uma novidade. Imunizantes anteriores à pandemia já utilizavam essa mesma tecnologia. Como exemplos, ele citou a tríplice viral, contra caxumba, sarampo e rubéola.

O virologista Rômulo Neris, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, também enfatizou que não há dados apontando que vacinas sejam capazes de causar quadros autoimunes na população imunizada.

"Alguns casos de pessoas que receberam diagnóstico após a vacinação contra Covid são utilizados como 'prova' de que ambas as coisas estão ligadas, mas isso é chamado de evidência anedótica, pois não foi possível estabelecer uma relação direta entre ambos os eventos", afirmou.

Neris definiu a vacina de RNA mensageiro, conhecida também como mRNA, como a responsável por entregar ao organismo humano uma parte do código genético do SARS-CoV-2. Isso faz com que as células do corpo produzam a proteína spike do vírus.

"O aumento dessa proteína estranha chama a atenção do nosso sistema imunológico, que identifica e monta defesas contra a proteína. Assim, ao ser exposto ao coronavírus de verdade, um indivíduo vacinado tem menor chance de desenvolver complicações e vir a óbito decorrente da infecção", explicou.

Diferentemente do que é afirmado no vídeo com conteúdo falso, o processo desencadeado no organismo não é uma "doença autoimune". Segundo Neris, o que ocorre é conhecido como "transcrição", que não representa perigo.

"RNAs mensageiros são moléculas que duram pouco tempo no nosso organismo, geralmente horas, sendo destruídas em seguida", disse.

"Por isso, mesmo as proteínas spike produzidas pelo RNA presente na vacina também duram muito pouco tempo. Isso torna extremamente improvável um mecanismo de doença inflamatória que aconteça meses ou anos depois da vacinação, como clamam algumas fake news."

Um acontecimento recente que gerou disseminação de informações falsas foi a morte de uma adolescente em São Paulo. Embora ela tenha sido vacinada, seu óbito uma semana depois não teve relação com o imunizante. Conforme já verificado pelo Fato ou Fake , o governo paulista, após análise conjunta realizada com 70 pesquisadores, confirmou que a causa provável da morte foi uma doença rara, autoimune e potencialmente fatal chamada Púrpura Trombótica Trombocitopênica (PPT). Na semana seguinte, a Anvisa chegou à mesma conclusão, após análise da farmacovigilância do órgão.

Assim como Mansur, Neris também explicou que reações adversas podem acontecer, mas a maioria aparece como dor e inchaço no local de aplicação ou é percebida como reações leves, como cansaço, febre e indisposição.

"Reações adversas graves a vacinas de RNA mensageiro são eventos extremamente raros e, entre os conhecidos, estão inflamações agudas no coração (miocardite), e anafilaxia com pouco mais de 1 a 10 casos a cada 1 milhão de doses aplicadas dependendo da faixa etária", acrescentou.