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Luís Pato escolhe os quatro vinhos mais marcantes de seus 40 anos de carreira

Produtor icônico da Bairrada fará prova especial na edição 2020 do Vinhos de Portugal em comemoração de sua primeira vindima
Luís Pato, que comemora 40 anos de sua primeira vindima, estará em uma prova especial de seus vinhos na edição 2020 do Vinhos de Portugal Foto: Adriano Miranda/Público
Luís Pato, que comemora 40 anos de sua primeira vindima, estará em uma prova especial de seus vinhos na edição 2020 do Vinhos de Portugal Foto: Adriano Miranda/Público

Luís Pato está sempre viajando com os seus vinhos. “Um vinho não industrial tem uma história e uma cara por trás, e a cara tem que aparecer”, filosofa aquele que deve ser o produtor português mais conhecido no exterior. Referência maior da Bairrada, este ano ele celebra 40 anos de carreira.

Aos 72 anos, sua energia parece inesgotável, assim como a rebeldia e a capacidade de se adaptar às novas tendências do vinho. Ele é o “Pato Rebel”, o “Duckman”, o classicista que também faz, mais recentemente, vinhos ditos naturais, ainda turvos, para vender a uma nova geração de consumidores.

Para marcar a efeméride, desafiamos Luís Pato a escolher um vinho marcante de cada uma das quatro décadas.

Na edição 2020 do Vinhos de Portuga l, que será realizada de 23 a 25 de outubro em plataforma digital, Luís Pato participará de uma prova de seus vinhos ao lado do Master of Wine Dirceu Vianna Júnior. Para comprar ingressos, basta acessar o site: www.vinhosdeportugal2020.com.br

Luís Pato Vinhas Velhas 1998

Luís Pato se formou em Engenharia Química, mas tanto ele como a mulher descendem de duas famílias tradicionais da Bairrada ligadas ao vinho. A adega atual nasceu, grosso modo, a partir das quintas do Ribeirinho (da família Pato) e das Valadas (da família Melo Campos).

A Quinta do Ribeirinho produz vinho desde o século XVIII, e a primeira geração a engarrafar vinho das próprias vinhas foi a de João Pato, pai de Luís, em 1970. Os dois nunca trabalharam juntos.

“O meu pai achava que eu era jovem demais, que não entendia nada”, conta.

Em sua adega, Luis Pato mostra o seu primeiro vinho, o Bairrada vinho tinto 1980, um monovarietal de Baga. Raridade absoluta, é hoje procurado por apreciadores Foto: Adriano Miranda / Adriano Miranda/Público
Em sua adega, Luis Pato mostra o seu primeiro vinho, o Bairrada vinho tinto 1980, um monovarietal de Baga. Raridade absoluta, é hoje procurado por apreciadores Foto: Adriano Miranda / Adriano Miranda/Público

Depois de trabalhar como professor de Química e em uma cerâmica da família da mulher, Luís Pato fez seu estágio no mundo do vinho na adega da sogra, em Óis do Bairro.

O seu desafio era ultrapassar o estigma associado à Bairrada e a sua principal casta, a Baga, de que só fazia um bom vinho uma ou duas vezes por década. O clima úmido da região e o ímpeto tânico da Baga eram uma equação quase irresolúvel. Ela talvez precisasse ser trabalhada de outra forma, e é aqui que Luís Pato começa a deixar a sua marca. Em 1985, ele decide desengaçar as uvas e estagiar os vinhos em barricas novas de carvalho francês, duas novidades na região.

Alguns anos mais tarde, recebeu na adega o jornalista José Salvador, um dos primeiros a escrever sobre vinhos em Portugal, que, impressionado com a qualidade do vinho de vinhas velhas, incentivou-o a engarrafá-lo à parte e até com a indicação de “vinhas velhas”. Foi assim que nasceu o Luís Pato Vinhas Velhas 1988, o primeiro “Vinhas Velhas” de Portugal.

Trinta e dois anos depois, está um vinho monumental, ainda vivo e inteiro. Povoado de complexas e exaltantes notas químicas, impressiona pela sua solidez tânica e deliciosa frescura mentolada. Ainda tem muitos anos pela frente.

Luís Pato Vinha Pan 1995

Em 1988, Luís Pato tomou outra decisão pioneira. Plantou na Quinta do Ribeirinho uma parcela de Baga em pé franco (vinhas não enxertadas) em solo arenoso, para compreender os vinhos pré-filoxéricos (a doença que atingiu as vinhas em todo o mundo no final do século XIX e levou a que se fizessem enxertos).

Em 1995, ele voltou a inovar, lançando os seus primeiros vinhos de parcela, à moda da Borgonha. Foram logo três: o Vinha Pan, o Vinha Barrosa e o Quinta do Ribeirinho Pé Franco. Como vinho representativo da década de 90, escolheu o primeiro.

Luís Pato Vinha Barrosa 2009

Ficará para a história o tinto Vinha Barrosa 2009, o primeiro a usar a designação borgonhesa de “monopólio”, atribuída a uma vinha de grande qualidade pertencente a um único proprietário.

“A Vinha Barrosa é mesmo monopólio, porque à volta só há pinheiros e eucaliptos”, graceja Luís Pato.

Em 2009, o mundo do vinho ainda era dominado pelo “gosto Parker”, imposto pelo crítico americano Robert Parker, adepto dos vinhos potentes e com estágio em barrica nova, a quem Luís Pato não ficou indiferente. Seu Vinha Barrosa 2009 enquadra-se um pouco nessa linha. É um vinho bairradino na essência, mas de perfil um pouco mais internacional, mais Bordeaux, apesar de ostentar uma designação típica da Borgonha. O que o distingue de outros Baga de Luís Pato é a sua quase perfeição, a ausência de arestas. É o afinamento dos seus taninos, a elegância e a intensidade do seu sabor.

Quinta do Ribeirinho Pé Franco 2015

Segundo Luís Pato, os anos terminados em 5 originam sempre grandes vinhos na Bairrada. Pode ser um fetiche, mas o vinho que o tornou conhecido no exterior data de 1995: o Quinta do Ribeirinho Pé Franco.

E este é o vinho icônico de Luís Pato e até da Bairrada. Faz parte do restrito grupo dos grandes tintos portugueses. O mais meritório neste caso é ser um vinho com a cabeça e o dedo do seu criador porque, como se contou aqui, tem origem numa vinha de Baga plantada em pé franco pelo próprio.

Luís Pato nos apresentou o Quinta do Ribeirinho Pé Franco juntamente com o Quinta das Valadas do mesmo ano, para mostrar o comportamento da Baga em diferentes solos. Ambos os vinhos têm origem em vinhas de pé franco, mas, enquanto o solo da Quinta do Ribeirinho é arenoso, o da Quinta das Valadas é dominado pelo barro. O primeiro vinho passou dois anos em barricas de carvalho novas, o segundo apenas nove meses em carvalho usado.

“O barro já dá toques defumados ao vinho, não tolera carvalho novo”, explica.

O curto tempo de estágio em madeira explica a maior vivacidade do Quinta das Valadas e também a sua menor espessura. Por ser mais delgado e menos estruturado, a sensação de frescor também é ligeiramente superior, o que o torna bastante guloso. O Quinta do Ribeirinho é, no entanto, um vinho mais sério, um Baga potente mas bem proporcionado, de grande solidez tânica mas muito elegante, fogoso e vibrante. Um vinho que alia de forma prodigiosa sensações defumadas e especiarias com notas mentoladas muito refrescantes.

Se tivéssemos que escolher um vinho que fizesse a síntese da sua carreira e pudesse mostrar o potencial da Baga e da Bairrada, o Quinta do Ribeirinho Pé Franco seria sempre o eleito. Luís Pato escolheu-o certamente também pelas mesmas razões e, se optou pelo 2015, é porque é mesmo um dos melhores desta década.

Vinhos de Portugal é uma realização dos jornais O Globo, Valor Econômico e Público, com parceria de ViniPortugal, apoio da Comissão Vitivinícola do Alentejo, Agência Regional de Promoção Turística do Centro de Portugal, Associação Portuguesa de Cortiça (APCOR), Mozak e AGO, participação do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP), Azeites Esporão e Comissão Vitivinícola do Dão, projeto da Out of Paper, hotel oficial Onyria Quinta da Marinha, taça oficial Schottt Zwiesel, rádio oficial CBN e apoio institucional do SindRio.

SERVIÇO

Vinhos de Portugal: de 23 a 25 de outubro. Programação e ingressos no site:
vinhosdeportugal2020.com.br

Salão de Degustação (ingresso para os três dias): R$ 75 + taxa de 10% (sem vinho) e R$ 155 + taxa de 10% (com um vinho e brindes; RJ e SP). Assinantes O GLOBO têm 20% de desconto.

Provas (ingresso por live): R$ 90 + 10% (sem vinho) e de R$ 410 a R$ 950 + 10% (com três ou quatro vinhos e brindes; RJ e SP). Comprando o ingresso para a Sala de Provas com o kit de vinhos, o participante também pode acessar as lives do Salão de Degustação.

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