Olha, uma planária!

Para a maioria das pessoas que lembram algo das aulas de Ciências e Biologia, as planárias são “aqueles vermes achatados, com simetria bilateral, que, quando cortado transversalmente, são capazes de se regenerar em dois ou mais “novos” indivíduos”.

BIOLOGIA e SISTEMÁTICA - As planárias são invertebrados de vida livre pertencentes a Classe Turbellaria, um conjunto psicodélico de seres aquáticos e terrestres que variam entre 1 a 10 cm do filo Platyhelminthes (ou platelmintos). O parente mais famoso das planárias, no entanto, são as tênias –um platelminto parasito do sistema gastrointestinal de vertebrados, incluindo o ser humano, o qual você deve ter estudado na escola. As planárias, por outro lado, vivem em meio as folhas do chão das florestas, mas também podem ocorrer em jardins gramados e composteiras. As espécies terrestres de planárias são geralmente confundidas com as lesmas, um tipo de molusco.

Quantas vezes você já se deparou com uma planária na sua vida?

HISTÓRIA DE CAMPO - Ainda não sei ao certo quão comum deve ser encontrar uma planária na natureza. Eu já tive essa sorte algumas vezes, todas por acaso, obviamente. Essa linda #planária amarela do vídeo, por exemplo, eu encontrei em agosto de 2019 enquanto fazia coleta de mosquitos com meu amigo @luizeduardomacedo na beira do rio Doce, em Regência/ES. (Isso mesmo, tem biólogo que vai para o meio do mato, bem naquela hora que a vó pede para fechar a janela, para caçar Culicidae, os insetos parentes das moscas popularmente chamado de pernilongos, muriçocas, carapanãs!)

Mais recentemente, em dezembro de 2019, achei uma #planária quase preta de uns 7 cm enquanto chegava no meio de uma noite úmida até a sede Observatório de Aves da Mantiqueira @oamantiqueira em Bocaina de Minas/MG. E em algumas outras oportunidades que agora eu não me lembro exatamente. Eu sei que eu já vi esses bichos algumas vezes, sempre em ambiente terrestre (no solo), inclusive de dia!

ALIMENTAÇÃO, REPRODUÇÃO, RESPIRAÇÃO... – As planárias são predadoras noturnas de cupins, minhocas, larvas de insetos e diversos outros invertebrados que vivem no solo, entre folhas secas caídas e troncos em decomposição. Elas projetam sua boca e imobilizam as presas com um muco, mas seu tubo alimentar é incompleto. Muitas espécies são hermafroditas e podem se reproduzir por cópula entre indivíduos ou pela fissão do corpo em cortes transversais. Não possuem sistema circulatório ou respiratório, desempenham essas funções por difusão simples. O sistema nervoso primitivo é formado por uma estrutura semelhante a um cérebro localizado na região anterior do corpo destes vermes. Para completar, estes animais têm ocelos pigmentados capazes de captar a luz, orientando assim o lento deslocamento no espaço.

DIVERSIDADE – Embora sejam coloridas e com variados padrões de manchas e listras, a diferenciação mais precisa entre as espécies de planárias se dá por meio da análise anatômica interna do órgão copulador e análises genéticas. Existem mais de 990 espécies de planárias terrestres conhecidas em todo o mundo. No Brasil, com base nas informações que encontrei, foram registradas até 2016 cerca de 190 espécies. A maioria das planárias conhecidas no país foram encontradas na Mata Atlântica, nos estados do sul e sudeste, o que demonstra escassez de coletas no Cerrado, Caatinga, Pantanal e Amazônia. Ao que tudo indica, existem poucos especialistas brasileiros dedicados a este grupo de animais.

Ou seja, um monte de possíveis espécies novas e descobertas inéditas em ecologia, genética, evolução, fisiologia, bioquímica...um nicho pouco explorado!

ONDE e QUANDO ENCONTRA-LAS – Se alguém um dia me perguntasse, como se faz para encontrar planárias...do pouco que eu vi e li diria: revire e investigue troncos em decomposição, rochas e acúmulos de folhas secas no solo (serapilheira) de florestas e/ou jardins gramados durante noites úmidas.

ATENÇÃO: NÃO COLETE PLANÁRIAS sem licença para estudos ambientais! ALTO RISCO DE INVASÃO BIOLÓGICA. Um indivíduo pode ser suficiente para ocorrer uma invasão biológica. 

SAIBA MAIS sobre PLANÁRIAS em:

https://www.biotaneotropica.org.br/v8n4/pt/fullpaper?bn01908042008+pt

http://planarias.each.usp.br/

http://planarias.each.usp.br/system/artigos/27/original/15-2010_Carbayo_et_al_CH_267.pdf