Inspiração Ilustração – Livros da Anita

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Nem me venham dizer que a minha querida Anita agora é Martine. Tal como uma velha do Restelo, recuso-me a acompanhar o avançar dos tempos e chamar Martine à Anita.

Pelo amor de deus, há coisas sagradas, tá?

Agora que já esclarecemos que a Anita será sempre Anita, vamos falar das ilustrações infantis mai lindas de sempre?

Quanto às estórias em si, eram giras e tal, mas a verdade verdadeira é que eu passava muito mais tempo a ver as ilustrações do que a ler. Afinal leio desde tenra idade, e uma estória que cabe numa pagina A4, lê-se assim para o rapidinho.

No entanto as ilustrações… podia passar horas a ohar para elas. Vamos ter em conta que na altura não havia net e as distracções na aldeia eram poucas.

E temos de falar disto. O primeiro livro publicado em Portugal foi Anita dona de casa,em  1965. Dizer que o titulo é machista é pouco, mas vamos dar o desconto de serem outros tempos.

Talvez por já ter uma feminista dentro de mim, ainda que não soubesse que se chamava assim, sempre achei a Anita uma personagem assim um bocadinho sem sal. Apesar de super ser influenciada e querer fazer ballet por causa dela e da Catarina Furtado também.

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E a verdade é o que tornava tudo mais interessante eram as roupas da menina. Ca pinta que ela tinha, com aqueles vestidinhos curtos e o seu ar francês. Tanto que ainda hoje me refiro ao vestido Anita. Que nada mais é que um vestido curto de corte a direito. Vestido Anita, para mim não pode ter outro nome.

Agora que penso nisso, não sei como pudemos achar que ela se chamava Anita. As Anitas vestem-se com shorts de cabedal e blusa oncinha, já as Martines tem todo um ar de elegância. Vai-se a ver e afinal até fez sentido mudarem-lhe o nome.

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E o responsável pela indumentária desta miúda, é o ilustrador belga Marcel Marlier, nascido a 18 de Novembro de 1930 (Alô migo escorpião. Migas esotéricas, sentem aqui uma afinidade à arte graças ao meu signo?) e o criador destas belíssimas ilustração, desde a primeira edição em 1954 até 2010.

As primeiras ilustrações eram a aguarela, mas depois passaram a ser a guache maioritariamente. Pois dizem por aí que este material era mais fácil de retocar após o desenho estar finalizado e permitia um trabalho mais rápido.

Estas ilustrações com um visual muito próximo da pintura, trouxe um diferencial ao que era feito na época. Com a paisagem como cenário de fundo, mas sem perder a atenção ao detalhe. Pode-se perceber a sensibilidade do artista para trabalhar a luz na maneira como pinta as paisagens em cada ilustração.

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E vamos falar do domínio de anatomia? Percebe-se o exagero da proporção da cabeça para fazer perceber que é uma criança e aumentar também o ar fofinho, não é verdade? Mas vemos as personagens em diversas posições e tão sempre bem. Até a fazer ballet. Lindas e maravilhosas, o Degas deve tar super depré por ter competição.

As expressões faciais também estão lá. Aliás o ilustrador tem um traço tão marcado que facilmente se consegue perceber quando um desenho é dele, ainda que a a Anita não apareça.

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E se achavam que o senhor só era bom a desenhar pessoas e paisagens (porque já é coisa pouca) também é muito bom a desenhar animais. A Anita como qualquer boa moça que se preze sem traços de psicopatia, era uma animal lover, e tinha o seu Patusco (o seu cão) e o Bigodes que era o seu gatinho.

O ilustrador diz ter-se inspirado no seu próprio cão para desenhar o Patusco. Por esse motivo enquanto o resto dos personagens foi-se alterando ao longo dos anos, o Patusco foi o que permaneceu igual. Botox – dirão as más línguas.

Um dos animais que Marcel Marlier gostava de desenhar era cavalos, e claro que os desenhava bem. Olhem que eu tive um ano a desenhar cavalos para oficina de artes e o raio do bicho tem uma fisionomia difícil para xuxu.

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Desenhar bem cavalos é só assim a cereja no topo de bolo, para mostrar a maravilhosa técnica do home. Basicamente tá a mandar beijinho às inimigas como eu que querem desenhar os seus animais de estimação e sai uma coruja com cara de cão. Pronto, Marcel, já percebemos, és melhor que nós. Pelo menos, melhor que eu.

Acho que já perceberam que gosto muito das ilustrações dele (nostalgia) e depois deste post fiquei com vontade de desenhar outra vez a minha cadela #masoquista

Confesso que tenho saudades deste tipo de ilustração, agora só se vê bonecos em 3D. Volta Disney do antigamente, estás perdoada.

Pronto, sei que sou só eu a ser velha, mas é impossível não ficar nostálgica quando falamos de livros que marcaram a minha infância. E apesar da Mafaldinha ser a minha personagem de eleição,  a Anita terá sempre um lugar cativo na minha memória. A não ser que o Alzheimer me trame.

Imagens . Imagens. Imagens

 

dividor

 

E vocês, que livros da infância não conseguem esquecer?

Aquele kiss

Angelini

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