24 horas, 900 quilómetros: a rebelião que quase chegou a Moscovo

24 jun, 2023 - 20:45 • Fábio Monteiro , Marta Pedreira Mixão (vídeo)

Militares do grupo Wagner já estavam a 200 quilómetros de Moscovo, quando Putin e Prigozhin chegaram a acordo. Em menos de 24 horas, país ficou em estado de sítio. Autoridades russas começaram mesmo a destruir estradas que davam acesso a Moscovo e a cavar trincheiras.

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24 horas, 900 quilómetros: a rebelião que quase chegou a Moscovo
Vídeo: Marta Pedreira Mixão

Em menos de 24 horas, muito aconteceu na Rússia – o suficiente para pôr a capital russa em estado de sítio. E para Vladimir Putin aludir à possibilidade de uma guerra civil.

Na sexta-feira, ao cair do dia, Yevgeny Prigozhin, líder do grupo Wagner, mudou de trincheira, rebelou-se contra o Presidente da Rússia. Porquê? Ao contrário do que o regime de Putin alega (falsamente), a guerra na Ucrânia não é “necessária”, nunca teve como propósito “desmilitarizar ou desnazificar” o país, justificou.

“Somos 25 mil e vamos descobrir os motivos do caos que está a acontecer no nosso país. Aqueles que destruíram a vida de dez milhares de soldados russos vão ser punidos”, disse ainda.

Acompanhado pelo seu exército de mercenários, Yevgeny rumou a Moscovo; quase sem resistência, fez 900 quilómetros, conquistou duas grandes cidades russas - Rostov e Voronezh -, e tomou o controlo das respetivas instalações militares.

O grupo Wagner encontrava-se já a 200 quilómetros da capital russa, quando, num acordo mediado por Alexander Lukashenko, Presidente da Bielorrússia, Prigozhin aceitou travar a rebelião.

Numa mensagem de áudio divulgada na rede social Telegram, justificou a decisão dizendo que quis evitar um “banho de sangue russo”.

“Eles iam desmantelar o grupo Wagner. Decidimos avançar no dia 23 para a Marcha da Justiça. Num dia, percorremos uma distância de até quase 200 quilómetros de Moscovo. Durante este tempo, não foi derramada uma única gota de sangue dos nossos combatentes. Agora, chegou o momento em que o sangue pode ser derramado. Foi por isso que, compreendendo a responsabilidade de derramar sangue russo dos dois lados, decidimos recuar a nossa coluna militar e regressar à nossa base”, afirmou.

Um susto para Putin

O avanço rápido de Prigozhin em território russo apanhou Vladimir Putin de surpresa, é quase certo.

Ainda na manhã deste sábado, Putin pediu aos russos para unirem forças, resistirem à "traição", "facada nas costas" e "aventura criminosa” do líder do grupo Wagner.

O Presidente russo aludiu mesmo à possibilidade de uma guerra civil na Rússia.

Logo de seguida, assinou um decreto que permite detenções de 30 dias por violação da lei marcial nos locais onde esta foi imposta. Leia-se: cidades visitadas, controladas pelo grupo Wagner.

Sobressalto em Moscovo

Apesar de os mercenários do grupo Wagner não terem chegado a Moscovo, uma onda de pânico varreu a capital russa. Todos os voos para destinos como Tbilisi, na Georgia, Astana, no Cazaquistão, Istanbul, na Turquia, esgotaram.

Sergei Sobyanin, autarca da Moscovo, declarou uma operação antiterrorista na cidade; cancelou todos os grandes eventos ao ar livre e em instituições educativas, até dia 1 de julho.

As autoridades da região começaram mesmo a destruir estradas que davam acesso a Moscovo e a cavar trincheiras.

E agora?

É ainda incerto o que irá mudar por causa da rebelião do grupo Wagner.

Este sábado, a Rússia abriu um processo criminal contra Prigozhin por “rebelião armada”. No entretanto, a acusação caiu.

O Kremlin anunciou que o líder do grupo Wagner vai morar para a Bielorrússia, ao abrigo do acordo firmado por Lukashenko.

"O processo criminal contra ele será arquivado. E ele irá para a Bielorrússia", declarou à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, sobre o dirigente do grupo de mercenários russo.

"Ninguém perseguirá [os combatentes que o seguiram], tendo em conta os seus feitos na frente" de batalha ucraniana.


Num vídeo partilhado nas redes sociais, é possível ver Prigozhin, a bordo de um carro, a ser seguido e aplaudido por muitas pessoas.

A rebelião abortada não afetará "de forma alguma" a intervenção militar da Rússia na Ucrânia, acrescentou ainda Peskov.

"A operação militar especial continua. As nossas tropas conseguiram repelir a contraofensiva da Ucrânia."

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