País

Entrevista

Francisco Louçã: "A Procuradora Geral da República deve dar esclarecimentos agora"

Sobre a atual crise política, que resultou na demissão do primeiro-ministro, Francisco Louçã considera que "O combate à corrupção, ou a todo o tipo de crimes em que possa haver abuso de poder, tem de ser levado muito a sério. O que quer dizer que todos os passos tem de estar bem comprovados".

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Na Edição da Noite da SIC Notícias, em entrevista à jornalista Ana Patrícia Carvalho, o fundador do Bloco de Esquerda (BE) Francisco Louçã analisa a atual crise política em Portugal. Para o professor universitário "Portugal tem um problema gravíssimo que só a democracia pode resolver".

Polémica sobre Centeno e Santo Silva

O governador do Banco de Portugal (BdP) disse, esta quinta-feira, que o país vive um momento de reflexão, citando versos do poema Abandono do poeta David Mourão-Ferreira. Mário Centeno disse ter-se lembrado destes versos na quarta-feira à noite, quando preparava esta sua intervenção.

Questionado sobre a polémica que esta semana envolveu o governador do BdP, e da qual foi ilibado pela Comissão de Ética do Banco de Portugal - que considerou que os deveres de conduta foram cumpridos, aquando do convite para suceder a António Costa -, Francisco Louçã afirmou que “O convite a Mário Centeno não tinha nenhum destino […] era plausível, mas não viável do ponto de vista político”.

“Foi bom ter escolhido um poema. Que haja um pouco de poesia no meio da futilidade em que se transformou uma discussão tão importante para o país, não é mau sinal”, afirmou.

Sobre o facto de, em entrevista à RTP3, Augusto Santos Silva ter pedido esclarecimentos à Procuradoria-Geral da República (PGR), sobre o processo que levou à queda do Governo, e do partido Chega ter pedido a demissão do presidente da Assembleia da República, o professor universitário comentou como sendo “outra das futilidades do nosso momento”.

Justiça: discrepâncias fragilizam o Ministério Público

Francisco Louçã considera que “O problema é que o juiz de instrução tomou uma decisão contrária ao Ministério Público, sobre acusações que têm de ser tratadas com imenso cuidado, que a corrupção”.

Questionado sobre se estas divergências fragilizam a imagem e credibilização do Ministério Público (MP), Francisco Louçã defende que sim.

“A Procuradora Geral da República deve dar esclarecimentos agora, e deve fazê-lo porque isso é a bem do Ministério Público, a bem da Justiça”, afirma.

“O combate à corrupção ou a todo o tipo de crimes em que possa haver abuso de poder, tem de ser levado muito a sério. O que quer dizer que todos os passos tem de estar bem comprovados […] Neste momento o primeiro-ministro tem um processo-crime por ‘ouvir dizer’ e isso terá de ser esclarecido pela Procurado [Geral da República], pelo Supremo Tribunal", acrescenta.

O ex-político acrescentou ainda que “se se vier a provar que nenhuma das investigações tem consistência, há uma certeza que nós temos, e o primeiro-ministro assumiu, é que ao escolher um chefe de gabinete que reconhece ter cometido um crime fiscal fragiliza primeiramente o primeiro-ministro”.

Maioria absoluta sem estabilidade

“A maioria absoluta tinha-nos prometido estabilidade, e comparo com os quatro anos da geringonça e não houve um secretário de Estado ou um ministro que tivesse saído. Agora houve quantos? 13, 14, mais Galamba agora à última da hora. Foi um frenesim de demissões, de inconsistências de jogos rocambolescos”, afirma Francisco Louçã.

Segundo o fundador do BE, "a instabilidade neste governo tem que ver com más escolhas, jogos internos, o facto de a maioria absoluta de considerar inexpugnável, acima de qualquer controlo, e sobretudo que a torna mais incapaz de responder a problemas.

Para Francisco Louçã, “A sensação popular é que se criou um país que não quer saber de nós”.

Liderança no PS

Francisco Louça defende que “os principais apoiantes de António Costa vão apoiar Luís Carneiro”, enquanto ainda assim presume que será Pedro Nuno Santos o vencedor nestas eleições diretas para a sucessão de António Costa.

“Quem quer que ganhe estas eleições tem uma carga pesadíssima aos ombros, que é uma maioria absoluta. Portanto, vai ser muito interessante saber os programas de cada partido, porque são obrigados a responder em concreto às prioridades do país”, afirma.

A certeza que o fundador do BE tem é de que “O PS escolherá, e o que se sabe é que nenhum desses candidatos, que será candidato nas eleições [legislativas] jamais terá maioria absoluta”.

“O tempo agora é de exigir aos partidos que digam o que querem, para que a opinião pública possa ver se conseguem convergir onde têm de convergir”, acrescentou Francisco Louçã, quando questionado sobre a possibilidade de novo acordo entre partidos, tal aconteceu com a coligação da geringonça entre 2015-2019.

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