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Céu, inferno

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Vicente Serejo
Desta vez, Senhor Redator, o charme dessa vírgula, separando o céu e o inferno, é bom confessar, tirei do título do livro de ensaios de Alfredo Bosi. Convenhamos: essa bela ausência de artigos é de uma fineza de estilo encantadora. E tudo só para dizer que o mundo civilizado e culto está diante de novas visões que retornam aos clássicos e revelam: nem sempre foi tão grande a convicção desses dois destinos, para uns e outros, depois de vivida essa vida material e terrena. 
E não foi nenhum desvairado que jogou a pedra na cristaleira. Foi um historiador do porte de Bart Denton Ehrman, um norte-americano autor de vários estudos sobre as crenças religiosas. Seu novo livro, ainda sem tradução no Brasil – ‘Céu e Inferno: uma história da vida após a morte’, pode levar o mundo a admitir uma ideia inesperada: a de que céu e inferno, fontes, quem sabe, de toda ideia do bem e do mal, não preocupavam as figuras bíblicas no velho e novo Testamento.
Poderia até sua afirmação ser vista como uma forma diluída e sisuda de espetacularização de velhas e arraigadas convicções, mas não é bem assim. Ehrman é um consagrado pesquisador da Universidade da Carolina do Norte e é um estudioso de Jesus e do cristianismo. Desta vez foi além, desceu à cultura da antiguidade, a babilônios e filósofos gregos e romanos. As suas ilações despertam espantos na medida em que atribui as visões de céu e inferno a pensadores pagãos. 
Segundo Reinaldo José Lopes, “quando o assunto são as recompensas ou punições que os ocidentais esperam receber na hora da morte, as ideias do ateniense Platão e do romano Virgílio são tão importantes quanto as do profeta Daniel e do apóstolo Paulo”. Acrescenta Ehrman, para surpresa dos católicos convictos: “Em vez de rezar para ir para o céu, a maioria das pessoas cultuava Deus ou os deuses na esperança de ter uma vida feliz aqui mesmo, na Terra”.
É ainda Lopes, autor do artigo sobre o novo livro de Ehrman, quem adverte: “Quando a morte vinha, acreditava-se que praticamente todos os defuntos, sem distinção, passariam o resto da eternidade num Reino dos Mortos, crepuscular, tedioso e imutável, onde não haveria nem recompensa nem punição”. E logo depois: “Era preciso ser um inimigo declarado e ferrenho dos deuses, ou então um queridinho das divindades, para sofrer tormentos ou gozar de delícias…”. 
É da condição humana, Senhor Redator, sempre renovar, de algum modo, o maniqueísmo que herdou das concepções de céu e inferno como símbolos do bem e do mal. Há até quem diga, com bom humor, que também o purgatório nunca foi comprovado. No Brasil, sua forma diluída ganharia o nome de jeitinho. É lá, até hoje, que são purgados os pecadores em longas temporadas. Os que não estão prontos para o céu, mas, quem sabe, o tempo pode purificá-los para o perdão…
VISÃO – Anotem esse nome: Sofia Mota. Ela é arquiteta e urbanista e tem uma das visões mais apuradas e equilibradas do que deve ser o novo Plano Diretor de Natal. Em doses bem dosadas.
PESOS – Do Conselho de Arquitetura, Sofia mostrou em entrevista recente, em boa medida, as ideias que não atrofiam Natal. Nem a inanição que mata de fome, nem a fome que devora tudo.
ALIÁS – Ficou fixo para o período de 29 deste mês a 4 de abril a Conferência Final em torno do Plano Diretor. Quando 119 delegados discutirão o texto a ser encaminhado à Câmara Municipal.
CAMARÃO – Pesquisador de boa cepa e olho agudo, Levi Pereira conhece bem os meandros e admite que Felipe Camarão, o filho, tenha nascido no RN. E só depois foi morar em Pernambuco. 
POETAS – Na seleção de “As 29 poetas Hoje”, antologia assinada por Heloísa Buarque de Holanda para a editora Companhia das Letras, uma presença potiguar: a jovem poetisa Regina Azevedo.
FONTE – Numa homenagem a Ana Cristina César, a fonte inspiradora, Heloisa Buarque busca mostrar a explosão da palavra poética de jovens bardos na relação ‘poesia-feminino-feminismo’. 
DEUS – Versos exatos do poema ‘Deu(s) Branco’, da poetisa Luz Ribeiro, SP, na antologia de Heloísa: “Eu ando cansada de ser forte / eu ando cansada de correr / eu ando querendo só andar”. 
HUMOR – De velho dinossauro diante do desejo de retorno de alguns ao zoológico da política: “Que ao menos defendam ideias justas e contemporâneas. Mandato não é terapia ocupacional”.  
ATHENEU – O escritor Juarez Chagas na revisão final da segunda parte da história do Atheneu Norte-Rio-Grandense de Letras a partir de 11 de fevereiro 1954, quando foi inaugurada a sede definitiva, com a presença do presidente Café Filho e então governador Silvio Pizza Pedroza. 
QUEM – Juarez é o autor da história da Sociedade Cultural Brasil-Estados Unidos e da maior pesquisa sobre a morte no RN, tese do doutorado realizado em Lisboa. O livro sobre o Atheneu completa a história iniciada por Câmara Cascudo do maior centro público de ensino do Estado.
PRESENÇA – Câmara Cascudo participa, com dois títulos, da bibliografia do novo livro de Lira Neto – ‘Arrancados da Terra’, uma história dos perseguidos pela Inquisição: ‘Geografia do Brasil Holandês’, José Olympio, Rio, 1956; e ‘Mouros, Franceses e Judeus’, Global, São Paulo, 2001. 
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