Carneirinho de rebanho ou ovelha negra – o que és?

Somos o que sabemos. Hoje, como nunca antes, a informação está acessível a todos, de forma imediata, em tempo real, acompanhada de imagens e testemunhos, opiniões, comentadores… Umas vezes de forma isenta e objetiva, outras de forma mais parcial e enviesada, a informação chega-nos em pacotes formatados, à hora certa, em vários canais de TV, rádio e Redes Sociais. Também a temos no formato papel, mas isso já não se usa muito nas gerações mais jovens. Podemos aceder também ao grande conhecimento científico, clássico ou mais recente, com um simples motor de busca na internet. Todo o saber ao alcance da tecla “Enter”. E o saber é uma arma…

…O saber é “A” arma contra a ignorância, a intolerância, a subserviência e a tirania. Como explicava o filósofo francês Michel Foucault, o saber é poder. Quem detém a informação (correta, atualizada, concreta e objetiva) pode controlar os outros. Na governação dos países (uns mais que outros) usa-se com mestria a arte da informação filtrada para a população, a informação-choque para gerar medos, as meias-verdades para acalmar os ânimos, as boas notícias para acautelar votos e a contra-informação para conter efeitos indesejados de verdades inconvenientes.

Com as Redes Sociais, subverteu-se bastante este domínio da informação pelo poder instituído. A informação “vaza” para as Redes Sociais antes de chegar aos jornais. Imagens ilustram os factos sem necessidade de comentários. Testemunhas falam antes de poderem ser “silenciadas” ou “orientadas” no seu relato. E o que entra na net nunca mais sai da net – conquista a eternidade.

Os influenciadores nem sempre são isentos nas opiniões que difundem

E chegamos aos influenciadores, ou “influencers” como se auto-denominam, pessoas que usam as Redes Sociais para difundirem opiniões sobre tudo-e-mais-alguma-coisa sem realmente saberem de coisa nenhuma. Uns com mais carisma que outros, uns mais bem falantes do que outros, têm em comum uma exagerada dependência pelo número de seguidores ou interações com as suas publicações. Vivem do que publicam, literalmente, pois os patrocínios que recebem por aconselharem determinadas marcas ou produtos podem garantir-lhes um bom rendimento mensal. E por isso aprimoram as suas competências de persuasão e influência, fazem vídeos apelativos e impressionantes, num jogo de “O reizinho manda” num formato virtual.

E os carneirinhos seguem as indicações. Não contestam, não avaliam, não põem em causa. Porque foi dito por aquela pessoa CLARO que é verdade! Não procuram informação fidedigna em fontes credenciadas e seguras (isso é para velhos). Antes preferem a desinformação espetáculo, o assombroso, o obscuro, como se tivessem assumido a personalidade de um espião que só acredita em informação inverosímil e catastrofista. A verdade científica é tudo o que menos lhes interessa, principalmente se for uma verdade simples e nada apocalíptica.

Ouvir com atenção e espírito crítico a informação que nos chega é crucial

Felizmente que existem também, as ovelhas negras! Aqueles que filtram a informação que lhes chega, que procuram informação complementar, em fontes credíveis, que aceitam as sugestões que lhes fazem sentido e deixam as outras de parte. O espírito crítico nada tem que ver com criticar ou julgar. Tem que ver com pôr à prova, testar, confrontar com outras opiniões e fontes de informação. É o espírito do investigador: duvidar, querer provas concretas, formular várias hipóteses e validar aquelas que forem suportadas pelas evidências.

O problema, é que as ovelhas negras são raras. São-no, não porque tenham nascido com um poder especial, mas porque as práticas educativas foram transformando as crianças-ovelhas-negras em crianças-carneirinhos. A educação parental e, sobretudo, a escola, não encorajam o livre pensamento e o juízo crítico. Formatam “carneirinhos” e limitam a criatividade, a curiosidade e o pensamento “fora da caixa”. Quando, em adultos, se quer que o indivíduo saiba ter opiniões próprias, já é tarde demais! A sua sede de verdade foi domada pelo conformismo; habituou-se a seguir regras e normas e a não contestá-las; subjugou-se ao saber-poder sem sequer ter a noção disso – e vive bem assim.

Tomemos, pois, uma dose de camomila, em plena consciência, percebendo como somos manipulados e influenciados pelo que vemos, ouvimos e lemos e, sobretudo, notando até que ponto somos “carneirinhos” ou ovelha negra. Saibamos cultivar as nossas próprias opiniões, assentes nos nossos valores de vida, sem adotar cegamente aquilo que o rebanho assume como verdadeiro só porque sim.

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