Alexandre Faustino é um jovem de 20 anos, natural e residente em Faro, com grande paixão pelos cavalos. Monta desde os seis anos de idade e já disputa torneios internacionais com os melhores do mundo. No passado dia 11 de dezembro, venceu o Pequeno Grande Prémio (obstáculos a 1,35m de altura) no concurso de saltos CNS 3* no Real Clube Pineda em Sevilha, com o seu cavalo «Benhur de Salinas». A diferença entre um Grande Prémio e um Pequeno Grande Prémio reside apenas na altura a que estão os obstáculos. O grau de dificuldade do percurso é o mesmo.
Paralelamente, está prestes a terminar uma licenciatura em Ciências Biomédicas, com média alta, na Universidade do Algarve, a escolha académica que lhe permitiu continuar no Algarve, poder dar assistência ao seu cavalo e treinar regularmente, no Centro Hípico de Faro, onde se iniciou.
Fomos ao seu encontro no Centro Hípico de Vilamoura, nas magníficas instalações dirigidas pelo antigo cavaleiro nacional de prestígio internacional António Moura, onde confidenciou ao «barlavento» como tudo aconteceu.
«Iniciei-me no Centro Hípico de Faro, que possui um ambiente muito familiar e acolhedor. Mas, à medida que fui evoluindo, fui necessitando de estruturas melhores, para conciliar com a minha evolução. Encontrei Vilamoura, que considero o único local no Algarve com estruturas comparáveis às olímpicas. Aliás, temos aqui várias pistas olímpicas. E recebe anualmente milhares de pessoas, que se encontram, atualmente, no topo do desporto equestre. Vive-se aqui um ambiente impecável e de alto nível».
Como é que esse contacto influencia o seu desenvolvimento? «Aprende-se muito a observar e a conversar e, aqui, tenho contacto com bons cavaleiros que vêm de várias partes do mundo. Além disso, tenho o acompanhamento do António Moura, que me tem dado apoio e é o responsável por toda a minha evolução. A nossa relação treinador-aluno surgiu do nada, foi espontânea e tem vindo a mostrar resultados, o que parece ter surpreendido muita gente».
Alexandre Faustino possui um cavalo com nove anos de idade, nas suas mãos desde os dois. Ambos eram muito jovens e têm evoluído em conjunto, apesar da pouca experiência inicial do cavaleiro. Neste momento, estão no limiar da idade adulta, o que significa grande potencial para o desenvolvimento futuro deste binómio equestre. A modalidade obriga a um grande esforço financeiro, desde a alimentação do cavalo às deslocações para os concursos, passando por veterinários e tudo o mais. Não havendo patrocínios…?
«Fazer parte da organização, como colaborador, do Clube Hípico de Vilamoura, facilita um pouco as coisas, pois deixam-me usar estas fantásticas estruturas. Mas com um ou mais patrocínios era bem melhor. Ajudariam a progressão e a melhorar os resultados. O trabalho de manutenção diária do cavalo, muito rigoroso, é feito em Faro e leva-me a maior parte do dia. Os treinos de saltos, que são intensivos, requerem estruturas e pisos muito bons. Vilamoura apresenta uma fantástica estrutura para a modalidade de saltos, e não só, sem comparação no Algarve. Tenho a sorte de poder usufruir dela».
Questionado sobre os projetos para o futuro, o jovem responde que «a minha participação, em 2016, no Vilamoura Champions Tour e Vilamoura Atlantic Tour permitiram-me obter os mínimos para estar presente no Campeonato da Europa de 2017. Depende da Federação e do selecionador a minha inclusão na seleção nacional para essa competição, em Agosto, na Eslováquia. Irei participar nos eventos de Vilamoura, como preparação. Depois, agarro no calendário e escolho outras competições interessantes, sempre do ponto de vista da preparação para o Campeonato da Europa».
Alexandre Faustino reconhece que ser cavaleiro profissional é o sonho de qualquer praticante. Reconhece, contudo, a grande dificuldade em lá chegar, pela escassez de patrocínios substanciais, em Portugal. «Para um cavaleiro poder tornar-se profissional, necessita de uma grande capacidade financeira. Obriga a um grande investimento para ter bons cavalos e bons professores, caros em qualquer dos casos». No entanto, quem poderá prever as oportunidades que o futuro trará?
Centro Hípico de Vilamoura combate sazonalidade turística
António Moura, prestigiado cavaleiro hípico, percebeu que o Algarve tem todas as condições para a prática de desportos ao ar livre, durante o ano inteiro, nomeadamente os desportos equestres. Por isso, realiza concursos hípicos em Vilamoura, desde 2003. Atualmente, o Centro Hípico de Vilamoura, sob a sua direção, ocupa uma área de 18 hectares, com uma quantidade de infraestruturas que o tornaram diferente e procurado pelos melhores cavaleiros europeus.
«As pistas que aqui vê foram fabricadas pela mesma empresa que produziu as dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro. Logo, oferecemos a mais alta qualidade. Ao preço a que os cavalos estão, temos de ter muito cuidado e colocá-los a saltar onde o risco de lesão seja menor», explicou-nos. «Quem olha para as pistas, vê areia e acha-as todas iguais. Contudo, as do Centro Hípico de Vilamoura são forradas a borracha». Aliando as excelentes estruturas aos bons contactos de António Moura no mundo equestre internacional, foi fácil atrair os cavaleiros de topo ao Algarve. Atualmente, Vilamoura organiza dois torneios importantes a nível internacional, o Atlantic Tour, em Fevereiro e Março, e o Champions Tour, em outubro.
«Mas é apenas parte de um projeto, porque o projeto, tal como eu o concebo e indo ao encontro daquilo por que se luta no Algarve, contra a sazonalidade, é trazer e manter os cavaleiros internacionais em permanência, em Vilamoura, entre outubro e maio. E os cavaleiros só se deslocam com competições». Os dois eventos já oferecidos por Vilamoura são dos mais importantes que se realizam na Europa. Este ano, haverá duas classificativas diárias para o Campeonato da Europa de seniores, que vai atrair muita gente. «A Federação Equestre Internacional só permite qualificativas para o Campeonato da Europa em pistas onde esteja garantida a grande qualidade dos solos, do júri e de toda a organização em volta».
Segundo António Moura, é necessário dar um passo em frente, com a construção de novas infraestruturas, transformando as boxes desmontáveis em instalações permanentes, para poder oferecer conforto total a proprietários e cavaleiros e mantê-los no Algarve, durante o Inverno. «Mas, para isso, é necessário que todos, entidades públicas e privadas, se consciencializem e deem as mãos para transformar Vilamoura num grande centro hípico internacional e, então, teremos um retorno extraordinário. Neste momento, com as competições, já geramos um retorno semanal de 3 a 4 milhões de euros, durante seis semanas. Esperamos um total de mil cavalos, com 600 a 700 em permanência, trinta e tal países. Não há melhor propaganda do que trazer as pessoas».
Ao longo do ano, realizam-se torneios regionais, na busca de futuros valores algarvios na modalidade. E já existem alguns potenciais cavaleiros, tanto masculinos, como femininos. E o clube está à disposição, como centro de estágio, dos praticantes equestres algarvios que desejem fazer treinos de alta competição. «Como acontece com o Alexandre Faustino, que treina aqui e é, hoje, uma bandeira do Algarve», rematou.