A chave para a compreensão desta (auto) biografia está na página 137, onde o autor recupera excertos de uma entrevista feita por José Manuel Fernandes a Francisco Louçã em 8 de Setembro de 2009. À insistente pergunta sobre se Francisco Louçã continuava a ser um revolucionário, este respondeu que era o que sempre foi: um socialista.
Se recuarmos algumas décadas, vemos o jovem Louçã, que nasceu numa família onde se respirava um ambiente antifascista. Em Dezembro de 1972, por curiosidade, vai ver o que se estava a passar na capela do Rato. Ainda é estudante do liceu. Em 1973 matricula-se no ISCEF, uma escola considerada por Marcelo Caetano como "um antro de comunistas". No final desse mesmo ano adere à recém-formada LCI, onde pontificam Francisco Sardo, no Porto, e Cabral Fernandes, em Lisboa. No Porto, já em finais de 1972 se tinha constituído a UOR, resultante de uma cisão no primitivo grupo de trotskistas daquela cidade, que ainda não tinha sigla oficial.
Quando se dá o 25 de Abril, Louçã é militante da LCI e estudante do ISCEF. Nessa altura inicia-se a discussão para a fusão entre a UOR e a LCI, que se vem a consumar em Julho. O resto de 74 e 75 são anos de brasa. A agitação social espontânea ultrapassa muitos militantes e algumas organizações de esquerda. Em 75, no Verão, a Revolução está num ponto crucial. Os trabalhadores estão na rua e nos quartéis os soldados conquistam poder e criam a sua própria organização (SUV).
A LCI realiza um congresso (II). Ganha a tendência liderada por Francisco Vale, que derrota a tendência de Cabral Fernandes e Francisco Louçã e a de Francisco Sardo. Repare-se que Francisco Vale vem da UOR, que resultou de uma cisão com o grupo de Francisco Sardo e Cabral Fernandes, em 72, acusados de revolucionários de gabinete. A LCI adere à FUP (depois FUR, com a saída do PCP). O Revolução está num momento decisivo. Louçã não está no Bloco Revolucionário. Não concorda com a participação da LCl na FUR. Louçã tem medo da Revolução. Em 25 de Novembro a Revolução é derrotada por um golpe militar levado a cabo por uma ampla frente com toda a direita e extrema-direita, PS e PCP.
Após o 25 de Novembro, Louçã prepara o assalto ao poder na LCI. No III Congresso, em Janeiro de 1976, conquista a direcção com Cabral Fernandes e outros. Verdadeiramente ninguém na nova direcção queria a Revolução.
Francisco Louça, no quadro da democracia burguesa, inicia a sua carreira política. É candidato em sucessivos actos eleitorais até ser eleito deputado em Outubro de 99 à frente do Bloco de Esquerda. De então para cá, com o PS cada vez mais à direita apostado em destruir o PSD, o BE conquista cada vez mais eleitorado moderado escorraçado pelo PS e que não tolera o sectarismo do PCP. Agora Louçã diz: "sou socialista". O PS é que já não é socialista. Virá Louçã a ser primeiro-ministro?