Marketing & Pub
10 setembro, 2011 às 00:30

Castello-Lopes Um fim sem sequela

Leitura: min

Se a história da Castello-Lopes fosse um filme, o guião teria decontar que já foi uma das maiores distribuidoras de cinema emPortugal. Desmoronou-se. E hoje pouco lhe resta dos tempos em que eracomandada por Gérard Castello-Lopes, o homem que rivalizou comCartier Bresson os direitos de maior génio da imagem por estasbandas. A partir deste mês, o catálogo da 20th Century Fox deixa depertencer à Castello-Lopes. Aquele que, garante o crítico de cinemaJoão Lopes, durante anos foi "um factor decisivo" para osucesso da distribuidora, deixa de ser um trunfo. Acabam assim maisde 40 anos de relação entre a empresa fundada em 1919 e a majornorte-americana. "A Castello-Lopes foi a primeira grande combinação nomercado nacional de distribuição e exibição. Este foi um factorimportante que fez com que, durante décadas, fosse a mais poderosaentidade em termos de cinema do panorama nacional. Era o distribuidore o exibidor dominante", lembra João Lopes."Ben-Hur" ou "E Tudo o Vento Levou" foram alguns dosclássicos do cinema norte-americano que os portugueses puderam vergraças à Castello-Lopes, em salas emblemáticas de Lisboa, como oCondes, detidas pela companhia. Foi um papel que a empresa mantevedurante décadas e começou "pouco a pouco a ser desafiado apartir dos anos 70", com o crescimento da Lusomundo (hoje detidapela Zon Multimédia). A história do cinema mundial e do país passou pela distribuidorae foi vista nas suas salas. Pelas mãos de Gérard Castello-Lopes,que herda a empresa do pai, os portugueses contactaram com a nouvellevague e a cinematografia italiana. Gérard Castello-Lopes foi ainda"um compagnon de route da geração do cinema novo português",frisa o crítico João Lopes. 'Brandos Costumes', de Alberto SeixasSantos (1975), foi uma das obras que chegaram às salas pelas mãosda distribuidora.A primeira coisa a desaparecer foram as salas de cinema, um dospilares da Castello Lopes, adquiridas na década de 90 pelo grupoJRP. Em 2002, vai-se a área de distribuição. Nesse ano a empresafaz uma joint-venture com a Media Capital, da qual nasce a CastelloLopes Media Capital Multimédia (CLMC Multimédia). A parceria entreuma distribuidora de cinema e um grupo dono de um canal de televisão,a TVI, tinha todos os ingredientes para uma sequela de sucesso. Noentanto, não houve final feliz para a distribuidora - até Agosto aterceira maior nacional em termos de receitas brutas de cinema,depois da Lusomundo e da Columbia Tristar Warner.O fim do contrato com o estúdio norte-americano deu uma fortemachadada na unidade de cinema do grupo Media Capital - que desdeSetembro de 2007 controla 90% do capital da CLMC Multimédia. Apartir deste mês será a Big Pictures Films 2, empresa dirigida porum histórico da Lusomundo, Antunes João, e na qual a Zon Multimédiatem uma participação de 20%, a levar às salas de cinema ospróximos filmes Fox. O catálogo da área de vídeo - que, segundo o relatório daempresa, apresentava até Junho uma descida de 26% nas receitas -também deixou de estar nas mãos da empresa, passando para aPrisvideo.De corte, em corte, nas mãos da CLMC Multimédia ficou apenas ocatálogo de filmes independentes - é o que resta do giganteCastello-Lopes. Essa área, que tem um peso residual nas receitas daempresa, sabe o Dinheiro Vivo - o grupo Media Capital não quiscomentar - está a ser integrada na área de entretenimento do grupoda TVI, juntando-se à editora Farol e à área de eventos.