A origem das rendas no nosso país é incerta, mas sabe-se que se foi influenciada pelos povos que por aqui foram passando e acabaram por moldar a nossa cultura, as políticas seguidas pelos vários reinados parecem ter sido determinantes.
No reinado de D. João V o protocolo das corte exigia o uso de rendas flamengas, pelo que as nacionais foram profundamente prejudicadas. A situação foi de tal forma grave que as rendeiras do norte, vendo a sua Renda de Bilros proibida, se manifestaram junto ao rei enviando uma representante vila-condense de seu nome Joana Maria de Jesus. Perante tal determinação e para acalmar os ânimos, D. João V autorizou então a utilização de rendas nacionais na roupa para casa como lençóis, toalhas, lenços, etc.
Só no séc. XVIII, com D. José, se estendeu a permissão do uso de rendas à roupa pessoal e mesmo assim, apenas na roupa branca. Além disso, havia um enorme controlo e condicionantes à circulação das rendas. Nada entrava na capital sem ter sido devidamente acompanhado e autorizado.
Apesar destas dificuldades sabe-se que Vila do Conde terá entretanto continuado a investir nesta arte. Disso é prova o registo do Arquivo Municipal que atesta a presença das rendas vila-condenses na Exposição Universal de Paris, em 1867. Tal como é evidência desse mesmo interesse, a criação da Escola de Rendas em 1919 que permitiu atingir não só mais qualidade como também visibilidade.
E hoje, passados mais de três séculos da sua proibição, com alguns períodos pelo meio em que as artes tradicionais foram sendo esquecidas, assiste-se a um renascer do interesse pelas mesmas. Em finais do séc. XX, Vila do Conde assiste a plano concertado de promoção das artes tradicionais locais . A Feira Nacional de Artesanato ganha visibilidade e cria-se o Centro de Artesanato. Posteriormente, abre-se o Museu das Rendas e finalmente alcança-se a Certificação. É o culminar de séculos de esforço e trabalho num saber único que se transformou num verdadeiro tesouro.
Mais que testemunho da mestria de especialistas, a Renda de Bilros e trabalhos derivados são parte integrante da identidade cultural de Vila do Conde. Uma identidade a preservar…