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Teixeira dos Santos sobre o pedido de ajuda: "Senti que não podia manter-me em silêncio" (act.)

O ministro das Finanças que liderou o pedido de ajuda financeira de Portugal em 2011 explica que decidiu defender o pedido à troika à revelia de Sócrates porque se não o fizesse estaria a ser "conivente com uma inércia que podia ser muito prejudicial" para o país.

Bruno Simão/Negócios
Carla Pedro cpedro@negocios.pt 06 de Abril de 2015 às 15:42

Foi no dia 6 de Abril de 2011 que José Sócrates, então primeiro-ministro, anunciou ao país que Portugal ia recorrer à ajuda financeira externa. Um anúncio que foi feito depois de Teixeira dos Santos, então ministro das Finanças, ter dito ao Negócios que era "necessário recorrer aos mecanismos de financiamento disponíveis no quadro europeu."

 

Passados quatro anos, Teixeira dos Santos explica, em entrevista à TVI, porque tomou esta atitude.

 

"Tive vários dias longos, mas este foi sem dúvida o mais longo e mais difícil. Um dia tenso, de fricção e de angústia. Mas ao mesmo tempo, no fim do dia, tinha a consciência de que tínhamos chegado a um momento decisivo de dificuldade e que tinha feito aquilo que precisava de ser feito e acabava o dia bem com a minha consciência", contou Teixeira dos Santos.

 

"A minha preocupação era convencer o primeiro-ministro da necessidade deste pedido de intervenção externa. Estou convencido que o primeiro-ministro já tinha percebido que o país não podia evitar o pedido de ajuda, mas penso que achava que o país talvez ainda pudesse manter-se algum tempo e evitar o pedido de ajuda (...) dentro do período de governação que iria acabar em Junho com as eleições. Estou convencido que seria essa a sua intenção. Não faria sentido que um governo que tudo fez para evitar um pedido de resgate fosse o governo que afinal o iria fazer".

 

Segundo Teixeira dos Santos, a sua preocupação "era essencialmente assegurar o financiamento do país e as condições de estabilidade do país. Os bancos tinham já sido penalizados de forma muito significativa no seu rating nos dias que antecederam o resgate".

 

"Tornei muito claro ao primeiro-ministro que teríamos de o fazer e que o país iria enfrentar grandes dificuldades se não o fizéssemos e que esse pedido de resgate era incontornável, seria fatal como o destino", sublinhou.

 

"Assumi um compromisso claro: ‘comigo não há default’. Foi também para isso que tomei posse como ministro das Finanças", explicou na entrevista transmitida esta noite pela TVI.

 

Teixeira dos Santos contou que José Sócrates lhe pediu 24 horas para ver se não haveria alternativas a esse pedido de resgate. "Dei essas 24h e no dia 6 de manhã é-me dado conta que ele [José Sócrates] continuava muito renitente em avançar com esse pedido de ajuda. Ao almoço falei com o primeiro-ministro ao telefone, senti que a resistência se mantinha e como dever de consicencia senti que não podia manter-me em silêncio porque estaria de alguma forma a ser conivente com uma inércia que poderia ser muito prejudicial para o país".

 

Nessa tarde, em entrevista ao Negócios, Teixeira dos Santos anuncia que, na sua opinião,  Portugal vai precisar de resgate, o que acaba por forçar José Sócrates a anunciar nessa mesma noite o pedido de ajuda.

 

"Entendi que era altura de eu próprio, como ministro das Finanças, sinalizar o que é que eu pensava e deixar ao primeiro-ministro a decisão de assumir a discordância comigo ou dar esse passo. E o primeiro-ministro deu esse passo e deu-o muito bem".

 

Depois do anúncio ao Negócios, "houve uma conversa que não foi agradável, como será de perceber, e a partir daí mantivemos uma relação que se limitou à gestão dos assuntos da governação, em particular da negociação do memorando com a troika."


Quando José Sócrates anunciou ao país os termos do acordo alcançado com a troika, Teixeira dos Santos acompanhou o primeiro-ministro, e explica porque estava com aquela expressão (foto ao lado). Estava "desagradado pelo tom um pouco triunfante" com que o primeiro-ministro fez o anúncio. "Não me pareceu que se devesse frisar, nesta comunicação, o que o memorando não tinha. Era altura de dizer o que ia representar e exigir para o país", acrescentou.

 

(Notícia actualizada às 21h52, com mais declarações)

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