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A rua como espaço de resistência através da arte

A rua como espaço de resistência através da arte

No vai e vem pelas cidades - grandes ou pequenas - os muros falam. Murais, grafites, pixos, palavras, frases e recados atravessam olhares atentos e curiosos, que tentam desvendar os sentidos de tudo aquilo durante a travessia. Outras vezes, o olhar é obrigado a ver - seja pelo tamanho, pela cor ou para tentar entender como aquela mensagem foi parar lá, em um local tão alto e de difícil acesso. 
 

A arte de rua, que se desenvolveu em um contexto de contravenção e resistência, também pode ser entendida como sinônimo da liberdade de comunicar. Através de muros e paredes, em espaços públicos e privados, mensagens são enviadas. E, hoje, não só nos espaços abertos, pois muralistas e grafiteiros/as ganharam a curadoria de museus e de galerias de arte fechadas também.


Mural de OSGEMEOS em Boston, Massachusetts (2012). Imagem: Tim Sackton / Flickr / Creative Commons. 


Um pouquinho sobre a cena no Brasil

 

No Brasil, as primeiras manifestações de street art surgiram na década de 80. A ação não só era proibida, como estava bem distante de ser reconhecida como arte pelo poder público, que coibia ou apagava o que era feito, além de punir os responsáveis.
 

Mas isso não impediu que mais e mais artistas começassem a ocupar as ruas da cidades, principalmente em São Paulo. Referência em arte urbana no Brasil e no mundo, a capital paulista é conhecida por ter em seus muros e prédios milhares de mensagens de desenhos, das mais variadas técnicas - letras, bombs, throw-up e murais fazem parte da paisagem da paulicéia.
 

E a variedade não está só presente nas técnicas, estilos e nomenclaturas. As influências também vieram e vêm de várias fontes,  principalmente das culturas e cotidianos das periferias e do hip hop. A arte de rua também está intimamente ligada às manifestações políticas, aos movimentos e resistências populares, que usam o spray e as pinceladas como meio de comunicação.

 

Rios e Ruas
 

A capital São Paulo é um prato cheio para quem curte grafite. Se você está caminhando pela cidade basta observar que eles aparecem. Para quem é de fora e quer algo mais direcionado, a dica é conhecer o Museu Aberto de Arte Urbana (MAAU - SP). Os trabalhos artísticos foram feitos em 2011, em 33 pilares que sustentam uma Linha 1-Azul de metrô, na Zona Norte da cidade.
 

Outro local para incluir no roteiro é o Beco do Batman, na Vila Madalena. Para quem gosta de arte, a visita é tão interessante quanto os museus. A galeria a céu aberto é repleta de grafites, colagens, stencil e desenhos.
 

Ainda que se fale muito da arte de rua nas grandes capitais e o Brasil tenha São Paulo como referência no assunto, como fica nítido pelos espaços citados acima, a arte de rua vai além e se manifesta onde há lugar para recebê-la, seja de braços abertos ou na contravenção.
 

Na Ilha do Combu, que fica bem próxima da capital paraense, está a primeira galeria fluvial de grafite do mundo reconhecida pelo IPHAN. Tudo começou em 2014, com um projeto de residência artística. A proposta era que os convidados interviessem em casas ribeirinhas através de técnicas de muralismo, street art e do grafite.
 

Ano a ano, artistas e fotógrafos/os participam do Festival Street River durante uma semana, garantindo ainda mais cor para a Ilha do Combu. É possível visitar a galera fluvial por meio de um passeio de barco. Clique aqui para saber mais as as ações do Instituto.
 

No vídeo abaixo (2015), do canal Platô, o idealizador do Street River, Sebá Tapajós, falou sobre a importância da iniciativa:
 



Múltiplas referências

Quem curte arte de rua está sempre em busca de ampliar o repertório sobre o tema. Você pode estudar o assunto na própria rua, fazendo pesquisas informais em campo aberto, apreciando o que há de novo, identificando referências e técnicas.
 

 E, para quem curte outros formatos, listamos algumas dicas certeiras!
 

  • Para acompanhar:

Acompanhar muralistas e grafiteiros também é uma forma de saber mais sobre o assunto. No Brasil, há grandes nomes da arte urbana que se tornaram referências para as próximas gerações. Entre eles, Speto, que é um dos precursores do grafite no país e dialoga com estéticas e manifestações culturais brasileiras em suas obras.
 

 Diego Mouro, que trabalha com murais em grande escala e várias técnicas, diz que Speto foi seu mestre. “Ele é um enciclopédia de referências, além de ser um dos caras que carregam mais forte a identidade conceitual brasileira do que hoje é a street art no Brasil”.
 

 O trabalho do Speto é inspirado na xilogravura e na literatura de cordel. Foto: Patricia Oliveira / Flickr / Creative Commons.

  • Para ouvir:

Outra dica preciosa do muralista é ouvir a Vantage Point Radio. O podcast, que convida artistas de rua para falar sobre suas produções, referências e conceitos já realizou encontros com os maiores nomes do muralismo do mundo. “É um primor só. Já tem 92 episódios e é coisa de passar horas ouvindo, sem falar que a cada programa eles montam uma playlist maravilhosa pra cada artista. Vale ouvir!”, garante Diego.
 

  • Para conhecer:

Conexões, referências e estéticas diferentes marcam a arte urbana pelo mundo. Por meio do Google Arts & Culture - Street Art , você pode não só conhecer mais sobre os estilos, técnicas e influências como dar uma voltinha por algumas galerias, ruas e bairros pelo street view.

​Clicando aqui, você encontra trabalhos feitos no Reino Unido, Colômbia, Espanha, Alemanha, Bélgica, Holanda, Estados Unidos, entre outros países.
 

  • Para assistir:​

Em entrevista ao programa Afronta!, uma coprodução da Preta Portê Filmes e Canal Futura, a grafiteira e designer Criola falou da arte como escape e sobre como o rap e o hip hop mudaram sua forma de ver o mundo.
 




 

 

O documentário Cidade Cinza (2013), de Marcelo Mesquita e Guilherme Valiengo, mostra como a política de limpeza urbana da prefeitura de São Paulo cobriu de cinza inúmeras intervenções artísticas que estavam nos muros e prédios da cidade. A produção, que é independente, discute por meio de depoimentos dos artistas OsGemeos, Nina e Nunca a valorização do grafite como arte e o espaço dessa manifestação nas culturas e políticas públicas no Brasil. 

 

 

  • Para ler:  

registros fotográficos dos trabalhos mais conhecidos de Banksy - que ninguém sabe exatamente quem é - compõem o livro “Guerra e Spray” (Intrínseca, 240 páginas), que chegou ao Brasil em 2012.

 

Sabe de alguma outra referência boa sobre arte de rua para ver, ouvir, assistir ou ler? Conta pra gente nos comentários!

 

Foto de capa da publicação: mural de Diego Mouro.

Imagem: acervo pessoal.

 

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