Num cenário de beleza estonteante, no vale que o Douro moldou e bordejou com encostas xistosas, crescem há séculos vinhas… e vida.

Há duas circunstâncias invulgares que distinguem o Alto Douro Vinhateiro: uma é a distinção de Património Mundial atribuída pela UNESCO na categoria de Paisagem Cultural em 14 de Dezembro de 2001; a outra é o facto de esta ser a região vinhateira demarcada mais antiga do mundo, remontando ao século XVIII.

A Natureza conspirou para reunir no Douro diversas anomalias que favorecem a produção vinícola: um microclima favorável, o tipo de terreno, as castas testadas durante gerações ao paladar especial do vale e a disposição orográfica em socalcos, que força os produtores a aproveitarem cada centímetro quadrado. Depois, ainda há o factor cénico conferido pelas águas do Douro que descem velozmente desde a serra de Urbión, em Espanha.

E por último sobrepõe-se o factor humano, o árduo trabalho de homens e mulheres, muitas vezes à torreira do sol num território inclemente e bravio, que cuidam, colhem e carregam os cachos que, posteriormente se traduzem em alguns dos mais preciosos néctares apreciados à escala global – entre os quais o afamado vinho do Porto.

socalcos no alto douro vinhateiro

Apesar de pelo mundo fora se relacionar o Douro ao vinho do Porto, existem inúmeras vinhas espalhadas pelas encostas ribeirinhas que produzem extraordinários vinhos. Uma ligeira diferença na casta utilizada, uma variação no ângulo da exposição ao sol ou um dia de diferença na apanha da uva podem produzir novos sabores. O vinho do Douro reinventa-se a cada campanha, mesclando tradição com tecnologia.

Hoje, as mais evoluídas técnicas ao longo de todo o processo de produção já se aplicam na região, mas nem sempre foi assim. A história do vinho do Douro é também uma saga sobre o processo de tentativa e erro apurado entre gerações, de combate às pragas ou aos anos meteorológicos mais ingratos. Num copo de vinho do Douro, reside toda essa história, pelo que a prova do néctar exige um certo respeito e cerimonial na degustação.

Alto Douro vinhateiro

Existem diversas formas de explorar a Região Demarcada do Douro Vinhateiro: uma é a viagem através da Estrada Nacional 222 que acompanha os meandros do Douro. Existem também agências de enoturismo, que incluem visitas a adegas e provas de vinho. Os cruzeiros no rio são deslumbrantes e podem incluir passeios de um dia ou uma semana e existe ainda apossibilidade de o fazer de comboio pela linha do Douro. Não deixe de visitar o Museu do Douro, em Peso da Régua.

Com o Tratado de Methuen, celebrado em 1703, incrementou-se a exportação de vinho do Douro para Inglaterra, mas a negociação gerou um aumento da procura de novos terrenos para implantação de vinha, muitas vezes de forma desenfreada. Temendo possíveis fraudes e a necessidade de regulamentar os preços, o marquês de Pombal, primeiro-ministro de Dom José I, fomentou a instituição da Companhia Geral da Agricultura das Vinhas do Alto Douro em 1756. Nas adegas das quintas vinhateiras, as uvas eram seleccionadas, fermentadas e colocadas em pipas de carvalho para que maturassem. Data desse ano a delimitação do DNA do vinho duriense.

Alto Douro vinhateiro

A Quinta do Porto, junto de Pinhão.

Em 1926, foi incrementado o Entreposto do Douro em Vila Nova de Gaia, onde se armazenavam os barris para exportação e, seis anos mais tarde, foi criada a Casa do Douro.

Actualmente, a Região Demarcada compreende 250 mil hectares, distribuídos pelas regiões de Cima Corgo, Baixo Corgo e Douro Superior. É neles que se fazem alguns dos melhores vinhos do mundo… e Baco agradece.