Reinava Tibério (14 a 37 d.C.), ou já lhe sucedera o terrível Calígula (37 a 41 d.C), quando a escassos 200 metros das sulfurosas águas de São Pedro do Sul se fundou um primeiro balneário. O edifício, construído na margem do Vouga, ocupava uma área de 280 metros quadrados. No interior, uma piscina com degraus nos lados menores e revestida com opus signinum (argamassa de impermeabilização) era alimentada por água termal que aflorava à superfície a 68,7oC, o que exigia o seu prévio arrefecimento num tanque exterior.

No exterior, foi construída uma imensa piscina alimentada pela quente água termal. Imaginemos o espanto que terá causado, há dois mil anos, poder banhar-se ao ar livre em pleno Inverno. Certamente que o aquista se maravilharia também com o monumental pórtico que rodeava a piscina. Formado por colunas com 7,4 metros de altura, encimadas por monumentais capitéis jónicos, seria um local aprazível para recuperar do banho.

No final do século I d.C., o balneário foi afectado pela cíclica rebeldia do Vouga, ou assim se supõe, com base na mais recente interpretação arqueológica. Durante o reinado de Trajano (98-117 d.C.), o edifício foi demolido e sobre ele foram edificadas novas termas. O novo projecto manteve a grande piscina exterior, mas ampliou o pórtico com uma nova praça e delimitou o espaço com novas construções, ampliando a oferta de serviços ao crescente número de visitantes.

Ilustração: Anyforms Design/adaptado a partir de documentação de Maria Pilar Reis

No recém-inaugurado balneário, o aquista do século II d.C. entraria por uma porta virada para o Vouga e, no vestíbulo, levantaria os olhos até ao tecto, admirando a altura do espaço, pois todo o edifício era coberto por uma abóbada de berço elevada a 7,4 metros do chão. Por um dos acessos entraria na ampla ala central, onde o vapor e o característico cheiro destas águas sulfurosas lhe dariam as boas-vindas. Entre o vapor observaria a abóbada revestida por estuques com caneluras marcadas para que as gotas da condensação não pingassem em cima dos aquistas, mas também veria o imenso óculo central, que permitia a iluminação deste ambiente. Podia agora sentar-se nos degraus da piscina interior central e iniciar o seu ritual.

Os procedimentos eram adaptados à maleita a curar. Era recomendado o banho termal diário, com imersão na água quente que não deveria ultrapassar uma hora, a sudoração, colocando toalhas de linho sobre a cabeça, os duches, as abluções individuais e beber uma taça de água, práticas que deviam ser efectuadas antes de almoço e seguidas de refeições simples e saudáveis, acompanhadas de leve exercício físico e repouso por baixo do pórtico. Às virtudes das águas associaram os romanos as propriedades mágicas e religiosas.

São Pedro do Sul

O edifício original está conservado até ao arranque das abóbadas, o que faz dele um dos mais bem preservados da Península Ibérica.

Assim testemunha o grande cipo recuperado nas escavações, no qual Mágio e Victória agradecem a Mercúrio Aguaico a recuperação do filho. A fama destas águas sobreviveu aos romanos e o balneário manteve-se em funcionamento. O edifício acolheu Dom Afonso Henriques, que aqui permaneceu alguns meses para recuperar da perna partida em Badajoz, exarando daqui alguns documentos e atribuindo-lhe um dos mais antigos forais portugueses. Dom Manuel I fez no balneário romano importantes obras, fundando aqui o Hospital Real. Em finais do século XIX, o edifício já não reunia condições para utilização, mas ainda foi visitado pela rainha Dona Amélia, que inaugurou o moderno balneário, mais próximo da fonte.

São Pedro do Sul  mapa

Termas de São Pedro do Sul

Rua Central, São Pedro do Sul             

Horário: 9h – 13h / 14h às 17h          

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