Mais de duas décadas após a queda do muro, a capital alemã emerge da sua transformação radical, com novos ícones arquitectónicos e a vitalidade artística dos velhos bairros de Leste.

Berlim é sempre uma festa, mas, sempre que começa a contagem para mais um aniversário do 9 de Novembro, a cidade rejubila. Nesse dia de 1989, caiu o muro da vergonha, a vedação que dividia Berlim em duas. Construída na noite de 12 para 13 de Agosto de 1961 (um sábado) por oito mil soldados da República Democrática Alemã (RDA), constituiu o símbolo da divisão do mundo em dois blocos. Até à noite de 9 de Novembro de 1989. A destruição do muro transformou-se a partir do dia seguinte numa demolição popular e festiva.

Longe de apagar o muro da memória, a cidade transformou-o em algo positivo, numa lição, num desafio que tem sido o motor da maior transformação arquitectónica e urbanística de Berlim. Mais: é a principal atracção turística da capital alemã, uma das mais ricas em produção artística.


Berlim mudou muito em quase três décadas. A comparação de mapas ou fotografias actuais com registos da década de 1980 é avassaladora, mas o próprio coração da cidade alterou-se. 

Berlim é hoje uma cidade alegre e confiante, onde se respiram valores de concórdia, de diversidade (de ideias, de nacionalidades, de maneiras de viver) e de tolerância, sem que para isso esteja ausente o contraste: ao virar da esquina, pode estar o paradoxo mais luxuoso, mais alternativo ou mais boémio.

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Em qualquer mapa desdobrável da cidade, encontra-se uma linha vermelha que assinala a zona por onde corria o muro. No solo, essa linha materializa-se numa dupla fileira de paralelepípedos, com placas ocasionais que indicam o seu significado. O ponto mais apelativo talvez seja Potsdamer Platz, a praça prussiana onde se instalou o primeiro semáforo da Europa e que ficou totalmente arrasada. Quando o muro foi derrubado, só restavam clareiras e escombros, restos de uma cidade deserta que logo de seguida se encheu de gruas. Os melhores arquitectos do mundo foram convocados em massa. Agora, a paisagem de vidro que ali se ergue parece tirada de um conto futurista. É o quilómetro zero da renovação. O local da moda. Onde se pode subir pelo elevador mais rápido do mundo até ao Panoramapunkt, um café do qual se contempla uma panorâmica de 3600.

RECORDAÇÕES DA FRONTEIRA

A poucos minutos fica Friedrichstrasse e o ponto no qual o muro seccionava aquela rua, o Checkpoint Charlie, uma das passagens fronteiriças mais célebres graças aos filmes sobre espiões e a guerra fria. As tentativas para saltar aquela barreira de quase 50 quilómetros forçaram novas barreiras, mas o engenho humano foi aperfeiçoando artimanhas para o ultrapassar mediante túneis, esgotos ou até a linha do metro. O ponto mais fatídico (onde quase trezentas pessoas morreram) foi precisamente esta passagem na Friedrichstrasse. 

O local sinistro é agora uma celebração, com uma pitada de kitsch e modernidade. Os turistas captam fotos ao lado dos polícias-figurantes, da guarita ou dos sacos de terra que, empilhados, criavam obstáculos. Perto do edifício principal, um museu privado convoca a reflexão sobre a guerra fria. Uma exposição permanente, o Panorama (uma pintura de 3600) retratando a vida durante os tempos do Muro, uma evocação da Stasi, um museu e um centro de aluguer de trabis, os utilitários da classe proletária na RDA, evocam as quase três décadas de separação da cidade.

Os circuitos turísticos em trabis fazem agora parte da paisagem urbana. Uma das suas rotas leva-o ao «bairro governamental», metáfora da transparência, pela avassaladora presença do vidro. O transporte mais aconselhável para acompanhar a transformação de todos os edifícios é o barco, seguindo as águas do Spree. Este bairro oficial cresceu entre a Estação Central e o Reichstag, o edifício do Bundestag ou Parlamento, destruído pelos nazis e reconstruído, com a cúpula icónica, por Norman Foster, em 1999. 

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BRANDEMBURGO É UMA FESTA

O ícone de Berlim por excelência continua a ser a neoclássica Porta de Brandemburgo.
É o ponto de confluência de todas as marchas de protesto. É igualmente o cenário de celebrações. É ali que se festeja a chegada do Ano Novo, a Love Parade (uma invenção de Berlim) e outras manifestações que inundam o Tiergarten, até à Siegessäule, ou coluna da Vitória. Foi precisamente ali que teve lugar no dia 9 de Novembro a festa da comemoração do 25.º aniversário da queda do muro.

A partir desta Porta, percorre-se a avenida mais elegante da era imperial, Unter den Linden. De um lado e do outro, estão ordenados edifícios como a Ópera Cómica, a Biblioteca Nacional, a Universidade, a Catedral católica, a Neue Wache (posto da guarda) do arquitecto imperial Schinkel e o Museu de História.
Desemboca-se por fim nos relvados e fontes do Lustgarten, um dos jardins ideais para se deitar a ler ou fazer uma pausa antes de retomar a caminhada.

Este parque é o «salão» do mais denso concentrado artístico e monumental de Berlim: é ali que se ergue a pomposa Catedral protestante e onde começa a chamada Ilha dos Museus. Rodeada pelo rio Spree e por um canal, amontoam-se aqui tesouros antigos e modernos, divididos em cinco grandes museus. O projecto da Ilha dos Museus é uma campanha faraónica que começou em 1999 e que terminará em 2025.

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FIM NA EAST GALLERY

Em frente do Lustgarten, vê-se um octógono de vidro chamado Humboldt Box, um espaço onde se explica a reconstrução do barroco Palácio Nacional, que fora destruído durante a era comunista. Ao fundo, desponta a Torre da Televisão de Alexanderplatz, a praça simbólica da Berlim comunista, romanceada por Alfred Döblin (1928) e protagonista de uma série televisiva e de um filme na década de 1980.

Tudo está mudado: a cúspide da torre é um miradouro e, na praça, funciona um centro comercial, catedral do consumismo. A um passo dali, encontra-se o percurso mais longo do mundo: a East Side Gallery, um friso de pinturas reivindicativas realizadas no ano em que o muro caiu. 

Berlim encontrou a sua liberdade e não há quem a pare.

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AS 6 FACES DE BERLIM

A viagem à capital alemã pode ser complementada com circuitos que revelam outras facetas lúdicas de Berlim. A sua face natural e ambiental, por exemplo, surpreende com uma rede de quilómetros de parques e jardins e percursos de barco pelo rio Spree. Existem igualmente os pequenos mercados de antiguidades e de arte, onde coleccionadores e artistas expõem e procuram peças pela rua. Os meses estivais são perfeitos para mergulhar num dos numerosos lagos berlinenses, deitar-se numa das margens do rio ou desfrutar da animada noite de Berlim, da sua cerveja e dos seus eventos musicais. Existe uma Berlim para todos os dias. www.visit.berlin.de

1. BERLIM VERDE E FLUVIAL 

Tiergarten é o mais famoso dos 2.500 parques da cidade. Alguns têm carácter histórico como Charlottenburg e Friedrichshain, o mais antigo em Berlim. O Jardim Zoológico e o Jardim Botânico apaixonam crianças e adultos. O Muauerpark, no Norte de Mitte, ocupa uma das parcelas do muro. No Verão, não há nada melhor do que nadar nos lagos Müggel e Schachtensee.

2. BERLIM MONUMENTAL

Esta rota resume a história europeia. Como símbolos do poder político, a Câmara Municipal, a Chancelaria, a Coluna da Vitória e o renovado Reichstag. Entre os ícones religiosos destacam-se a Catedral Francesa e a Alemã de Gendarmentmarkt, a Igreja Friedrichswedersche e a Nova Sinagoga. A nota imperial surge com os palácios de Bellevue, Friedrichsfelde, Köpenick Sanssouci.

 3. BERLIM E OS SEUS MUSEUS

Na Ilha dos Museus, expõem-se vestígios desde o Egipto e da Ásia à arte contemporânea. O Kulturforum, no bairro de Tiergarten, reúne o Museu de Artes Aplicadas e a pinoteca Gemäldegalerie. Sobre a história do século XX: o Check Point Carlie, o Museu de História (Zeughaus) e o Museu Judaico, num edifício em forma de ziguezague. Entre os museus mais curiosos destaca-se o da salsicha.

 4. BERLIM CULTURA URBANA

A East Side Gallery, o percurso do Muro pintado de graffiti, e a antiga galeria Tacheles (edifício ocupado por artistas entre 1990 e 2012) são os emblemas da street art de Berlim. Para tomar pulso ao sentido artístico de Berlim, deve visitar o Schönhauser Alle, o bairro da moda, e a Rosenthaller Strasse (Mitte), onde pode encontrar o último grito em cartazes, autocolan-tes, recortes e decalques.

 5. BERLIM DOS MERCADOS

Ao fim-de-semana, existe a tradição de passear pelo mercado. Mobiliário e artefactos concentram-se nos antiquários de Ostbahnhof ou na rua do Museu Bode. No Arminiusmarkthalle (bairro Moabit), vendem-se alimentos sob vitrais neogóticos. Em redor destes mercados, existe uma boa oferta de cafetarias para refeições rápidas.

 6. BERLIM NOCTURNA

Os Hackesche Höfe datam de 1906 no bairro de Scheunenviertel e são um ponto de encontro para os habitantes de Berlim pelas suas ofertas de bares, restaurantes e clubes. Os bairros de Nikolaiviertel
e Kollwitz e a própria rua Simon-Dach são a referência da noite desta capital. No Verão, as temperaturas amenas permitem espectáculos ao ar livre em Osthafen.

CADERNO DE VIAGEM

Documentos: cartão de cidadão.

Idioma: alemão.

Moeda: euro. 

Existem inúmeros voos directos para Berlim saindo de Lisboa e voos com uma ou duas escalas saindo do Porto ou de Faro. A capital alemã tem dois aeroportos: Tegel e Schönefeld, a 8 e 24 quilómetros do centro, respectivamente. Ambos dispõem de serviço de autocarros até ao centro. O bilhete Berlin Welcome Card oferece um uso ilimitado nos transportes públicos e até 50% de desconto em mais de 200 atracções. 

www.visitberlin.de

Site da Embaixada da Alemanha - http://www.lissabon.diplo.de