O amor também se escreve com erros ortográficos

Foto: Pedro Granadeiro/Global Imagens

Trata-se de uma genuína forma poética. Os Lenços dos Namorados deram e dão que falar. Ancestrais, mas sempre com muito respeito e ética.

Os Lenços dos Namorados
ou Lenços dos Pedidos
nasceram nos séculos passados
e nada têm de atrevidos.

O Minho é seu berço
fidalguia das meninas ricas
as pobres foram copiá-las
mais genuínas e artísticas.

Quando as moças chegavam
perto da idade de casar
pegavam em pano de algodão ou linho
e, com cuidado, punham-se a bordar.

Nas longas noites de serão
ou nas horas livres do dia
transpunham para os panos o amor
que no peito já não lhes cabia.

Por todo o lenço bordados
pombas, corações e flores
sempre com erros ortográficos
confissões cheias de cores.

E quando chegasse o domingo
na trincha da saia ou no avental
usavam o lenço as catraias
era o amor feito sinal.

Se fosse correspondido
e o rapaz o quisesse assumir
punha o lenço no pescoço ou no bolso
e na moça um sorriso haveria de luzir.

Mas se o namoro não debutasse
a pobre moça decerto choraria
mandava-lhe ele o lenço de volta
e toda a gente o saberia.

Hoje, este património
segue a cargo das bordadeiras
confessam com a agulha o passado
certificadas por serem as verdadeiras.

Símbolo da cultura e tradição
de Vila Verde, Guimarães ou Viana
estes Lenços dos Namorados
são prova da riqueza da mão humana.